24 fevereiro 2007

Conselhos práticos sobre o jejum cristão

O que é o jejum cristão?
O jejum cristão é a negação do apetite natural para a comida, de uma convicção do seu verdadeiro uso na Escritura, e com o propósito de glorificar a Deus, pela mortificação do pecado, e de gozar da misericordia, pelos méritos de Jesus Cristo somente.

1. Quanto ao modo, pode ser a rejeição completa da comida por um período de tempo (2 Sm 12:16), ou, é a rejeição parcial da comida por um período de tempo (Dn 10:2-3).

2. Não se pratica o jejum apenas pela veneração da tradição, embora os servos de Deus em todos os período da história observaram a prática do jejum. Nem se deve jejuar simplemente porque uma autoridade tenha ordenado. Nem por legalismo de uma mera justiça externa com o objetivo de ser visto pelas pessoas (Mt 6:1, 16-18). Nem mesmo tem o propósito de promover alguma forma de ascetismo, especificamente, a crença de que o corpo é mal e por isso, tem que ser castigado. Pelo contrário, deve ser oferecido como um ato de louvor a Deus com uma convicção sincera de que Deus nos convoca para jejuar em certas ocasiões (Mt 17:21; At 14:23).

3. A meta principal de jejuar, como em todas as outras coisas, é para a glória de Deus (1 Co 10:31).

4. A meta secundária de jejuar é a mortificação do pecado. Devemos enfraquecer o domínio do pecado, humilhando e arrependendo-se do pecado, e experimentando o prazer da misericórdia e da graça de Deus (Rm 8:13; Gl 3:5-11).

5. A base de todas as bençãos que Deus graciosamente nos concede é somente e sempre a pessoa e obra de Jesus Cristo. Não há nenhum mérito em nossas obras de justiça, nem mesmo nos jejuns.Onde se encontra a ensino do jejum na Escritura?O jejum cristão é ensinado em toda a Escritura (2 Sm 12:16; Ne 1:4; 2 Cr 20:3; Jn 3:7, 8; Lucas 4:1-13; At 14:23; Mt 6:16-18; 17:21). Tanto na antiga, como na nova Aliança o povo de Deus praticou o jejum como um ato de consagração pessoal. O jejum não cessou no Novo Testamento, como alguns pensam, mas tem a sua continuidade comprovada tanto por Jesús, como pela Igreja no período posterior ao Pentecostes.

Porquê alguém deveria jejuar?
A motivação do jejum certamente é a questão mais importante quando se estuda este tema. Muitas pessoas são zelosas em se dedicarem ao jejum, todavia, o fazem com motivações erradas, e correm o risco de não serem aceitos por Deus. Pelo menos cinco razões poderão ajudar a esclarecer esta questão:

1. A prática do jejum é necessária, pois Deus ordena praticá-lo.

2. Porque os seus sentimentos e apetites estão inclinados para as coisas deste mundo, e no jejum você volta os seus sentimentos das coisas desta vida para as coisas de Cristo.

3. Porque o orgulho e a auto-suficiência impedem a sua convivência com Deus. O jejuar, entretanto, revela a sua insuficiência e a nossa plena satisfação em Deus. A debilidade física que se sente ao jejuar, deveria lembrar a fragilidade humana diante um Deus absolutamente soberano e infinitamente santo.

4. Porque você deseja mortificar o pecado e regozijar-se na misericórdia de Deus.

5. Porque você necessita de poder espiritual e sabedoria que procede de Deus. Os discípulos após terem recibido a autoridade de expulsar os demônios numa jornada missionária (Lc 9:1-6) regressaram para relatar as grandes coisas que se fizeram nas cidades por onde haviam passado (Lc 9:6, 10). Todavia, quando a autoridade sobrenatural concedida para a sua jornada missionária terminou, os discípulos necessitaram de recorrer a oração e ao jejum (Mt 17:21). Do mesmo modo os apóstolos, e as igrejas do primeiro século reconheciam a sua necessidade absoluta de sabedoria e poder para escolher e ordenar os presbíteros, com um tempo dedicado ao jejum e à oração (At 14:23).

Quem deveria jejuar?
Todos os que podem praticá-lo como uma obra de adoração a Deus com uma conciência sincera, sem superstição, legalismo, ascetismo, ou hipocrisia. Pode-se inclusive estimular as crianças para o jejum, do mesmo modo que se deve ensiná-los a orar, mas, eles devem ser instruídos acerca do que é o jejum com suficiente clareza, e sobre a sua necessidade.

Quando se deve jejuar?
Em geral, deveríamos jejuar muito mais do que costumamos fazer. Não podemos pensar em apenas jejuar somente quando temos problemas, mas também como uma medida preventiva para encher-nos com sabedoria e poder e evitar crises.

Como deve ser praticado o jejum?
O jejum pode ser praticado individualmente, ou em família, quando ocorre a necessidade pessoal. Com a igreja inteira, quando é convocada pelo pastor, ou pelos presbíteros. Como nação, quando é feito a convocação por um governante civil que é realmente cristão, e tem o propósito de direcionar todo o país ao arrependimento, e à submissão a Deus.

A prática do jejum não deve ser feita sem o devido cuidado, em que cada indivíduo deve observar a sua condição física. Cada pessoa possuí necessidades singulares, por isso, ela deve ser ciente das suas limitações, e tomar o cuidado necessário para que desejando obter saúde espiritual, não venha prejudicar a sua saúde física.

1. Não podemos esquecer de que o jejum, como o dia do descanso, foi feito para o homem, e não o homem para o jejum. Nada deveria levar a abstinência a tal extremo ao ponto de por em perigo a saúde física. Mas, quando a fraqueza física aparece por causa do jejum, não se deve pensar que não se é capaz de jejuar.

2. Se alguém tem problemas físicos (diabete, gastrite, úlcera, pressão alta, etc.), pode-se fazer um jejum parcial. Não coma para satisfazer o seu apetite, mas coma apenas para satisfazer a necessidade, evitando o mal-estar. Alimente-se de frutas, legumes, verduras, e água, apenas o necessário, de modo que não agrave o estado de saúde debilitada.

3. Se o seu trabalho exige esforço físico e você necessita se alimentar bem, faça um jejum por um período de tempo menor. Não pense que, porque o seu jejum não pode ser por um período longo que não será aceito por Deus, pois, Ele quer misericórdia, e não sacríficio (Os 6:6).

4. Ensine aos seus filhos sobre o jejum, e o modo como podem praticá-lo, pois, talvez, sejam incapazes de jejuar por um dia todo, mas, podem jejuar apenas um período do dia. Tenha cuidado para não prejudicar os filhos causando neles desnutrição.

5. Tenha cuidado de tomar uma quantidade suficiente de água quando estiver jejuando. Não beba refrigerante, sucos, café ou chá, pois eles satisfazem a fome, e podem prejudicar o objetivo do jejum.

6. Planeje o seu dia para que você possa ter em mente, durante o dia, que este período está separado para revelar a sua insuficiência, e a suficiência de Deus na sua vida.

7. Neste dia você não deve passá-lo ocioso, ou com ocupações de diversão e entretenimento. Ele deve ser seriamente dedicado para a oração, leitura das Escrituras e reflexão acerca da circunstância que motiva o jejum. Mas, se for um dia normal de trabalho e compromisos, mantenha em mente o seu propósito de jejuar.

8.Tenha cuidado para que o seu semblante não anuncie publicamente que está jejuando (Mt 6:1,16). Não demonstre uma cara de tristeza e angústia, mas mantenha a normalidade do seu dia, como outro qualquer. Não busque a atenção das pessoas sobre você, de modo que fique demonstrando o seu jejum (Mt 6:16-18). Mas, se alguém lhe perguntar porque você não está comendo, procure de maneira discreta responder-lhe que está em jejum, sem prolongar muito o assunto. Não há necessidade de mentir.

9. Quando você for iniciar o seu período de jejum, e também quando findá-lo, faça de modo solene. Recolha-se a um lugar, separe uma porção das Escrituras para meditar durante o tempo em que estiver jejuando, ore e estabeleça o início e o fim deste momento de consagração. No momento de terminar o jejum, também recolha-se, ore e entregue o seu jejum, agradecendo a Deus, porque Ele lhe preservou capacitando-o a cumprir este santo propósito.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

07 fevereiro 2007

Perspectiva Reformada sobre a Internet

Há alguns anos atrás, a era da informática ainda não havia se estabelecido em nossas vidas, nossa linguagem, nossos lazeres, e assim por diante. Desde o primeiro computador, surgido em 1946, até os dias atuais, cada vez mais temos sido fortemente influenciados pela era digital.

Seguindo os passos do computador, veio a internet. No princípio era de uso exclusivo dos militares americanos (isso na década de 60). Depois é que veio a se popularizar. No Brasil, a internet só ganhou notoriedade em 1995 pela iniciativa do Ministério das Telecomunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia, quando foi aberta ao setor privado para exploração comercial da população brasileira. A partir daí, ele rapidamente se popularizou, criando conceitos e padrões e uma nova forma de viver e ver o mundo.

Assim como a invenção da impressa por Gutenberg revolucionou a informação, o advento da internet mostra-se cada vez mais que veio para ficar e mudar paradigmas. Cabe uma cuidadosa e séria análise, partindo de uma ética cristã, sobre os benefícios e perigos que a cibercultura trás à sociedade.

É extremamente oportuno e relevante falarmos sobre ética, explorando a cosmovisão reformada sobre o assunto. Tudo é muito veloz no mundo da web. As informações e tecnologias se processam numa velocidade estonteantes. É impressionante que um tema tão atual e relevante como esse, tenha tão pouca notoriedade nos círculos evangélicos. São pouquíssimos os artigos sérios que temos acesso. Da mesma forma, livros e outros impressos ainda não circulam o suficiente, para dar à população uma visão bíblica e reformada sobre o tema.

A falta de material foi um obstáculo a ser superado na elaboração desse trabalho. Montamos uma estratégia de pesquisa partindo de artigos que tratam diretamente sobre internet, mas principalmente, buscamos argumentos na ética reformada para tratar o assunto. Vale dizer que, de qualquer forma, a ética está envolvida na utilização da informação virtual. No momento certo, trataremos qual é a natureza dela.

Ao desenvolver o trabalho, notamos que faltam materiais que tratem do assunto, de forma mais abrangente, nas nossas Escolas Dominicais; não há um controle eficiente por parte das autoridades; as leis não acompanham a velocidade das contravenções virtuais. Há muito a ser feito nesse “novo mundo”. E a igreja deve ser uma voz profética, apontando erros e indicando caminhos.

A INTERNET E A ÉTICA
Seria possível viver sem internet hoje? Não! Pelo menos não a vida nos moldes que conhecemos do mundo atual. Para bem ou mal, ela já se ajustou às necessidades da presente geração. Já se fala e se vive em realidades virtuais. A mídia, a indústria, o comércio e as pessoas têm no mundo virtual uma nova maneira de comprar, vender, informar, se divertir, enfim, se relacionar de uma maneira nova, sem precedentes históricos.

