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31 março 2019

A autoridade do pastor prevalece sobre a autoridade das Escrituras? Wayne Grudem

Alguns feministas evangélicos dizem que a mulher pode ensinar se estiver “debaixo da autoridade” dos pastores e dos presbíteros

Outra tendência liberal entre os evangélicos igualitaristas é a alegação de que uma mulher pode ensinar a Escritura para os homens se ela estiver “debaixo da autoridade do pastor ou de presbíteros”. Digo ser essa uma indicação de tendência liberal, porque em nenhuma área de atuação poderíamos dizer que alguém pode fazer algo que a Bíblia diz que não pode ser feito se o pastor e os presbíteros derem sua aprovação.

Essa posição é encontrada com frequência nas igrejas evangélicas. O que torna essa posição diferente das outras que tratamos até este ponto do livro é que muitos que tomam essa posição afirmam sinceramente querer manter a liderança masculina na igreja, e dizem estar mantendo a liderança masculina quando uma mulher ensina “debaixo da autoridade dos presbíteros” que são homens (ou do pastor, que é um homem).

Todavia, essa não é uma visão comum entre os principais autores igualitaristas ou aqueles que mantêm a Christians for Biblical Equality, por exemplo.[i] Esses escritores não pensam que apenas os homens devem ser presbíteros, então eles certamente não pensam que as mulheres precisem de qualquer aprovação de presbíteros para ensinar a Bíblia!

Mas esse ponto de vista aparece com certa frequência nas ligações telefônicas ou e-mails enviados ao escritório do Council on Biblical Manhood and Womanhood – CBMW[ii] – e eu geralmente ouço isso em conversas pessoais e discussões sobre as políticas da igreja.

É realmente verdade que uma mulher está obedecendo à Bíblia se ela pregar um sermão “debaixo da autoridade do pastor ou dos presbíteros”?

A questão aqui é o que diz a Bíblia? Ela não diz meramente “preserve algum tipo de autoridade masculina na congregação”. Ela não diz: “Uma mulher não pode ensinar a não ser que esteja debaixo da autoridade dos presbíteros”. Antes, ela diz: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem” (1Tm 2.12).

Pode um pastor ou os presbíteros de uma igreja dar a uma mulher permissão para desobedecer a essa declaração da Escritura? Certamente que não! Pode uma mulher fazer o que a Bíblia diz que não faça e justificar isso dizendo: “Eu estou debaixo da autoridade dos presbíteros”? Nós diríamos que os presbíteros de uma igreja podem dizer às pessoas que estão “debaixo de sua autoridade” que eles têm permissão para desobedecer a outras passagens da Escritura?

O que pensaríamos de alguém que dissesse: “Eu vou roubar um banco hoje porque preciso de dinheiro e meu pastor me deu permissão, e eu estou debaixo da autoridade dele”? Ou uma pessoa que dissesse: “Eu estou cometendo adultério porque sou infeliz em meu casamento e meus presbíteros me deram permissão, assim estou debaixo da autoridade dos meus presbíteros”? Ou se alguém diz: “Eu estou fazendo um juramento falso porque não quero ir para a cadeia e meu pastor me deu permissão, e eu estou debaixo de sua autoridade”? Iríamos descartar essas declarações como ridículas, mas elas revelam o princípio geral de que nenhum pastor ou presbítero da igreja ou bispo, ou qualquer oficial da igreja, tem autoridade para dar permissão às pessoas para desobedecerem à Palavra de Deus.

Alguém poderia dizer: “Mas nós estamos respeitando o princípio geral bíblico da liderança masculina na igreja”. Mas Paulo não diz “respeitem o princípio geral da liderança masculina na igreja”. Ele diz: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem” (1Tm 2.12). Não temos o direito de mudar o que a Bíblia diz e então obedecer a algum novo “princípio geral da Bíblia” que nós inventamos.

Não temos também o direito de tomar um ensinamento específico da Escritura e abstrair dele algum princípio geral (como o princípio da “liderança masculina”) e então dizer que esse princípio nos dá o direito de desobedecer ao comando específico da Escritura que está na base desse princípio. Não somos livres para abstrair princípios da Bíblia do modo que quisermos, e então inventar opiniões sobre como esses princípios serão aplicados às nossas situações. Esse procedimento poderá permitir que pessoas evitem qualquer mandamento da Escritura com o qual se sintam desconfortáveis. Podemos nos tornar nossa lei e não mais nos submetermos à autoridade da Palavra de Deus.

