28 setembro 2016

Epidemia: outro pastor que se esgota e se demite Domingo passado

A dor de um pastor é intensificada debaixo de impiedosos holofotes, enquanto a dor de outro é desconhecida. Ambas doem igualmente. Não fica mais fácil. Não importa quantas vezes você ouça sobre isso. E estamos ouvindo muito sobre isso ultimamente. Em números epidêmicos.

Outro pastor anunciou à sua chocada congregação que ele não podia mais. Ele os amava. Ele estava orgulhoso do trabalho do Reino que haviam feito juntos por anos. Mas suas prioridades estavam desajustadas. Ele havia posto todo seu tempo e energia na igreja e havia negligenciado sua própria saúde espiritual e emocional. Ele pediu à congregação que orasse por ele e sua família enquanto enfrentavam a próxima fase difícil de suas vidas – sem saber o que esta fase traria. Então ele reuniu a congregação de 20 pessoas na frente da igreja para orarem juntos uma última vez. Ele por eles. Eles por ele e sua família. Oraram, abraçaram, choraram e disseram adeus.

Enquanto escrevo esse artigo, aquele pastor está encaixotando seus pertences numa van para se mudar da pequena cidade que eles chamaram de lar por mais de uma década. Por agora, eles vão viver com os pais da esposa para se recuperarem.

Muitos pastores esgotados

Infelizmente, aquele pastor não foi o único a ter uma história dessas no último domingo. Aconteceu com centenas. Este ano, milhares vão deixar o ministério, esgotados e machucados. De igrejas grandes e pequenas, em crescimento e estagnadas. Ouvimos quando os pastores famosos desistem ou se esgotam. É o preço da fama. E é muito alto. Tanto o sucesso quanto as falhas são ampliadas. Mas um preço diferente é pago por aqueles que não são conhecidos fora de suas famílias e pequena congregação.

Enquanto os sucessos e dores de pastores conhecidos são destacados, os sucessos e dores de pastores de igrejas pequenas são ignoradas e esquecidas. Ambos são igualmente machucados. Ambos carregam o peso dos problemas que os levaram a deixar a igreja, e frequentemente o ministério. A dor do pastor da megaigreja é intensificada por falhar debaixo das luzes da ribalta, enquanto que a dor do outro é aumentada por cair no anonimato. Esquecido por quase todos. Ambos os cenários são tóxicos. Eles entristecem o coração de Jesus, prejudicam Sua igreja, devastam com as famílias dos pastores, arruínam ministérios e tornam difícil aos membros da igreja confiar num pastor novamente - ou confiar em Deus novamente.

Mudar o paradigma de sucesso da igreja

Não precisa se desse jeito. Não deveria ser desse jeito. Precisamos abandonar as expectativas não bíblicas que foram colocadas nos ombros dos pastores. Ou que nós próprios colocamos nos nossos ombros. Pastores nunca foram destinados a carregar esse fardo tão grande. Nenhuma pessoa é capaz de ser pregador, professor, “lançador de visão”, CEO, líder, evangelista, ganhador de almas, angariador de recursos, conselheiro matrimonial, e todo esse modelo de virtude que esperamos que os pastores sejam – muitos deles enquanto trabalham a tempo inteiro fora das paredes da igreja. Mas tem sido assim por tantos anos que às vezes parece uma locomotiva sem freio que não pode ser parada. Precisa ser parada.

Redefinindo o sucesso no ministério

Ninguém pode parar essa locomotiva a não ser nós, pastores. Precisamos dizer “não”. Para alguns de nós, isso significa dizer não às expectativas irracionais dos nossos membros, diáconos e oficiais da denominação. Mas para todos nós significa dizer não às nossas próprias expectativas não bíblicas. Dizer não a um paradigma que nós construímos e perpetuamos em volta de uma combinação dos nossos egos e inseguranças. Nós não somos os construtores da igreja, Jesus é. Não somos capazes de nos matarmos de trabalhar emocionalmente e espiritualmente sem que alguma coisa quebre dentro de nós. Não podemos continuar nos forçando fisicamente com poucas horas de sono, muita comida e pouca atividade física. Não podemos continuar negligenciando nossas esposas e famílias enquanto queimamos a vela dos dois lados e não esperar que todo mundo – nossas famílias, igrejas e nós mesmos – pague um enorme preço por isso. Precisamos redefinir com que o sucesso ministerial se parece, porque muitas pessoas boas estão sendo machucadas enquanto perseguimos nossa atual e insuportável versão de sucesso.

Orem uns pelos outros

Faça uma pausa hoje. Respire. E ore. Ore pelos pastores feridos, conhecidos e desconhecidos, que deixaram uma igreja que eles amavam – e talvez ainda amem. Ore pelos pastores famosos sofrendo debaixo da insuportável luz da ribalta. Ore pelos pastores desconhecidos que se sentem perdidos e esquecidos. Ore pelas famílias que suportaram anos de dor em silêncio, e que agora têm suportado ainda mais. Ore pelos membros da igreja que não sabem se se sentem bravos, tristes ou outra coisa. Ore para que o Deus que prometeu que Seu jugo era suave e o seu fardo leve, alivie os fardos mais pesados que nós colocamos sobre nossos próprios ombros. E que troque por Sua paz, Seu conforto e Sua esperança."


Karl Vaters - Christianity Today
Extraído de http://www.christianitytoday.com/karl-vaters/2016/september/epidemic-another-pastor-burned-out-and-quit-last-sunday.html

05 setembro 2016

A Confissão de Fé de Westminster aprovada pela Igreja da Escócia em 1647

Você pode perguntar após ler o título desta contribuição, por quê estamos pensando em adotar a Confissão de Fé de Westminster, quando todo o blog Este Dia na História do Presbiterianismo lida com a História do Presbiterianismo nos Estados Unidos? E esta é uma pergunta justa. Mas é rapidamente respondida por duas considerações. Primeiro, este padrão reformado – A Confissão de Fé de Westminster – foi, com poucas mudanças, o padrão subordinado de todas as denominações Presbiterianas dos Estados Unidos. Segundo, os imigrantes Escoceses-Irlandeses que vieram para este país em seus primeiros dias estavam firmemente ligados a esta declaração do Credo Reformado.

A Confissão de Fé Westminster foi formulada pela Assembleia de Teólogos de Westminster (isto é, pastores e teólogos) em meados do século XVII, reunidos na Abadia de Westminster em Londres, Inglaterra. Aos cento e vinte sacerdotes, principalmente da Igreja da Inglaterra, foram adicionados nove teólogos escoceses da Igreja da Escócia. Enquanto estes últimos estavam sentados como membros sem direito a voto dessa assembleia, ainda a sua presença foi sentida de forma muito eficaz durante o estudo de seis anos que produziu esse padrão confessional.

Quando foi aprovada pelo Parlamento na Inglaterra, foi então enviada para a Assembleia Geral da Igreja da Escócia, onde foi aprovado sem alterações em 29 de Agosto de 1647. Em seguida, tornou-se ela um resumo dos ensinamentos do Antigo e Novo Testamentos, que foi adotada tanto pelos presbíteros docentes como pelos regentes, bem como o diaconato em cada igreja local, em todas as igrejas Presbiteriana e Reformada decorrente dessa tradição. Pequenas mudanças foram feitas a ela por organismos presbiterianos conservadores de nossos Estados Unidos que não afetam o conteúdo doutrinal global da Confissão. A maioria dessas mudanças foram feitas em 1789. Você pode perguntar ao seu pastor para obter mais informações sobre essas mudanças.

A importância histórica deste documento é uma razão pela qual temos referências diárias a ele neste guia devocional, à medida que procuramos fazer com que nossos amigos sejam maiores conhecedor de suas magníficas declarações.

Palavras para vivermos: A maioria das denominações presbiterianas não exigem que seus membros leigos façam votos que tratam da sua adopção a estes padrões de credo histórico, a fim de juntar-se à igreja. No entanto, um estudo cuidadoso e aceitação desta Confissão de Westminster lhe dará uma base sólida para a compreensão da doutrina e da vida da Palavra de Deus. Nós o encorajamos a fazê-lo, talvez solicitando uma classe em sua igreja sobre a Confissão, ou apenas estudando-a você mesmo para seu benefício pessoal e familiar.


Tradução de Bruno Luiz S. Rodrighero
Extraído de http://www.thisday.pcahistory.org/2015/08/august-27-2/

25 agosto 2016

A legitimidade da ordenação dos reformadores - Johannes Wollebius

I. A principal causa eficiente deste chamado é Deus, quem chama o ministro internamente, e provendo-o com seus dons. O corpo que pode compor os ministros é toda a igreja, ou no mínimo a igreja representativa, pastores e presbíteros, ou o conjunto de pessoas da igreja [plebs], e não apenas bispo ou pastor. Os apóstolos não restringiram o privilégio de escolha somente a eles (At 1:23, 6; 14:23).
II. Três atos são necessários para um legítimo chamado [para o ministério]: exame, eleição e confirmação.
III. O exame envolve tanto a vida como a doutrina. A vida precisa examinada antes da doutrina; se o comportamento é imoral, ele não pode ser admitido para um exame na doutrina.
IV. O procedimento para eleição é este: pessoas são nomeadas após sincera oração à Deus, do número daqueles que são escolhidos, e dentre eles é selecionado pelo voto da maioria, se votando por viva voz ou pelo levantar das mãos.
V. A confirmação é a indução da pessoa eleita, em que ele é designado para a igreja com oração pública, e seus chamado será confirmado pela imposição das mãos. Bispos não têm um poder superior e autoridade pelo direito divino.
VI. Os papistas ensinam falsamente que este chamado não é legítimo, se o último é feito pelos presbíteros e não pelo bispo.
VII. A igreja reformada aceitou o chamado dos que reformaram a igreja no tempo de nossos pais, não porque ele veio do papado, que foi um câncer na igreja, mas porque eles eram divinamente chamados por Deus e habitados com dons necessários. É objetado que eles eram chamados sob a autoridade papal, então, que deveriam ser rejeitados, pois o seu chamado expirou. Replicamos que é falso acusa-los de rejeição; eles não rejeitaram o evangelho, pelo qual foram chamados para pregar mesmo estando sob o papa, mas eles rejeitaram a corrupção do evangelho. Nem há alguma razão para afirmar que eles foram chamados para pregar a doutrina da igreja romana; se Roma coloca a sua doutrina sob o nome de evangelho, um ministro que encontrando contrária à real verdade do evangelho, poderia falar contra ela pelo privilégio de seu chamado.
VIII. Nem podem apresentar algum fundamento sobre qual eles são capazes de desafiar o chamado dos nossos ministros de acordo com as regras acima. Antes de tudo respondemos àqueles que nos questionam por qual autoridade ensinamos no modo que Cristo respondeu a quem lhe perguntou: “o batismo de João, de onde vem, do céu ou da terra?” (Mt 21:25). Similarmente dizemos “a doutrina de nossos antepassados, que ouvimos entre nós até os dias de hoje, de onde procede? Se ela está em desacordo, deixamos que mostrem em que artigos; se ela está concordando, então eles não podem atacar o chamado de nossos ministros. Onde quer que a verdadeira doutrina seja encontrada, há ali verdadeiro chamado. E o chamado que corresponde ao exemplo dos apóstolos e a igreja primitiva é legítimo. É óbvio que o nosso chamado é desta natureza.
3. O direito de tomar decisões em matéria de doutrina é que, através dele, o entendimento da igreja em questões de doutrina e resolve controvérsias que perturbam a igreja.

Extraído de Texto de Johannes Wollebius, "Compendium Theologiciae Christianae" in: John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 144-145.
Tradução em 25 de Agosto de 2016.

