23 agosto 2007

Discipulado

O que é discipulado? Há com certeza uma diversidade de opiniões quanto ao propósito e modo de realizá-lo. Qual o tempo apropriado para realização de um Curso de Discipulado e qual o número de lições é ideal? Ou ainda, quais as discussões se darão geralmente em torno do conteúdo das lições e métodos de aplicação. Todavia, A preocupação principal que devemos ter quanto ao discipulado, se é que estamos sendo bíblicos ou não na nossa concepção.

Precisamos partir do modelo apresentado por Jesus (embora não seja o primeiro modelo apresentado na Bíblia) que é o mestre dos mestres. Jesus teve um ministério onde ensinou multidões, mas concentrou a sua mensagem nos seus discípulos, formando a base para a continuidade do seu ministério a partir do discipulado. Sendo esta a principal ordem dada aos seus discípulos antes da sua ascensão (Mateus 28.18-20; Mc 3.14).

A Igreja necessita resgatar o discipulado. Tanto um conceito, como uma prática correta de discipulado evidenciará a saúde espiritual da igreja. O pastor luterano Dietrich Bonhoeffer notou tristemente que "em tudo que segue, queremos falar em nome de todos aqueles que estão perturbados e para os quais a palavra da graça se tornou assustadoramente vazia. Por amor a verdade, essa palavra tem que ser pronunciada em nome daqueles de entre nós que reconhecem que, devido à graça barata, perderam o discipulado de Cristo, e, com o discipulado de Cristo, a compreensão da graça preciosa. Simplesmente por não querermos negar que já não estamos no verdadeiro discipulado de Cristo, que somos, é certo, membros de uma igreja ortodoxamente crente na doutrina da graça pura, mas não membros de uma graça do discipulado, há que se fazer a tentativa de compreender de novo a graça e o discipulado em sua verdadeira relação mútua. Já não ousamos mais fugir ao problema. Cada vez se torna mais evidente que o problema da Igreja se cifra nisso: como viver hoje uma vida cristã."[1]

Este é o modelo Bíblico onde é possível desenvolver o caráter de Cristo na vida dos envolvidos. Conhecer a Deus por meio de Jesus, e glorifica-lo num relacionamento construtivo como Igreja. Nesse relacionamento construtivo o alvo é preparar discípulos para um envolvimento nos ministérios e departamentos da igreja, proporcionando um fortalecimento qualitativo, que resultará naturalmente na multiplicação de outros discípulos.

Ser discípulo é muito mais do que ser um mero aprendiz temporário. M. Bernouilli observa que “o discípulo tem em comum com o aluno o fato de receber um ensino, mas o primeiro compromete-se com a doutrina do mestre.”[2] Mas ser discípulo não se resume ao exercício intelectual “é importante reconhecer que a chamada para ser discípulo sempre inclui a chamada para o serviço.”[3]

A definição que adotamos nesse trabalho é a mesma usada por David Kornfield: o discipulado não é um programa; não é uma série de módulos; não é um livro de iniciação doutrinária; não é apenas um encontro semanal; não é um novo sistema de culto nos lares. Kornfield observa que "discipulado é uma relação comprometida e pessoal, onde um discípulo mais maduro ajuda outros discípulos de Jesus Cristo a aproximarem-se mais dEle e assim reproduzirem."[4]

O discipulador não é simplesmente um professor. Ele é alguém que além de informar também coopera na formação espiritual do seu aprendiz, tornando-se referência para o discípulo. Mas, devemos sempre lembrar que nenhum discipulador é modelo de perfeição, mas sim, um modelo de transformação, mostrando que assim como o discípulo, ele também está num processo, que a cada dia subirá um degrau na absorção do caráter de Cristo. Com este sincero objetivo ele poderá identificar-se com o discípulo. Seguindo o exemplo de Paulo: “...não que o tenha já recebido, ou tenha obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp 3.12, ARA).

