O que é o jejum cristão?
O jejum cristão é a negação do apetite natural para a comida, de uma convicção do seu verdadeiro uso na Escritura, e com o propósito de glorificar a Deus, pela mortificação do pecado, e de gozar da misericordia, pelos méritos de Jesus Cristo somente.
1. Quanto ao modo, pode ser a rejeição completa da comida por um período de tempo (2 Sm 12:16), ou, é a rejeição parcial da comida por um período de tempo (Dn 10:2-3).
2. Não se pratica o jejum apenas pela veneração da tradição, embora os servos de Deus em todos os período da história observaram a prática do jejum. Nem se deve jejuar simplemente porque uma autoridade tenha ordenado. Nem por legalismo de uma mera justiça externa com o objetivo de ser visto pelas pessoas (Mt 6:1, 16-18). Nem mesmo tem o propósito de promover alguma forma de ascetismo, especificamente, a crença de que o corpo é mal e por isso, tem que ser castigado. Pelo contrário, deve ser oferecido como um ato de louvor a Deus com uma convicção sincera de que Deus nos convoca para jejuar em certas ocasiões (Mt 17:21; At 14:23).
3. A meta principal de jejuar, como em todas as outras coisas, é para a glória de Deus (1 Co 10:31).
4. A meta secundária de jejuar é a mortificação do pecado. Devemos enfraquecer o domínio do pecado, humilhando e arrependendo-se do pecado, e experimentando o prazer da misericórdia e da graça de Deus (Rm 8:13; Gl 3:5-11).
5. A base de todas as bençãos que Deus graciosamente nos concede é somente e sempre a pessoa e obra de Jesus Cristo. Não há nenhum mérito em nossas obras de justiça, nem mesmo nos jejuns.Onde se encontra a ensino do jejum na Escritura?O jejum cristão é ensinado em toda a Escritura (2 Sm 12:16; Ne 1:4; 2 Cr 20:3; Jn 3:7, 8; Lucas 4:1-13; At 14:23; Mt 6:16-18; 17:21). Tanto na antiga, como na nova Aliança o povo de Deus praticou o jejum como um ato de consagração pessoal. O jejum não cessou no Novo Testamento, como alguns pensam, mas tem a sua continuidade comprovada tanto por Jesús, como pela Igreja no período posterior ao Pentecostes.
Porquê alguém deveria jejuar?
A motivação do jejum certamente é a questão mais importante quando se estuda este tema. Muitas pessoas são zelosas em se dedicarem ao jejum, todavia, o fazem com motivações erradas, e correm o risco de não serem aceitos por Deus. Pelo menos cinco razões poderão ajudar a esclarecer esta questão:
1. A prática do jejum é necessária, pois Deus ordena praticá-lo.
2. Porque os seus sentimentos e apetites estão inclinados para as coisas deste mundo, e no jejum você volta os seus sentimentos das coisas desta vida para as coisas de Cristo.
3. Porque o orgulho e a auto-suficiência impedem a sua convivência com Deus. O jejuar, entretanto, revela a sua insuficiência e a nossa plena satisfação em Deus. A debilidade física que se sente ao jejuar, deveria lembrar a fragilidade humana diante um Deus absolutamente soberano e infinitamente santo.
4. Porque você deseja mortificar o pecado e regozijar-se na misericórdia de Deus.
5. Porque você necessita de poder espiritual e sabedoria que procede de Deus. Os discípulos após terem recibido a autoridade de expulsar os demônios numa jornada missionária (Lc 9:1-6) regressaram para relatar as grandes coisas que se fizeram nas cidades por onde haviam passado (Lc 9:6, 10). Todavia, quando a autoridade sobrenatural concedida para a sua jornada missionária terminou, os discípulos necessitaram de recorrer a oração e ao jejum (Mt 17:21). Do mesmo modo os apóstolos, e as igrejas do primeiro século reconheciam a sua necessidade absoluta de sabedoria e poder para escolher e ordenar os presbíteros, com um tempo dedicado ao jejum e à oração (At 14:23).
Quem deveria jejuar?
Todos os que podem praticá-lo como uma obra de adoração a Deus com uma conciência sincera, sem superstição, legalismo, ascetismo, ou hipocrisia. Pode-se inclusive estimular as crianças para o jejum, do mesmo modo que se deve ensiná-los a orar, mas, eles devem ser instruídos acerca do que é o jejum com suficiente clareza, e sobre a sua necessidade.
Quando se deve jejuar?
Em geral, deveríamos jejuar muito mais do que costumamos fazer. Não podemos pensar em apenas jejuar somente quando temos problemas, mas também como uma medida preventiva para encher-nos com sabedoria e poder e evitar crises.
Como deve ser praticado o jejum?
O jejum pode ser praticado individualmente, ou em família, quando ocorre a necessidade pessoal. Com a igreja inteira, quando é convocada pelo pastor, ou pelos presbíteros. Como nação, quando é feito a convocação por um governante civil que é realmente cristão, e tem o propósito de direcionar todo o país ao arrependimento, e à submissão a Deus.
A prática do jejum não deve ser feita sem o devido cuidado, em que cada indivíduo deve observar a sua condição física. Cada pessoa possuí necessidades singulares, por isso, ela deve ser ciente das suas limitações, e tomar o cuidado necessário para que desejando obter saúde espiritual, não venha prejudicar a sua saúde física.
1. Não podemos esquecer de que o jejum, como o dia do descanso, foi feito para o homem, e não o homem para o jejum. Nada deveria levar a abstinência a tal extremo ao ponto de por em perigo a saúde física. Mas, quando a fraqueza física aparece por causa do jejum, não se deve pensar que não se é capaz de jejuar.