Podemos tentar esse mesmo procedimento com algumas passagens. Consideramos ser correto dizer que a Bíblia ensina que os homens devem orar levantando mãos santas sem ira e sem animosidade, a não ser que briguem debaixo da autoridade dos presbíteros (1Tm 2.8)? Ou que as mulheres devem adornar-se com modéstia e com senso, a não ser que os presbíteros lhes deem permissão para vestirem-se indecentemente (1Tm 2.9)? Ou diríamos que aqueles que são ricos no presente século devem ser generosos e prontos para repartir, a não ser que os presbíteros lhes deem permissão para serem avarentos e míseros (1Tm 6.17-19)? Porém, se não devemos adicionar “a não ser que os presbíteros deem permissão para fazer diferente, debaixo da autoridade deles” para quaisquer dos mandamentos da Escritura, tampouco podemos acrescentar esse escape a 1Tm 2.12.

Se uma mulher diz: “eu irei ensinar a Bíblia a homens somente quando estiver debaixo da autoridade dos presbíteros”, ela não se torna diferente dos homens que ensinam a Bíblia. Nenhum homem na igreja deve ensinar a Bíblia publicamente a não ser que ele também esteja debaixo da autoridade dos presbíteros (ou pastor, ou outro oficial da igreja) naquela igreja. O princípio geral é que qualquer pessoa que ensine a Bíblia em uma igreja deve estar sujeita à autoridade estabelecida naquela igreja, seja um presbitério, seja um diácono ou o conselho da igreja. Tanto o homem quanto a mulher, da mesma forma, estão sujeitos a essa exigência. Portanto, após refletirmos, fica evidente que a posição “debaixo da autoridade dos presbíteros” afirma essencialmente que não há diferença entre o que os homens podem fazer e o que as mulheres podem fazer quanto ao ensino da Bíblia aos homens.

Será que realmente pensamos que isso era o que Paulo quis dizer? Pensamos realmente que Paulo não pretendeu dizer algo que fosse aplicado somente às mulheres quando disse: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem” (1Tm 2.12)?

Permitir a uma mulher que desobedeça 1 Timóteo 2.12 dizendo que ela está fazendo isso “debaixo da autoridade dos presbíteros” é estabelecer um precedente perigoso, dizendo, com efeito, que os líderes da igreja podem dar permissão às pessoas para desobedecer à Escritura. Esse é, portanto, outro passo ao liberalismo.


FONTE: Wayne Grudem. O Feminismo Evangélico: Um Novo Caminho para o Liberalismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pp. 93-95

[i] De fato, o autor igualitarista J. Lee Grady rejeita essa ideia. Ele escreve no contexto de uma palestra sobre mulheres que têm ministério de pregação pública: “E, em muitos casos, os líderes têm inocentemente torcido vários versículos bíblicos que sugerem que o ministério público de uma só mulher pode ser válido se ela tiver cobertura apropriada de um homem que esteja presente” (J. Lee Grady. Ten Lies the Church Tells Women. [Lake Mary, FL.: Creation House, 2000], pág. 89).

[ii] Conselho sobre a Condição Bíblica do Homem e da Mulher – (N. do T.).

23 janeiro 2018

Quem deve pregar a Palavra de Deus? - CMW Q/R - 158

Por Johannes Geerhardus Vos



Pergunta 158. Por quem deve ser pregada a Palavra de Deus?
R. A Palavra de Deus deve ser pregada somente pelos que forem suficientemente dotados e devidamente aprovados e chamados para tal ofício.

Referências bíblicas
• 1Tm 3.2, 6; Ef 4.8-11; Os 4.6; Ml 2.7; 2Co 3.6. Aqueles que pregam a Palavra de Deus publicamente devem possuir obrigatoriamente certas qualificações definidas na Bíblia.
• Jr 14.15; Rm 10.15; Hb 5.4; 1Co 12.28-29; 1Tm 3.10; 4.14; 5.22. A Palavra de Deus deve ser pregada publicamente somente pelos que foram legitimamente chamados para o ofício do ministério da Palavra.