John Sittema nos lembra que discipular é “reproduzir a si mesmo e sua fé na vida de outros.”[5] Evidentemente não podemos confundir, porque o Senhor Jesus exige que façamos discípulos dele e não nossos. Novamente podemos citar Sittema observando que “esse processo requer o desenvolvimento de um relacionamento de confiança, de exemplo, de revelação do nosso coração e da nossa fé ao discípulo que, por sua vez deve imitar o padrão de fé do seu mestre.”[6]

É importante lembrar que o alvo não é apenas a multiplicação de novos membros, mas, que principalmente da maturidade e crescimento dos cristãos convertidos, e outros novos convertidos virão como conseqüência dessa maturidade (Tt 2:11-15). É tempo de repensarmos a forma da igreja, onde até então, o trabalho eclesiástico se atém a um pequeno grupo de líderes, que provavelmente não foram discipulados. Indispensavelmente a liderança da igreja local deve estar preparada para equipar os santos (Ef 4.11-13). O pastor coordenando os grupos de formação de líderes estará mais livre para pastorear o rebanho, podendo em reuniões periódicas com os discipuladores, ser informado a respeito das ovelhas que carecem de um cuidado mais específico.

Uma igreja sadia vive uma estrutura de discipulado em que os membros vivem e compartilham a obediência da recíprocidade cristã (uns aos outros). A Escritura nos declara que somos membros uns dos outros (Rm 12:5), logo, esta convivência mútua deve reger a qualidade de todos os nossos relacionamentos:
1. Amando cordialmente uns aos outros (Rm 12:10).
2. Honrando uns aos outros (Rm 12:10).
3. Tendo o mesmo sentir uns para com os outros (Rm 12:16; 15:5).
4. Amando uns aos outros (Rm 13:8).
5. Edificando uns aos outros (Rm 14:19).
6. Acolhendo uns aos outros (Rm 15:7).
7. Admoestando uns aos outros (Rm 15:14).
8. Saudando uns aos outros (Rm 16:16).
9. Esperando uns pelos outros (1 Co 11:33).
10. Importando uns com os outros (1 Co 12:25).
11. Servindo uns aos outros (Gl 5:13).
12. Levando a carga uns dos outros (Gl 6:2).
13. Suportando uns aos outros (Ef 4:2; Cl 3:13).
14. Sendo benignos uns para com os outros (Ef 4:32).
15. Sujeitando-se uns aos outros (Ef 5:32).
16. Consolando uns aos outros (1 Ts 4:18; 5:11,14).
17. Confessando pecados uns aos outros (Tg 5:16).
18. Orando uns pelos outros (Tg 5:16)
19. Sendo hospitaleiros uns com os outros (1 Pe 4:9)
20. Tendo comunhão uns com os outros (1 Jo 1:7).

O nosso alvo como servos de Cristo é desfrutar uma vida qualitativamente padronizada pelo nosso Mestre, em que alcançados pela graça de Deus, tocamos a vida de outras pessoas. O amor que enviou o Filho, nos une, e que nos transforma, também deve ser comunicado integralmente nos nossos relacionamentos.

Notas:
[1] Dietrich Bonhoeffer, Discipulado (São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1995), p. 18. Bonhoeffer (1906-1945) foi um jovem pastor luterano que durante a 2a Guerra Mundial protestou contra o regime Nazista. Foi preso e morto aos 39 anos, num campo de concentração alemão. Durante sua prisão escreveu várias cartas e livros na área de Teologia Pastoral, que foram preservados e alguns se encontram traduzidos para o português.
[2] J.J. Von Allmen, ed., Vocabulário Bíblico (São Paulo, ASTE, 1972), pp. 108-109.
[3] Colin Brown, ed., Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1981), vol. 1, p. 666.
[4] David Kornfield, Série Grupos de Discipulado (São Paulo, Editora SEPAL, 1994), vol. 1, p. 6.
[5] John Sittema, Coração de Pastor (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2004), p. 173.
[6] John Sittema, Coração de Pastor, p. 173.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