2. Se alguém tem problemas físicos (diabete, gastrite, úlcera, pressão alta, etc.), pode-se fazer um jejum parcial. Não coma para satisfazer o seu apetite, mas coma apenas para satisfazer a necessidade, evitando o mal-estar. Alimente-se de frutas, legumes, verduras, e água, apenas o necessário, de modo que não agrave o estado de saúde debilitada.
3. Se o seu trabalho exige esforço físico e você necessita se alimentar bem, faça um jejum por um período de tempo menor. Não pense que, porque o seu jejum não pode ser por um período longo que não será aceito por Deus, pois, Ele quer misericórdia, e não sacríficio (Os 6:6).
4. Ensine aos seus filhos sobre o jejum, e o modo como podem praticá-lo, pois, talvez, sejam incapazes de jejuar por um dia todo, mas, podem jejuar apenas um período do dia. Tenha cuidado para não prejudicar os filhos causando neles desnutrição.
5. Tenha cuidado de tomar uma quantidade suficiente de água quando estiver jejuando. Não beba refrigerante, sucos, café ou chá, pois eles satisfazem a fome, e podem prejudicar o objetivo do jejum.
6. Planeje o seu dia para que você possa ter em mente, durante o dia, que este período está separado para revelar a sua insuficiência, e a suficiência de Deus na sua vida.
7. Neste dia você não deve passá-lo ocioso, ou com ocupações de diversão e entretenimento. Ele deve ser seriamente dedicado para a oração, leitura das Escrituras e reflexão acerca da circunstância que motiva o jejum. Mas, se for um dia normal de trabalho e compromisos, mantenha em mente o seu propósito de jejuar.
8.Tenha cuidado para que o seu semblante não anuncie publicamente que está jejuando (Mt 6:1,16). Não demonstre uma cara de tristeza e angústia, mas mantenha a normalidade do seu dia, como outro qualquer. Não busque a atenção das pessoas sobre você, de modo que fique demonstrando o seu jejum (Mt 6:16-18). Mas, se alguém lhe perguntar porque você não está comendo, procure de maneira discreta responder-lhe que está em jejum, sem prolongar muito o assunto. Não há necessidade de mentir.
9. Quando você for iniciar o seu período de jejum, e também quando findá-lo, faça de modo solene. Recolha-se a um lugar, separe uma porção das Escrituras para meditar durante o tempo em que estiver jejuando, ore e estabeleça o início e o fim deste momento de consagração. No momento de terminar o jejum, também recolha-se, ore e entregue o seu jejum, agradecendo a Deus, porque Ele lhe preservou capacitando-o a cumprir este santo propósito.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
O labor teológico de quem se preocupa em oferecer a sistematização e aplicabilidade das Escrituras para a proclamação do Reino de Deus
24 fevereiro 2007
Conselhos práticos sobre o jejum cristão
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Teologia pastoral
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
07 fevereiro 2007
Perspectiva Reformada sobre a Internet
Há alguns anos atrás, a era da informática ainda não havia se estabelecido em nossas vidas, nossa linguagem, nossos lazeres, e assim por diante. Desde o primeiro computador, surgido em 1946, até os dias atuais, cada vez mais temos sido fortemente influenciados pela era digital.
Seguindo os passos do computador, veio a internet. No princípio era de uso exclusivo dos militares americanos (isso na década de 60). Depois é que veio a se popularizar. No Brasil, a internet só ganhou notoriedade em 1995 pela iniciativa do Ministério das Telecomunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia, quando foi aberta ao setor privado para exploração comercial da população brasileira. A partir daí, ele rapidamente se popularizou, criando conceitos e padrões e uma nova forma de viver e ver o mundo.
Assim como a invenção da impressa por Gutenberg revolucionou a informação, o advento da internet mostra-se cada vez mais que veio para ficar e mudar paradigmas. Cabe uma cuidadosa e séria análise, partindo de uma ética cristã, sobre os benefícios e perigos que a cibercultura trás à sociedade.
É extremamente oportuno e relevante falarmos sobre ética, explorando a cosmovisão reformada sobre o assunto. Tudo é muito veloz no mundo da web. As informações e tecnologias se processam numa velocidade estonteantes. É impressionante que um tema tão atual e relevante como esse, tenha tão pouca notoriedade nos círculos evangélicos. São pouquíssimos os artigos sérios que temos acesso. Da mesma forma, livros e outros impressos ainda não circulam o suficiente, para dar à população uma visão bíblica e reformada sobre o tema.
A falta de material foi um obstáculo a ser superado na elaboração desse trabalho. Montamos uma estratégia de pesquisa partindo de artigos que tratam diretamente sobre internet, mas principalmente, buscamos argumentos na ética reformada para tratar o assunto. Vale dizer que, de qualquer forma, a ética está envolvida na utilização da informação virtual. No momento certo, trataremos qual é a natureza dela.
Ao desenvolver o trabalho, notamos que faltam materiais que tratem do assunto, de forma mais abrangente, nas nossas Escolas Dominicais; não há um controle eficiente por parte das autoridades; as leis não acompanham a velocidade das contravenções virtuais. Há muito a ser feito nesse “novo mundo”. E a igreja deve ser uma voz profética, apontando erros e indicando caminhos.
A INTERNET E A ÉTICA
Seria possível viver sem internet hoje? Não! Pelo menos não a vida nos moldes que conhecemos do mundo atual. Para bem ou mal, ela já se ajustou às necessidades da presente geração. Já se fala e se vive em realidades virtuais. A mídia, a indústria, o comércio e as pessoas têm no mundo virtual uma nova maneira de comprar, vender, informar, se divertir, enfim, se relacionar de uma maneira nova, sem precedentes históricos.