22 agosto 2016

We are a confessional church

What does being confessional? Reformers affirmed their orthodoxy by adopting creeds, catechisms and confessions to summarize and declare an organized what they believed. This is an ancient practice in the Christian Church, originating in the prayers of the believers of the old covenant and in baptismal rites of the first century [1]. Paul instructs Timothy to "keep the pattern of sound teaching which you heard from me, with faith and love in Christ Jesus. Guard the good deposit that was entrusted to you - guard it with the help of the Holy Spirit who lives in us " (2 Timothy 1:13,14). Therefore, Christians are called to keep the "good deposit", that is, faithfully preserving the doctrinal system, without changing its essence. The purpose of the confessional practice was to identify the unit for the truth, report the error and delete the heretics.

What is the need to be confessional? David W. Hall notes that the practice of confessional subscription by reformers had the following doctrinal reasons: unity, clarity, defense of false charges, defense and preservation of identity, as well as a variety of public statements [2]. This concern is in line with the clear teaching of Scripture. Jude states that "although I was very eager to write to you about the salvation we share, I felt I had to write and urge you to contend for the faith that was once for all entrusted to the saints" (Jude 3). He did not refer only to the subjective aspect of faith, that is, the trust and consent, but, especially, the doctrinal content of faith. So, your argument is that your readers should defend the doctrine that received against individuals who had entered the Church, and disseminated licentiousness, and deny sound doctrine (Jude 4).

We are a reformed denomination of Puritan heritage. So, we subscribe to the Westminster Standards as a faithful exposition of Scripture teaching. The endorsement of these doctrinal documents must be integral, that is, in all its doctrinal statements. This means that we accept all the statements and strive to live by them. But, unfortunately, some people, being Presbyterian, are not consistent. There are a few reasons for this: 1) those which do not because they were instructed; 2) those who know superficially and, ignoring the precise statements and their implications, end up not fulfilling his word; and 3) those who declare verbally accept, but, intentionally, reject the heart. The last divorced conviction of the confession, and this result in confessional dishonesty. We understand that the mental reservation is always sin! It is my intention with this text, as a member of this church, you are informed, indoctrinated and, honestly, commit to our Reformed confessional identity.

Our tradition uses confessions and catechisms to present our doctrinal system [3]. This is a context in which we are called to confess our faith to those outside the church. These documents systematically summarize the teaching of Holy Scripture about various topics. They are also useful for the exercise of true piety, as well as a brief presentation of what we believe in our Reformed faith.
The IPB requires its officers and members of the full subscription of the Westminster Standards, which are:
1. The Westminster Confession of Faith
2. The Westminster Larger Catechism
3. The Westminster Shorter Catechism

However, we accept and use to study the reformed faith [4]:
1. The Belgian Confession (1561)
2. The Heidelberg Catechism (1563)
3. The Second Helvetic Confession (1566)
4. The Canons of Dort (1618-1619)

And also we received the ancient creeds as part of our statement of faith:
1. The Apostles' Creed
2. The Nicene Creed
3. The Creed of Chalcedon

How we use catechisms and confessions? Here are a few suggestions:
1. Our denomination uses them to assert their Reformed confessional identity. When someone asks us what we believe, they represent our doctrinal heritage. They are useful for continuous reading and consultation of doctrinal body of our convictions.
2. The presbytery uses them in theological debates and evaluation of official and ecclesiastical courts. When there are disputes involving liturgical matters, doctrinal matters and practice of Christian life matters, part of the rationale for correct and establish our conciliar decisions will depend on these documents.
3. Our theological institutions should use them to measure the confessional loyalty of its teachers. Hiring and continuity of a teacher, which, inevitably, will be a trendsetter, should occur by examining the JURET and JET. The academic environment favors the study and analysis of different theological aspects, however the theological formation of our future pastors should be performed with confessional commitment by our seminars. Most students are candidates for the sacred ministry and should be evaluated by their belief commitments.
4. In official and leadership training courses, our documents need to be studied prescriptively. They will exercise the government in the local church and in the different conciliar spheres of our denomination. Before his ordination or appointment, they shall be examined by the Council and will profess knowledge, understanding and commitment to our standards of faith.
5. The Council has them like standard on doctrinal issues and receiving members. The unity of the church is given on collective commitment to the truth. The elders oversee the honest obedience of votes that members place in their examination and public faith profession.
6. Preachers quote them in their sermons, to illustrate or as part of the argument. The sermon is always doctrinaire in its essence; therefore, the public service is excellent place for proclamation, education, correction and comfort of its participants. 7. Study them in doctrinal study meetings, during the week. The pastor will may perform expository study sequenced, using the Westminster Standards. There are reviews of Faith Confession and Catechisms that enrich the understanding and its applicability to practical issues of Christian life.
8. Disciples’ makers must use them, constantly, for the preparation of studies. Be in discipleship for beginners or advanced, the learner needs become familiar with Christian faith, in its documentary expression, and be sure that it is not merely the opinion of one member, but the doctrinal legacy that wife, faithfully, the systematization of the Bible.
9. Sunday School’s teachers can use them to escape any doubt or controversy in class. If there was disagreement in some subject, teachers should close the matter, where possible, through our confessionality.
10. Small groups that meet in homes can use them as a study guide. The study of the Westminster Shorter Catechism is a useful resource for the study groups that meet in homes. These more informal character meetings always receive visitors, whether converted or not, and the comments of the participants can’t create, in the development of the study, an opening for accepting the plurality of opinions as equally valid. The small group is not a small church within the church, where free thought is adopted regardless of the official doctrinal body.
11. Families can add their reading in family worship . The reading of Scripture , prayer and songs added to the study of the Westminster Standards will enrich the spiritual exercise that nurtures growth. Family worship provides fellowship, education and worship in the home. If you use our doctrinal directories, certainly will forge families with healthy beliefs . Thus, build strong families will result in a vigorous church.
12. The reading of statements and biblical texts contained therein is useful for daily devotional. The use of booklets for devotional purposes, while useful, may be accompanied by reading one or two questions of catechisms or paragraphs of the Confession of Faith. They are thoughts with dense biblical content that feed and prepare us to live daily in the presence of God.

Can you be a member of the Presbyterian Church of Brazil and not confessional? Councils, to examine the candidate to the profession of faith or members transfer process should be selective about our confessional identity. If the applicant refuses to subscribe to our system of doctrine, he should not be received as a member of the local church. So, before the exam, it is recommended that prospective members should be made disciples, join the catechumens’ class and read the Westminster Standards. The rush to welcome them as a local church member is harmful, because it is necessary to help them understand what we believe, to be true, when they sincerely do their public profession of faith, before the church, in solemn worship, and, above all, before true God, that demands our ‘yes’ meaning ‘yes’. Zeal should remain, in the examination of candidates for membership.

I recommend reading about the practice of confessional subscription, as adopted by the Presbyterian Church of Brazil:
1. Carl R. Trueman, O imperativo confessional (Brasília, Editora Monergismo).
2. David W. Hall, The practice of confessional subscription (Oak Ridge, The Covenant Foundation).
3. Morton H. Smith, The case for full subscription to Westminster Standards in the Presbyterian Church in America (Greenville, GPTS).
4. Ulysses Horta Simões, A subscrição confessional - necessidade, relevância e extensão (Belo Horizonte, Efrata Publicações e Distribuição).

GRADES:
[1] Philip Schaff recognizes, in Scripture, the following creeds in embryonic form: Exodus 20:2-3; Deuteronomy 6:4; John 1:50; Mathew 16:16; 28:19; John 6:68; 20:28; Acts 8:37; 1 Corinthians 8:6; 1 Timothy 3:16; Hebrews 6:1-2. Philip Schaff, The Creeds of Christendom - with the history and critical notes (Grand Rapids, Baker Books, 2007), vol. 2, pp. 3-8.
[2] David W. Hall, Southern Presbyterians: the virtue of confessional relaxation?". In: Joseph A. Pipa Jr., org., Confessing our hope - Essays celebrating the life and ministry of Morton H. Smith (Taylors, Southern Presbyterian Press, 2004), p. 97.
[3] The importance of tradition is to preserve and pass on the truth. It should be a tool to communicate the teaching of the Word of God, and never part of it.
[4] Those who read in English can study, more fully, the Calvinist heritage confessions. If there is interest to know, James T. Dennison Jr. published a very extensive collection of reformed confessional documents since the sixteenth century until the seventeenth. See on James T. Dennison, Jr., ed., Reformed Confessions of the 16th and 17th centuries in English translation (Grand Rapids, Reformation Heritage Books), in 4 volumes. This manual is the most complete compilation of reformed documents available in English.


The original article [ ACESS IN THIS LINK ].
This arcicle was translated by Katherine Priscila Lessin. Thankyou my sister!

11 agosto 2016

Sobre mulheres falando na igreja

Benjamin B. Warfield[1]

Recibi recentemente a carta de um apreciado amigo que pedia que lhe enviasse uma “discussão das palavras gregas laleo e lego em passagens tais como 1 Co 14:33-39, em especial referência à pergunta: ‘o versículo 34 proíbe a todas as mulheres em todas as partes de falar ou pregar em público, ou somente em igrejas cristãs?’” Como o assunto é de interesse universal, tomo a liberdade de compartilhar a minha resposta aos leitores do Presbyterian.[2]

Requer que se diga imediatamente que não há problema com referência as relações de laleo e de lego. Além dos detalhes de interesse puramente filológico, estas palavras se encontram relacionadas uma a outra exatamente do mesmo modo que estão as palavras inglesas falar e dizer; ou seja, que laleo expressa o ato de falar, enquanto que lego se refere ao que é dito. Sempre, pois, que o ato de falar, sem referência ao conteúdo do que se diz, deve ser indicado, se utiliza laleo, e deve ser utilizado. Não há nada desqualificador ou depreciativo no que sugere a palavra, e do mesmo modo, não há em nossa palavra falar; ainda que, se possa em alguma ocasião ser utilizada em termos depreciativos como também o possa ser a nossa palavra falar (como quando alguns dos periódicos insinuam que o senado está “entregue a meras palavras”). Esta aplicação desqualificadora de laleo, todavia, nunca ocorre no Novo Testamento, ainda que a palavra seja utilizada com muita frequência.

A palavra está em seu lugar correto em 1 Co 14:33 e seguintes, e necessariamente leva consigo o significado simples e natural. Se necessitássemos de algo para fixar o seu significado, todavia, isto determinaria o seu uso frequente na parte precedente do capítulo, de onde se refere não somente o falar em línguas (que era una manifestação divina, e ininteligível somente devido às limitações dos ouvintes), senão também ao falar profético, o qual se declara diretamente que é “para edificação, exortação e consolação” (v. 3-6). Também o seu sentido seria mais pungentemente determinado, todavia, pelo termo que põe em contraste aqui: “calem” (v. 34). Aqui se define diretamente laleo: “as mulheres calem, porque não lhes está permitido falar.” “Calar – falar”: são duas coisas opostas; e uma define a outra.