14 agosto 2007

Breve avaliação da Teologia Relacional

Os teólogos adeptos do Open Theism, ou Teologia Relacional, têm usado como munição argumentos que questionam a chamada “concepção clássica de Deus”. Como este movimento de “reformar nosso entendimento de quem Deus é” ainda está desenvolvendo os seus tentáculos, não podemos generalizar todos os seus intérpretes, e esperar que todos tenham o mesmo raciocínio e conclusões, nem os teólogos americanos ou brasileiros, mesmo porque cada um tem as suas particularidades pessoais. Todavia, todos têm elementos em comum: se o próprio Deus não se conhece totalmente, logo, tudo o que se disser acerca dEle é questionável[1] Entretanto, parece-nos que o único atributo de que podemos ter alguma certeza é o amor. Assim, este "deus relacional" ama humanamente, e considera espúrio toda a presença do mal, mesmo não podendo ser soberano sobre ele. Tudo o que envolve sofrimento é indesejável e não pode proceder deste "deus relacional".

Mas, o que diremos do inferno? Um "deus relacional" condenaria pobres humanos que viveram na ignorância do Evangelho, e por causa de sua cultura pagã tiveram uma vida miserável, e ainda por fim seriam condenados a sofrer a punição divina por toda eternidade, não tendo em vida, nem após a morte, um instante de alívio de seu sofrimento existencial? Não é de se estranhar que o próprio Clark H. Pinnock tenha abandonado a crença de uma punição final eterna.[2] Ora, somente é possível concluir que o deus que não tem supremacia para decidir sobre os vivos, não pode condená-los após a sua morte!

Se o principal atributo de Deus é amor, e não podemos aceitar absolutos, então não deveria Ele também amar os demônios? Se os demônios são suas criaturas, como os seres humanos, por que razão Ele os despreza tanto? Deus na eternidade não sabia da conspiração de Satanás, ou não pôde evitá-la? Mas, mesmo depois de caídos e contaminados pelo mal, Deus não poderia, por amor, dar uma segunda chance? Afinal, qualquer um poderia se encontrar na mesma condição se estivesse absolutamente sem a influência da graça de Deus! Deus não se importa com o sofrimento dos demônios? Por que deste prefencialismo pelo ser humano? Estas são questões que sinceramente desejaria que um adepto da Teologia Relacional respondesse coerentemente.

Podemos imaginar adeptos da Teologia Relacional parafraseando Gn 1:26: façamos Deus a nossa imagem e semelhança. Esta tem sido a tarefa destes teólogos. Reconstruir uma teologia de Deus que limita a si mesmo, tornando-se mais frágil e um pouco mais humano. A sua transcendência deixa de ser uma de suas perfeições que O revela como sendo totalmente outro.[3] Entretanto, devemos ouvir o que o profeta Isaías registra declarando “com quem vocês vão me comparar? Quem se assemelha a mim? Pergunta o Santo” (Is 40:25).

Redefinir a nossa concepção de Deus não enxugará de ninguém as suas lágrimas. A Teologia Relacional não é capaz de consolar ninguém. Que consolo pode ter alguém ao ouvir: Deus quis, mas não pôde fazer nada! Ou, Deus não previu este acidente. Ouvir que Deus está chorando comigo, porque não pôde fazer nada, não conforta, apenas aumenta a incredulidade e o desespero. Quem afinal governa o mundo? Seria a pergunta mais responsável a se fazer.

