Antecedentes históricos da Reforma[1]
1456 Bíblia de Gutenberg, às vezes chamado Bíblia de Mazarino, a primeira ser impressa e início da prensa de impressão e dos tipos móveis.
1466 ou 1469 Nascimento de Erasmo.
1483 Nascimento de Martinho Lutero.
1505 Lutero apanhado em uma tempestade, entra para o mosteiro agostiniano de Erfurt.
1509 Nascimento de João Calvino.
1510 Lutero viaja a Roma para tratar de assuntos de sua ordem agostiniana.
1511 Concílio (conciliabulum) de Pisa. Lutero se muda para Wittenberg. Conversão do patrício veneziano Gasparo Contarini ao Evangelismo.
1512 Lutero recebe o grau de doutor e inicia conferências teológicas em Wittenberg.
1512-17 Quinto Concílio de Latrão.
1513 Eleição do papa Leão X.
1514-17 Tradução e compilação da Bíblia Poliglota Complutense.
1515 Conferências de Lutero sobre as epístolas de São Paulo aos Romanos.
1516 Publicação do Novo Testamento de Erasmo em grego e de uma tradução original em latim Novum Instrumentum.
1517 Em 31 de Outubro Lutero “afixa” ou “remete” as 95 Teses.
A sua vida
Martinho Lutero nasceu em 10 de Novembro de 1483, em Eisleben, na Saxônia Prussiana. Ele morreu nesta mesma cidade, durante uma viagem, no dia 18 de Fevereiro de 1546. Durante muito tempo foi um monge agostiniano. No inverno de 1510-11, ele foi a Roma, uma cidade então cheia de entusiasmo pela Renascença, mas indiferente com o puro Cristianismo. Lutero ficou apavorado com a infidelidade e imoralidade do papado, uma impressão que sem dúvida foi instrumental para a sua conversão.
A sua carreira de ensino começou em 1508, na cidade de Wittenberg. Em 1512, ele recebeu o seu doutorado em teologia, e começou a ensinar a Bíblia. De 1513 a 1515, ele ensinou Salmos, e de 1515 a 1517, ensinou as epístolas de Romanos, Gálatas e Hebreus. Durante este período, os seus sentimentos de extrema imperfeição diante de Deus, foram intensificados. Ele foi assombrado com a compreensão de que um Deus de infinita justiça nunca poderia ser satisfeito com os seus miseráveis esforços em busca da pureza. Os seus estudos renderam-lhe a percepção de que a salvação é imerecidamente recebida pela fé em Jesus, e que pela justiça de Cristo somos salvos da condenação dos nossos pecados. Depois de muitos anos de dúvida e angústia acerca da sua salvação, chegou ao fim, quando entendeu que a salvação não dependia de seus méritos pessoais, mas somente da graça de Deus.
A doutrina da indulgência despertou o confronto entre Lutero e a Igreja Católica Romana. Esta disputa teológica começou com as 95 teses. Com o intuito de financiar a reconstrução da igreja de São Pedro em Roma, o Papa Julius II e depois dele, o Papa Leão X sancionaram a venda indiscriminada de indulgências. Na linguagem de Roma, indulgentia é um termo latino que se refere à anulação do castigo, em particular, a remissão dos castigos temporais (não eternos) pelo pecado, sob a condição de que a pessoa realizasse boas obras específicas e fizesse contribuições financeiras generosas para a Igreja de Roma. Segundo a doutrina católica somente Deus pode perdoar o castigo eterno pelo pecado, mas o pecador ainda deve suportar o castigo temporal pelo pecado, seja nesta vida ou no purgatório. Esta última penalidade estava sob o controle do papado e do sacerdócio. Assim, por um preço, a Igreja Romana podia reduzir tanto o grau como a duração do castigo no purgatório. Lutero descobriu que este horroroso ensino não se fundamentava nas Escrituras.
O desejo inicial de Lutero era de reformar a Igreja Romana, todavia, após a sua excomunhão, a sua frustração foi consumada. Através da bula papal Exsurge Domine, editada em 15 de junho de 1520, o Papa Leão X excomungou Lutero, exigiu a queima de seus livros, e condenou toda a Reforma protestante. Lutero respondeu jogando o documento no fogo, no dia 10 de dezembro de 1520.
O reformador alemão após vários debates teológicos, foi convocado a comparecer diante da Dieta de Worms, no dia 17 de Abril de 1521, onde teria a oportunidade de se defender diante do imperador romano Carlos V. Neste concílio Lutero reafirmou todo o seu ensino, e recusou retratar-se de qualquer um dos seus escritos. Quando o reformador deixou a cidade de Worms, no dia seguinte foi sentenciado pelo imperador como “um herético notório”, que devia ser silenciado. Lutero foi chamado de criminoso, que cometeu alta traição e, conseqüentemente, recebeu uma sentença de morte.
Frederico, “o sábio”, o governador de Lutero, arranjou o seu seqüestro durante a viagem de volta à Wittenberg. Lutero foi levado para o Castelo Wartburg, na Turíngia, região sul da atual Alemanha, e permaneceu ali por dois anos de exílio (1521-1522). Durante este tempo a Igreja Católica Romana decretou proibida a leitura dos seus livros e uma recompensa pela sua captura foi anunciada. O próprio Lutero estava ativo, traduzindo o Novo Testamento para o alemão, bem como escrevendo, ou revisando os seus livros. Vários teólogos, professores universitários e governantes aderiram à Reforma proposta por Lutero. Este impetuoso movimento não poderia mais parar.