É importante observar, agora, que o eixo ao redor do qual gira a prescrição destes versos, não radica na proibição de falar tanto como no mandamento do silêncio. Esta é a prescrição principal. A proibição de falar é introduzida em seguida somente para explicar o significado de forma mais completa. O que Pablo diz em breve é: “as mulheres se calem nas igrejas.” Isso seguramente é suficientemente direto e específico para suprir todas as necessidades. Então, ele agrega a explicação: “Porque não lhes está permitido falar.” “Não está permitido” é uma apelação a uma lei geral, válida aparte do mandamento pessoal de Paulo, e se conecta com as palavras precedentes: “como em todas as igrejas dos santos.” Ele somente está exigindo às mulheres de Corinto que se o à lei geral das igrejas. E esse é o significado das quase amargas palavras que agrega no verso 36, com as quais (reprovando-as pela inovação de permitir que as mulheres falem nas igrejas), e lhes recorda que eles não são os autores do Evangelho, e muito menos os seus únicos detentores: ele exigia que guardassem a lei obrigatória para todo o corpo de igrejas e que não buscassem a seu modo alguma inovação de sua recente fabricação.

Os versos intermediários somente deixam claro que o que o apóstolo está precisamente fazendo é proibir às mulheres falar na igreja em termos absolutos. A sua prescrição de silêncio o leva tão longe até o ponto de proibir inclusive fazer perguntas; e agrega com especial referência a isso, mas com isso ao assunto geral, a vigorosa declaração de que “é indecoroso” — pois tal é o significado da palavra— “que uma mulher fale na igreja”.

Seria impossível que o apóstolo fale de forma mais direta ou mais enfática que como o fez aqui. Ele exige às mulheres que guardem silêncio nas reuniões da igreja; pois, isso é o que significa “na congregação”, e que não haveria edifícios para a igreja. E ele não nos deixou com dúvida quanto à natureza destas reuniões da igreja. Acabava descrevê-las nos versículos 26 adiante. Eram do carácter geral de nossas reuniões de oração. Observe as palavras “cale na igreja” do versículo 30, e compará-las com “calem nas congregações” no v. 34. A proibição de que as mulheres falem, envolve assim todas as reuniões públicas da igreja; pois se trata do carácter público, não da formalidade. E ele nos diz em reiteradas ocasiões que esta é a lei universal da igreja. Faz mais que isso: nos diz que esse é o mandamento do Senhor, e enfatiza a palavra “Senhor” (v. 37).

A passagem de 1 Tm 2:11 e etc é tão vigoroso como este, somente que se dirige mais particularmente ao caso específico do ensino público e à condução na igreja. O apóstolo neste contexto (o verso 8 diz “os varões” em contraste com “as mulheres” do verso 9) haveria restringido especificamente a oração pública aos homens, e então continua: “a mulher aprenda em silêncio, com toda sujeição. Porque não permito à mulher ensinar, nem exercer domínio sobre o homem, senão estar em silêncio”. Nem o ensino, nem a função de condução se permite à mulher. O apóstolo diz aqui, “não permito” em vez de dizer, como em 1 Co 14:33 e seguintes, “não está permitido” porque ele aqui está dando as instruções pessoais à Timóteo, seu subordinado, enquanto que anunciava aos coríntios a lei geral da igreja. O que ele ordena a Timóteo, todavia, é a lei geral da igreja. E desta maneira avança e fundamenta a proibição numa razão universal que igualmente afeta toda a raça.

Na presença destas duas tão absolutamente claras e enfáticas passagens, não se pode apelar ao que se diz em 1 Co 11:5 para mitigar, nem modificá-los. Qual é o significado exato de 1 Co 11:5, ninguém o sabe absolutamente. É declarado que toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua cabeça. Parece justo deduzir que se ela ora, ou profetiza, não desonra sua cabeça. E parece ainda mais justo deduzir que ela pode orar ou profetizar corretamente se tão somente o fizesse usando o véu. Estamos armando uma cadeia de inferências. E não nos levou muito longe. Não podemos deduzir que seria apropriado que ela orasse ou profetizasse na igreja se tão somente estivesse usando o véu. Nada se diz da «igreja» na passagem nem no contexto. A palavra “igreja” não aparece até o verso 16, e ali não como regendo a referência da passagem, mas somente como proporcionando um apoio adicional para a prescrição da passagem. Não há razão para crer que “orar e profetizar” em 11:5 quer dizer na igreja. Nem um nem outra eram atividades limitadas à igreja. Se como em 1 Co 14:14, o “orar” de que se fala era um exercício extático — como seu lugar de “profetizar” pode sugerir— então a inspiração divina ultrapassaria todas as leis ordinárias que a rege. E nota-se que há ocasião para observar que a oração em público está proibida para as mulheres em 1 Tm 2:8-9, a menos que o que esteja considerando seja a simples assistência a oração, em cujo caso esta passagem é um paralelo próximo a 1 Tm 2:9.

O que se deve observar como conclusão é:
(1) Que a proibição de que as mulheres falem na igreja é precisa, absoluta, e completamente inclusiva. Elas devem se calar nas igrejas — e isso significa em todas as reuniões públicas para adoração; nem sequer podem fazer perguntas.
(2) Que esta proibição indica o ponto particular precisamente para os assuntos de ensino e de conduta, incluindo especificamente as funções de presbíteros e da pregação.
(3) Que os argumentos sobre os quais se fundamenta a proibição são universais e dependiam da diferença de sexo, e particularmente nos lugares relativos dados aos sexos na Criação e na história fundamental da raça (decaída).

Talvez, devesse agregar a fim de esclarecer o último ponto quanto a diferença nas conclusões entre Paulo e o movimento feminista de hoje, ou seja, que a questão está arraigada numa diferença fundamental na perspectiva de ambos quanto à constituição da raça humana. Para Paulo a raça humana se compõe de famílias, e todos os diversos organismos – incluindo a igreja – estão compostos de famílias, unidos juntos por este, ou por outro vínculo. A relação dos sexos na família se estende, portanto, também à igreja. Para o movimento feminista a raça humana é composta de indivíduos. Uma mulher é simplesmente outro indivíduo ao lado do homem, e não se pode considerar nenhuma razão, para nenhuma diferença ao tratar com os dois. E, se podemos ignorar a grande diferença fundamental e natural dos sexos e destruir a grande unidade social e fundamental da família em prol do individualismo, não haveria nenhuma razão porque não devamos eliminar as diferenças estabelecidas por Paulo entre os sexos na igreja, exceto pela sua autoridade. Tudo isto, finalmente, nos faz voltar para a autoridade dos apóstolos como os fundadores da igreja. Gostemos do que Paulo disse, ou não; podemos estar dispostos a fazer o que ele ordena, ou não. Mas, não há lugar para a dúvida quanto ao que ele disse. E ele nos diria certamente novamente o que disse aos coríntios: “acaso saiu de vocês a palavra de Deus, ou ela chegou somente a vocês?” É este o nosso cristianismo: fazer o que nos agrada? Ou, é a religião de Deus que recebe as suas leis através dos apóstolos?

NOTAS:
[1] Artigo sobre a interpretação de 1 Co 14:34-35 com algumas notas incisivas acerca das premissas anticristãs e individualistas da ideologia feminista. Nota do editor.
[2] Publicado originalmente no periódico The Presbyterian em 30 de Outubro de 1919. Nota do tradutor.


Extraído de Benjamin B. Warfield, “Paul on women speking in Church” in: John W. Robbins, ed., The Church Effeminate (Unicoi, The Trinity Foundation, 2001), pp. 212-216.
Traduzido em 16 de Dezembro de 2014.
Revisado em 10 de Agosto de 2016.

30 julho 2016

O que é teologia do pacto? por J. Ligon Duncan

A teologia do pacto é o Evangelho posto no contexto do plano eterno de Deus da comunhão com o seu povo, e o seu desenvolvimento histórico nos pactos das obras e graça (ou mesmo que nas várias etapas progressivas do pacto de graça). A teologia do pacto explica o significado da morte de Deus à luz da plenitude do ensino bíblico sobre os pactos divinos, respalda de maneira fundamental o nosso entendimento da natureza e uso dos sacramentos, e provê a explicação mais completa possível dos fundamentos da nossa segurança.

Em outras palavras, a teologia do pacto é a maneira que a Bíblia tem de explicar e aprofundar o nosso entendimento da: (1) a expiação [o significado da morte de Cristo]; (2) a segurança [a base da nossa confiança da comunhão com Deus e o desfrute de suas promessas]; (3) os sacramentos [sinais e selos das promessas pactuais de Deus – o que são e como funcionam]; (4) a continuidade da história redentora [o plano unificado da salvação de Deus]. A teologia do pacto também é uma hermenêutica, uma aproximação ao entendimento da Escritura – uma ênfase que intenta explicar biblicamente a unidade da revelação bíblica.

Quando Jesus quis explicar aos seus discípulos o significado de sua morte, recorreu à doutrina dos pactos (veja Mt 26, Mc 14, Lc 22, 1 Co 11). Quando Deus quis assegurar à Abraão a certeza de sua palavra da promessa, recorreu ao pacto (Gn 12, 15, e 17). Quando Deus quis apartar ao seu povo, impactar a sua obra em suas mentes, revelando-se tangivelmente em amor e misericórdia, e confirmar a sua herança futura, recorreu aos sinais pactuais (Gn 17, Êx 12, 17, e 31, Mt 28, At 2, Lc 22). Quando Lucas quis mostrar aos primeiros cristãos que a vida e ministério de Jesus foram o cumprimento dos antigos propósitos de Deus para o seu povo escolhido, apelou aos pactos e citou a profecia de Zacarias que mostra que os crentes nos mesmos primeiros dias do ‘movimento de Jesus’ entenderam a Jesus e a sua obra messiânica como um cumprimento (não como um ‘Plano B’) do pacto de Deus com Abraão (Lc 1:72-73). Quando o salmista e o autor de Hebreus quiseram mostrar como o plano redentor de Deus é um plano ordenado e sobre qual base se desenvolveu na história, recorreram aos pactos (veja Sl 78, 89, e Hb 6-10).

A teologia do pacto não é uma resposta ao dispensacionalismo. Ela existe muito antes que os rudimentos do dispensacionalismo clássico fossem organizados no século XIX. A teologia do Pacto não é uma desculpa para o batismo de crianças, muito menos um mero convencionalismo para justificar ênfase particular dos sacramentos (ou a paedocomunia moderna e a regeneração batismal). A teologia do pacto não é sectária, pelo contrário, ela é um enfoque ecumênico reformado em relação ao entendimento da Bíblia, desenvolvido no surgimento da Reforma magisterial, mas com raízes que se estendem até aos primeiros dias do cristianismo católico e historicamente apreciado em todas as várias ramificações da comunidade reformada (batistas, congregacionais, independentes, presbiterianos, anglicanos e reformados). A teologia do pacto não se pode reduzir a servir meramente como a justificação para alguma visão particular dos filhos no pacto (a sucessão pactual), ou para um certo tipo de escatologia, ou para uma filosofia específica de educação (seja o homeschool, as escolas cristãs, ou as escolas clássicas). A teologia do pacto é maior do que essas coisas. Ela é mais importante do que elas.

“A doutrina do pacto se encontra na raiz de toda verdadeira teologia. Se diz que quem entende bem a distinção entre o pacto das obras e o pacto de graça, tem um mestrado em teologia. Estou convencido de que a maioria dos erros que os homens cometem com respeito às doutrinas da Escritura se baseiam em erros fundamentais com respeito ao pacto da lei e da graça. Que Deus nos conceda agora o poder para instruir, e a vocês a graça para receber uma instrução sobre este vital assunto”. Quem disse isto? Charles H. Spurgeon - o grande pregador batista inglês! Ele é, na verdade, um homem que se fora de nossa suspeita de ministrar secretamente uma visão presbiteriana dos sacramentos às desprevenidas massas evangélicas.