Mais do que nunca, são necessários parâmetros éticos que possam regularizar esse mundo sem fronteiras. E por falar em fronteiras, foram todas removidas em se tratando de web. Hoje falamos de adultério virtual, sexo virtual, jogos ilegais e imorais, pirataria via internet, entre outras formas imorais e ilícitas de se usar a rede. Precisamos mencionar a criação de comunidades virtuais se expressando contra grupos étnicos e religiosos; orkut usado para “passar cola” aos estudantes; ofensas, mensagens racistas, entre outras[1]; fotos em blogs, sites e comunidades sem o consentimento[2] da pessoa, inclusive imagens de crianças e adolescentes, em situações que caracterizam pedofilia; envio de vírus de computador[3]; dar forward para várias pessoas de um boato eletrônico, e assim por diante.

Diante de tantas coisas ilícitas que vemos na internet, algumas pessoas podem usar o conhecido argumento: “... mas todo mundo faz”. Esta é a nossa maior vulnerabilidade hoje. Lembremos que isso não nos exime de responsabilidade legal, e nem moral.
O que motiva uma pessoa a usar ilicitamente e/ou imoralmente a internet? O que está por trás de suas ações[4]? A questão ética! A nossa cultura está profundamente influenciada por uma ética humanista[5]. Nesse tipo de conceito ético, o importante é o prazer pessoal. Sou levado a tomar atitudes, tendo-as como certas ou erradas, apenas se me dão alegria ou não. Construímos mecanismos de defesa, tais como: “não estou fazendo mal a ninguém. Só estou me divertindo”. Ou ainda: “É melhor fazer isso sozinho do que envolver outras pessoas, correndo riscos desnecessários”.

O certo e o errado são vistos a partir de uma perspectiva isenta de absolutos. Assim, certo ou errado é apenas uma questão de visão pessoal da situação em que o indivíduo está envolvido. A ausência de absolutos abre as portas para tolerância e prática de qualquer desvio de conduta. Outras conseqüências poderiam ser mencionadas quando a verdadeira ética é distorcida ou descartada. E nada tem feito isso de forma mais incisiva do que o mundo da internet.

A net também molda os conceitos éticos de seus cibernautas. Assim como a televisão, a exposição freqüente de crianças, adolescentes e jovens a site, chats e comunidades não recomendáveis, sem qualquer critério por parte de pais e responsáveis, acabam por moldar ou reformular os conceitos e pensamentos deles. Terão uma visão de mundo influenciada pelo pluralismo e relativismo que, com certeza marcará sua maneira de se relacionar com Deus e as pessoas.

REDIMINDO A INTERNET COM UMA ÉTICA BÍBLICA-REFORMADA
Ao analisarmos a internet com todos os seus prós e contras, podemos perceber que não dá para usá-la responsavelmente, sem uma base ética totalmente pautada nas Escrituras Sagradas. É claro que tais princípios, em todas as suas dimensões, só podem ser aplicados aos regenerados. Mas será que existem princípios bíblicos gerais aplicáveis a todos, regenerados e não-regenerados? Cremos que sim.

Partimos do princípio que Deus é soberano sobre todas as coisas. É do próprio Deus que emana todo padrão ético e moral, pelo qual todos os homens devem pautar suas vidas. Sabemos que todos os homens estão em pecado. “A Escritura diagnóstica o pecado como uma deformidade universal de natureza humana, em todas as circunstâncias e em todas as pessoas”[6]. Isso implica em dizer que o homem não só é pecador, mas manipula pecaminosamente aquilo que está à sua mão, como por exemplo, a internet. O homem, em seu estado de pecado, não implica em ser moral e eticamente neutro. Ele faz escolhas conscientes e deliberadas e colhe frutos disso.

Ao lidarmos com conceitos bíblicos sobre procedimento de todos os homens, encontramos alguns princípios que norteiam nossa ação em todas as esferas da vida. Neste caso, aplicáveis para uma utilização consciente e digna da internet. Lembrando que são princípios bíblicos, não religiosos.

Primeiro princípio: toda ética parte do próprio Deus. A Bíblia nos diz que Deus faz uma revelação geral de si mesmo e do que Ele espera dos homens. “Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho” (Rm. 2:15, 16). Ele estabelece uma norma geral de atuação moral, que serve a toda criatura. Mesmo os povos ditos como mais primitivos, tem na revelação geral de Deus lições suficientes para agir com lealdade, moralidade e ética para com o próximo e suas coisas. J. I. Packer diz: “Deus revela ativamente esses aspectos de si mesmo a todos os seres humanos, de forma que todos os casos de falha em render graças e servir ao Criador com justiça constituem pecado contra o conhecimento, e negações de ter recebido tal conhecimento não devem ser tomadas seriamente”.[7]

Mesmo aqueles que moldam suas vidas pela Palavra Revelada de Deus, as Escrituras Sagradas, tem na revelação geral de Deus normas claras para agir com ética, com moral e com justiça. Segundo princípio: o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Ele criou o homem e a mulher, e ambos à sua imagem (Gn. 1.26-30). Há verdades que precisam ser salientadas, como por exemplo: o homem foi feito do pó da terra, que é uma declaração literal (Gn. 2.7). Essa criação a partir do pó da terra indica também as limitações morais do ser humano (Gn. 18.27; Sl. 90.3; 103.14). Porém, essas limitações não tornam o homem incapaz de responder dentro de um nível moral e ético tolerável para o convívio em sociedade. É claro que somente a regeneração efetuada por Cristo no coração humano, pode torná-lo definitivamente em nova criatura.

Essa extensão do pecado na vida do ser humano é conhecida como “depravação total”. Essa doutrina bíblica e reformada não nos dirá que o pecado afetou o homem por completo. Se assim fosse, seríamos equiparados aos demônios. A doutrina reformada nos diz que o pecado afetou todas as áreas do ser humano. Não há parte no homem que tenha ficado santa. Os homens vêm ao mundo pecaminosos por natureza (Sl. 51.5), e tornam-se pecadores pela prática (Rm. 3.10-18).

Mesmo sabendo que o âmago do ser humano foi contaminado pelo pecado (Mc. 7.21-23), e que ele não pode produzir nenhum bem que o justifique diante de Deus, isso não implica dizer que o ser humano não tem condições de viver em padrões morais e éticos aceitáveis diante de Deus e dos homens (Lc. 11.13; Rm. 2.14ss.).

A vida em sociedade, respeitando as autoridades, as pessoas e os limites, é mandamento claro do Senhor para que todos os homens observem. Quando há a quebra desses princípios, instala-se a corrupção do caráter, da moral, dos valores num grau intolerável.

A internet deve funcionar estruturada nesses princípios. Ela não é isenta disso. Como agentes do Reino de Deus, devemos ser os primeiros a insistir nesse padrão. A ética nas pequenas coisas é que dará condições de utilizarmos a web sem fazer dela uma arma que nos leva a desrespeitar a lei dos homens e de Deus.

CONCLUSÃO
É um enorme desafio que temos em tornar esse mundo virtual numa ferramenta útil para a humanidade e para o Reino de Deus. Desafio tão grande quanto as conexões da própria internet. Se não começar pela igreja, quem fará essa revolução?

Não podemos nos contentar em sempre apagar a luz da história. Devemos lançar a luz, e temos como fazer isso. Princípios éticos foram mostrados, os quais podem ser seguidos por todos os homens. Mas sabemos que somente uma completa transformação operada no coração humano, é que pode moldar profundamente a atitude do homem.

Pastores e líderes podem começar ensinando em suas igrejas a como desenvolver princípios bíblicos para lidar com esse mundo virtual. As Escolas Dominicais podem ser momentos para que esse assunto seja debatido. Mais artigos sério e reformado deve ser lançado na rede. Igrejas que têm páginas na Web não podem deixar de instruir as pessoas a como usar a internet. Uma mobilização mais acentuada por parte da igreja, com certeza produzirá os seus frutos, e esses serão colhidos, principalmente, por nossos filhos.

BIBLIOGRAFIA

GEISLER, Norman L. Ética Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2003.

LOPES, Augustus Nicodemus. Fundamentos da Ética Cristã. Disponível em: http://www.ipb.org.br/estudos_biblicos/index.php3?id=9

MILNE, Bruce. Estudando as Doutrinas da Bíblia. São Paulo: ABU, 1991.

PACKER, J. I. Teologia Concisa: Síntese dos Fundamentos Históricos da Fé Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.

SANTOS, Valdeci da Silva. Benefícios e desafios da cibercultura. Disponível
em:http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1233&secMest
re=1291&sec=1322&num_edicao=302

Notas:
[1] Muitas provas obtidas no orkut já estão sendo utilizadas em processos de várias naturezas.
[2] Tal prática constitui crime, segundo a Constituição Federal, artigo 5º, tendo a pessoa direito a indenização.
[3] Código Penal, artigo 163: detenção de um a seis meses, ou multa.
[4] Não trataremos aqui sobre a realidade da natureza caída do homem. Disso falaremos no próximo ponto.
[5] Para mais detalhes, ver o artigo Fundamentos da Ética Cristã, de Augustus Nicodemus.
[6] PACKER, Teologia Concisa, p. 78.
[7] Ibid., p. 9.

Rev. Baltazar Lopes Fernandes

02 fevereiro 2007

Moisés escreveu o Pentateuco

Não há no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha escrito o Pentateuco. Todavia, há testemunho suficiente, que apóia a sua autoria. A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do Antigo Testamento em particular, e com as obras literárias antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador do passado, limitando-se ao uso de material e metodologia tradicionais, conforme já foi observado.