Obras escritas
Martinho Lutero foi um escritor prolixo.[2] As suas obras foram produzidas no calor da controvérsia, e algumas delas chegaram inclusive a ser reescritas, tanto para revisão como ampliação devido à necessidade de esclarecimentos em pontos obscuros, bem como em novas questões. Assim, a lista selecionada abaixo indica apenas os textos que julgo importantes para se entender o pensamento do reformador alemão.
1. Die Bibel nach der übertsetzung Martin Luthers. [A Bíblia conforme a tradução de Martinho Lutero].
2. Disputatio contra scholasticam theologiam [Debate contra a teologia escolástica] escrito em Agosto de 1517. Segundo Joachim Fischer “na evolução de Lutero, as teses representam a fase crítica. São o mais importante e testemunho escrito de seu rompimento com a escolástica e, assim, com o próprio passado teológico.”[3]
3. Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum [Debate exigindo uma declaração acerca do valor das indulgências, ou as 95 Teses] anexado em 31 de Outubro 1517. Martin Dreher observa que a motivação de Lutero ao escrever este texto “nada mais pretendia que o esclarecimento teológico de uma questão que o envolvia como cura d’almas e que tinha implicações para a piedade de seu paroquiano: a indulgência.”[4]
4. Von den guten werckenn [Das boas obras] escrito em Fevereiro de 1520.
5. Eyn sermon von dem Bann Doct. Martini Luther Augustiner czu Wittenbergk [Um sermão sobre a excomunhão do Dr. Martinho Lutero, Agostiniano de Wittenberg] escrito em 1520.
6. Eyn sermon von dem newen Testament, das ist von der heyligen Messe [Um sermão a respeito do Novo Testamento, isto é, a respeito da Santa Missa] escrito em 1520.
7. An den Christlichen Adel deutscher Nation von des Christlichen standes besserung [À nobreza cristã da nação alemã, acerca da melhoria do estamento cristão] escrito em 1520.
8. De captivitate Babylonica ecclesiae [Do cativeiro babilônico da Igreja] escrito em 1520.
9. Epistola Lutheriana ad Leonem Decimum summum pontificem [Carta de Martinho Lutero a Leão X, Sumo Pontíficie] escrito em Outubro de 1520.
10. Tractatus de libertate christiana [Tratado da liberdade cristã] escrito em Outubro de 1520.
11. Dictio D. Martini Lutheri coram Caesare Carlo et principilus, Vormacie feria quinta post Misericordia Domini [Discurso do Dr. Martinho Lutero perante o Imperador Carlos e os príncipes, Quinta-feira depois de Misericórdias do Senhor] apresentado em 1521 diante da Assembléia de Worms.
12. De servo arbitrio [Da vontade cativa] escrito em 1525.
13. Vom Abendmahl Christi [Da Santa Ceia de Cristo] escrito em 1528.
14. Deutsch Katechismus [Catecismo Alemão, ou Catecismo Maior] escrito em 1529.
15. Enchiridion [Manual, ou Catecismo Menor] escrito em 1529.
16. Disputatio Domini Martini Lutheri de iustificatione [Debate do senhor Martinho Lutero acerca da justificação] escrito em 1536.
17. Disputatio contra Antinomistam [Debate contra os antinomistas] escritos em 1537 a 1538.
18. Von den Konziliis und Kirchen [Dos concílios e da Igreja] escrito em Março de 1539.
19. Disputatio Reverendi patris Domini D. Martini Lutheri de divinitate et humanitate Christi [Debate do Reverendo padre senhor Martinho Lutero acerca da divindade e da humanidade de Cristo] escrito em 28 de Fevereiro de 1540.
Martinho Lutero em português:
A Editora Concórdia e a Editora Sinodal têm publicado as obras de Lutero, tanto em obras pequenas como na coleção "Obras Selecionadas".
1. Darci Drehmer, ed., Obras Selecionadas de Martinho Lutero (São Leopoldo, Comissão Interluterana de Literatura, 2008).
Notas:
[1] Patrick Collinson, A Reforma (Rio de Janeiro, Objetiva, 2006), pp. 243-252.
[2] Martim C. Warth observa que o próprio Lutero ao escrever para Capito, em 9 de Julho de 1537, considerava como os mais importantes apenas dois: De Servo Arbitrio e o Katechismus. “Introdução” in: Obras Selecionadas de Martinho Lutero, vol. 7, p. 324.
[3] Joachim Fischer, “Introdução” do Debate sobre a Teologia Escolástica in: Joachim Fischer, ed., Obras Selecionadas de Martinho Lutero, vol. 1, p. 14.
[4] Martin Dreher, “Introdução” do Debate para o esclarecimento do valor das indulgências in:Joachim Fischer, ed., Obras Selecionadas de Martinho Lutero, vol. 1, p. 21.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Prof. Teologia Sistemática no Seminário Presb. Brasil Central extensão-JiParaná.
Prof. Teologia da Reforma na Faculdade Metodista de Teologia em Porto Velho.