A teologia do pacto frui da vida e obra trinitária de Deus. A comunhão pactual de Deus conosco está moldada, e é um reflexo, das relações intratrinitárias. A vida compartilhada, a comunhão entre as pessoas da Santíssima Trindade, o que os teólogos chamam de perichoresis, ou circumincessio, é o arquétipo da relação que o misericordioso Deus do pacto compartilha com o seu povo eleito e remido. Os compromissos de Deus no pacto eterno da redenção encontram a sua realização no espaço-tempo no pacto de graça.


Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Porto Velho, 29 de Julho de 2016.

09 junho 2016

Cronologia da vida de Hulrich Zwingli [1448-1531]

1. 1448 – [1 de Janeiro] Zwingli nasce em Wildhaus (Toggenburg).
2. 1489/1498 – Frequenta a escola em Weesen, Basiléia e Berna.
3. 1498/1506 – Estudos na Universidade de Viena e Basiléia.
4. 1506 - Início do pastorado em Glarus.
5. 1510 – Escreve A Poética Fábula acerca de Ox.
6. 1513 - Acompanha as tropas de Glarus até Navarra.
7. 1514/1516 – Escreve O Labirinto.
8. 1515 – Acompanha as tropas até Marignano.
9. 1516 - Visita Erasmo em Basiléia.
10. 1516 – [Novembro] Início do pastorado em Einsiedeln.
11. 1519 – [1 de Janeiro] Torna-se sacerdote do povo em Zurique na Grande Catedral [Grussmünster]. Adoece com a praga.
12. 1521 – [29 de Abril] Promovido a pastor principal.
13. 1522 – [9 de Março] Promove a refeição com linguiça na casa de Christoph Frowshauer.
14. 1522 – [7-9 de Abril] Debate com a delegação episcopal.
15. 1522 – [16 de Abril] Escreve Quanto à escolha e liberdade dos alimentos.
16. 1522 – [21 de Julho] Debate com os monges mendicantes.
17. 1522 – [22-23 de Julho] Escreve A primeira e a última palavra.
18. 1522 – [6 de Setembro] Escreve Acerca da Clareza e Certeza da Palavra de Deus.
19. 1522 – [17 de Setembro] Prega o Sermão acerca da perpétua virgindade de Maria.
20. 1523 – [29 de Janeiro] Primeiro debate em Zurique.
21. 1523 – [14 de Julho] Escreve Interpretação e Fundamento para as 67 Conclusões.
22. 1523 – [30 de Julho] Escreve Acerca da Justiça Divina e Humana.
23. 1523 – [1 de Agosto] Escreve Pequeno Livro-Texto.
24. 1523 – [29 de Setembro] Novas diretrizes para a Grande Catedral.
25. 1523 – [26-28 de Outubro] Segundo debate em Zurique.
26. 1523 – [17 de Novembro] Escreve Breve Instrução Cristã.
27. 1524 – [13-14 de Janeiro] Realização do tradicional debate entre párocos.
28. 1524 – [2 de Abril] Casamento com Ana Reinhart.
29. 1524 – [8 de Abril] Aliança dos Cinco Estados em Defesa contrária a Reforma.
30. 1524 – [Junho] Retirada das pinturas e imagens das igrejas de Zurique.
31. 1524 – [24 de Outubro] Extinção do Convento de Maria.
32. 1524 – [Novembro] Escreve a Carta à Matthew Alber acerca da Ceia do Senhor.
33. 1524 – [28 de Dezembro] Escreve Quem provoca distúrbios.
34. 1525 – [15 de Janeiro] Instituídas Leis de Bem-Estar.
35. 1525 – [17 de Janeiro] Debate com oponentes do batismo infantil.
36. 1525 – [21 de Janeiro] Primeiro batismo adulto.
37. 1525 – [Março] Escreve Comentário acerca da Verdadeira e da Falsa Religião.
38. 1525 – [26 de Março] Escreve O Pastor.
39. 1525 – [Março/Abril] Escreve Ato ou Costume da Ceia.
40. 1525 – [Abril] Indicado como supervisor da escola.
41. 1525 – [13 de Abril] Revisão da celebração da Eucaristia.
42. 1525 – [10 de Maio] Leis matrimoniais.
43. 1525 – [27 de Março] Escreve Acerca do Batismo, Anabatismo e Batismo Infantil.
44. 1525 – [19 de Junho] Escreve Profecia.
45. 1525 – [Agosto] Inicia o mandato do Concílio para a reorganização política e econômica.
46. 1526 – [Fevereiro] Escreve Breve Clareza da Ceia do Senhor.
47. 1526 – [Maio/19 de Junho] Debate em Baden.
48. 1527 – [31 de Junho] Escreve Refutação dos Programa dos Anabatistas.
49. 1527 – [Dezembro] Revigoramento das leis do acordo de Zurique com Constança.
50. 1528 – Revigoramento das leis de acordo de Zurique com Berna e St. Gallen. Instituição das diretrizes da igreja de Zurique.
51. 1528 – [6-26 de Janeiro] Debate de Berna.
52. 1528 – [7 de Fevereiro] Leis para a Reforma de Berna.
53. 1528 – [21 de Abril] Primeiro Sínodo de Zurique.
54. 1529 – Revigoramento das leis de acordo de Zurique com Basiléia, Schaffhausen, Biel e Mulhausen.
55. 1529 – [Abril] Leis para a Reforma de Basiléia.
56. 1529 – [22 de Abril] A “União Cristã” dos Cinco Estados com Ferdinand I.
57. 1529 – [26 de Junho] Primeiro Tratado de Paz de Kappel.
58. 1529 – [Setembro] Leis para a Reforma de Schaffhausen.
59. 1529 – [1-4 de Outubro] O Colóquio de Marburgo.
60. 1530 – [3 de Julho] Escreve A Razão da Fé [Fidei Ratio].
61. 1530 – [20 de Agosto] Escreve Sermão acerca da providência de Deus.
62. 1530 – [Novembro] Aliança entre Zurique e Hesse.
63. 1531 – [Maio] Bloqueio de alimento contra os Cinco Estados.
64. 1531 – [Julho] Zwingli oferece a sua renúncia.
65. 1531 – [Julho] Escreve Exposição da Fé Cristã.
66. 1531 – [11 de Outubro] Zwingli morre na batalha de Kappel.


Extraído de Ulrich Gäbler, Huldrych Zwingli – His Life and Work (Philadelphia, Fortress Press, 1986), pp. 175-177.
Traduzido por Ewerton B. Tokashiki.

25 maio 2016

Somos uma igreja presbiteriana

O sistema de governo presbiteriano significa que somos governados pelos presbíteros. Não somos congregacionais (onde todos decidem pelo voto direto), nem episcopais (onde apenas um superior decide sobre os demais). Somos uma igreja regida representativamente pelos presbíteros escolhidos pela igreja local sob a autoridade da Escritura Sagrada.

Segue abaixo os princípios do nosso sistema de governo:[1]
1. Cristo é a cabeça da sua Igreja e a fonte de toda a sua autoridade.
2. Esta autoridade encontra-se escrita na Escritura Sagrada, de modo que, todos têm acesso ao seu conhecimento.
3. Todos os crentes devem estar unidos entre si e ligados diretamente a Cristo, assim como os diversos membros de um corpo, que se subordinam à direção da cabeça.
4. Cristo exerce a sua autoridade em sua Igreja, por meio da Palavra de Deus e do seu Espírito.
5. O próprio Cristo determinou a natureza do governo de sua Igreja.
6. Cristo dotou tanto a membros comuns como aos oficiais da sua Igreja com autoridade, sendo que os oficiais receberam adicional autoridade, por meio da ordenação, como é requisito para realização dos seus respectivos deveres.
7. Cristo estabeleceu apóstolos para estabelecimento do seu fundamento, entretanto, eram de caráter transitório. O ofício de apóstolo cessou, mas a sua autoridade é preservada pelos seus escritos, isto é, o Novo Testamento.
8. Cristo providenciou para o específico exercício da autoridade por meio de representantes (os presbíteros docentes e regentes), a quem separou para a preservação da doutrina, adoração e disciplina na Igreja.
9. O ofício de presbítero e o termo bispo [supervisor] possuem o mesmo significado.
10. Os presbíteros têm a responsabilidade permanente de pastorear a Igreja de Cristo.
11. A pluralidade de presbíteros numa igreja local é a liderança normativa até a segunda vinda de Cristo.
12. Em cada igreja local precisa possuir uma pluralidade de diáconos, auxiliando os presbíteros, e exercendo o ministério da misericórdia.
13. A seleção dos homens deve obedecer a prescrição divina da qualificação dos oficiais (1 Tm 3:1-13 e Tt 1:5-9).
14. A admissão ao ofício deve ser pela ordenação, com oração e imposição de mãos dos presbíteros.
15. A forma de administração em cada congregação é pela representação dos presbíteros eleitos pela igreja local.
16. Em casos de dificuldades na igreja local quanto à doutrina, disciplina, culto e governo são resolvidas administrativamente pela consulta ou intervenção dos concílios superiores. Os concílios superiores deverão se guiar pela autoridade final da Escritura Sagrada para promover a pureza e unidade na verdade, a fim de que a Igreja Visível testemunhe a nossa comunhão com o nosso Cabeça, o Senhor Jesus Cristo, e o mundo saiba que somos um.

Em suma, o nosso sistema de governo é formado pela pluralidade de presbíteros. Isto significa que a igreja é governada por um concílio de presbíteros, e não por um homem ou por toda a comunidade. Por isso, o nosso sistema de governo também é chamado de conciliar, ou seja, ele possui uma estrutura formada de concílios menores, que federados formam concílios superiores.

Todos os presbíteros têm a mesma autoridade em reunião de conselho. Os pastores, que são presbíteros docentes, em discussão e voto possuem igual poder de decisão que os demais presbíteros regentes. Esta igualdade de decisão ocorre em qualquer nível conciliar, desde o Conselho da igreja local estendendo-se até o Supremo Concílio.

O Novo Testamento menciona duas funções dos presbíteros. Ronald Hanko observa que
a Escritura faz a distinção entre presbíteros regentes (1 Tm 3:4-5; 1 Tm 5:17) e presbíteros docentes (1 Pe 5:1). Todavia, isto não significa que um seja superior ao outro. Como estas passagens demonstram, não há uma distinção absoluta entre estes ofícios. Presbíteros regentes também devem ser capazes de ensinar (1 Tm 3:2), e presbíteros docentes “que se afadigam na palavra e no ensino” também governam (1 Tm 5:17).[2]

De modo complementar, os pastores também governam, e os presbíteros também pastoreiam. Os pastores são presbíteros docentes, porque se afadigam priorizando o estudo e ensino da Palavra, enquanto, os demais presbíteros são regentes, e estes têm como prioridade governar os membros e administrar o patrimônio da igreja local.

NOTAS:
[1] Adaptado parcialmente de Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith (Nashville, Thomas Nelson Publishers, 2ªed.rev., 1997) pp. 902-903, bem como de James M. Porteous, Jesus Christ King of the Church (The James Begg Society, 1999), p. 110.
[2] Ronald Hanko, Doctrine according to Godliness – A Primer of Reformed Doctrine (Grandville, Reformed Free Publishing, 2004), p. 240.
[3]

03 maio 2016

Somos uma igreja confessional

O que significa ser confessional? Os reformados afirmaram a sua ortodoxia adotando credos, catecismos e confissões para resumir e declarar organizadamente o que criam. Esta é uma prática antiga na Igreja Cristã, originando-se nas orações dos crentes da antiga aliança e nos ritos de batismo do século I.[1] Paulo instrui Timóteo que “mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2 Tm 1:12-13). Por isso, os cristãos são chamados a guardar “o bom depósito”, isto é, a preservar fielmente o sistema doutrinário, sem alterar a sua essência. A finalidade da prática confessional era identificar a unidade pela verdade, denunciar o erro e excluir os hereges.