Mais do que nunca, são necessários parâmetros éticos que possam regularizar esse mundo sem fronteiras. E por falar em fronteiras, foram todas removidas em se tratando de web. Hoje falamos de adultério virtual, sexo virtual, jogos ilegais e imorais, pirataria via internet, entre outras formas imorais e ilícitas de se usar a rede. Precisamos mencionar a criação de comunidades virtuais se expressando contra grupos étnicos e religiosos; orkut usado para “passar cola” aos estudantes; ofensas, mensagens racistas, entre outras[1]; fotos em blogs, sites e comunidades sem o consentimento[2] da pessoa, inclusive imagens de crianças e adolescentes, em situações que caracterizam pedofilia; envio de vírus de computador[3]; dar forward para várias pessoas de um boato eletrônico, e assim por diante.
Diante de tantas coisas ilícitas que vemos na internet, algumas pessoas podem usar o conhecido argumento: “... mas todo mundo faz”. Esta é a nossa maior vulnerabilidade hoje. Lembremos que isso não nos exime de responsabilidade legal, e nem moral.
O que motiva uma pessoa a usar ilicitamente e/ou imoralmente a internet? O que está por trás de suas ações[4]? A questão ética! A nossa cultura está profundamente influenciada por uma ética humanista[5]. Nesse tipo de conceito ético, o importante é o prazer pessoal. Sou levado a tomar atitudes, tendo-as como certas ou erradas, apenas se me dão alegria ou não. Construímos mecanismos de defesa, tais como: “não estou fazendo mal a ninguém. Só estou me divertindo”. Ou ainda: “É melhor fazer isso sozinho do que envolver outras pessoas, correndo riscos desnecessários”.
O certo e o errado são vistos a partir de uma perspectiva isenta de absolutos. Assim, certo ou errado é apenas uma questão de visão pessoal da situação em que o indivíduo está envolvido. A ausência de absolutos abre as portas para tolerância e prática de qualquer desvio de conduta. Outras conseqüências poderiam ser mencionadas quando a verdadeira ética é distorcida ou descartada. E nada tem feito isso de forma mais incisiva do que o mundo da internet.
A net também molda os conceitos éticos de seus cibernautas. Assim como a televisão, a exposição freqüente de crianças, adolescentes e jovens a site, chats e comunidades não recomendáveis, sem qualquer critério por parte de pais e responsáveis, acabam por moldar ou reformular os conceitos e pensamentos deles. Terão uma visão de mundo influenciada pelo pluralismo e relativismo que, com certeza marcará sua maneira de se relacionar com Deus e as pessoas.
REDIMINDO A INTERNET COM UMA ÉTICA BÍBLICA-REFORMADA
Ao analisarmos a internet com todos os seus prós e contras, podemos perceber que não dá para usá-la responsavelmente, sem uma base ética totalmente pautada nas Escrituras Sagradas. É claro que tais princípios, em todas as suas dimensões, só podem ser aplicados aos regenerados. Mas será que existem princípios bíblicos gerais aplicáveis a todos, regenerados e não-regenerados? Cremos que sim.
Partimos do princípio que Deus é soberano sobre todas as coisas. É do próprio Deus que emana todo padrão ético e moral, pelo qual todos os homens devem pautar suas vidas. Sabemos que todos os homens estão em pecado. “A Escritura diagnóstica o pecado como uma deformidade universal de natureza humana, em todas as circunstâncias e em todas as pessoas”[6]. Isso implica em dizer que o homem não só é pecador, mas manipula pecaminosamente aquilo que está à sua mão, como por exemplo, a internet. O homem, em seu estado de pecado, não implica em ser moral e eticamente neutro. Ele faz escolhas conscientes e deliberadas e colhe frutos disso.
Ao lidarmos com conceitos bíblicos sobre procedimento de todos os homens, encontramos alguns princípios que norteiam nossa ação em todas as esferas da vida. Neste caso, aplicáveis para uma utilização consciente e digna da internet. Lembrando que são princípios bíblicos, não religiosos.
Primeiro princípio: toda ética parte do próprio Deus. A Bíblia nos diz que Deus faz uma revelação geral de si mesmo e do que Ele espera dos homens. “Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho” (Rm. 2:15, 16). Ele estabelece uma norma geral de atuação moral, que serve a toda criatura. Mesmo os povos ditos como mais primitivos, tem na revelação geral de Deus lições suficientes para agir com lealdade, moralidade e ética para com o próximo e suas coisas. J. I. Packer diz: “Deus revela ativamente esses aspectos de si mesmo a todos os seres humanos, de forma que todos os casos de falha em render graças e servir ao Criador com justiça constituem pecado contra o conhecimento, e negações de ter recebido tal conhecimento não devem ser tomadas seriamente”.[7]
Mesmo aqueles que moldam suas vidas pela Palavra Revelada de Deus, as Escrituras Sagradas, tem na revelação geral de Deus normas claras para agir com ética, com moral e com justiça. Segundo princípio: o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Ele criou o homem e a mulher, e ambos à sua imagem (Gn. 1.26-30). Há verdades que precisam ser salientadas, como por exemplo: o homem foi feito do pó da terra, que é uma declaração literal (Gn. 2.7). Essa criação a partir do pó da terra indica também as limitações morais do ser humano (Gn. 18.27; Sl. 90.3; 103.14). Porém, essas limitações não tornam o homem incapaz de responder dentro de um nível moral e ético tolerável para o convívio em sociedade. É claro que somente a regeneração efetuada por Cristo no coração humano, pode torná-lo definitivamente em nova criatura.