Deus não fica impassível diante do sofrimento. Na boca do profeta Ezequiel Ele diz: “teria eu algum prazer na morte do ímpio? Palavra do Soberano, o SENHOR. Ao contrário, acaso não me agrada vê-lo desviar-se dos seus caminhos e viver?” (Ez 18:23, NVI). O Senhor consola os abatidos. É Ele quem ordena “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra” (Sl 46:10, ARA). Ele em sua Providência sustenta toda a criação “porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mt 5:45, NVI). Sendo que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes” (Tg 1:17, NVI). No fim, quando Ele retirar a maldição e restaurar toda a criação (Rm 8:18-25), então “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21:4, NVI).

Notas:
[1] Clark H. Pinnock, Deus Limita Seu Conhecimento in: Predestinação e Livre-Arbítrio (São Paulo, Ed. Mundo Cristão, 1996), pp. 173-197.
[2] Clark H. Pinnock, The Destruction of the Finally Impenitent in: Criswell Theological Review, Spring 1990, vol. 4, número 2, pp. 243-259.
[3] Cuidadosamente uso o termo totalis aliter de Karl Barth.

12 agosto 2007

Pioneiro presbiteriano no Brasil

Cronologia Biográfica
- Rev. Ashbel Green Simonton -
(1833-1867)

West Hanover, Pensilvânia
20/01/1833
- nascimento Ashbel G. Simonton
- pai: William Simonton, presbítero, médico e político
- mãe: Martha Snodgrass Simonton
- foi caçula dentre 11 filhos: 7 homens e 4 mulheres
- descendentes de irlandeses presbiterianos

14/06/1833
- batizado com 5 meses “filho da Aliança”

17/05/1846
- morte do pai

? /04/1847
- mudança para Harrisburg

Harrisburg, Pensilvânia
1850 – graduação na High School

Princeton, New Jersey
1852 – graduação no College of New Jersey

Starkville, Mississipi
? /12/1852
- aos 19 anos exerce o magistério ensinando: latim, francês, alemão e italiano

29/06/1854
- volta para Harrisburg

Harrisburg, Pensilvânia
? /07/1854
– início do estudo de Direito

05/05/1855
- profissão de Fé na Igreja Presbiteriana Market Square

Princeton, New Jersey
? /08/1855
- estudante no Seminário Teológico Presbiteriano de Princeton

14/10/1855
- chamado para missões[1] através de um sermão do Dr. Charles Hodge

10/10/1857
- conversa com o secretário de Missões da Igreja Presbiteriana do Norte

14/04/1858
- Licenciado para pregar pelo Presbitério de Carlyle

21/11/1858
- opção pelo Brasil (quase enviado para a Bolívia)

? /12/1858
- resposta positiva da Junta de Missões (Board of New York)

14/04/1859
- ordenação ao ministério na Igreja Reformada Alemã de Harrisburg

18/06/1859
- embarque para o Brasil, no navio “Banshee”

Rio de Janeiro, Brasil
12/08/1859
- desembarque no Rio de Janeiro, quase 2 meses de viagem
- chega ao Brasil com 27 anos de idade

31/08/1859
- celebração do 1º culto no Brasil

27/12/1859
- celebração da 1ª Santa Ceia

12/01/1862
- primeiros batismos e organização da 1ª Igreja Presbiteriana do RJ

Harrisburg, Pensilvânia
16/03/1862
- “Furlough” (férias para arrecadação de fundos) após 3 anos no Brasil

10/04/1862
- morte da mãe – Martha Snodgrass Simonton

19/03/1863
- casamento com Helen Murdoch

Rio de Janeiro, Brasil
16/07/1863
- retorno ao Brasil com 4 meses de casado

06/09/1863
- início da Escola Bíblica Dominical

19/06/1864
- nascimento da filha

28/06/1864
- morte da esposa: 9 dias após o parto

05/07/1864
- batismo da “pequena” Helen[2]

05/11/1864
- primeiro número da “Imprensa Evangélica”