Qual é a necessidade de sermos confessionais? David W. Hall observa que a prática da subscrição confessional pelos reformadores possuía os seguintes motivos doutrinários: unidade, clareza, defesa de falsas acusações, defesa e preservação de identidade, bem como uma variedade de declarações públicas.[2] Esta preocupação está de acordo com o claro ensino da Escritura Sagrada. Judas declara que “quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Ele não se referiu somente ao aspecto subjetivo da fé, ou seja, a confiança e consentimento, mas, em especial ao conteúdo doutrinário da fé. Assim, o seu argumento é que os seus leitores deveriam defender a doutrina que receberam contra indivíduos que haviam se introduzido na Igreja, e disseminavam a libertinagem e negavam a sã doutrina (Jd 4).

Somos uma denominação reformada de herança puritana. Por isso, subscrevemos os Padrões de Westminster como fiel exposição do ensino da Escritura Sagrada. O endosso destes documentos doutrinários deve ser integral, isto é, em todas as suas declarações doutrinárias. Isto significa que aceitamos todas as afirmações e nos empenhamos em viver por elas. Mas, infelizmente há quem sendo presbiteriano não seja coerente. Há alguns motivos para isso: 1) aqueles que desconhecem porque não foram instruídos; 2) aqueles que conhecem superficialmente e que, ignorando as declarações precisas e suas implicações, acabam descumprindo a sua palavra; e, 3) aqueles que declaram verbalmente aceitar, mas intencionalmente rejeitam no coração. Estes últimos divorciam a convicção da confissão, e isto resulta em desonestidade confessional. Entendemos que a reserva mental sempre é pecado! É minha intenção com este texto, como membro desta igreja, que você seja informado, doutrinado, e honestamente se comprometa com a nossa identidade confessional reformada.

A nossa tradição usa confissões e catecismos para apresentar o nosso sistema doutrinário.[3] Isto ocorre num contexto em que somos chamados a confessar a nossa fé aos de fora da igreja. Estes documentos resumem sistematicamente o ensino da Escritura Sagrada acerca de vários temas. Eles também são úteis para o exercício da verdadeira piedade, bem como para uma resumida apresentação do que cremos em nossa fé reformada.
A IPB exige de seus oficiais e membros a plena subscrição dos Padrões de Westminster que são:
1. A Confissão de Fé de Westminster
2. O Catecismo Maior de Westminster
3. O Breve Catecismo de Westminster

Entretanto, aceitamos e usamos para estudo da fé reformada:[4]
1. A Confissão Belga (1561)
2. O Catecismo de Heidelberg (1563)
3. A Segunda Confissão Helvética (1566)
4. Os Cânones de Dort (1618-1619)

E, também recebemos os antigos credos como parte da nossa declaração de fé:
1. O Credo Apostólico
2. O Credo Niceno
3. O Credo de Calcedônia

Como usamos os catecismos e confissões? Segue algumas sugestões:
1. A nossa denominação os usa para afirmar a sua identidade confessional reformada. Quando alguém nos pergunta no que cremos, eles representam a nossa herança doutrinária. Eles são úteis para a leitura contínua e consulta do corpo doutrinário de nossas convicções.
2. O presbitério os usa em debates teológicos e na avaliação de oficiais e tribunais eclesiásticos. Quando há controvérsias envolvendo assuntos litúrgicos, doutrinários e da prática da vida cristã, parte da fundamentação para corrigir e estabelecer as nossas decisões conciliares dependerão destes documentos.
3. As nossas instituições teológicas devem usá-los para aferir a fidelidade confessional de seus docentes. A contratação e continuidade de um professor, que inevitavelmente será um formador de opinião, deve ocorrer mediante exame da JURET e JET. O ambiente acadêmico favorece o estudo e análise de diferentes vertentes teológicas, entretanto, a formação teológica de nossos futuros pastores, deve ser realizada com compromisso confessional pelos nossos seminários. A maioria dos alunos são candidatos ao sagrado ministério, e devem ser avaliados pelos seus compromissos de crença.
4. Nos cursos de treinamento de oficiais e liderança os nossos documentos precisam ser estudados prescritivamente. Eles exercerão o governo na igreja local e nas diferentes esferas conciliares de nossa denominação. Antes de sua ordenação ou designação, serão examinados pelo conselho, e professarão conhecimento, entendimento e compromisso aos nossos padrões de fé. [ PARA TREINAMENTO E SELEÇÃO DE OFICIAIS - ACESSE AQUI ] & [ PARA EXAME DE CANDIDATOS AO OFICIALIATO DA IGREJA - ACESSE AQUI ].
5. O Conselho os têm como padrão em questões doutrinárias e recebimento de membros. A unidade da igreja se dá no compromisso coletivo com a verdade. Os presbíteros supervisionam da honesta obediência dos votos que os membros realizaram em seu exame e pública profissão fé.
6. Os pregadores os citam nos seus sermões para ilustrar ou como parte da argumentação. O sermão sempre é doutrinário em sua essência, por isso, o culto público é excelente lugar para proclamação, instrução, correção e conforto dos seus participantes.
7. Estudá-los nas reuniões de estudo doutrinário durante a semana. O pastor poderá realizar estudo expositivo sequenciado usando os Padrões de Westminster. Há comentários da Confissão de Fé e dos Catecismos que enriquecem o entendimento e a sua aplicabilidade em questões práticas da vida cristã.
8. Os discipuladores devem usa-los constantemente para o preparo dos estudos. Seja no discipulado para iniciantes ou avançado, o aprendiz carece se familiarizar com fé cristã em sua expressão documental. Esteja seguro de que não é a mera opinião de um membro, mas o legado doutrinário que esposa fielmente a sistematização da Escritura Sagrada.
9. Os professores da Escola Dominical podem recorrer a eles para eximir alguma dúvida ou controvérsia em aula. Havendo divergência nalgum assunto, os professores deverão fechar o assunto, quando possível, através da nossa confessionalidade.
10. Os pequenos grupos que se reúnem nas casas podem usá-los como roteiro de estudo. O estudo do Breve Catecismo de Westminster é um proveitoso recurso para o estudo em grupos que se reúnem nos lares. Nestas reuniões de caráter mais informal sempre recebem visitantes, quer sejam convertidos, ou não, e os comentários dos participantes, não podem criar no desenvolvimento do estudo uma abertura para a aceitação da pluralidade de opiniões como igualmente válidas. O pequeno grupo não é uma igrejinha dentro da igreja, onde o livre pensamento é adotado independentemente do corpo doutrinário oficial.
11. As famílias podem acrescentar a sua leitura no culto doméstico. A leitura da Escritura, a oração e cânticos, somados ao estudo dos Padrões de Westminster enriquecerão o exercício espiritual que nutrem o crescimento. O culto doméstico propicia a comunhão, instrução e a adoração no lar, se forem usados os nossos diretórios doutrinários certamente forjará famílias com saudáveis convicções. Assim, formar famílias fortes resultará numa igreja vigorosa.
12. A leitura das declarações e textos bíblicos neles contidos são proveitosos para a devocional diária. O uso de livretos para fins devocionais apesar de úteis, podem ser acompanhados pela leitura de uma ou duas perguntas dos catecismos, ou parágrafos da Confissão de Fé. São pensamentos com denso conteúdo bíblico que alimentam e nos preparam para viver diariamente na presença de Deus.

É possível ser membro da Igreja Presbiteriana de Brasil e não ser confessional? Os Conselhos ao examinar o candidato à profissão de fé, ou membros em processo de transferência, deveriam ser criteriosos quanto a nossa identidade confessional. Caso o candidato se negue a subscrever o nosso sistema de doutrina, ele não deveria ser recebido como membro da igreja local. Por isso, antes do exame, recomenda-se que os candidatos a membros deverão ser discipulados, participar da Classe de Catecúmenos e ler os Padrões de Westminster. A pressa de recebê-lo como membro da igreja local é prejudicial, porque é necessário ajudá-lo a entender o que cremos, para que seja verdadeiro quando fizer sinceramente a sua pública profissão de fé diante da igreja, em culto solene, e acima de tudo do verdadeiro Deus que exige o nosso sim, significando sim. Sobre o zelo no exame de candidatos a membro [ ACESSE AQUI ]

Recomendo a leitura sobre a prática da subscrição confessional, conforme adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil:
1. Carl R. Trueman, O imperativo confessional (Brasília, Editora Monergismo).
. David W. Hall, The practice of confessional subscription (Oak Ridge, The Covenant Foundation).
. Morton H. Smith, The case for full subscription to Westminster Standards in the Presbyterian Church in America (Greenville, GPTS).
. Ulisses Horta Simões, A subscrição confessional - necessidade, relevância e extensão (Belo Horizonte, Efrata Publicações e Distribuição).


NOTAS:
[1] Philip Schaff reconhece nas Escrituras os seguintes credos em forma embrionária: Êx 20:2-3; Dt 6:4; Jo 1:50; Mt 16:16; 28:19; Jo 6:68; 20:28; At 8:37; 1 Co 8:6; 1 Tm 3:16; Hb 6:1-2. Philip Schaff, The Creeds of Christendom – with a history and critical notes (Grand Rapids, Baker Books, 2007), vol. 2, pp. 3-8.
[2] David W. Hall, “Southern Presbyterians: The virtue of confessional relaxation?” in: Joseph A. Pipa Jr., org., Confessing our hope – Essays celebrating the life and ministry of Morton H. Smith (Taylors, Southern Presbyterian Press, 2004), p. 97.
[3] A relevância da tradição está em preservar e passar adiante a verdade. Ela deve ser um instrumento para comunicar o ensino da Palavra de Deus, e nunca parte dela.
[4] Aqueles que leem em inglês poderão estudar de modo mais completo as confissões de herança calvinista. Se for do interesse saber James T. Dennison Jr. publicou uma coletânea bem extensa dos documentos confessionais reformados desde o século XVI até o XVII. Veja em James T. Dennison, Jr., ed., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English Translation (Grand Rapids, Reformation Heritage Books) em 4 volumes. Este manual é a compilação mais completa dos documentos reformados disponível em inglês.

24 abril 2016

Somos uma igreja reformada

O que é ser um cristão reformado? Talvez, essa definição não seja tão fácil devido à forma tão elástica como alguns desejam dar à identidade reformada.[1] A fim de apresentarmos quem somos não é suficiente apenas descrevermos que historicamente descendemos da Reforma do século XVI. A genealogia da família reformada teve vários desdobramentos, alguns deles se apostataram da teologia reformada, mas Deus preservou uma linhagem fiel. Para provarmos a nossa identidade reformada precisamos justificar o nosso vínculo com o pensamento calvinista original.[2] Creio que podemos aceitar a definição de Joel R. Beeke em dizer que “ser reformado significa enfatizar o abrangente, soberano e amoroso senhorio de Deus sobre todas as coisas: cada área da criação, todos os esforços das criaturas e cada aspecto da vida do crente”.[3] Como cristãos reformados cremos que o nosso Deus criou tudo o que existe, governa todos os eventos pela sua providência, realiza eficazmente a salvação, e conduz tudo para o cumprimento do seu eterno propósito, de modo, que nada foge ao seu absoluto controle. Por isso, todas as demais doutrinas estão centradas em Deus.