Essa extensão do pecado na vida do ser humano é conhecida como “depravação total”. Essa doutrina bíblica e reformada não nos dirá que o pecado afetou o homem por completo. Se assim fosse, seríamos equiparados aos demônios. A doutrina reformada nos diz que o pecado afetou todas as áreas do ser humano. Não há parte no homem que tenha ficado santa. Os homens vêm ao mundo pecaminosos por natureza (Sl. 51.5), e tornam-se pecadores pela prática (Rm. 3.10-18).
Mesmo sabendo que o âmago do ser humano foi contaminado pelo pecado (Mc. 7.21-23), e que ele não pode produzir nenhum bem que o justifique diante de Deus, isso não implica dizer que o ser humano não tem condições de viver em padrões morais e éticos aceitáveis diante de Deus e dos homens (Lc. 11.13; Rm. 2.14ss.).
A vida em sociedade, respeitando as autoridades, as pessoas e os limites, é mandamento claro do Senhor para que todos os homens observem. Quando há a quebra desses princípios, instala-se a corrupção do caráter, da moral, dos valores num grau intolerável.
A internet deve funcionar estruturada nesses princípios. Ela não é isenta disso. Como agentes do Reino de Deus, devemos ser os primeiros a insistir nesse padrão. A ética nas pequenas coisas é que dará condições de utilizarmos a web sem fazer dela uma arma que nos leva a desrespeitar a lei dos homens e de Deus.
CONCLUSÃO
É um enorme desafio que temos em tornar esse mundo virtual numa ferramenta útil para a humanidade e para o Reino de Deus. Desafio tão grande quanto as conexões da própria internet. Se não começar pela igreja, quem fará essa revolução?
Não podemos nos contentar em sempre apagar a luz da história. Devemos lançar a luz, e temos como fazer isso. Princípios éticos foram mostrados, os quais podem ser seguidos por todos os homens. Mas sabemos que somente uma completa transformação operada no coração humano, é que pode moldar profundamente a atitude do homem.
Pastores e líderes podem começar ensinando em suas igrejas a como desenvolver princípios bíblicos para lidar com esse mundo virtual. As Escolas Dominicais podem ser momentos para que esse assunto seja debatido. Mais artigos sério e reformado deve ser lançado na rede. Igrejas que têm páginas na Web não podem deixar de instruir as pessoas a como usar a internet. Uma mobilização mais acentuada por parte da igreja, com certeza produzirá os seus frutos, e esses serão colhidos, principalmente, por nossos filhos.
BIBLIOGRAFIA
GEISLER, Norman L. Ética Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2003.
LOPES, Augustus Nicodemus. Fundamentos da Ética Cristã. Disponível em: http://www.ipb.org.br/estudos_biblicos/index.php3?id=9
MILNE, Bruce. Estudando as Doutrinas da Bíblia. São Paulo: ABU, 1991.
PACKER, J. I. Teologia Concisa: Síntese dos Fundamentos Históricos da Fé Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
SANTOS, Valdeci da Silva. Benefícios e desafios da cibercultura. Disponível
em:http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1233&secMest
re=1291&sec=1322&num_edicao=302
Notas:
[1] Muitas provas obtidas no orkut já estão sendo utilizadas em processos de várias naturezas.
[2] Tal prática constitui crime, segundo a Constituição Federal, artigo 5º, tendo a pessoa direito a indenização.
[3] Código Penal, artigo 163: detenção de um a seis meses, ou multa.
[4] Não trataremos aqui sobre a realidade da natureza caída do homem. Disso falaremos no próximo ponto.
[5] Para mais detalhes, ver o artigo Fundamentos da Ética Cristã, de Augustus Nicodemus.
[6] PACKER, Teologia Concisa, p. 78.
[7] Ibid., p. 9.
Rev. Baltazar Lopes Fernandes
Seguindo os passos do computador, veio a internet. No princípio era de uso exclusivo dos militares americanos (isso na década de 60). Depois é que veio a se popularizar. No Brasil, a internet só ganhou notoriedade em 1995 pela iniciativa do Ministério das Telecomunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia, quando foi aberta ao setor privado para exploração comercial da população brasileira. A partir daí, ele rapidamente se popularizou, criando conceitos e padrões e uma nova forma de viver e ver o mundo.
Assim como a invenção da impressa por Gutenberg revolucionou a informação, o advento da internet mostra-se cada vez mais que veio para ficar e mudar paradigmas. Cabe uma cuidadosa e séria análise, partindo de uma ética cristã, sobre os benefícios e perigos que a cibercultura trás à sociedade.
É extremamente oportuno e relevante falarmos sobre ética, explorando a cosmovisão reformada sobre o assunto. Tudo é muito veloz no mundo da web. As informações e tecnologias se processam numa velocidade estonteantes. É impressionante que um tema tão atual e relevante como esse, tenha tão pouca notoriedade nos círculos evangélicos. São pouquíssimos os artigos sérios que temos acesso. Da mesma forma, livros e outros impressos ainda não circulam o suficiente, para dar à população uma visão bíblica e reformada sobre o tema.
A falta de material foi um obstáculo a ser superado na elaboração desse trabalho. Montamos uma estratégia de pesquisa partindo de artigos que tratam diretamente sobre internet, mas principalmente, buscamos argumentos na ética reformada para tratar o assunto. Vale dizer que, de qualquer forma, a ética está envolvida na utilização da informação virtual. No momento certo, trataremos qual é a natureza dela.
Ao desenvolver o trabalho, notamos que faltam materiais que tratem do assunto, de forma mais abrangente, nas nossas Escolas Dominicais; não há um controle eficiente por parte das autoridades; as leis não acompanham a velocidade das contravenções virtuais. Há muito a ser feito nesse “novo mundo”. E a igreja deve ser uma voz profética, apontando erros e indicando caminhos.