A Teoria Documentária
A Teoria Documentária declara que Moisés nunca foi o autor do Pentateuco, mas que ele foi o resultado de séculos de tradição, em que escribas registraram e compilaram diferentes porções, de autores desconhecidos, e realizaram a formação de um texto final. Devemos considerar algumas implicações da Teoria Documentária em afirmar a formação final do Pentateuco num período pós-exílico (entre 500-400 a.C.), quando a religião de Israel já estava bem desenvolvida.
1. A Teoria Documentária não prova a não autoria de Moisés. Falando francamente, esta teoria nem sequer conseguiu provar a sua própria veracidade científica, para tirar de sobre si o estigma de “teoria” a que está vinculada durante todos esses séculos.
2. Mesmo entre os adeptos desta teoria não há concordância acerca da identificação e classificação dos textos e dos grupos documentais a que eles supostamente pertencem.
3. Aceitar a teoria JEDP anula a credibilidade do Pentateuco. Segundo a Teoria Documentária a história bíblica é forjada. O Dt foi inventado pelos profetas para reforçar a idéia da centralização. O uso do nome de Moisés no Pentateuco, era simplesmente para dar autoridade ao texto, mas ele nada tinha a ver com a composição histórica do mesmo. O documento P, composto para assegurar a aceitação do sistema sacerdotal por parte do povo, fora baseado em lendas e crendices folclóricas. Como observa Stanley A. Ellisen “rejeitar a autoria de Moisés é rejeitar o testemunho universal dos escritores bíblicos e solapar a credibilidade do Pentateuco e do resto da Bíblia. É da autoria de Moisés, e não apenas um ‘mosaico’ de diferentes”.[1]
4. Retira todo o caráter normativo do Pentateuco.[2] Não teria qualquer valor para o povo da época, já que nada acrescentaria ao judaísmo. Se o Pentateuco fosse apenas um produto de uma religião tardiamente desenvolvida, e não o princípio regulador, não faria sentido chamá-lo de “a Lei”. Se ele não foi o princípio regulador para os primeiros leitores, não teria valor algum para os crentes de outras épocas, uma vez que os conceitos humanos mudam e o que não foi normativo para um povo, pode não ser para outro.
5. Invalida o esforço de composição. O relato do Pentateuco é rico em detalhes e informações. Possui informações das origens e desenvolvimento dos povos, em especial do povo de Israel. Os supostos autores teriam se dado a um imenso trabalho de imaginação para simplesmente manter uma ordem que já estava estabelecida.
6. Devemos considerar a ausência de evidências histórica, ou manuscritológicas, de que estes supostos documentos (JEDP) tenham circulado em algum período soltos uns dos outros.[3]
7. Considera o autor mal intencionado. A Teoria Documentária implica que um autor (ou autores), com um sentimento profundamente religioso e com o intuito de conduzir o povo diante de Deus, tenha se rebaixado a abandonar valores que quer ensinar e redigir uma mentira, colocando na boca de Deus, o que Ele não disse, inventando “estórias” e fazendo com que todos a considerassem como verdadeiras!
8. Impossibilidade do sobrenatural no AT. Conseqüentemente a intervenção divina é negada: revelação, inspiração, encarnação, milagres, etc.
9. Negação da revelação especial. A Bíblia torna-se meramente uma referência literária semítica. Um livro antigo como outro qualquer, deixando de ser a auto-revelação proposicional de Deus.

Alguns críticos liberais adeptos da Teoria Documentária questionam não somente a autoria de Moisés, mas inclusive até mesmo a sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres puderam atingir um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios, e ainda assim não existir nenhum registro desses fatos? Respondemos mencionando a contribuição do arqueólogo Alan Millard que declara “os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais não podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os documentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito é risível.”[4]

Moisés é reconhecido como o homem erudito na antigüidade bíblica. Nos dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio, construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido educado na corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas acadêmicas que no Egito já eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo era usada, de comum uso dos egípcios, inclusive entre os próprios escravos.

Como historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no palácio real egípcio, do seu acervo literário. Era possuidor de um vasto e detalhado conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o deserto tanto do Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares.

O modo como o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1) conhecia lugares pelos nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer outra parte do AT, 3) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são geralmente egípcias e não palestinas, 4)a flora e a fauna descritas são egípcias, 5)os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus dias.[5]

Moisés como fundador da comunidade de Israel, também exerceu o papel de legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador, sacerdote, pastor, historiador, entre outros. Possuía vários motivos, segundo as funções que exerceu, para prover ao seu povo alicerces morais concretos e religiosos, e era preciso registrar e distribuir a Lei entre o povo, de modo que ela fosse acessível a todos.

Como escritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarenta árduos e longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar de sua ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente para que pudesse escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessário alfabetizar todo o povo.[6] Ele mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9, 24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.

O Que se entende por autoria Mosaica?[7]
1. Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;[8]
2. É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente existentes;
3. Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;
4. Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;
5. Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);
6. Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. O Dr Wilson comenta “que o Pentateuco, conforme se encontra, é histórico e data do tempo de Moisés; e que Moisés foi seu autor real, ainda que talvez tenha sido revisado e editado por redatores posteriores, adições essas tão inspiradas e tão verazes como o restante, não existe dúvida.”[9];
7. Todo o Pentateuco possui unidade literária. Pequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidas sem que se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra. Não há nenhuma evidência história ou manuscritológica que vários redatores tenham “costurado” os livros do Pentateuco. Não existe nenhuma evidência que em algum período da história, o Pentateuco tenha circulado como “pedaços” (fontes JEDP), e que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado sua formação final, como propõe a teoria documentária. Os rabinos judeus desconhecem tal coisa.

Notas:
[1] Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento (São Paulo, Ed. Vida, 1996), p. 13
[2] O.T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), p. 10
[3] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament (Chicago, Moody Press, 1967), p. 50
[4] Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos (São Paulo, Ed. Vida, 1999), p. 80
[5] G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507
[6] Martinho Lutero, por exemplo, apesar de possuir uma vida tão atribulada pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira biblioteca. A obra completa da edição de Weimar possuí um acervo de 100 volumes.
[7] Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo, Editora Vida Nova, 1963), p. 52
[8] O.T. Allis, The Five Books of Moses, pp. 12-14
[9] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p.11

Rev. Ewerton B. Tokashiki

28 janeiro 2007

A missão da Igreja Cristã

A Igreja necessita resgatar o discipulado como uma prática normal em contraste com a filosofia pluralista. Tanto um conceito, como uma prática correta de discipulado evidenciará a saúde espiritual da Igreja. O pastor Dietrich Bonhoeffer notou que "em tudo que segue, queremos falar em nome de todos aqueles que estão perturbados e para os quais a palavra da graça se tornou assustadoramente vazia. Por amor a verdade, essa palavra tem que ser pronunciada em nome daqueles de entre nós que reconhecem que, devido à graça barata, perderam o discipulado de Cristo, e, com o discipulado de Cristo, a compreensão da graça preciosa. Simplesmente por não querermos negar que já não estamos no verdadeiro discipulado de Cristo, que somos, é certo, membros de uma igreja ortodoxamente crente na doutrina da graça pura, mas não membros de uma graça do discipulado, há que se fazer a tentativa de compreender de novo a graça e o discipulado em sua verdadeira relação mútua. Já não ousamos mais fugir ao problema. Cada vez se torna mais evidente que o problema da Igreja se cifra nisso: como viver hoje uma vida cristã."[1]

Este é o modelo Bíblico onde é possível desenvolver o caráter de Cristo na vida dos envolvidos. Conhecer a Deus por meio de Jesus, e glorifica-lo num relacionamento construtivo como Igreja. Nesse relacionamento construtivo o alvo é preparar discípulos para um envolvimento nos ministérios e departamentos da igreja, proporcionando um fortalecimento qualitativo, que resultará naturalmente na multiplicação de outros discípulos. John Sittema nos lembra que discipular é “reproduzir a si mesmo e sua fé na vida de outros.”[2] Evidentemente não podemos confundir, porque o Senhor Jesus exige que façamos discípulos dele e não nossos. Novamente podemos citar Sittema observando que “esse processo requer o desenvolvimento de um relacionamento de confiança, de exemplo, de revelação do nosso coração e da nossa fé ao discípulo que, por sua vez deve imitar o padrão de fé do seu mestre.”[3]

A Igreja não é testemunha de si mesma. Os salvos são chamados para proclamar a soberana graça do redentor. A Palavra de Deus como meio de graça para alcançar e transformar o pecador é o intrumento do Espírito Santo. A Igreja não prega um misticismo irracional, nem mesmo supostas novas revelações, mas ela instrui a Escritura Sagrada que “é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3:16). O conteúdo registrado na Escritura Sagrada não é o resultado da experiência evolutiva dos povos antigos, mas a auto-revelação do Deus de Israel. W. Gary Crampton observa que "a concepção ortodoxa da inspiração também declara que a revelação bíblica é proposicional em natureza; ela ensina uma verdade proposicional. Proposições são lógicas, com importantes combinações de palavras que declaram alguma coisa. Elas possuem o significado das sentenças declaradas. A verdade da Escritura não está 'em meio', 'acima', ou 'além' das palavras, ou somente na mente do intérprete. Nem estão as palavras secretamente simbolizadas, insinuando alguma verdade mais "elevada" ou "profunda". Pelo contrário, a verdade de Deus repousa no significado lógico e organização que as palavras possuem. Nem numerologistas, nem poetas, nem aqueles que vêem códigos acrósticos na Escritura que compreende a Escritura. A verdade de Deus vem via o nosso entendimento das proposições da Escrituras conforme as regras ordinárias da gramática e da lógica (que estão presentes na Escritura). Por isso, a Bíblia não contém paradoxos lógicos."[4]

A doutrina de que a Escritura é inerrante não surgiu com o movimento Fundamentalista no início do século XX. Este tão antigo ensino pode ser encontrado, com clareza, durante o escolasticismo protestante no século XVII, por exemplo, o teólogo luterano alemão Johann A. Quenstedt (1617-1688) declarou que "a Sagrada Escritura canônica no texto original é infalível verdade e livre de todo erro; em outras palavras, na sacra Escritura canônica não existe mentira, nem falsidade, nem erro mínimo qualquer, seja no assunto ou de expressão, mas em todas as coisas e em todos os detalhes que são manuseados nela, ela é a mais segura verdade, tanto no que pertence a doutrinas, ou moral, à história ou cronologia, a topografia ou nomenclatura. Nem a ignorância, nem negligência, nem esquecimento, nem lapso de memória puderam e ousaram atribuir aos amanuenses do Espírito Santo em seu registro dos Escritos Sagrados."[5] Sustentando a mesma opinião acerca da inerrância das Escrituras, o teólogo reformado suíço Francis Turrentin (1623-1678) afirmou que “os escritores sacros foram movidos e inspirados pelo Espírito Santo, envolvendo tanto os pensamentos, como a linguagem, e que eles foram preservados livres de todo erro, fazendo com que os seus escritos sejam inteiramente autênticos e divinos.”[6]

A salvação pressupõe que a humanidade perdeu a sua identidade original, tornando-se deturpada e alienada moral e espiritualmente. O ser humano não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões que refletem a sua natureza. As pessoas, no estado natural em que se encontram são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo. Toda a humanidade está num estado espiritual decaído, diferente daquele em que foi originalmente criada. A ética cristã reconhece que as pessoas são incapazes por si mesmas de aceitar a perfeita vontade de Deus, expressa na Escritura Sagrada, e muito menos de obedecê-la.

A explicação que a Escritura oferece da Queda é a única que esclarece o real relacionamento que o ser humano tem com Deus. O apologista Francis A. Schaeffer argumenta que existiu "um período anterior à queda, e então, o homem desviou-se do seu ponto de integração apropriado, por sua escolha; e, assim procedendo, houve uma descontinuidade moral – o homem tornou-se anormal. Remova estes fatos e a resposta cristã às questões da moral se vai. Freqüentemente encontro evangélicos levando a primeira parte do Gênesis na brincadeira. Mas o fato é que, se desprezarmos a Queda verdadeira, espaço-temporal e histórica, as respostas deixarão de existir. Não se trata apenas de uma extinção do Cristianismo histórico e bíblico, como se coloca na corrente da história, mas toda e qualquer resposta que possamos ter para o homem e o seu dilema moral, também estará extinta."[7]

A salvação dos eleitos de Deus ocorre num processo temporal: presente, passado e futuro. R.C. Sproul observa que "a Bíblia refere-se ao fato de termos sido salvos antes da criação do mundo (Ef 1:4). Nesse trecho o tempo passado foi empregado em relação à salvação no sentido mais extremo. [...] Há um sentido no qual somos ou estamos salvos. No momento em que depositamos nossa confiança em Cristo, e somente em Cristo, Deus nos declara justificados. [...] Seremos salvos, visto que aguardamos nossa salvação com Cristo e a consumação definitiva da nossa salvação."[8]

A sociedade pós-moderna experimenta a deterioração dos valores que a preserva. A falta de sentido e propósito também produz a desesperança. Esta sociedade busca a redenção na tecnologia, cultura, e no sexo, todavia, estes meios são ineficazes de transformá-la. Todavia, somente com os valores do reino de Deus, num discipulado integral, em que os cristãos se envolvem produtivamente em todas as áreas da vida, é possível participar dum processo de transformação cultural, político, econômico e científico reconhecendo Cristo como o Senhor em todas as esferas da existência humana. A sociedade pós-moderna inclina-se a não reconhecer a verdade como absoluta, ridicularizando a concepção e a ação de Deus no mundo; entretanto, os cristãos são responsáveis de construir uma sociedade influenciada pelo Evangelho de Cristo que ofereça o bem-estar a todos.