Comentário

1. Essa pergunta do catecismo trata especialmente de que tipo de pregação da Palavra?
Trata da pregação da Palavra numa congregação da igreja de Cristo. Pode-se inferir isso das palavras “em público para a congregação” na resposta da Pergunta 156. Quem não for ministro ordenado ou licenciado pode testemunhar de Cristo em particular ou em público, conforme a oportunidade o permita, mas a pregação pública oficial da Palavra na igreja deve ser feita apenas por aqueles devidamente separados para essa obra.

2. Por que a pregação oficial da Palavra deve ser feita só “pelos que forem suficientemente dotados”?
Claro está que a pregação da Palavra é uma obra de importância muito grande. São necessárias as qualificações apropriadas para que seja feita de maneira adequada. Há qualificações espirituais, intelectuais e educacionais sobre as quais se deve insistir para que a igreja tenha um ministério adequado. Um homem que não tenha nascido de novo e que não seja um consistente crente em Cristo, não tem obviamente condição de pregar a Palavra de Deus aos outros; seria apenas um cego conduzindo outro. Um homem incapaz de pensar corretamente, incapaz de detectar falácias de um argumento perverso, é passível de ser ele mesmo desviado por um falso ensinamento e, por sua vez, capaz de desviar outros. Um homem a quem falta educação geral e teológica normalmente não será capaz de fazer justiça à grande obra de pregação da Palavra de Deus e correrá o perigo de pregar uma mensagem desequilibrada ou parcial. Quando Deus chama um homem para a obra do ministério, também o aparelha com as habilidades e qualificações necessárias para que possa realizar a obra adequadamente.

3. Por que a nossa igreja, e a maioria das igrejas protestantes, exige a formação superior completa num seminário para o ofício do ministério?
Quanto mais importante for a obra, mais importante será que tenham o treinamento adequado os que a realizarão. Sempre tem havido quem ache que seja perda de tempo, em maior ou menor grau, gastar sete anos na formação superior num seminário, preparando-se para a obra do ministério. Há hoje em muitas denominações a pressão constante para que essas exigências sejam relaxadas e que sejam admitidos no ministério homens que tenham menos do que isso. Alguns consideram quer as matérias ensinadas em um curso superior – como filosofia, história e literatura – sejam inúteis ao ministério e uma perda de tempo que deveria ser investido “ganhando almas”. Há, da mesma maneira, quem pense que um breve “Curso de Bíblia” e mais algumas matérias práticas como a retórica religiosa (homilética) e prática pastoral devam ser suficientes e que o amplo estudo de Hebraico, Grego, História Eclesiástica e Teologia Sistemática sejam desperdício de tempo.
Ninguém que precisasse passar por uma cirurgia estaria disposto a ir a um cirurgião que obteve o seu treinamento através de atalhos. O Estado insiste, corretamente, que aqueles cujas decisões e ações envolva a vida ou a morte de seus semelhantes estejam plenamente treinados para o exercício de seu ofício. Quão mais importante é que os ministros do evangelho, cujo trabalho pode afetar o destino eterno de seres humanos, estejam plenamente instruídos para a tarefa a eles designada. Considerando-se o espaço tempo necessário ao treinamento na medicina e de outras doutas profissões, os quatro ou cinco anos empenhados no curso superior de um seminário não são demasiados para o treinamento ministerial.
O ministro a quem faltar o treinamento num seminário dificilmente conseguirá entender o mundo moderno ao qual ele tem de entregar a sua mensagem. O estudo de filosofia, história e de outras matérias acadêmicas está longe de ser uma perda de tempo. Elas apresentam o cenário do pensamento moderno e habilitam o ministro a proclamar todo o conselho de Deus de um modo que confronte cabalmente a situação dos dias presentes. Semelhantemente o estudo de Grego, Hebraico, Teologia Sistemática, etc., é qualquer coisa, menos perda de tempo, pois permitem ao ministro conhecer de primeira-mão a Bíblia e seus ensinamentos, e pregar uma mensagem bíblica, consistente e integrada.
A tendência moderna de contar os estudos “teóricos” e aumentar os estudos “práticos” na preparação para o ministério é deplorável e deve ser resistida. Existem dois tipos de seminários teológicos e institutos bíblicos. Num deles o alvo é instrumentar o estudante com uma certa quantidade de material pronto com o qual ele pode sair e ir pregar. No outro, o objetivo é colocar nas mãos do estudante as ferramentas do estudo bíblico e da pesquisa teológica e treiná-lo para usá-las corretamente. Daí, então, ele pode sair e pregar e a matéria-prima da sua pregação jamais vai se esgotar enquanto viver. Cremos que este último é que é o único e apropriado tipo de treinamento para a obra do ministério.
Não se deve entender, pelo que foi dito, que jamais haja exceções a essas regras. É obvio que alguns discípulos do nosso Senhor tiveram pouca ou nenhuma educação formal, mas tornaram-se eficazes ministros da Palavra. Eles, no entanto, gozaram de inestimável vantagem de passarem três anos na companhia de Jesus sob a Sua instrução pessoal. Deus às vezes chama para o oficio ministerial um homem com pouca ou nenhuma educação formal e nesses casos excepcionais, onde está evidente a chamada divina, a igreja não deve hesitar e, ordenar o candidato ao ministério. Tais casos, contudo, são muito raros, especialmente em dias em que são normais as oportunidades para a aquisição da educação. Não se deve permitir que a exceção torne-se regra.