O cristão reformado é alguém que vive sob a influência de que a Escritura é a sua única fonte e norma de fé e prática. H. Henry Meeter observa que
o calvinista sustenta que a autoridade da Bíblia é absoluta. Não considera a Bíblia simplesmente como um livro de bons conselhos que o homem pode adotar livremente, se assim o considera conveniente, ou rejeitar se assim lhe parece mais oportuno. A Bíblia é para o calvinista uma norma absoluta à que deve submeter-se totalmente. A Bíblia lhe dita o que deve crer e o que deve fazer; fala com força imperativa. Calvino era muito enfático neste ponto. Se a Bíblia fala, somente há uma alternativa: obedecer.[4]

O cristão reformado não é alguém que cegamente se submete a liderança de homens, instituições ou a movimentos. A sua submissão é ao Senhor Deus que revelou a sua vontade na Escritura Sagrada. Ele somente é sujeito a qualquer autoridade, desde que ela esteja de acordo com a Palavra de Deus. Alguns princípios norteiam o cristão calvinista em relação a Deus, ao próximo e a sua percepção da realidade ao derredor:[5]
1. Ele mantém uma mentalidade teocêntrica.
2. Possui um estado de espírito de contrição e de dependência.
3. É movido por um coração grato dominado pelo contentamento.
4. Suporta todas as coisas com uma vontade submissa.
5. Persevera na santidade pela obediência da lei moral.
6. Visa o propósito de glorificarmos a Deus em todas as esferas da sua vida.

É sempre relevante instruir que somos cristãos reformados e não meros evangélicos. Em meio à atual confusão, bem como as tendências pluralistas e inclusivas do evangelicalismo, precisamos nos distinguir. Vivemos um momento crítico de impureza doutrinária, e vemos ensinos nocivos se infiltrando até nas igrejas de origem reformada. Embora descrevendo o contexto das igrejas evangélicas nos EUA, James M. Boice e Philip G. Ryken diagnosticaram o que também parece ser a tendência do evangelicalismo brasileiro. Mas, infelizmente esta parece ser uma situação que começa a ser a realidade de algumas igrejas presbiterianas no Brasil. Eles denunciaram que
o que uma vez foi falado das igrejas liberais precisa ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, creem na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo, e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia torna-se incapaz de alimentar as exigências da vida nestes tempos pós-modernos. Por si mesma, a Palavra de Deus seria insuficiente de alcançar pessoas para Cristo, promover crescimento espiritual, prover um guia prático, ou transformar a sociedade. Deste modo, igrejas acrescentam ao simples ensino da Escritura algum tipo de entretenimento, grupo de terapia, ativismo político, sinais e maravilhosas – ou, qualquer promessa apelando aos consumidores religiosos. De acordo com a teologia do mundo, pecado é meramente uma disfunção e salvação significa desfrutar de uma melhor autoestima. Quando esta teologia adentra a igreja, ela coloca dificuldades em doutrinas essenciais como a propiciação da ira de Deus, substituindo-a por técnicas e práticas de auto-aceitação. A agenda do mundo é a felicidade pessoal, assim, o evangelho é apresentado como um plano para a realização pessoal, em vez de ser a caminhada de um comprometido discipulado. Para terminar, vemos que os métodos do mundo nesta agenda egocêntrica são necessariamente pragmáticos, sendo que as igrejas evangélicas estão se esforçando a todo o custo em refletir o modo como elas operam. Este mundanismo tem produzido o “novo pragmatismo” evangélico.[6]

Somos evangélicos no sentido de crermos no evangelho, todavia, preferimos não ser identificados no uso comum do termo. E, isto pelo simples motivo: para que não sejamos confundidos com esta tendência de desvio do antigo evangelho de Jesus. Os cultos de muitas igrejas evangélicas estão cheios de elementos estranhos, práticas místicas que se assemelham às seitas espíritas, doutrinas de homens e uma ausência da fiel exposição da Escritura, da correta ministração da ceia do Senhor, bem como da zelosa aplicação da disciplina bíblica. Essas comunidades por causa de sua infidelidade ao ensino da Escritura estão se tornando cada vez menos puras.

Mas, por que conhecer a própria identidade? Transcrevo aqui o sábio conselho de Beeke em que ele adverte que
se não conhecermos nossa herança reformada, a ignorância levará à indiferença, e a indiferença ao abandono. Aconselho-o a que estude o pensamento reformado. Mergulhe nos escritos de calvinistas firmes e renomados. [...] Se não apreciarmos a nossa herança reformada, a nossa fé perderá a autenticidade. Ninguém sentirá interesse pelo calvinismo, porque nos faltará paz, alegria e humildade verdadeiras. E, se não vivermos nossa herança reformada, não seremos sal na terra. Quando o sal perde a sua salinidade, não presta para nada, exceto para ser lançado fora e ser pisado pelos homens (Mt 5:13).[7]

Quando vivemos a tradição reformada honramos os milhares de servos que Deus usou para forjá-la. Não adoramos a tradição em si, mas cremos que ela é útil para identificar as nossas origens. Ela tem o papel de preservar a herança que recebemos dos reformadores. Quando subscrevemos estes documentos estendemos a nossa destra para irmãos de diferentes períodos e países que viveram pela fé reformada, e ao lado deles glorificamos ao soberano Deus.

NOTAS:
[1] Por exemplo, refiro-me ao que fez John Leith agregando à tradição reformada homens e mulheres, bem como denominações e movimentos doutrinários bem pluralistas que negam a nossa tradição confessional reformada. Veja John Leith, A tradição reformada – uma maneira de ser a comunidade cristã (São Paulo, Associação Evangélica Literária Pendão Real, 1996).
[2] Holmes Rolston III afirmou um afastamento de Calvino e os teólogos de Westminster dizendo que “inovações teológicas eram a obra de seus sucessores” in: John Calvin versus the Westminster Confession (1972), p. 23 citado por Paul Helm, “Calvin and the Covenant: Unity and Continuity” in: The Evangelical Quarterly, p. 66. Entretanto, o que Joel R. Beeke declarou acerca da doutrina da segurança da salvação, também podemos concluir das demais áreas teológicas, que a diferença entre Calvino e o calvinistas posteriores, especialmente os teólogos de Westminster, em relação ao desdobramento teológico da teologia reformada é quantitativamente além, mas não qualitativamente contraditória às de Calvino. Veja Joel R. Beeke, A Busca da Plena Segurança – O Legado de Calvino e Seus Sucessores (São Paulo, Editora Os Puritanos, 1999), pp. 19-20.
[3] Joel R. Beeke, Vivendo para a glória de Deus – uma introdução à fé reformada (São José dos Campos, Editora Fiel, 2010), p. 57.
[4] H. Henry Meeter, The basic ideas of Calvinism (Grand Rapids, Baker Books, 6a.ed. rev., 1990), p. 28.
[5] Adaptado de James M. Boice & Philip G. Ryken, The doctrines of grace – rediscovering the evangelical gospel (Wheaton, Crossway Books, 2002), pp. 179-199.
[6] James M. Boice & Philip G. Ryken, The doctrines of grace – rediscovering the evangelical gospel, pp. 20-21.
[7] Joel R. Beeke, “Prefácio” in: Vivendo para a glória de Deus – uma introdução à fé reformada, p. 16.

20 abril 2016

A melhor forma de governo - H. Henry Meeter

Escrito por H. Henry Meeter[1]

No último capítulo indicamos as principais funções do estado segundo a concepção calvinista. Neste capítulo demonstraremos que tipo de estado o calvinista poderia considerar ideal – o que é ordenado por Deus – para consumar as suas funções. Se o mundo não tivesse caído em pecado não haveria a possibilidade da incerteza quanto à forma ideal de estado. Este seria um estado mundial, um império mundial: o Reino de Deus. A forma de governo seria monárquica, com Adão à cabeça do império. Na nova terra haverá outras vez um império mundial sob o segundo Adão – como rei. Mas nesta terra de pecado não poderá se estabelecer o estado mundial disposto por Deus. Para minimizar de algum modo a corrupção do homem, na torre de Babel, Deus dividiu os povos da terra em diferentes nações e línguas. Todavia, vários foram os intentos para conseguir um império mundial. O Anticristo com o recurso da força tratará de estabelecer um império; mas, este império será destruído por Cristo. Pode se dizer que Calvino favoreceria a formação de estados não tão extensos e poderosos, para que assim pudesse eliminar o perigo inerente em toda concentração excessiva de poder governamental.

O calvinismo, consequentemente, não favorece a formação de um estado único, ou de um império mundial, nesta terra de pecado; e muito menos se manifesta a favor de um determinado tipo de governo. Alguns chegam a supor que o calvinismo pretende instaurar novamente a teocracia mosaica. Então, com vasta frequência nos descrevem Calvino como tratando de fazer tal coisa em Genebra. Todavia, a realidade é bem outra: Calvino em repetidas ocasiões afirmou que a teocracia mosaica estava destinada, exclusivamente, para o povo israelita. Muitas de suas leis foram promulgadas à luz de algumas circunstâncias distintas às de nosso tempo. Por seus desígnios providenciais, Deus achou por bem, após a queda, que o império mundial se fragmentasse em muitos estados, assim, também permitiu que fosse fracionada a autoridade governamental. Deus pode exercer o seu senhorio não somente através de um homem (monarquia), como também, através de uns poucos (aristocracia), e inclusive através de muitos, ou de todos (democracia). Deus não somente pode fazê-lo, como que na realidade o faz. A Bíblia afirma que “não há autoridade que não proceda de Deus”, pois os poderes humanos foram ordenados por Deus. Se Deus exerce o seu senhorio através de diferentes tipos de governo, a pergunta que concerne à forma de governo se reveste de um distinto caráter prático, e poderia se formular assim: que forma será mais funcional quanto aos fins de governo? A resposta não será a mesma em todos os casos. Em alguns países certa forma de governo será melhor, enquanto que em outros a mesma resultaria ineficaz. Nos Estados Unidos da América a forma de governo mais apropriada é a democrática. Mas em outras terras, onde o nível cultural e moral não é tão alto, a forma democrática continuamente se veria perturbada por revoluções. Num país como a China é questionável se uma democracia genuína poderia ser realmente eficaz. Igualmente, no curso da história de uma nação poderá ocorrer num período durante o qual o governo democrático resultará eficaz; mas, em outros, ao declinar a moral e desaparecer o espírito cívico dos cidadãos, uma forma ditatorial ou monárquica virá a ser a mais indicada para estabelecer a ordem e evitar o caos.

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NOTAS:
[1] H. Henry Meeter, Doutor em Teologia, foi presidente durante 30 anos do Departamento Bíblico do Calvin College, Grand Rapids, MI. Nota do tradutor.

07 abril 2016

Uma declaração da cosmovisão reformada - revisada

Apresento de modo sistemático uma declaração da cosmovisão reformada. Este é um resumo de como interpretamos o mundo a partir de uma perspectiva calvinista, os acontecimentos e como a vida está sob o governo e relacionada com o soberano Deus, e como todos os valores se organizam a partir dele.

1. Cremos que Deus é um Ser em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O nosso Deus é infinito, eterno, perfeito, autossuficiente e imutável em seu Ser. Ele em tudo manifesta a sua bondade, conhecimento, sabedoria, poder, e a justiça segundo o seu soberano propósito eterno. Ele é o criador de tudo o que existe, pela Palavra do seu poder. Ele realiza, em tudo e todos, a sua sábia providência, de modo que, não existe acaso, nem fatalismo nos acontecimentos que vivenciamos, mas o absoluto controle em cada situação é a realização da sua perfeita vontade. Tudo o que ele realiza é reflexo daquilo que ele é. As nossas vidas e nossas famílias estão seguras em suas misericordiosas mãos.