Notas:
[1] Dietrich Bonhoeffer, Discipulado (São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1995), p. 18.
[2] John Sittema, Coração de Pastor (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2004), p. 173.
[3] John Sittema, Coração de Pastor, p. 173.
[4] W. Gary Crampton, By Scrypture Alone (Unicoi, The Trinity Foundation, 2002), p. 78
[5] Citado em Gordon H. Clark, The Pastoral Epistles (Unicoi, The Trinity Foundation, 1998), p. 131.
[6] citado por W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology (Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1980), vol. 1, p. 72
[7] Francis A. Schaeffer, O Deus que se revela (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002), p. 74.
[8] R.C. Sproul, Salvo de quê? (São Paulo, Editora Vida, 2006), p. 23.

26 janeiro 2007

As funções dos presbíteros

As funções atribuídas aos presbíteros aqui descritas não são exaustivas. Elas mencionam o que o presbítero deve ser e fazer, mas ele não pode se limitar a elas. Todos os presbíteros devem exercer o seu ofício em conformidade com a diversidade dos dons de cada um, e discernindo segundo a necessidade da Igreja. A vitalidade da igreja muito depende da operosidade dos presbíteros.

Uma palavra grega usada para se referir ao ofício de presbítero é episcopos. Sabemos que “o uso no N.T., em referência aos líderes, parece ser menos técnica do que uma tradução como ‘bispo’ sugeriria; daí, superintendente, ou supervisor At 20:28; Fp 1:1; 1 Tm 3:2; Tt 1:7.”[1] O presbítero tem a responsabilidade de supervisionar a igreja que o escolheu para ser o seu líder. Louis Berkhof afirma que “claramente se vê que estes oficiais detinham a superintendência do rebanho que fora entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-lo, governá-lo e protegê-lo, como sendo a própria família de Deus.”[2]

A responsabilidade dos presbíteros de supervisão não se limita aos membros da igreja. Os presbíteros devem supervisionar o seu pastor. R.B. Kuiper observa que "um dos seus mais solenes deveres é vigiar a vida e o trabalho do pastor. Se o pastor não leva uma vida exemplar os presbíteros regentes da igreja devem chamar-lhe a atenção, e corrigi-lo. Se não é tão diligente em sua obra pastoral como deveria sê-lo, devem estimulá-lo para que tenha maior zelo. Se a falta de paixão que deve caracterizar a pregação da Palavra de Deus, os presbíteros regentes devem dar os passos necessários para ajudá-lo a superar tal defeito. E, se a pregação do pastor, em qualquer assunto de maior ou menor importância, não está de acordo com a Escritura, os presbíteros não devem descansar até que o mal tenha sido resolvido." [3] Entretanto, os presbíteros devem oferecer liberdade e recursos para que o seu pastor desenvolva-se e possa oferecer mais ao rebanho.

A autoridade do presbítero
A autoridade dos governadores é puramente ministerial e declarativa. Cada função do Conselho, como o ensino, a admoestação, governo e o exercício da disciplina, devem fundamentar-se na Palavra de Deus. Os presbíteros não possuem autoridade inerente. Não possuem o direito de impor as suas opiniões pessoais, preferências, filosofias sobre o culto, a doutrina, ou o governo da igreja, antes, devem examinar e extrair das Escrituras os padrões e princípios estabelecidos por Deus.

A autoridade do presbítero procede de:
1. A autoridade de Cristo como cabeça da Igreja.
2. Submissão à Cristo como o Senhor da Igreja.
3. A obediência e fidelidade à Escritura Sagrada como única regra de fé e prática.
4. Uma vida de santidade pessoal e familiar.
5. O exercício responsável da sua vocação e dos seus dons segundo o seu chamado.

As funções pastorais
1. Visitar os membros menos assíduos às reuniões da igreja;
2. Resolver os desentendimentos entre os membros;
3. Instar os disciplinados ao sincero arrependimento;
4. Orar por/com todas as famílias da igreja;
5. Consolar os aflitos e necessitados;
6. Supervisionar o bom andamento das atividades da igreja;
7. Exortar aos pais que tragam os seus filhos ao batismo;
8. Ser um pacificador em assuntos controversos;
9. Lembrar aos membros da sua fidelidade com os dízimos e ofertas;
10. Dar assistência e/ou liderar as congregações (quando houver);
11. Auxiliar na distribuição da Ceia do Senhor.

As funções doutrinárias
Os presbíteros em nosso sistema de governo têm a responsabilidade de guardarem a doutrina da corrupção. (1 Tm 3:16; Tt 2:7-8). Entretanto, para isto é necessário:
1. Conhecer o sistema e doutrinas presbiterianas;
2. Zelar pela fidelidade e pureza doutrinária da igreja;
3. Avaliar a qualificação doutrinária do pastor;
4. Examinar os candidatos ao rol de membros da igreja;
5. Discernir os novos “movimentos” que os membros estejam se envolvendo;

As funções administrativas (indivíduo)
1. Representar as necessidades dos membros nas reuniões do Conselho;
2. Zelar para que as decisões do Conselho sejam cumpridas pela igreja;
3. Lembrar os membros dos seus deveres e privilégios;
4. Acompanhar o funcionamento das sociedades e ministérios da igreja;
5. Elaborar propostas e projetos para a edificação da igreja.

As funções administrativas (concílio)
1. Reunir periodicamente para decidir sobre o bem estar da igreja;
2. Divulgar na igreja local as decisões dos concílios superiores (presbitérios, sínodo, SC);
3. Avaliar candidatos ao batismo e profissão de fé;
4. Participar na aplicação da disciplina bíblica para que atinja a sua finalidade;
5. Analisar se a Junta Diaconal está realizando as suas atribuições;
6. Acompanhar o bom andamento das sociedades internas e ministérios da igreja;
7. Avaliar para o envio ao presbitério os candidatos ao sagrado ministério pastoral;
8. Participar da ordenação e instalação de novos pastores e presbíteros;
9. Representar a igreja local nos concílios superiores.

Notas:
[1] F. Wilbur Gingrich & F.W. Danker, Léxico do N.T. Grego/Português (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1993), p. 83.
[2] Louis Berkhof, Teologia Sistemática (Campinas, LPC, 1990), p. 590.
[3] R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo (Michigan, T.E.L.L., 1985), p. 132.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

24 janeiro 2007

A justiça de Deus

Uma definição simples da justiça divina é que ele é o atributo que reflete a integridade moral de Deus. A justiça de Deus não inocenta os culpados, por mais escondidos que eles estejam, nem culpabiliza os inocentes, por mais caluniados que eles sejam. Deus é onisciente e conhece a dimensão exata da nossa culpa, e também sabe quando alguém está transferindo sobre outrem uma falsa culpa. Assim, quando Adão lançou a sua acusação contra Deus e sua esposa, pelo seu pecado, o Senhor puniu todos segundo a iniqüidade de cada um. Não há injustiçados nem omissões no tribunal divino.

A justiça de Deus tem motivo certo e medida certa. Embora a santidade ofendida seja de grau infinito, exigindo uma punição eterna, ela não será aplicada nos escolhidos de Deus, pois, esta punição foi imputada no amado Filho, sobre a cruz. Mas, por causa do Seu redentor propósito eterno, Ele decidiu condicionar o Seu perdão ao nosso arrependimento (At 3:19). Ele nos pune para manifestar a Sua glória, sem excessos, corrigindo e educando-nos para vivermos a Sua santidade, à imagem de Cristo.

A justiça de Deus não é negociada, não é comprada, nem é subornada. A Sua justiça muitas vezes, ao nosso parecer, é lenta: porque ela não está a serviço de poder econômico algum, de poder político algum, de religioso algum. Deus é independente de qualquer necessidade e absoluto em Suas decisões. Nada pode intimidá-lo na aplicação da Sua justiça. Ninguém pode manipular os resultados dos Seus juízos, nem torcer aos padrões da Sua retidão.

Deus retribui a cada um segunda a sua medida. A justiça de Deus separa o falso do verdadeiro, o joio do trigo, o fingido do autêntico, o condenado do perdoado, o incrédulo do crente, o perdido do salvo. A justiça de Deus coloca de um lado as boas obras meritórias e do outro, as boas obras produzidas pelo coração purificado e agradecido. Deus é inerrante em Suas sentenças, bem como é exato em suas recompensas.

A justiça de Deus traz à tona os pecados não confessados nem abandonados, e joga no lixo os pecados arrependidos. A justiça de Deus é terrível para aqueles que amam mais a impiedade do que a Sua santidade. Ela se manifesta agora de forma esporádica e há de se revelar no futuro próximo de forma conclusiva. É o que chamamos de juízo final! A Escritura declara em tom absoluto e solene: Deus é justo juíz, Deus que sente indignação todos os dias (Sl 7:11).

Rev. Ewerton B. Tokashiki

13 janeiro 2007

Todos devem ser teólogos

Meu querido leigo, leigos precisam ser teólogos. Não, eles não necessitam ser teólogos profissionais. Eles não precisam estudar grego e hebraico. Nem carecem necessariamente serem capazes de instruir outras pessoas. Mas, eles devem ser teólogos. Isto é, devem conhecer a Deus. Precisam fundamentar o seu conhecimento a respeito de Deus. Não podem se excusar de terem claros e corretos conceitos acerca da Deidade, desculpando-se de não serem ordenados para trabalharem na igreja em tempo integral, entretanto, eles foram chamados para algum outro serviço.

por Dr. John H. Gerstner

Extraído de http://www.the-highway.com/theology1_Gerstner.html [13/01/2006]

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki

12 janeiro 2007

A santificação

Escrito por A. A. Hodge e revisado por B.B. Warfield

A santificação (do latim sanctificatio [derivado de sanctificare, santificar; sanctus, santo] tradução do grego agiazein, consagrar, fazer santo, derivado de àgios, santo) é a obra da graça de Deus pela qual aqueles que crêem em Cristo são libertos do pecado e fortalecidos, edificados em santidade. Na teologia protestante ela é distinta da justificação e da regeneração, as quais se encontram em sua raíz, e que não está separada, de fato, de nenhuma das duas; entretanto, o termo justificação está limitada ao ato ou sentença judicial por parte de Deus, pela qual o pecador recebe o favor de Deus, em consideração do que Cristo fez em seu favor, e dela a santificação é a execução eficiente; e o termo regeneração se limita ao ato eficiente inicial pelo qual se implanta a nova vida, da qual a santificação é o desenvolvimento progressivo. Tanto a regeneração como a justificação são atos momentâneos, e atos de Deus em que o pecador permanece passivo; a santificação, por outro lado, é uma obra progressiva de Deus, na qual o pecador coopera.