4. Que significa “devidamente aprovados e chamados”?
Há uma chamada divina para o ministério e uma chamada para a igreja. Devemos lembrar sempre que o ministério não é uma profissão, mas um ofício. Ninguém pode simplesmente decidir tornar-se um ministro da mesma maneira que decide tornar-se advogado ou exercer uma linha de trabalho. É preciso ter alguma razão para se crer que seja chamado para o ministério. Isso não quer dizer uma revelação especial do céu, como um sonho ou uma visão, mas a consciência de que se possui em alguma medida as qualificações exigidas, juntamente com o sincero desejo de pregar o evangelho, a disposição para fazer sacrifícios pela causa de Cristo e de empenhar-se para obter a preparação necessária. Deus conduzirá ao ministério, as Sua própria maneira, àqueles a quem Ele chamar.
A chamada da igreja consiste, primeiro, em autenticar a chamada de Deus pela “devida aprovação” do candidato, suas convicções religiosas, sua habilidade geral e a sua preparação acadêmica e teológica. Essa “aprovação” está normalmente dividida em vários estágios. Primeiro, o candidato é recebido sob os cuidados de um presbitério como estudante para o ministério; depois de uma preparação parcial ele é licenciado para pregar; finalmente, depois de completada a preparação e com o convite de uma congregação ou junta missionária é ordenado ao ofício do ministério.
A chamada formal da igreja é o convite de alguma congregação para que o candidato venha ser o seu pastor, ou de alguma junta missionária ou outra agência da igreja visível para que o candidato se engaje na obra missionária local ou no estrangeiro, ou em algum outro aspecto da obra ministerial. Em todo caso, antes que o homem seja ordenado, deve haver uma chamada definitiva – seja para o pastorado de alguma congregação ou de outro campo de trabalho específico.
5. Por que antes de entrar no ofício ministerial o homem tem de ser devidamente chamado por Deus e pela igreja?
Nem mesmo o nosso Senhor Jesus Cristo fez de si sumo sacerdote, mas foi chamado por Deus para esse ofício da mesma maneira que Arão o fora (Hb 5.4-5). Apesar disso existem hoje muitos pregadores e missionários freelancers e independentes. Essa é uma tendência errada e deve ser desencorajada. Muitos desses pregadores e missionários independentes podem verdadeiramente ter sido chamados por deus e podem estar fazendo um bom trabalho pregando a Cristo, e este crucificado; mas há uma certa falta de consideração e negligência da igreja visível como instituição divina comprometida com a atitude deles, e3 que não pode ser aprovada. O chamado de Deus e o chamado da igreja não são antagônicos, toda verdadeira igreja é instrumento de Deus para o treinamento e o ordenamento de homens no ofício ministerial. Alguns há que, alegando uma piedade superior, sustentam que a chamada de Deus é suficiente e que eles não precisam da chamada e da ordenação da igreja. Essa falta de respeito para com a igreja visível não é bíblica e deve ser desestimulada.


Extraído de Johannes Geerhardus Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado (São Paulo, Editora Os Puritanos, 2007), pp. 508-511.
Revisado por Ewerton B. Tokashiki

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