2. Cremos que o nosso Deus é pessoal. Ele se revelou através de homens escolhidos, de eventos em diversos momentos e finalmente em seu Filho, e tudo o que é proveitoso para desvendar o seu Ser e a sua vontade, ele inspirou de modo escrito, para evitar a corrupção e o engano. Ele fez que se registrasse a sua Palavra progressivamente, para que se tornasse o livro de mediação e revelação das suas obras e do seu propósito conosco. Hoje, Deus fala verbalmente conosco somente na sua inspirada Palavra, pois, cessaram os agentes revelacionais [apóstolos e profetas], as modalidades revelacionais e a entrega de novas revelações. Por isso, submetemo-nos somente à autoridade da Escritura Sagrada como sendo a única fonte e regra de fé e prática. Somente ela é a inerrante, clara e suficiente Palavra de Deus. Em sua Palavra, Deus o padrão absoluto da verdade, bem como explica a origem do universo, da vida e das espécies, quem somos, qual o propósito da nossa vida, indicando a finalidade de toda a existência que é glorificá-lo e desfrutar dos benefícios da sua comunhão.

3. Cremos que o ser humano é criado à imagem de Deus. Deus criou a humanidade: homem e mulher, e ambos de igual modo refletem com dignidade espiritual os atributos que Deus lhes comunicou e, também representam o Senhor como administradores responsáveis de preservar e usufruir da criação. Tanto o homem como a mulher, são iguais em capacidade e responsabilidades; mas o homem deve exercer a sua autoridade como cabeça sobre a mulher, e esta liderança masculina deve ser sem opressão, nem omissão, pois, embora tendo diferentes papéis, exercem funções complementares. O casamento faz parte do projeto pactual de Deus conosco, por isso, a união entre Cristo e a Igreja é o paradigma do casamento. O casamento, entre um homem e uma mulher adultos, é um valor ético que devemos nutrir e defender contra toda ideologia de gênero e os intentos pós-modernos de reconfigurar a família.

4. Cremos que Deus fez uma aliança de vida com Adão. Como o nosso primeiro pai, ele foi o nosso representante nesta aliança. Todavia, sendo Adão tentado por Satanás, ele violou este pacto ao desobedecer um claro comando de Deus, perdendo a comunhão espiritual e todos os seus benefícios prometidos. Toda criação que era “muito boa” tornou-se corrompida em seu sistema ecológico. Sobre toda a humanidade foi creditada esta maldição, o pecado é a herança natural que todos recebem de Adão. Por causa deste mal moral todos perderam a santidade, a justiça e o conhecimento perfeito de Deus. O pecado produz inimizade, perda de significado, e por fim, a vergonhosa morte. Embora corrompidos, ainda somos portadores da imagem de Deus.

5. Cremos que Satanás e seus demônios, agentes do mal, conspiram contra tudo o que procede de Deus. Ele tentou os nossos primeiros pais, e os induziu a rebelião contra Deus, e nos confronta tentando seduzir-nos, despertando a nossa cobiça e aguçando o nosso orgulho. Ele é soberbo, assassino, acusador, e inimigo de Deus. Satanás não é co-igual a Deus, pelo contrário, ele é uma criatura submissa ao controle soberano do Senhor. O nosso acusador está condenado, e haverá de ser banido ao sofrimento eterno sob a justa ira no juízo de Deus.

6. Cremos que o mal é tão real quanto indesejável o sofrimento por ele produzido em toda a criação. Entretanto, o mal físico é parte da consequente maldição do pecado herdado dos nossos primeiros pais. O pecado gera desordem e destruição no indivíduo e sociedade. Todavia, não acreditamos que Deus seja mero espectador da presença do pecado na história da humanidade, mas de modo misterioso participante de tudo o que acontece, sem ser o culpado do pecado, e sem anular a responsabilidade do pecador. Cremos que todas as coisas, em especial aquelas que parecem escombros depois da destruição do pecado, são matéria-prima que Deus está usando para transformar a nossa vida, conforme à imagem de Cristo, em seu louvor e glória.

7. Cremos que o nascimento de Jesus Cristo teve o propósito de reconciliar pecadores escolhidos com o santo Deus. Sendo o Filho de Deus uma Pessoa que subsiste em duas naturezas, divina e humana, é o completo e final revelador entre Deus e os homens. O sofrimento, obediência, morte e ressurreição de Cristo obtiveram a justiça necessária para merecer-nos a aceitação de Deus, bem como a suficiente satisfação da sua ira, realizando a anulação da condenação pelos nossos pecados. Somos perdoados pela justiça e amor de Cristo Jesus, o nosso mediador. Ele eficazmente intercederá por nós até a Sua segunda vinda. A obra de Cristo é o fundamento para a renovação de toda a criação pela presença espiritual e transformadora do Seu reino, que foi inaugurado.

8. Cremos que o Espírito Santo inicia a obra da salvação em nós, regenerando e concedendo-nos entendimento espiritual para crermos em Cristo como o nosso salvador. Recebemos no poder do Espírito, e pela aplicação da Palavra de Deus em nós, o dom da fé salvadora e arrependimento necessário para a nossa conversão. Em Cristo a justificação é declarada e creditada a nós. Através da adoção somos feitos participantes da família de Deus. A santificação estimulada pelo Espírito e, exercida em nossos pensamentos, emoções e ações confirmam a nossa eleição e filiação divina. Somos preservados em graça, pelo poder de Deus, para sermos continuamente salvos até o fim. Deus tem uma graciosa Aliança da graça conosco e os nossos filhos, tendo o Senhor Jesus como o nosso único mediador.

9. Cremos que o Espírito Santo está presente em nós num relacionamento pactual conosco, habitados por ele, somos batizados no Corpo de Cristo. Ele continua a pairar acima do caos causado pelo pecado, todavia, sem estar alienado ao mal que há no mundo, mas convence-nos da justiça e do juízo, e concede forma à nova criação e fazendo-nos novas criaturas pela regeneração. O Espírito nos une como Igreja, capacitando-nos com dons para o serviço e edificação pela prática da comunhão mútua. Ele testemunha internamente, pela iluminação da Palavra de Deus, e somos continuamente santificados sob a sua poderosa influência. Toda a sua obra tem a finalidade de glorificar a Cristo.

10. Cremos que a Igreja é responsável de ser testemunha da verdade e do amor de Deus neste mundo afetado pelo pecado. Somos o povo escolhido para proclamarmos a mensagem de reconciliação e perdão, convidando pecadores ao arrependimento, para confiarem na suficiência de Cristo para a sua salvação. Temos o compromisso de ouvir, viver e ensinar a Palavra de Deus. A salvação não é somente da nossa alma, mas da nossa mente, cultura e sociedade, apresentando o evangelho integral para o homem em todas as suas necessidades. Cuidamos uns dos outros no amor de Deus, vivendo uma comunhão de reciprocidade e compromisso, proporcionando um ambiente de fraternidade e santidade. A Igreja visível é a comunhão daqueles que professam Cristo como o Senhor, reunidos para a celebração, a adoração, a comunhão, edificação e serviço. Buscamos intimidade com Deus através da Palavra, oração e dos sacramentos e, confirmamos a nova aliança com Deus simbolizada pelo do batismo e ceia do Senhor. A imagem de Deus é vivida na mutualidade dos relacionamentos.

11. Cremos que o objetivo histórico da obra de Cristo foi a inauguração do seu reino sobre a terra. Isto inclui a salvação de indivíduos, bem como uma nova ordem na sociedade. Todavia, cremos que somente com os valores do reino de Deus, num discipulado integral, em que os cristãos se envolvem produtivamente em todas as áreas da vida, podendo participar pelo processo de restauração, transformação e desenvolvimento, reconhecendo Cristo como o Senhor em todas as esferas da nossa existência.

12. Cremos que este mundo experimenta a deterioração dos valores que Deus estabeleceu para preservá-lo. A falta de sentido e propósito também produz a desesperança. A sociedade busca a sua redenção na tecnologia, cultura, política, economia e no sexo, todavia, estes meios são ineficazes de transformá-la construtivamente. Reconhecemos que várias formas de idolatria são fabricadas pela cultura pós-moderna. Mas, infelizmente, a sociedade inclina-se a não reconhecer a verdade como absoluta, ridicularizando a concepção e a ação de Deus no mundo. Estamos chegando ao fim da história humana não em direção ao desespero e caos, mas à consumação do propósito eterno de Deus. Cristo Jesus julgará toda a humanidade de todas as épocas e culturas, a uns dará a salvação segundo a sua misericórdia, e a outros segundo a sua justiça concederá a merecida condenação dos seus pecados.

13. Cremos que o nosso mundo pertence a Deus. Apesar de toda miséria e dor, todas as coisas estão sob o seu absoluto controle. A nossa esperança de uma nova terra não está presa ao que os homens podem fazer, porque cremos que após o dia do Juízo, todo desafio ao governo de Deus, e toda resistência a sua vontade será anulada, o seu reino, que é inaugurado entre nós, se manifestará em sua plenitude, e o nosso Senhor Jesus governará para sempre com o seu povo. Assim “Deus enxugará dos olhos toda lágrima”, Ele abolirá as nossas enfermidades, findará os nossos conflitos, e implantará a Sua perfeita justiça sobre a terra.

A cosmovisão cristã deve ser implantada pela influência da Igreja em todas as esferas da sociedade. O verdadeiro cristianismo propõe que crer e também pensar. Em tudo dependemos de Deus, para ele vivemos e a ele pertencemos, e isso só é possível se a nossa mente for dominada com a verdade (Rm 11:33). A mentira de que a fé não precisa da razão deve ser desprezada, e afirmado que a razão sem a fé se torna em loucura (Rm 1:22-23). James Orr acertadamente disse que “uma religião divorciada do pensamento rigoroso e elevado pode ser vista no curso inteiro da história da Igreja, e por isso, ela sempre tendeu a ser débil, árida e pouco saudável; bem como o intelecto privado de seus direitos dentro da religião, buscou a sua satisfação fora dela, e se transformou num racionalismo secular”. Este é um erro que não podemos repetir. Cada membro de nossa igreja precisa se convencer de que uma fé vigorosa somente glorifica a Deus se ela estiver comprometida com toda a verdade. A finalidade da nossa vida é glorificar a Deus, e a nossa mente não pode ser desprezada no desemprenho deste dever, porque como disse: crer é também pensar!

04 abril 2016

Cremos na Teologia do Pacto

A Teologia Pacto é desconhecida por muitos dos atuais presbiterianos. Aplica-se a advertência de Hugh Martin de que “acontece, assim tememos, que a teologia federal está no presente sofrendo uma grande medida de negligência a ponto de ninguém considerá-la entre nós num futuro imediato da Igreja”.[1] De fato, esta antiga declaração também se aplica aos presbiterianos brasileiros. Percebemos uma negligência no ensino desta doutrina que é essencial para a nossa identidade reformada. A nossa hermenêutica, a organização sistemática, bem como a nossa prática eclesiástica e a nossa ética dependem do nosso entendimento da teologia do pacto.