A natureza da santificação, como o seu método e a relação dos fatores divinos e humanos em sua seqüência, são concebidas de diferentes modos pelos vários tipos de teologias:

1. A visão Pelagiana e a Racionalista excluem totalmente a ação do Espírito Santo; e, faz com que a santificação seja nada mais do que a contínua ação correta, baseada nos poderes inatos do agente moral livre, pela qual gradualmente conquista as tendências da maldade e edifica um carácter santo.

2. A visão Medieval e Romana recusa fazer uma distinção entre justificação e santificação; e faz da justificação e a santificação, o processo da purificação do pecado, e a infusão dos hábitos da graça por parte do Espírito Santo, a causa de Cristo, por meio do instrumento do batismo, pelo qual se condicionam as mudanças subjetivas da remoção da culpa e a recepção do favor divino. 1) Portanto, sustenta-se que é progressiva, e que se fomenta por meio das boas obras, as quais possuem mérito real, que tanto merecem como asseguram o acréscimo da graça. 2) O mesmo ocorre por penitências, orações, jejuns, etc., que satisfazem a justiça de Deus e purificam a alma. 3) Se o crente morrer antes que se consuma o processo da libertação do pecado, ele deve completar no purgatório, cujas dores são expiatórias e purificadoras; e ali pode ser ajudado pelas orações, as missas e o poder dispensador da Igreja na terra. 4) Mas, é possível inclusive, que antes da morte, que um crente se conforme perfeitamente a todas as exigências da lei de Deus no que se ajusta a esta vida. 5) É inclusive possível, por causa do amor realizar um serviço superrogatório.6 Por obediência aos conselhos de Cristo, que têm caráter de conselho, mas que não são obrigatórios até que sejam assumidos voluntariamente. Estes são a pobreza voluntária, o celibato voluntário e a obediência às normas monásticas; e alcançarão mais do que a mera salvação pessoal, pois contribuem com o “tesouro de méritos” à disposição da Igreja, que é imputada naqueles que ostentam a jurisdição dos crentes na terra, ou no purgatório, dos que ainda não foram plenamente justificados.7

3. A visão Mística da santificação, ainda que nunca tenha sido expressa em nenhum credo eclesiástico, existiu como uma doutrina e como uma tendência em todos os períodos, e entre todas as denominações cristãs. O misticismo cristão deprecia a dependência da alma na revelação objetiva da palavra de Deus, e a necessidade dos meios de graça e o esforço humano, e enfatiza a intuição espiritual, o valor regulativo do sentimento religioso, a comunhão física da alma com a substância de Deus, condicionada pelo silêncio e a passividade da mente. Tais enfoques se difundiram grandemente na Igreja através dos escritos do Pseudo-Dionísio, que foram publicados em grego no século VI, e traduzidos para o latim por John Scotus Erigena, no século IX. Estes influenciaram no ensino de muitos eminentes eruditos evangélicos, tais como Bernardo de Clairvaux, Hugo y Ricardo de Saint Victor, e conseqüentemente Thomás de Kempis. Foram ensinados com grande influência entre os primeiros protestantes como Schwenckfeld (1490-1561), Paracelso (1493-1541), Weigel (1533-1588), e Jacobo Bohme (1575-1620); e entre os católicos romanos como São Francisco de Sales (1567-1622), Molinos (1640-1697), Madame Guyón (1648-1717), e o Arcebispo Fenelon (1651-1715). Os Quáquers originais sustentaram ênfases semelhantes, como se pode verificar nos escritos de George Fox (1691), William Penn (1718), e Robert Barclay (1648-1690). Uma visão mística está presente cada vez que a santificação se concebe, não como a meta do esforço, mas como um dom imediato que alma que espera receber.

4. A doutrina evangélica da santificação, comum nas Igrejas Luteranas e Reformadas, inclui os seguintes pontos: 1) A alma, após a regeneração, continua dependendo das constantes operações de graça do Espírito Santo, mas é, por meio da graça, capaz de cooperar com elas. 2) As operações santificadoras do Espírito são sobrenaturais, e não obstante, efetuados em conexão com, e através da instrumentalidade dos meios: sendo os meios da santificação, sejam internos, tais como a fé e a cooperação da vontade regenerada pela graça, ou externos, tais como a palabra de Deus, os sacramentos, a oração, a comunhão cristã e a disciplina providencial do nosso Pai celestial. 3) Neste processo o Espírito completa gradualmente a obra de purificação moral começada na regeneração. A obra tem duas operações: a) a limpeza da alma do pecado e a emancipação do seu poder, e b) o desenvolvimento do príncipio implantado da vida espiritual e os hábitos implantados pela graça, até que o indivíduo chegue a estatura do varão perfeito, em Cristo. O seu efeito é a transformação espiritual e moral do homem total, o intelecto, os afetos, a vontade, a alma e o corpo. 4) A obra continua com vários graus de rigorosidade durante a vida, mas nunca se alcançará a absoluta perfeição moral até que o sujeito seja glorificado.

Em oposição a esta doutrina é ensinado uma teoria da santificação perfeccionista nesta vida, a partir de vários pontos de vista distintos. Segue alguns casos:

1. Segundo os príncipios do Pelagianismo, é perfeito um homem que obedece as leis de Deus até a medida da sua habilidade natural presente, sendo que a lei moral é uma escalada, ajustando as suas exigências às várias habilidades do sujeito; e isto é possível para cada homem.

2. Conforme a idéia Mística a perfeção consiste na assimilação da essência divina, ou, numa forma menos extrema, na assimilação dos desejos e a vontade humana na vontade divina, num amor desinteressado; e, isto pode ser alcançado através de um persistente desprendimento do ego e a meditação em Deus.

3. Segundo a teoria Católica Romana, ou Ritualista, a perfeição consiste na perfeita conformidade da lei de Deus, ajustada – pela graça misericordiosa de Cristo – às capacidades do homem regenerado nesta vida; e esta perfeição se alcança por meio das obras meritórias e as penitências, as orações, os jejuns, os atos voluntários de auto-negação, e a obediência eclesiástica. Isto não somente se encontra ao alcance dos homens, mas está incluso no rendimento de um serviço superrogatório na forma de uma auto-negação extra legal a partir de um príncipio do amor evangélico.

4. A teoria wesleyana da perfeição concebe que a satisfação e o mérito de Cristo fazem que seja consistente com a justiça divina oferecer a salvação aos homens em termos mais fáceis que a antiga lei Adâmica da perfeição absoluta; e essa perfeição é alcançada quando se cumpre com estes termos: “o carácter cristão se valoriza pelas condições do evangelho; a perfeição cristã implica no desempenho perfeito destas condições, e nada mais.”8

Notas:
1 Concílio de Trento, sessão 6, canônes 7.
2 Concílio de Trento, sessão 6, canônes 32.
3 Concílio de Trento, sessão 14, cap. viii; sessão 6, canônes 29 e 30.
4 Bellarmin, O Purgatório., ii. 9.
5 Concilio de Trento, sessão 6, cap. xvi, canônes 25.
6 Superrogação: ação executada acerca, ou além das exigências da obligação.
7 Bellarmino, De Monachiis, cap. vi e vii.
8 João Wesley, A Perfeção Cristã (São Paulo, Imprensa Metodista, 1990).

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki

06 janeiro 2007

Amado Timóteo: uma resenha

A Editora Fiel acertadamente lançou um livro com o título Amado Timóteo. Esta obra é uma série de cartas fictícias com conselhos práticos forjados pelos anos de experiência baseados em princípios bíblicos do exercício do ministério pastoral. São recomendações especificamente na área familiar, pregação, ensino, aconselhamento e liderança.

As sugestões são endereçadas ao Amado Timóteo. Embora seja útil a todos os pastores, ele é dedicado a um [fictício] jovem pastor batista chamado Timóteo, de 26 anos, recém formado, com apenas seis meses de experiência pastoral na Primeira Igreja Batista, casado com Mary, têm um filho e está grávida. Ele contactou vários ministros e lhes pediu conselhos para um ministério pastoral bem sucedido. A partir deste contato, os pastores retribuem com os seus conselhos demonstrando certa intimidade com o jovem Timóteo, de modo semelhante com o velho apóstolo Paulo.

Os autores que contribuiram são ministros de renome por sua formação acadêmica e larga experiência pastoral, a maioria é batista e alguns presbiterianos. Todos os articulistas na época que escreveram estavam pastoreando alguma igreja local, e são ministros dedicados à formação acadêmica dos pastores. São homens que equilibram a erudição e o pastoreio provando que não há necessidade de dicotomizar a piedade e uma boa formação acadêmica para serem bons pastores.

O organizador Thomas K. Ascol tem divulgado o Calvinismo entre os batistas. Mesmo dentro da Convenção Batista do Sul dos EUA que tem a tradição de ser calvinista, este sistema doutrinário tem enfraquecido e perdido a sua influência nos Seminários e púlpitos daquela denominação. Por isso, os founders têm escrito e divulgado o Calvinismo na tentativa de provocar um retorno às raízes[ www.founders.org ]. Este livro é outro projeto nesta direção. Entretanto a obra tem uma proposta maior do que simplesmente apontar uma identidade denominacional. A pretensão de indicar referências mais bíblicas do que os modelos pastorais que têm se estabelecidos no contexto do pós-modernismo norte americano. O surgimento de pastores que são showmen, executivos, estrategistas pragmáticos, etc.. Padrões estranhos que tendem a levar fogo estranho ao altar do Senhor.

No final de cada capítulo, o autor oferece uma lista de leituras que poderão complementar o assunto discutido. Algumas sugestões são repetitivas, creio que outros autores merecem ser citados além dos que são exclusivamente calvinistas. Entretanto, entendo a preocupação de indicar obras de um perfil muito restrito, para se evitar que os jovens ministros bebam em fontes duvidosas. Mas, por ser uma obra de publicação recente [Founders Press, 2003] os autores poderiam indicar obras mais atualizadas.

Embora os autores sejam norte americanos e vivam em outro contexto social e econômico, pode-se perceber que os problemas eclesiásticos e as preocupações pastorais são as mesmas. Não podemos esquecer que a verdade é absoluta e desdobra-se em princípios universais que podem reger os mais diferentes contextos do rebanho de Cristo.