A INTERNET E A ÉTICA
Seria possível viver sem internet hoje? Não! Pelo menos não a vida nos moldes que conhecemos do mundo atual. Para bem ou mal, ela já se ajustou às necessidades da presente geração. Já se fala e se vive em realidades virtuais. A mídia, a indústria, o comércio e as pessoas têm no mundo virtual uma nova maneira de comprar, vender, informar, se divertir, enfim, se relacionar de uma maneira nova, sem precedentes históricos.
Mais do que nunca, são necessários parâmetros éticos que possam regularizar esse mundo sem fronteiras. E por falar em fronteiras, foram todas removidas em se tratando de web. Hoje falamos de adultério virtual, sexo virtual, jogos ilegais e imorais, pirataria via internet, entre outras formas imorais e ilícitas de se usar a rede. Precisamos mencionar a criação de comunidades virtuais se expressando contra grupos étnicos e religiosos; orkut usado para “passar cola” aos estudantes; ofensas, mensagens racistas, entre outras[1]; fotos em blogs, sites e comunidades sem o consentimento[2] da pessoa, inclusive imagens de crianças e adolescentes, em situações que caracterizam pedofilia; envio de vírus de computador[3]; dar forward para várias pessoas de um boato eletrônico, e assim por diante.
Diante de tantas coisas ilícitas que vemos na internet, algumas pessoas podem usar o conhecido argumento: “... mas todo mundo faz”. Esta é a nossa maior vulnerabilidade hoje. Lembremos que isso não nos exime de responsabilidade legal, e nem moral.
O que motiva uma pessoa a usar ilicitamente e/ou imoralmente a internet? O que está por trás de suas ações[4]? A questão ética! A nossa cultura está profundamente influenciada por uma ética humanista[5]. Nesse tipo de conceito ético, o importante é o prazer pessoal. Sou levado a tomar atitudes, tendo-as como certas ou erradas, apenas se me dão alegria ou não. Construímos mecanismos de defesa, tais como: “não estou fazendo mal a ninguém. Só estou me divertindo”. Ou ainda: “É melhor fazer isso sozinho do que envolver outras pessoas, correndo riscos desnecessários”.
O certo e o errado são vistos a partir de uma perspectiva isenta de absolutos. Assim, certo ou errado é apenas uma questão de visão pessoal da situação em que o indivíduo está envolvido. A ausência de absolutos abre as portas para tolerância e prática de qualquer desvio de conduta. Outras conseqüências poderiam ser mencionadas quando a verdadeira ética é distorcida ou descartada. E nada tem feito isso de forma mais incisiva do que o mundo da internet.
A net também molda os conceitos éticos de seus cibernautas. Assim como a televisão, a exposição freqüente de crianças, adolescentes e jovens a site, chats e comunidades não recomendáveis, sem qualquer critério por parte de pais e responsáveis, acabam por moldar ou reformular os conceitos e pensamentos deles. Terão uma visão de mundo influenciada pelo pluralismo e relativismo que, com certeza marcará sua maneira de se relacionar com Deus e as pessoas.
REDIMINDO A INTERNET COM UMA ÉTICA BÍBLICA-REFORMADA
Ao analisarmos a internet com todos os seus prós e contras, podemos perceber que não dá para usá-la responsavelmente, sem uma base ética totalmente pautada nas Escrituras Sagradas. É claro que tais princípios, em todas as suas dimensões, só podem ser aplicados aos regenerados. Mas será que existem princípios bíblicos gerais aplicáveis a todos, regenerados e não-regenerados? Cremos que sim.
Partimos do princípio que Deus é soberano sobre todas as coisas. É do próprio Deus que emana todo padrão ético e moral, pelo qual todos os homens devem pautar suas vidas. Sabemos que todos os homens estão em pecado. “A Escritura diagnóstica o pecado como uma deformidade universal de natureza humana, em todas as circunstâncias e em todas as pessoas”[6]. Isso implica em dizer que o homem não só é pecador, mas manipula pecaminosamente aquilo que está à sua mão, como por exemplo, a internet. O homem, em seu estado de pecado, não implica em ser moral e eticamente neutro. Ele faz escolhas conscientes e deliberadas e colhe frutos disso.
Ao lidarmos com conceitos bíblicos sobre procedimento de todos os homens, encontramos alguns princípios que norteiam nossa ação em todas as esferas da vida. Neste caso, aplicáveis para uma utilização consciente e digna da internet. Lembrando que são princípios bíblicos, não religiosos.
Primeiro princípio: toda ética parte do próprio Deus. A Bíblia nos diz que Deus faz uma revelação geral de si mesmo e do que Ele espera dos homens. “Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho” (Rm. 2:15, 16). Ele estabelece uma norma geral de atuação moral, que serve a toda criatura. Mesmo os povos ditos como mais primitivos, tem na revelação geral de Deus lições suficientes para agir com lealdade, moralidade e ética para com o próximo e suas coisas. J. I. Packer diz: “Deus revela ativamente esses aspectos de si mesmo a todos os seres humanos, de forma que todos os casos de falha em render graças e servir ao Criador com justiça constituem pecado contra o conhecimento, e negações de ter recebido tal conhecimento não devem ser tomadas seriamente”.[7]
Mesmo aqueles que moldam suas vidas pela Palavra Revelada de Deus, as Escrituras Sagradas, tem na revelação geral de Deus normas claras para agir com ética, com moral e com justiça. Segundo princípio: o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Ele criou o homem e a mulher, e ambos à sua imagem (Gn. 1.26-30). Há verdades que precisam ser salientadas, como por exemplo: o homem foi feito do pó da terra, que é uma declaração literal (Gn. 2.7). Essa criação a partir do pó da terra indica também as limitações morais do ser humano (Gn. 18.27; Sl. 90.3; 103.14). Porém, essas limitações não tornam o homem incapaz de responder dentro de um nível moral e ético tolerável para o convívio em sociedade. É claro que somente a regeneração efetuada por Cristo no coração humano, pode torná-lo definitivamente em nova criatura.