O modo como entendemos toda a história da salvação estrutura-se no pacto de Deus conosco. Segue abaixo um resumo da Teologia do Pacto:[2]

1. A teologia do pacto estrutura a totalidade da revelação bíblica. De Gênesis a Apocalipse há uma unidade pactual. Por isso, cremos que há uma unidade contínua em toda a Escritura e que a Igreja é a soma dos eleitos do Antigo e Novo Testamento, tendo apenas uma aliança, reino e um modo de salvação.
2. A teologia reformada clássica ensina três pactos: o pacto de redenção, o pacto da graça e pacto das obras. Eles são desdobramentos da mesma obra de Deus no decreto, criação, providência, redenção e consumação.
3. O pacto da redenção é o eterno decreto da Trindade em que tudo foi decidido antes da criação do mundo. Louis Berkhof observa que “Essa aliança eterna [da redenção] é o fundamento firme da aliança da graça. Se não houvesse conselho eterno de paz entre o Pai e o Filho, não poderia ter havido acordo entre Deus e o pecador. A aliança da redenção torna possível a aliança da graça”.[3]
4. O pacto das obras é a perfeita lei de Deus imposta ao homem para uma obediente resposta aos mandatos espiritual, cultural e social. Esta lei que originalmente foi declarada antes da Queda e escrita no coração do homem, ela é posteriormente registrada em tábuas de pedra.
5. Na história da salvação o pacto da redenção significa obras para Cristo e graça para nós. O Filho deveria obedecer satisfatoriamente todas exigências da lei de Deus.
6. Cristo cumpriu as obrigações legais do pacto da redenção em sua obediência ativa e passiva como o representante dos eleitos. Ele pode conceder redenção ao seu povo escolhido.
7. O pacto da graça é a administração progressiva da lei/evangelho na história da redenção do Antigo e Novo Testamento. Deus redime revelando graça aos eleitos, que pela fé, recebem do Mediador as promessas do pacto da graça. Assim, toda a comunidade do pacto será, em Cristo, redimida para a sua glória. O pacto é um vínculo de amor do Pai, merecido pelo Filho e concedido pelo Espírito Santo aos seus eleitos.
8. Jesus Cristo é o mediador do pacto. Nele recebemos aceitação e perdão do Pai, a nossa condenação é satisfeita, e a sua justiça é imputada em nosso favor nos adotando como filhos de Deus. A salvação é um vínculo pactual entre os eleitos, pela mediação de Cristo, com o Pai.
9. Deus tem apenas um povo. Israel e a Igreja formam uma única comunidade pactual, universal e local, no decorrer da antiga e nova aliança confessando o senhorio de Jesus Cristo.
10. Todos os cristãos são ordenados a unirem-se, a fim de formar parte de uma verdadeira comunidade pactual governada pela Escritura Sagrada. Deus instituiu oficiais extraordinários e ordinários para o governo de sua Igreja. Os oficiais extraordinários como os reis, profetas e sacerdotes no Antigo Testamento, bem como os apóstolos e profetas do Novo Testamento foram transitórios. No novo pacto os oficiais permanentes são os presbíteros e diáconos.
11. Na antiga aliança os sinais sacramentais eram a circuncisão e páscoa que na nova aliança foram substituídos pelo batismo e ceia do Senhor. Os sinais de uma verdadeira comunidade pactual que confessa a Cristo são a fiel pregação do Evangelho (o pacto da graça), a correta administração dos sinais e selos pactuais (os sacramentos: batismo e a ceia do Senhor) e a zelosa aplicação da disciplina. O batismo infantil somente é compreendido estruturalmente a partir da doutrina do pacto.
12. A revelação é progressiva no decorrer de toda a história da salvação alcançando a sua plenitude ao completar o fundamento apostólico. Ao completar o registro da revelação com o fechamento do cânon, os antigos modos cessaram, e não há mais comunicação de novas revelações, o retorno das antigas modalidades, nem o ressurgimento dos agentes revelacionais. Somente a Escritura Sagrada é a Palavra de Deus na plena transição da nova aliança.
13. Uma vida cristã integral não pode ser vivida saudavelmente fora de uma verdadeira comunidade pactual que confesse o senhorio de Cristo.

A teologia do pacto é tão essencial à teologia reformada que modificar a teologia do pacto é distorcer a substância da teologia reformada.

J.I. Packer resume bem a relação pactual de Deus conosco, ao escrever que
a estrutura da aliança compreende a inteira administração da graça soberana de Deus. O ministério celestial de Cristo continua a ser o de Mediador de uma nova aliança (Hb 12:24). A Salvação é a salvação da aliança; a justificação, a adoção, a regeneração e a santificação são as misericórdias da aliança; a eleição foi a escolha que Deus fez dos futuros membros da comunidade de sua aliança, a Igreja; o batismo e a Ceia do Senhor, correspondendo à circuncisão e à Páscoa, são ordenanças da aliança; a lei de Deus é a lei da aliança, e sua observância é a expressão mais verdadeira de gratidão pela aliança da graça e de lealdade ao nosso Deus da aliança. Pactuar com Deus em resposta à sua aliança conosco deve constituir um exercício devocional regular para todos os crentes, seja na privacidade ou na Mesa do Senhor. Uma compreensão da aliança da graça guia-nos do começo ao fim e ajuda-nos a apreciar as maravilhas do amor salvífico de Deus.[3]

Todo o nosso relacionamento com Deus somente é possível porque Cristo perfeitamente cumpriu satisfatoriamente todo o pacto. Este pacto que foi estabelecido entre o Pai e o Filho, na eternidade e, realizado na história. Consumada a sua obra o Senhor Jesus nos recebe como seus pelo pacto da graça, e por ter cumprido o pacto das obras Ele nos torna misericordiosamente aceitáveis diante do Pai, concedendo-nos todos os benefícios de seus méritos.

NOTAS:
[1] Citado em John L. Giardeau, The Federal Theology: its import and its regulative influence (Greenville, Reformed Academic Press, 1994), p. 5.
[2] Alguns teólogos e tradutores preferem o termo “pacto” enquanto outros usam “aliança”, mas isto em nada afeta o seu significado bíblico. Os termos Teologia Federal, Teologia do Pacto ou da Aliança são sinônimos.
[3] Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2012), p. 115.
[] J.I. Packer, Teologia Concisa (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004), pp. 82-83.

26 março 2016

Sobre a divisão da Teologia - William Ames

O PRIMEIRO LIVRO DE TEOLOGIA

Capítulo 2 - Sobre a divisão ou partes da Teologia


1. Há dois elementos na teologia: fé e prática. 2 Tm 1:13 retém a forma das sãs palavras na fé e amor que é em Cristo Jesus. 1 Tm 1:19 mantendo a fé e boa consciência. At 24:14-16 crendo em todas as coisas escritas, tendo esperança em Deus, procuro ter sempre uma consciência sem ofensa. Estes eram os mesmos elementos na teologia de Abraão. Gn 15:6 Abraham creu em Jehová; Gn 17:1 anda diante de mim e sê perfeito. Cristo requer o mesmo de seus discípulos, quando através da fé exige que eles guardem todas as coisas que lhes ordenou, Mt 28:20. Paulo maneja este mesmo assunto na Epístola aos Romanos, na qual está manifesta o que contêm a suma de teologia. Finalmente, deve-se ensinar em todas as igrejas todas estas coisas. Tt 3:8, estas coisas quero que insista com firmeza, para que os que creem em Deus procurem se ocupar na prática das boas obras.

2. Uma propriedade desta distribuição (a qual é requerida numa distribuição genuína em cada arte) é que flui da natureza do objeto. Vendo que no princípio e o primeiro ato da vida espiritual (que é o objeto apropriado da Teologia) é a fé e o segundo ato, ou operação que flui deste princípio (a fé) é a prática e necessariamente se declara que estes dois são as partes genuínas da Teologia, portanto, não há nenhuma outra que devamos buscar além delas.

3. No Antigo Testamento (apropriado para esse estado legal e servil), às vezes, a Teologia parece ser dividida no temor de Deus e guardar os seus Mandamentos, como declara Eclesiastes 12:13: O fim de tudo o que se têm ouvido é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o fim todo homem. Mas, por uma metonímia, a fé é incluída na primeira parte como aparece em Pv 3:5-7: Confia em Jehová de todo o teu coração: Teme a Jehová e aparte-se do mal.

4. Estas duas partes (fé e obras) no uso, fato e prática, estão sempre juntas. Todavia, são distintas em sua natureza e aspecto.

5. Também são distintas em sua ordem de natureza que a fé detém o primeiro lugar e que a obediência espiritual vem despois; porque não pode realizar ações piedosas a menos que exista um princípio de vida de previamente iniciado internamente.


Extraído de William Ames, The Marrow of Theology (Grand Rapids, Baker Books, 1997), pp. 79-80.
Tradução: Rev Ewerton B. Tokashiki
26/03/2016.

26 fevereiro 2016

A relação do Estado e da Igreja

Escrito por Charles Hodge


Nota do editor

Nas últimas três décadas tanto políticos conservadores como liberais escreveram uma grande quantidade de perigosas besteiras sobre a igreja e o estado. Esta estupidez está começando a afetar a política de governo e os gastos das rendas de impostos. Recentemente William Bennett, secretário da Educação, defendeu o suporte financeiro governamental para escolas católicas romanas, e os conservadores defenderam programas de fiação para canalizar fundos governamentais para escolas religiosas. Este escritor esteve presente em uma conferência nacional de diretores de escolas cristãs em Washington, D.C., no início deste ano e ouviu um orador (que não era um cristão nem um diretor de escola) opor a legislação ante o Congresso baseando-se em que os subsídios federais sob a legislação não poderiam ser canalizados para creches religiosas. Dentro dos últimos meses, William F. Buckley, Jr. foi convidado para se dirigir em uma grande convenção do Conselho Internacional de Inerrância Bíblica quanto ao assunto da impossibilidade de separar a igreja do estado. E por último, mas não menos importante, a agenda de pelo menos alguns dos “cristãos reconstrucionistas” pareciam incluir o uso da autoridade civil para manter a ortodoxia entre a população.

No meio desta confusão contemporânea nós apresentamos Charles Hodge, que foi chamado de “o príncipe dos teólogos americanos”. Hodge talvez foi o mais influente teólogo presbiteriano do século dezenove, docente no Princeton Theological Seminary por décadas, e autor de muitos livros, incluindo seus três volumes de Systematic Theology. Os seus ensaios apareceram originalmente na Princeton Review em 1863. São agora tomados de um livro recentemente relançado de ensaios por uma variedade de autores e editado por Iain Murray, The Reformation of the Church.


Este é um assunto sumamente complicado e difícil. Existem três aspectos sob os quais ele pode ser visto.
I. A real relação que em diferentes momentos e em diferentes países tem subsistido entre as duas instituições.
II. A teoria desenvolvida para justificar ou determinar os limites de tal relação de existência.
III. A relação normal, tal como deveria existir de acordo com a vontade revelada de Deus, e a natureza do Estado e da Igreja.


Constantino

Antes da conversão de Constantino, a igreja era, é claro, tão independente do estado que ela determinava sua própria fé, regulava seu culto, escolhia seus oficiais, e exercia sua disciplina sem qualquer interferência das autoridades civis. Os seus membros eram considerados como cidadãos do estado, dos quais as opiniões religiosas e práticas eram, exceto em tempos de perseguição, considerados como questões indiferentes. É provável que muita da mesma liberdade era concedida aos cristãos primitivos como era dada pelos romanos para os judeus, que não eram somente permitidos, em casos ordinários, a conduzir seus cultos na sinagoga como desejassem, mas decidir assuntos de disputa entre eles, de acordo com suas próprias leis. Também é declarado que igrejas eram permitidas a posse de propriedades imobiliárias antes da profissão de Cristianismo pelo imperador.

Quando Constantino se declarou como cristão, ele expressou a relação que deveria subsistir doravante entre a igreja e o estado, dizendo a certos bispos, “Deus vos fez os bispos dos assuntos internos da igreja, e a mim o bispo de seus assuntos externos”. Desde então, este pronunciamento se tornou por toda uma grande porção da Cristandade, a fórmula permanente para expressar a relação do magistrado civil com o reino de Cristo.

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