Creio que todos os seminaristas que estão se formando, licenciados para a ordenação, recém ordenados, e mesmo pastores experientes deveriam ler este livro. Quer seja para repensar, ou uma sugestão de ministério, esta obra será muito útil para [re]examinarmos o nosso chamado e o nosso exercício pastoral. Este livro não se propõe a lançar um perfil pastoral, mas apontar um modelo fundamentado em princípios bíblicos que nos alerta dos perigos e doenças que cercam e ameaçam o pastor e o rebanho de Cristo. Boa leitura.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

28 dezembro 2006

Breve histórico da Igreja Presbiteriana dos EUA

Os puritanos de convicção presbiteriana imigraram para os Estados Unidos da América, quando esta ainda era uma colônia da Inglaterra. Durante a colonização do novo mundo, os presbiterianos chegaram da Europa, e se estabeleceram no hemisfério Norte dos EUA, participando da formação das primeiras treze colônias. Estas treze colônias buscaram a sua independência da Inglaterra, dando origem a Revolução Americana. A história registra que pelo menos catorze presbiterianos assinaram a “Declaração de Independência”, sendo o mais conhecido deles o Rev. John Witherspoon.

O primeiro presbitério se formou na Philadelphia, em 1705. Mas, em 1837, a Igreja Presbiteriana dividiu-se internamente entre dois grupos que ficaram conhecidos como a “Nova Escola” e a “Velha Escola”. O desentendimento era causado pelas questões sobre a cooperação na formação teológica dos ministros e possibilidade de unificação entre a Igreja Presbiteriana e a Igreja Congregacional, pois a Velha Escola era teologicamente mais conservadora, e rejeitou a cooperação por questões de desvios doutrinários da parte de alguns pastores congregacionais.

Em 1861, por causa da Guerra civil, a Igreja Presbiteriana se dividiu em linhas nacionais, ou seja, os presbiterianos do Norte e do Sul separaram-se em duas denominações. Os presbiterianos do Sul se uniram em 1861, e formaram a Presbiterian Church of USA (PCUS), e os do norte se uniram em 1869, e formaram a Presbiterian Church of USA (PCUSA). Esta divisão consolidou-se com a Guerra Civil americana que durou quatro anos, de 1861 a 1865. Este cisma ocorreu devido aos problemas com a interpretação da Escritura acerca da escravatura. Entretanto, os presbiterianos do Sul afirmam que eles não dividiram do norte motivados pela questão da escravatura, mas, por causa da imposição de lei nacional sobre a igreja do Sul. Foi neste período que o Rev. Ashbel G. Simonton foi enviado como missionário para o Brasil pela Junta de New York, da Igreja do Norte, embora posteriormente, a Junta de Nashville, da Igreja do Sul também enviou os seus missionários.

Os presbiterianos do norte e do sul reunificaram-se somente em 1983, cento e vinte e dois anos após o cisma. Naquela época, a Igreja do norte era conhecida como a United Presbyterian Church, porque em 1958 a Presbiterian Church of the United States havia se unido com a United Presbyterian Church, e a nova denominação adotou o nome de United Presbyterian Church. Esta divisão durou mais de meio século, e que terminou em Junho de 1883, quando se reuniram as duas Igrejas conhecidas até esse momento como a United Presbyterian Church of USA (PCUSA que era do norte) e a Presbyterian Church in the U.S. (PCUS do sul). A união das duas denominações forjou a United Presbyterian Church of USA (UPCUSA).

Em 1924, cerca de 1300 ministros presbiterianos assinaram a liberal Declaração de Auburn, que nega a inerrância da Bíblia, e declara que a crença em doutrinas essenciais, como a expiação substitutiva de Cristo e a sua ressurreição corpórea não deveriam ser “testes para a ordenação, ou para a boa norma da nossa igreja.” A United Presbyterian Church in the United States of America (UPCUSA) é um ramo do norte do Presbiterianismo dos EUA. Ela foi formada pela união da Presbyterian Church in the United States of America (PCUSA - o principal ramo da Igreja Presbiteriana do norte) com a United Presbyterian Church of North America (uma pequena igreja de tradição escocesa sucessora dos Pactuantes) em 1958. A UPCUSA mantém a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster, mas acrescentou outras confissões e guias doutrinários (opondo-se aos “restritos” padrões) em seu Book of Confessions, como também criou a Confession of 1967 como uma contemporânea declaração de fé.

O Princeton Theological Seminary em New Jersey, representou por muitas décadas a ortodoxia presbiteriana dentro da UPCUSA. Mas, em 1929, a sua Junta [Conselho Diretor] foi reorganizada com uma decisão de colocar professores liberais para lecionar na faculdade. Quatro professores deixaram o Princeton Theological Seminary e fundaram o Westminster Theological Seminary na Philadelphia como uma instituição independente para dar continuidade ao ensino do Cristianismo bíblico.[1]

O grande opositor ao liberalismo dentro da UPCUSA naqueles dias foi J. Gresham Machen. Era um ministro presbiteriano e professor no Princeton Theological Seminary, e posteriormente no Westminster Theological Seminary. Quando J. Gresham Machen denunciou que o liberalismo teológico havia contaminado a junta de missões da UPCUSA, a Assembléia Geral nada fez acerca do assunto. Por causa disto, em 1933, ele e outros reivindicando a genuína pregação do evangelho estabeleceram The Independent Board for Presbyterian Foreign Missions. Em 1934, a Assembléia condenou a sua ação, e foi deposto do seu ofício. Em resposta, 34 ministros, 17 presbíteros regentes, e 79 leigos reuniram-se na Philadelphia, em 11 de Junho de 1936, para constituir a Presbyterian Church of America, que posteriormente, em 1939, o nome da nova igreja foi mudado para Orthodox Presbyterian Church (OPC). Quando foi organizada, a OPC perdeu para a PCUSA todo o seu patrimônio, especialmente os templos.

A Orthodox Presbyterian Church que começou no norte dos EUA, mas implantou novas igrejas na região Sul. Outro grupo enfraqueceu a OPC, quando dividiram formando a dividiu da Reformed Presbyterian Church, Evangelical Synod. Este grupo separou-se da OPC sob a liderança de Rev. Carl McIntyre, por causa de discussões que envolveram questões da liberdade cristã, adotavam o Dispensacionalismo, mantendo um maior vínculo com o movimento Fundamentalista. O grupo que se separou da OPC em 1937, ficou conhecido como Bible Presbyterian Church, e mais tarde mudou o seu nome para Evangelical Presbiterian Church, e então, tornou-se a Reformed Presbyterian Church, Evangelical Synod (RPC). Em 1982, a Reformed Presbyterian Church, Evangelical Synod, uniu-se com a Presbyterian Church in America. A Reformed Presbyterian Church, Evangelical Synod havia se formado em 1965 por uma união da Evangelical Presbyterian Church e da Reformed Presbyterian Church in North America, General Synod.

Surge outra denominação presbiteriana de orientação teológica Reformada. Em dezembro 1973, delegados, representando cerca de 260 congregações com aproximadamente 41.000 membros comungantes deixaram a Presbyterian Church in the United States (a PCUS da região do sul). Separaram da PCUS em oposição ao liberalismo teológico que negava a divindade de Jesus Cristo, a inerrância e a autoridade de Escritura. A PCA manteve a posição tradicional acerca de que as mulheres não devem receber o governo como oficiais da Igreja. Então, reunidos na Briarwood Presbyterian Church, no Alabama, organizaram a National Presbyterian Church, que se transformou mais tarde, em 1974, na Presbyterian Church in América (PCA). Embora esta denominação tenha iniciado no sul, atualmente tem novas congregações no Norte e no Oeste dos EUA.

A maior das denominações presbiterianas é a PCUSA, mas, está perdendo muitos dos seus membros por causa do seu pluralismo [e liberlismo] teológico. A segunda mais expressiva denominação presbiteriana é a PCA, que está crescendo, como também a OPC, embora ainda sejam pequenas denominações mantém-se como referências da ortodoxia reformada nos EUA.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

23 dezembro 2006

Resgatando o significado do Natal

Para aqueles que desejam refletir acerca do significado bíblico do Natal, indico o artigo do Dr. Augustus Nicodemus com o título Não sou totalmente contra o Natal.

No meu blog pode-se ler um artigo mais conciso, com uma abordagem um pouco diferente, com o título Celebrando a nova Aliança no Natal.

Boa leitura, e feliz verdadeiro Natal, em Cristo Jesus

Rev. Ewerton B. Tokashiki

20 dezembro 2006

Carta do Diabão para a Igreja de Cristo

Saudações meus caros!

Quero primeiramente agradecer àqueles que têm facilitado o meu difícil trabalho. Sinceramente me orgulho em ter alguns amigos cooperando comigo, nesta tão querida igreja. Sou grato por estarem fazendo o meu trabalho. Consigo economizar tempo e esforço para planejar outras coisas. Quero agradecer e reforçar solicitando, especialmente, por estes assuntos abaixo:

1. Continuem formando as panelinhas, dividam as opiniões, causando desordem e confusão para que a liderança se estresse tentando resolver;

2. Economizem o seu dízimo e as ofertas. Quem realmente precisa de dinheiro são vocês, meus queridos;

3. Zombem dos professores da Escola Dominical, eles nada têm a ensinar, vocês são os verdadeiros "sabe-tudo";

4. Desprezem a liderança da igreja, critiquem e não contribuam;

5. Orar? Pra quê? Deus já sabe tudo! Afinal, Ele é muito ocupado, para cuidar da sua vida. Não percam tempo orando, façam vocês mesmos. Sejam mais autoconfiantes;

6. Dêem um descanso para as suas Bíblias. Ela está tão surrada, tão usada! Se vocês as amam, guardem-na com carinho. Evitem folheá-las, e quanto menos lê-las, melhor! Vocês poderão preservá-las por muitos anos guardada-as na gaveta. Afinal, vocês já sabem tanto, não há necessidade de se aprender mais. Como seu amigo, me preocupo com vocês, não quero que fiquem loucos de tanto ler a Bíblia;

7. Vocês são os donos da igreja! As melhores idéias são suas. A sua opinião sempre é a mais sábia! Vocês são os mais preparados. Vocês tê0m mais dinheiro. Isso mesmo, vocês são quem mandam;

8. Critiquem uns aos outros. Analisem bem os seus defeitos e notifiquem-se de que todos os membros saberão de todos os erros, pecados e escândalos que ocorrem com as famílias da igreja;

9. Quanto aos músicos não percam tempo ensinando a igreja a cantar. O que ela quer mesmo é vê-los exibindo um bem animado “show”, enquanto assiste admirada os arranjos que vocês conseguem fazer com os seus instrumentos e vozes;

10. Não percam tempo em visitar os enfermos. Sejam realistas, logo, logo, eles estarão bem e sadios, e nem vão te agradecer pela sua visitinha;

11. Não se esqueçam de difamar o pastor. Nem dêem ouvidos ao que ele diz. O pastor só fala de assuntos chatos, como santidade, família, evangelização, comunhão, missões, etc., tudo isso exige muito esforço. É muito importante, também, que vocês ensinem os seus filhos a desrespeitar e criticar o pastor;

12. Não se preocupem em vir aos cultos, vocês não fazem falta! Certamente, vocês possuem bons motivos para faltar nos cultos. Se chover, tem muito barro; se for sol, faz calor; se for frio cuidado com o seu reumatismo. E lembre-se o quanto é cansativo ficar sentado o culto todo! Vocês deveriam desfrutar mais da sua casa, e ir menos nas reuniões da igreja. Não podemos nos esquecer da querida TV, e dos elaborados programas que passam bem no horário dos cultos, que coincidência! Puxa tem tanto filme legal na locadora que seria um crime não assistir na noite de domingo.