Essa extensão do pecado na vida do ser humano é conhecida como “depravação total”. Essa doutrina bíblica e reformada não nos dirá que o pecado afetou o homem por completo. Se assim fosse, seríamos equiparados aos demônios. A doutrina reformada nos diz que o pecado afetou todas as áreas do ser humano. Não há parte no homem que tenha ficado santa. Os homens vêm ao mundo pecaminosos por natureza (Sl. 51.5), e tornam-se pecadores pela prática (Rm. 3.10-18).
Mesmo sabendo que o âmago do ser humano foi contaminado pelo pecado (Mc. 7.21-23), e que ele não pode produzir nenhum bem que o justifique diante de Deus, isso não implica dizer que o ser humano não tem condições de viver em padrões morais e éticos aceitáveis diante de Deus e dos homens (Lc. 11.13; Rm. 2.14ss.).
A vida em sociedade, respeitando as autoridades, as pessoas e os limites, é mandamento claro do Senhor para que todos os homens observem. Quando há a quebra desses princípios, instala-se a corrupção do caráter, da moral, dos valores num grau intolerável.
A internet deve funcionar estruturada nesses princípios. Ela não é isenta disso. Como agentes do Reino de Deus, devemos ser os primeiros a insistir nesse padrão. A ética nas pequenas coisas é que dará condições de utilizarmos a web sem fazer dela uma arma que nos leva a desrespeitar a lei dos homens e de Deus.
CONCLUSÃO
É um enorme desafio que temos em tornar esse mundo virtual numa ferramenta útil para a humanidade e para o Reino de Deus. Desafio tão grande quanto as conexões da própria internet. Se não começar pela igreja, quem fará essa revolução?
Não podemos nos contentar em sempre apagar a luz da história. Devemos lançar a luz, e temos como fazer isso. Princípios éticos foram mostrados, os quais podem ser seguidos por todos os homens. Mas sabemos que somente uma completa transformação operada no coração humano, é que pode moldar profundamente a atitude do homem.
Pastores e líderes podem começar ensinando em suas igrejas a como desenvolver princípios bíblicos para lidar com esse mundo virtual. As Escolas Dominicais podem ser momentos para que esse assunto seja debatido. Mais artigos sério e reformado deve ser lançado na rede. Igrejas que têm páginas na Web não podem deixar de instruir as pessoas a como usar a internet. Uma mobilização mais acentuada por parte da igreja, com certeza produzirá os seus frutos, e esses serão colhidos, principalmente, por nossos filhos.
BIBLIOGRAFIA
GEISLER, Norman L. Ética Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2003.
LOPES, Augustus Nicodemus. Fundamentos da Ética Cristã. Disponível em: http://www.ipb.org.br/estudos_biblicos/index.php3?id=9
MILNE, Bruce. Estudando as Doutrinas da Bíblia. São Paulo: ABU, 1991.
PACKER, J. I. Teologia Concisa: Síntese dos Fundamentos Históricos da Fé Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
SANTOS, Valdeci da Silva. Benefícios e desafios da cibercultura. Disponível
em:http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1233&secMest
re=1291&sec=1322&num_edicao=302
Notas:
[1] Muitas provas obtidas no orkut já estão sendo utilizadas em processos de várias naturezas.
[2] Tal prática constitui crime, segundo a Constituição Federal, artigo 5º, tendo a pessoa direito a indenização.
[3] Código Penal, artigo 163: detenção de um a seis meses, ou multa.
[4] Não trataremos aqui sobre a realidade da natureza caída do homem. Disso falaremos no próximo ponto.
[5] Para mais detalhes, ver o artigo Fundamentos da Ética Cristã, de Augustus Nicodemus.
[6] PACKER, Teologia Concisa, p. 78.
[7] Ibid., p. 9.
Rev. Baltazar Lopes Fernandes
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Apologética,
Teologia pastoral
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02 fevereiro 2007
Moisés escreveu o Pentateuco
Não há no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha escrito o Pentateuco. Todavia, há testemunho suficiente, que apóia a sua autoria. A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do Antigo Testamento em particular, e com as obras literárias antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador do passado, limitando-se ao uso de material e metodologia tradicionais, conforme já foi observado.
A Teoria Documentária
A Teoria Documentária declara que Moisés nunca foi o autor do Pentateuco, mas que ele foi o resultado de séculos de tradição, em que escribas registraram e compilaram diferentes porções, de autores desconhecidos, e realizaram a formação de um texto final. Devemos considerar algumas implicações da Teoria Documentária em afirmar a formação final do Pentateuco num período pós-exílico (entre 500-400 a.C.), quando a religião de Israel já estava bem desenvolvida.
1. A Teoria Documentária não prova a não autoria de Moisés. Falando francamente, esta teoria nem sequer conseguiu provar a sua própria veracidade científica, para tirar de sobre si o estigma de “teoria” a que está vinculada durante todos esses séculos.
2. Mesmo entre os adeptos desta teoria não há concordância acerca da identificação e classificação dos textos e dos grupos documentais a que eles supostamente pertencem.