05/03/1865
- organização da Igreja Presbiteriana de São Paulo

13/11/1865
- organização da Igreja Presbiteriana de Brotas

16/12/1865
- organização do Presbitério do RJ, ligado ao Sínodo de Baltimore
- pastores: Rev. A.G. Simonton
Rev. A.B. Blackford
Rev. F.J.C. Schneider
Rev. J.M. da Conceição (ordenado nesse dia)

14/05/1867
- início do Seminário “Primitivo” do RJ[3]
4 professores:
Rev. A.G. Simonton
Rev. A.B. Blackford
Rev. F.J.C. Schneider[4]
Rev. Charles Wagner (pastor luterano)
4 alunos:
Antônio B. Trajano
Miguel G. Torres
Modesto P.B. Carvalhosa
Antônio P. Cerqueira Leite

09/12/1867
- Rev. Simonton morre em São Paulo, de febre amarela (?), aos 34 anos.
- enterrado no “Cemitério dos Protestantes” no bairro da Consolação, São Paulo.

Notas:
[1] Ashbel G. Simonton, Diário (São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1982), pág. 106
[2] A criança recebeu o nome da mãe, Diário, pág. 192
[3] Funcionou durante 3 anos.
[4] Nascido na Alemanha, mas naturalizado nos EUA, convertido em sua juventude, tornou-se pastor presbiteriano, veio para o Brasil, a fim de trabalhar entre imigrantes de língua alemã. Foi o tradutor de A.A. Hodge, Esboços de Teologia (Lisboa, 1895), e reimpresso pela PES, em 2001, com o português revisado e notas do Rev. Odair Olivetti.
Rev. Ewerton B. Tokashiki

02 agosto 2007

A ordenação feminina e o Ecumenismo

O Conselho Mundial de Igrejas (World Concil Churches [WCC]) é a principal organização ecumênica cristã em nível internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em Genebra, Suíça, o CMI congrega mais de 340 denominações em sua membresia. Segundo as suas estimativas, estas denominações representam mais de 400 milhões de membros presentes em mais de 120 países. Esta organização tem incentivado as igrejas-membros do concílio para que ordenem mulheres nos ofícios eclesiásticos. Em seu documento intitulado de Fé e Constituição - Batismo, Eucaristia, Ministério declara que "algumas Igrejas ordenam homens e mulheres, outras não ordenam senão homens. Diferenças nessa questão criam obstáculos no que respeita ao reconhecimento mútuo dos ministérios. Mas estes obstáculos não devem ser considerados como impedimentos decisivos a outros esforços que tenham em vista o mútuo reconhecimento. A abertura recíproca comporta a possibilidade de o Espírito falar a uma Igreja através dos esclarecimentos de uma outra. As considerações ecumênicas deveriam, pois, animar e não refrear o esforço para encarar de frente este problema."[1]

A Aliança Mundial das Igrejas Reformadas foi criada em 1970 (World Alliance of Reformed Churches [WARC]) é uma comunidade de aproximadamente 75 milhões de cristãos de tradição reformada procedentes de 216 igrejas em 107 países. Este concílio tem trabalhado para que as igrejas-membros ordenem mulheres, adotando uma postura teologicamente igualitarista. Num discurso orientado pela Teologia Feminista, o seu site declara explicitamente que "a função do Departamento [de colaboração entre mulheres e homens] é ajudar as igrejas membros a escutarem de novo o testemunho bíblico sobre a comunidade (koínonia) e a colaboração, erradicar o sexismo na teologia e a práxis e promover a sensibilização em matéria de gênero, reconhecer os dons e talentos das mulheres para o ministério e as funções da direção, e trabalhar pela renovação e a transformação da igreja e da sociedade enquanto lutamos para suprimir os obstáculos que continuam dividindo as mulheres dos homens."[2]

A Igreja Presbiteriana do Brasil até 2006 participou como igreja-membro da AMIR. Entretanto, a nossa igreja rompeu laços com a AMIR por esta adotar uma hermenêutica, teologia e prática ecumênica pluralista estranha à Escritura Sagrada. A tradição reformada da AMIR esvaziou-se de sua convicção histórica reformada. A AMIR e o CMI compartilham da mesma aceitação de pluralidade teológica. Qualquer interpretação, postura, ou prática que não coadune com os cânones da pós-modernidade teológica destas confraternidades é rejeitada como intolerante e não fraterna. Todavia, não podemos em nome do amor sacrificar a verdade.