Não se preocupem com os novos convertidos, em breve, com o seu exemplo eles estarão tão maduros quanto vocês, no mesmo desânimo e mornidão. O seu mau testemunho sempre é útil para escandalizá-los.

Novamente agradeço por facilitarem o meu difícil trabalho. Sinceramente não sei o que seria de mim se vocês não cooperassem comigo. Não se preocupem com mudanças, nem se esforcem por melhorias, apenas obedeça “a lei do menor esforço”. Continuem assim, e em breve estaremos juntos, tirando umas merecidas férias, por toda a eternidade.

Do seu mui amigo, o Diabão.

Rev. Ewerton B. Tokashiki
Artigo fictício
20/12/2006 revisado

12 dezembro 2006

Chuta que é macumba

Há muitos anos atrás me envolvi com o movimento Batalha Espiritual. Lembro quando o primeiro livro Este Mundo Tenebroso de Frank Peretti foi lançado, foi uma loucura! Implantou-se entre os evangélicos uma percepção da realidade totalmente demonizada! Deus deixou de ser o centro das atenções e a preocupação teve como prioridade "amarrar Satanás". Hoje, graças à Deus, coloquei as idéias no lugar, e estou estudando um pouco mais a Bíblia, e descobri que bem pouco de fidelidade à Escritura existe neste movimento. Num precisa dizer que abandonei este troço!?

O problema central do movimento Batalha Espiritual é que ele é demonologocêntrico (desculpem-me o neologismo), ou seja, tudo é causado pelo demônio! Bom já seria ruim se fosse só isso. Mas, toda cosmovisão tem implicações intensas. Olhando o mundo à partir das lentes do movimento Batalha Espiritual, se vê demônio em tudo. Tem capeta prá tudo que é gosto, lugar e função.

Mesmo enquanto adotava a mentalidade deste movimento, fiquei horrorizado quando, certa feita fui num culto, numa dessas igrejas que você num sabe o que está, nem o que vai acontecer! Pois é, de repente, o pastor [?] gritou: "manifeste-se! Eu sei que você está aqui!" E, olha que aquilo não foi a introdução do sermão, mas uma pausa para pararmos de focalizar a nossa adoração e pensamentos em Cristo, para bater um papo com o Tinhoso. Como nada aconteceu, nenhuma manifestação demoníaca, o tal pastor continuou e teve a coragem de dar a esfarrapa desculpa de que o "Espírito Santo havia lhe revelado que haviam pessoas naquele momento que estavam dando lugar ao diabo". Bom, esse negócio do Espírito Santo ficar falando toda hora, trazendo revelações fresquinhas que não estão na Escritura, é outro negócio muito complicado. Mas, dizer que crentes estavam dando lugar ao diabo, é no mínimo uma frase sem sentido.

Os caras que estão envolvidos no movimento crêem que para evangelizar é necessário antes fazer demarcação territorial para saber quais e quantos demônios mandam naquele pedaço. A maioria das suas orações têm uma boa porcentagem de conversa com o demônio. O culto de adoração inclui na liturgia um momento de exorcismo [no estilo "xô Satanás"]. Simplesmente, porque Deus deixou de ser o soberano Senhor e regente do universo, e os demônios entraram na S/A (sócios anônimos) de toda a propriedade que Deus criou. Não me perguntem como se explica isto, num encontrei este ensino em lugar nenhum da Bíblia!

Tem um pastor por aí que diz que foi expulsar o demônio de uma pessoa e ela vomitou uma cobra! Cada bizarrice que choca o mais crédulo dos evangélicos. Fico muito preocupado, porque em nosso meio se deixa de viver o antigo e puro evangelho de Cristo, e estamos presenciando a prática de uma verdadeira macumbaria evangélica! Se você acha que estou sendo exagerado, ligue a TV e veja alguns canais que apresentam "cultos evangélicos" onde tem pastor até vestindo roupa branca na sexta-feira, parecendo uns "pais-de-santo".

Chego a pensar que a síndrome de Adão não ficou lá no Jardim do Éden. Ainda hoje continuamos com a mania de querer transferir para o Diabo a causa da nossa desobediência [embora, não nego que Satanás tenha a sua significativa parcela de culpa], mas, vamos pôr menos culpa no infeliz do "Coisa ruim", e assumir a nossa responsabilidade diante de Deus, com as pessoas, vivendo o nosso chamado de obediência à Palavra de Deus. Soli Deo Gloria!

Rev Ewerton B Tokashiki

07 dezembro 2006

A origem do ofício de presbítero

A palavra “presbítero” é uma transliteração do grego presbyterós, que significa literalmente “ancião”. No sentido do Novo Testamento, quando se refere à liderança da Igreja Cristã, indica uma pessoa que possuí um ofício de autoridade, mas, em outros contextos do grego coinê,[1] pode-se referir simplesmente a um homem idoso. A palavra presbyterion encontrado em Lc 22:66; At 22:5 e 1 Tm 4:14 significa “concílio de anciãos”. Herman Ridderbos observa que o ofício de presbítero “certamente possuí antecedentes patriarcais e se originou no judaísmo, onde é a designação de uma classe social.”[2] Então, não era necessariamente a liderança realizada somente por homens idosos, mas idôneos. A palavra indica no Novo Testamento não a maturidade biológica, mas a espiritual, ou seja, não especificamente a sua idade, mas a transformação que o discípulo de Cristo alcançou sobressaindo aos demais, deixando de ser considerado neófito (1 Tm 3:6).

Desde o Antigo Testamento o sistema de governo é exercido através de anciãos (presbíteros). Tanto Moisés, como os sacerdotes e levitas, os juízes e os reis de Israel, eram auxiliados pelos “anciãos de Israel” (Êx 3:16-18; 4:39; 17:5-6; 18:13-17; 19:7; 24:1, 9-11; Lv 4:15; 9:1-2; Nm 11:14-25; Dt 5:23; 22:15-17; 27:1; Js 7:6; 8:33; Jz 21:16; 1 Rs 8:1-3; 1 Cr 21:16; Sl 107:32; Ez 8:1). Este era o exercício comum de governo do povo de Deus na antiga Aliança.

A prática do povo de Israel de ser governado pelos anciãos (presbíteros) continuou no Novo Testamento. O julgamento de Jesus foi realizado no amanhecer, quando “reuniu-se a assembléia dos anciãos do povo, tanto os principais sacerdotes como os escribas, e o conduziram ao Sinédrio...” (Lc 22:66; veja também At 22:5).

O sistema de governo pelos anciãos (presbíteros) foi mantido num processo natural de continuidade da antiga para a nova Aliança na Igreja Cristã. Paulo não inventou um novo sistema de governo para as igrejas que implantou, apenas o adaptou para uma perspectiva e necessidade cristã. A pluralidade de anciãos (presbíteros) em cada igreja local era o padrão estipulado para que aquela comunidade pudesse ser governada. Esta era a prática de Paulo (At 14:23), e foi assim que ele instruiu os pastores que lhe sucederam (2 Tm 2:2; Tt 1:5). Rudolf Bultmann conclui que "um conselho dos “presbíteros” é por excelência uma instituição na qual se unem a validade de autoridade ex officio; e justamente por meio dele a autoridade de lideranças pôde ser fortalecida. A formação de um colégio de presbíteros também não foi algo extraordinário, porque a comunidade cristã procedeu também neste ponto conforme o modelo das comunidades sinagogais judaicas; quanto à sua forma, a comunidade primitiva apresentava-se inicialmente como uma sinagoga dentro do judaísmo."[3]

Os presbíteros sucederam aos apóstolos como liderança da Igreja. Enquanto os apóstolos ainda eram vivos, os presbíteros simultaneamente exerciam o governo ao seu lado (At 11:30; 15:2; 20:17-35; Tg 5:14; 1 Pe 5:1-4). Quando o apostolado cessou, os presbíteros continuaram, e são estes que devem governar a Igreja, como substitutos dos apóstolos e representantes da autoridade de Cristo. Como já foi observado o apostolado foi um ofício transitório. Não há apóstolos hoje. Eles formavam um grupo único com as seguintes características:[4]
1. Eles foram pessoalmente escolhidos, chamados, instruídos e designados por Cristo, e não por qualquer outra instituição humana.
2. Eles foram testemunhas oculares do Jesus histórico (Mc 3:14; Jo 15:27; At 1:21,22; 1 Co 9:1; 15:8-9).
3. Foi-lhes prometido uma inspiração especial do Espírito Santo, que iria tanto lembra-los de tudo o que Jesus lhes ensinou, guiando-os à toda verdade (Jo 14:25-26; 16:12-15).

Os apóstolos participaram desta transição de autoridade. (1 Pe 5:1; 2 Jo vs.1; 3 Jo vs.1). Houve uma transferência de autoridade dos apóstolos para os presbíteros. Quando o ofício apostólico desapareceu permaneceram apenas os presbíteros que foram instituídos, ordenados e estabelecidos em todas as igrejas. Esta transição pode ser verificada através de documentos nos primeiros séculos da Igreja. Clemente de Roma, entre 95 a 98 d.C., afirma que os apóstolos "pregavam pelos campos e cidades, e aí produziam suas primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas bispos e diáconos dos futuros fiéis. Isso não era algo novo: desde há muito tempo, a Escritura falava dos bispos e dos diáconos. Com efeito, em algum lugar está escrito: 'estabelecerei seus bispos na justiça e seus diáconos na fé.'"[5]

Em outro lugar ele ainda menciona os termos episcopado, geralmente traduzido por bispo ou supervisor, e presbíteros, como sendo intercambiáveis. Ele afirma que os "nossos apóstolos conheciam, da parte do Senhor Jesus Cristo, que haveria disputas por causa da função episcopal. Por esse motivo, prevendo exatamente o futuro, instituíram aqueles de quem falávamos antes, e ordenaram que, por ocasião da morte desses, outros homens provados lhes sucedessem no ministério. Os que foram estabelecidos por eles ou por outros homens eminentes, com a aprovação de toda a igreja, e que serviram irrepreensivelmente ao rebanho de Cristo, com humildade, calma e dignidade, e que durante muito tempo receberam o testemunho de todos, achamos que não é justo demiti-los de suas funções. Para nós, não seria culpa leve se exonerássemos do episcopado aqueles que apresentaram os dons de maneira irrepreensível e santa. Felizes os presbíteros que percorreram seu caminho e cuja vida terminou de modo fecundo e perfeito. Eles não precisam temer que alguém os afaste do lugar que lhes foi designado."[6]

O mais antigo manual de catecúmenos, conhecido como Didaquê, instrui que “escolham para vocês bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados, porque eles também exercem para vocês o ministério de profetas e mestres.”[7] Novamente, usa-se o título bispo em lugar de presbíteros para se referir ao mesmo oficial. Não é ao sistema episcopal que os autores da Didaquê fazem menção, pois estes bispos eram eleitos pela igreja, e não por um colégio episcopal.