3. Aceitar a teoria JEDP anula a credibilidade do Pentateuco. Segundo a Teoria Documentária a história bíblica é forjada. O Dt foi inventado pelos profetas para reforçar a idéia da centralização. O uso do nome de Moisés no Pentateuco, era simplesmente para dar autoridade ao texto, mas ele nada tinha a ver com a composição histórica do mesmo. O documento P, composto para assegurar a aceitação do sistema sacerdotal por parte do povo, fora baseado em lendas e crendices folclóricas. Como observa Stanley A. Ellisen “rejeitar a autoria de Moisés é rejeitar o testemunho universal dos escritores bíblicos e solapar a credibilidade do Pentateuco e do resto da Bíblia. É da autoria de Moisés, e não apenas um ‘mosaico’ de diferentes”.[1]
4. Retira todo o caráter normativo do Pentateuco.[2] Não teria qualquer valor para o povo da época, já que nada acrescentaria ao judaísmo. Se o Pentateuco fosse apenas um produto de uma religião tardiamente desenvolvida, e não o princípio regulador, não faria sentido chamá-lo de “a Lei”. Se ele não foi o princípio regulador para os primeiros leitores, não teria valor algum para os crentes de outras épocas, uma vez que os conceitos humanos mudam e o que não foi normativo para um povo, pode não ser para outro.
5. Invalida o esforço de composição. O relato do Pentateuco é rico em detalhes e informações. Possui informações das origens e desenvolvimento dos povos, em especial do povo de Israel. Os supostos autores teriam se dado a um imenso trabalho de imaginação para simplesmente manter uma ordem que já estava estabelecida.
6. Devemos considerar a ausência de evidências histórica, ou manuscritológicas, de que estes supostos documentos (JEDP) tenham circulado em algum período soltos uns dos outros.[3]
7. Considera o autor mal intencionado. A Teoria Documentária implica que um autor (ou autores), com um sentimento profundamente religioso e com o intuito de conduzir o povo diante de Deus, tenha se rebaixado a abandonar valores que quer ensinar e redigir uma mentira, colocando na boca de Deus, o que Ele não disse, inventando “estórias” e fazendo com que todos a considerassem como verdadeiras!
8. Impossibilidade do sobrenatural no AT. Conseqüentemente a intervenção divina é negada: revelação, inspiração, encarnação, milagres, etc.
9. Negação da revelação especial. A Bíblia torna-se meramente uma referência literária semítica. Um livro antigo como outro qualquer, deixando de ser a auto-revelação proposicional de Deus.
Alguns críticos liberais adeptos da Teoria Documentária questionam não somente a autoria de Moisés, mas inclusive até mesmo a sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres puderam atingir um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios, e ainda assim não existir nenhum registro desses fatos? Respondemos mencionando a contribuição do arqueólogo Alan Millard que declara “os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais não podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os documentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito é risível.”[4]
Moisés é reconhecido como o homem erudito na antigüidade bíblica. Nos dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio, construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido educado na corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas acadêmicas que no Egito já eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo era usada, de comum uso dos egípcios, inclusive entre os próprios escravos.
Como historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no palácio real egípcio, do seu acervo literário. Era possuidor de um vasto e detalhado conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o deserto tanto do Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares.
O modo como o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1) conhecia lugares pelos nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer outra parte do AT, 3) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são geralmente egípcias e não palestinas, 4)a flora e a fauna descritas são egípcias, 5)os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus dias.[5]
Moisés como fundador da comunidade de Israel, também exerceu o papel de legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador, sacerdote, pastor, historiador, entre outros. Possuía vários motivos, segundo as funções que exerceu, para prover ao seu povo alicerces morais concretos e religiosos, e era preciso registrar e distribuir a Lei entre o povo, de modo que ela fosse acessível a todos.
Como escritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarenta árduos e longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar de sua ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente para que pudesse escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessário alfabetizar todo o povo.[6] Ele mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9, 24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.
O Que se entende por autoria Mosaica?[7]
1. Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;[8]
2. É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente existentes;
3. Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;
4. Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;
5. Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);
6. Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. O Dr Wilson comenta “que o Pentateuco, conforme se encontra, é histórico e data do tempo de Moisés; e que Moisés foi seu autor real, ainda que talvez tenha sido revisado e editado por redatores posteriores, adições essas tão inspiradas e tão verazes como o restante, não existe dúvida.”[9];
7. Todo o Pentateuco possui unidade literária. Pequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidas sem que se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra. Não há nenhuma evidência história ou manuscritológica que vários redatores tenham “costurado” os livros do Pentateuco. Não existe nenhuma evidência que em algum período da história, o Pentateuco tenha circulado como “pedaços” (fontes JEDP), e que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado sua formação final, como propõe a teoria documentária. Os rabinos judeus desconhecem tal coisa.
Notas:
[1] Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento (São Paulo, Ed. Vida, 1996), p. 13
[2] O.T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), p. 10
[3] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament (Chicago, Moody Press, 1967), p. 50
[4] Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos (São Paulo, Ed. Vida, 1999), p. 80
[5] G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507
[6] Martinho Lutero, por exemplo, apesar de possuir uma vida tão atribulada pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira biblioteca. A obra completa da edição de Weimar possuí um acervo de 100 volumes.
[7] Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo, Editora Vida Nova, 1963), p. 52
[8] O.T. Allis, The Five Books of Moses, pp. 12-14
[9] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p.11
Rev. Ewerton B. Tokashiki
A Teoria Documentária
A Teoria Documentária declara que Moisés nunca foi o autor do Pentateuco, mas que ele foi o resultado de séculos de tradição, em que escribas registraram e compilaram diferentes porções, de autores desconhecidos, e realizaram a formação de um texto final. Devemos considerar algumas implicações da Teoria Documentária em afirmar a formação final do Pentateuco num período pós-exílico (entre 500-400 a.C.), quando a religião de Israel já estava bem desenvolvida.
1. A Teoria Documentária não prova a não autoria de Moisés. Falando francamente, esta teoria nem sequer conseguiu provar a sua própria veracidade científica, para tirar de sobre si o estigma de “teoria” a que está vinculada durante todos esses séculos.