Na metade do século XX entre as igrejas históricas iniciaram a ordenar mulheres.[3] Os luteranos na Suécia iniciaram a prática em 1958, e os alemães também seguiram o exemplo. A Igreja Reformada e a Igreja da Escócia [presbiteriana] ordenaram a partir da década de 60. Recentemente aderiram à ordenação feminina os batistas e os metodistas na Grã-Bretanha e Austrália. Na década de 70 a Igreja Anglicana do Canadá e a Episcopal da América, e em 1991, nomearam uma mulher como episcopisa. Algumas igrejas pentecostais, como a Igreja do Evangelho Quadrangular, desde o início ordenavam mulheres como pastoras, todavia, a base de tal prática não era devido a uma elaboração teológico-exegética, mas por motivos pragmáticos.

No Brasil, as igrejas históricas como os anglicanos, os metodistas (IMB), os luteranos confessionais (IECLB), os presbiterianos independentes (IPIB) nas últimas três décadas passaram a praticar a ordenação de mulheres como diaconisas e mais recentemente presbíteras e pastoras. Deve-se observar que nenhuma destas denominações ordena mulheres motivadas por firme convicção bíblica, mas por fatores sociais. Não podem ser classificadas como sendo igrejas teologicamente conservadoras, pois o pluralismo teológico tornou-se o padrão, tomando o lugar da sua identidade confessional e histórica.

Mas, qual a situação da IPB? Embora exista um pequeno grupo, inclusive composto de mulheres, em nosso meio militando em favor da ordenação feminina, estamos longe de mudarmos de opinião. Apesar de sermos acusados de estarmos vivendo fora do nosso tempo pós-moderno, preferindo uma postura obscurantista, ignorando o mover na sociedade para a participatividade feminina na liderança, estamos convictos de que a Escritura Sagrada estabelece um padrão de governo eclesiástico inalterável. O nosso compromisso teológico e ministerial permanece fiel à Palavra de Deus. Não mudaremos a nossa Hermenêutica para conformar a nossa interpretação da Bíblia aos canônes feministas.

Algumas questões práticas, desde agora, devem ser refletidas, à luz das Escrituras Sagradas:
1. O dom de liderança das mulheres é prejudicado no convívio da igreja por não serem ordenadas?
2. Existe vocação pastoral para as irmãs que têm o dom pastoral?
3. As mulheres poderiam estudar em instituições teológicos? Com que finalidade?
4. Como seria o convívio das mulheres ordenadas de outras denominações que se tornarem membros da Igreja Presbiteriana do Brasil?

Como material de apoio, sugiro a leitura de algumas obras que poderão esclarecer o assunto, e oferecer subsídios para uma discussão salutar:
1. Bonnidell Clouse, ed., Mulheres no Ministério (São Editora mundo cristão).
2. John W. Robbins, ed., The Church Effeminate (The Trinity Foundation), págs. 212-233
3. Augustus Nicodemus, “Ordenação Feminina” in: Fides Reformata, vol. II, número 1, 1997., págs. 59-84.
4. Nancy Pearcey, Verdade Absoluta (CPAD), págs. 363-390.

Notas:
[1] Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas - Batismo, Eucaristia, Ministério (São Paulo, CONIC, KOINONIA, ASTE, 3ª.ed., 2001), p. 67.
[2] Extraído de http://www.warc.ch/dp/index-s.html em: 21/03/2007.
[3] Robert G. Clouse, et al., dois reinos (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), pp. 576-577.

Rev. Ewerton B. Tokashiki