Notas:
[1] William D. Mounce, The Anayitical Lexicon to the Greeek New Testament (Zondervan Publishing House, 1992), p. 389.
[2] Herman Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo (Grand Rapids, Libros Desafio, 2000), p. 592.
[3] Rudolf Bultmann, Teologia do Novo Testamento (São Paulo, Editora Teológica, 2004), p. 540-541.
[4] John R.W. Sott, O chamado para líderes cristãos (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2005), p. 16.
[5] Clemente de Roma in: Padres Apostólicos (São Paulo, Ed. Paulus, 1995), vol. 1, p. 53. Clemente cita o livro de Is 60:17 na versão grega do AT conhecida como Septuaginta.
[6] Clemente de Roma in: Padres Apostólicos, vol. 1, p. 54-55.
[7] Didaquê in: Padres Apostólicos, vol. 1, p. 358.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

05 dezembro 2006

Calvino e as novas revelações

Os fanáticos, pondo de lado a Santa Escritura, passam por cima da revelação e subvertem todos os princípios da piedade

APELO DOS FANÁTICOS AO ESPÍRITO EM PREJUÍZO DA ESCRITURA

Além disso aqueles que repudiam as Escrituras, imaginando que podem ter outro caminho que o leve a Deus, devem ser considerado não tanto como dominados pelo erro, mas como tomados por violenta forma de loucura. Recentemente, apareceram certos tipos de mau caráter que atribuindo a si mesmos, com grande presunção, o magistério do Espírito, faziam pouco caso de toda leitura da Bíblia, e riam-se da simplicidade dos que ainda seguem o que esses, de mau caráter, chamam de letra morta e que mata.

Eu gostaria de saber deles, porém, que Espírito é esse por cuja inspiração eles são levados a alturas sublimadas, a ponto de terem a ousadia de desprezar, como infantil e rasteiro, o ensino da Escritura. Se eles responderem que é o Espírito de Cristo quem os inspira, consideramos absurdamente ridículo esse tipo de certeza uma vez que eles, se concordam, como penso que o fazem, que os Apóstolos de Cristo e todos os fiéis, na Igreja Primitiva, foram iluminados por esse mesmo Espírito. O fato é que nenhum dos Apóstolos ou fiéis aprenderam desse Espírito a desprezar a Palavra de Deus. Ao contrário, cada um deles foi antes tomado de profunda reverência (para com a Escritura), como seus escritos o comprovam muito luminosamente. Na verdade, assim foi predito pela boca do Isaías, pois o Profeta não cerca o povo antigo com um ensino meramente externo, como se fosse para o povo como as primeiras letras, mas diz: "O meu Espírito que está sobre ti, e as minhas palavras que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca tua descendência..." (Is 59.21), considerando antes que a nova Igreja terá, sob o reino de Cristo, a verdadeira e plena felicidade, que consiste em ser regida pela voz de Deus, não menos que pelo seu Espírito. Concluímos daqui que esses fanáticos cometem abominável sacrilégio quando separam estes dois elementos que o Profeta uniu por meio de um vínculo inviolável.

A isto, acrescente-se que Paulo, não obstante ter sido arrebatado até o terceiro céu (II Co 12.2) - não deixou, entretanto, de aproveitar o ensino da Lei e dos Profetas, exortando também a Timóteo - mestre de projeção singular - a que se dedicasse à sua leitura (1 Tm 4.13). É também digno de ser lembrado aqui o que Paulo diz da Escritura: "Que ela é útil para ensinar, admoestar, redargüir, para que os servos de Deus se tornem perfeitos" (II Tm 3.16). Não será, portanto, diabólica loucura imaginar como transitório ou temporário o valor da Escritura, destinada a conduzir os filhos de Deus até a perfeição final?

Quero que esses fanáticos me respondam também o seguinte: Terão eles bebido de outro Espírito e não daquele que o Senhor prometeu aos seus discípulos? Ainda que estejam possuídos de loucura tão extrema, não os considero contudo, arrebatados de tão furiosa demência a ponto de terem a ousadia de gabar-se disso. Mas, ao prometer o Espírito, de que natureza declarou ele haver de ser esse Espírito? Na verdade, era um Espírito que não falaria por si mesmo, mas, ao contrario, sugeriria a mente deles e nela instilaria aquilo que ele mesmo, Jesus, havia transmitido por meio da Palavra (Jo 16.13). Portanto, não é função do Espírito que Cristo nos prometeu desvendar novas e indizíveis revelações, ou forjar novos tipos de doutrina, pelos quais sejamos desviados do ensino do Evangelho já recebido. Ao contrario, a função do Espírito é a de selar, na nossa mente, a mesma doutrina que o Evangelho nos recomenda.

A BÍBLIA É O ÁRBITRO DO ESPÍRITO

Se ansiamos obter algum uso e fruto da parte do Espírito de Deus, podemos entender facilmente como é imperioso para nós aplicar-nos, com grande diligência, tanto a ler quanto a ouvir a Escritura. É por isso que Pedro até louva (II Pe I.19) o zelo dos que estão atentos ao ensino profético, ensino que, todavia, depois de começar a brilhar a luz do Evangelho poderia parecer ter perdido a validade. Muito ao contrário, se algum espírito, desprezando a sabedoria da Palavra de Deus, nos impõe outra doutrina, devemos suspeitar com justa razão, de que seu ensino é vaidade e mentira (Gl. 1:6-9).

Sim, porque se Satanás se transforma em anjo de luz (II Co 11.14), que autoridade poderá ter o Espírito entre nós, se não soubermos discerni-lo por meio de sinal de absoluta certeza? E muito claramente a voz do Senhor no-lo tem apontado, mas esses infelizes (embusteiros) tudo fazem por extraviar-se, buscando a própria ruína, quando buscam o Espírito por si mesmos, ao invés de busca-lo por ele próprio.

Alegam eles que é ofensivo ao Espírito de Deus - a quem tudo deve estar sujeito -, ficar subordinado a Escritura. Como se fosse, na verdade, repulsivo ao Espírito Santo ser igual a si mesmo, por toda parte, ou permanecer de acordo consigo mesmo em todas as coisas, e em não variar em coisa alguma! De fato, se fôssemos obrigados a julgar de acordo com a norma humana, angélica ou estranha, então poder-se-ia considerar o Espírito como reduzido à subordinação, e até a servidão, se se preferir. Quando, porém comparamos o Espírito consigo mesmo, e em si mesmo o consideramos, quem poderá dizer que, com isso, o estejamos ofendendo?

Confesso que o Espírito, desse modo, é submetido a um exame através do qual Ele quis fosse estabelecida a sua majestade entre nós. Ele deve ficar plenamente manifestado a nós tão logo entre no nosso coração. No entanto, para que o Espírito de Satanás não nos persuada em nome do Espírito Santo, este quer ser reconhecido por nós na imagem que imprimiu de si mesmo nas Escrituras, pois sendo ele mesmo o autor da Escritura, não pode variar nem ser inconstante consigo mesmo. Portanto, do modo como nelas se manifestou, tem de permanecer para sempre. Isto não pode ser modificado, a menos que julguemos - como dignificante -, o Espírito abdicar e degenerar de si mesmo!

A BÍBLIA E O ESPÍRITO SANTO NÃO SE SEPARAM

Quando a acusação que fazem contra nós, de que nos apegamos demasiadamente à letra que mata, acabam eles incorrendo na pena de desprezarem a Escritura. Ora, salta aos olhos o fato de Paulo (II Co 3.6), estar contendendo com os falsos apóstolos os quais, insistindo na Lei separada de Cristo, estavam, na realidade, alienando o povo da Nova Aliança, na qual o Senhor prometeu que haveria de gravar a sua Lei nas entranhas dos fiéis, e imprimi-la no coração deles (Jr. 31:33), Portanto, a letra está morta e a Lei do Senhor mata a seus leitores, guando não apenas se divorcia da graça de Cristo, mas, também, não tocando o coração, atinge só os ouvidos. Se ela, porém, por meio do Espírito, se imprime de modo eficaz nos corações e manifesta a Cristo, ela é a Palavra da vida (Fl. 2:16), que converte as almas e da sabedoria aos símplices (Sl. 19:7).

Além disso, nessa mesma passagem (II Co 3.8), Paulo chama a sua pregação de ministério do Espírito, querendo dizer com isso, sem dúvida, que o Espírito Santo de tal modo se prende à sua verdade expressa na Escritura, nela manifestando e patenteando o seu poder, que nos leva a reconhecer na Palavra a devida reverência e dignidade. E isto não contradiz o que foi dito pouco atrás quando afirmamos que a Palavra não é absolutamente certa para nós, se não for confirmada pelo testemunho do Espírito, visto que o Senhor uniu entre si - como se fosse por mútua ligação -, a certeza de sua Palavra e a certeza do seu Espírito, de maneira que a firme religião da Palavra seja implantada em nossa alma, quando brilha o Espírito, fazendo-nos contemplar a face de Deus. Do mesmo modo, reciprocamente, abraçamos ao Espírito sem nenhum temor ou engano, quando o reconhecemos na sua imagem ou, seja, na Palavra! E, de fato, é assim!

Deus não deu a Palavra aos homens tendo em vista uma apresentação passageira, que fosse abolida assim que viesse o seu Espírito. Ao contrário enviou-nos o mesmo Espírito por meio de cujo poder nos deu a Palavra, com o fim de realizar a sua obra, confirmando eficazmente a mesma Palavra. Por isso, Cristo abriu o entendimento dos dois discípulos de Emaús (Lc 24.27, 45), não para que, pondo de lado as Escrituras, esses discípulos se fizessem sábios a si mesmos, mas para que fossem capazes de entender essas Escrituras. Igualmente Paulo, quando exorta os cristãos de Tessalônica (I Ts 5.19-20) a não extinguirem o Espírito, não os eleva as altura com vãs especulações fora da Palavra, mas acrescenta imediatamente que não se deveriam desprezar a profecias. Com isso, o Apóstolo diz, de maneira não duvidosa, que quando se desprezam as profecias, a luz do Espírito fica obscurecida.

Que dirão a respeito destas coisas esses fanáticos que consideram com validas apenas esta iluminação, desprezando e dizendo adeus a Divina Palavra, sem qualquer preocupação? Não menos confiantes e temerários são eles quando se agarram ambiciosamente a qualquer coisa que conceberam enquanto dormiam! Aos filhos de Deus, certamente, convém sobriedade bem diferente, pois eles, ao mesmo tempo que, sem o Espírito, se sentem privados de toda verdadeira luz, não ignoram, todavia, que a Palavra é o instrumento pelo qual o Senhor concede aos fiéis a iluminação do seu Espírito. Os fiéis não conhecem outro Espírito senão aquele mesmo Espírito que habitou nos Apóstolos e falou através deles, e desses oráculos os fiéis são continuamente convocados a ouvir a Palavra.

Extraído de João Calvino, As Institutas da Religião Cristã - Livro I, Capítulo 9