2. Mesmo entre os adeptos desta teoria não há concordância acerca da identificação e classificação dos textos e dos grupos documentais a que eles supostamente pertencem.
3. Aceitar a teoria JEDP anula a credibilidade do Pentateuco. Segundo a Teoria Documentária a história bíblica é forjada. O Dt foi inventado pelos profetas para reforçar a idéia da centralização. O uso do nome de Moisés no Pentateuco, era simplesmente para dar autoridade ao texto, mas ele nada tinha a ver com a composição histórica do mesmo. O documento P, composto para assegurar a aceitação do sistema sacerdotal por parte do povo, fora baseado em lendas e crendices folclóricas. Como observa Stanley A. Ellisen “rejeitar a autoria de Moisés é rejeitar o testemunho universal dos escritores bíblicos e solapar a credibilidade do Pentateuco e do resto da Bíblia. É da autoria de Moisés, e não apenas um ‘mosaico’ de diferentes”.[1]
4. Retira todo o caráter normativo do Pentateuco.[2] Não teria qualquer valor para o povo da época, já que nada acrescentaria ao judaísmo. Se o Pentateuco fosse apenas um produto de uma religião tardiamente desenvolvida, e não o princípio regulador, não faria sentido chamá-lo de “a Lei”. Se ele não foi o princípio regulador para os primeiros leitores, não teria valor algum para os crentes de outras épocas, uma vez que os conceitos humanos mudam e o que não foi normativo para um povo, pode não ser para outro.
5. Invalida o esforço de composição. O relato do Pentateuco é rico em detalhes e informações. Possui informações das origens e desenvolvimento dos povos, em especial do povo de Israel. Os supostos autores teriam se dado a um imenso trabalho de imaginação para simplesmente manter uma ordem que já estava estabelecida.
6. Devemos considerar a ausência de evidências histórica, ou manuscritológicas, de que estes supostos documentos (JEDP) tenham circulado em algum período soltos uns dos outros.[3]
7. Considera o autor mal intencionado. A Teoria Documentária implica que um autor (ou autores), com um sentimento profundamente religioso e com o intuito de conduzir o povo diante de Deus, tenha se rebaixado a abandonar valores que quer ensinar e redigir uma mentira, colocando na boca de Deus, o que Ele não disse, inventando “estórias” e fazendo com que todos a considerassem como verdadeiras!
8. Impossibilidade do sobrenatural no AT. Conseqüentemente a intervenção divina é negada: revelação, inspiração, encarnação, milagres, etc.
9. Negação da revelação especial. A Bíblia torna-se meramente uma referência literária semítica. Um livro antigo como outro qualquer, deixando de ser a auto-revelação proposicional de Deus.
Alguns críticos liberais adeptos da Teoria Documentária questionam não somente a autoria de Moisés, mas inclusive até mesmo a sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres puderam atingir um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios, e ainda assim não existir nenhum registro desses fatos? Respondemos mencionando a contribuição do arqueólogo Alan Millard que declara “os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais não podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os documentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito é risível.”[4]
Moisés é reconhecido como o homem erudito na antigüidade bíblica. Nos dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio, construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido educado na corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas acadêmicas que no Egito já eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo era usada, de comum uso dos egípcios, inclusive entre os próprios escravos.
Como historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no palácio real egípcio, do seu acervo literário. Era possuidor de um vasto e detalhado conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o deserto tanto do Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares.
O modo como o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1) conhecia lugares pelos nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer outra parte do AT, 3) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são geralmente egípcias e não palestinas, 4)a flora e a fauna descritas são egípcias, 5)os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus dias.[5]
Moisés como fundador da comunidade de Israel, também exerceu o papel de legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador, sacerdote, pastor, historiador, entre outros. Possuía vários motivos, segundo as funções que exerceu, para prover ao seu povo alicerces morais concretos e religiosos, e era preciso registrar e distribuir a Lei entre o povo, de modo que ela fosse acessível a todos.
Como escritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarenta árduos e longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar de sua ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente para que pudesse escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessário alfabetizar todo o povo.[6] Ele mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9, 24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.
O Que se entende por autoria Mosaica?[7]
1. Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;[8]
2. É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente existentes;
3. Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;
4. Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;
5. Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);
6. Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. O Dr Wilson comenta “que o Pentateuco, conforme se encontra, é histórico e data do tempo de Moisés; e que Moisés foi seu autor real, ainda que talvez tenha sido revisado e editado por redatores posteriores, adições essas tão inspiradas e tão verazes como o restante, não existe dúvida.”[9];
7. Todo o Pentateuco possui unidade literária. Pequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidas sem que se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra. Não há nenhuma evidência história ou manuscritológica que vários redatores tenham “costurado” os livros do Pentateuco. Não existe nenhuma evidência que em algum período da história, o Pentateuco tenha circulado como “pedaços” (fontes JEDP), e que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado sua formação final, como propõe a teoria documentária. Os rabinos judeus desconhecem tal coisa.
Notas:
[1] Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento (São Paulo, Ed. Vida, 1996), p. 13
[2] O.T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), p. 10
[3] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament (Chicago, Moody Press, 1967), p. 50
[4] Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos (São Paulo, Ed. Vida, 1999), p. 80
[5] G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507
[6] Martinho Lutero, por exemplo, apesar de possuir uma vida tão atribulada pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira biblioteca. A obra completa da edição de Weimar possuí um acervo de 100 volumes.
[7] Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo, Editora Vida Nova, 1963), p. 52
[8] O.T. Allis, The Five Books of Moses, pp. 12-14
[9] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p.11
Rev. Ewerton B. Tokashiki
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Teologia Exegética
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
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