Há alguma diferença quantos aos termos “bispo” e “presbítero”? O Novo Testamento ou os pais da Igreja nos primeiros séculos do Cristianismo faziam uma distinção hierárquica, ou entendiam estes dois termos como sendo intercambiáveis? Há evidência bíblica e histórica apontam para o fato de que estas palavras são consideradas sinônimas, apresentando diferente nuança de função, mas não em grau de autoridade. O historiador T.M. Lindsay observa que o termo bispo “não é, durante o primeiro século, o termo técnico de um oficial; antes, ela é a palavra que descreve o ofício, isto é, o que o ancião realiza.”[1]
Clemente de Roma menciona os termos gregos episcopos, geralmente traduzido por bispo ou supervisor, e presbyteros, como sendo sinônimos. Ele afirma que "os nossos apóstolos conheciam, da parte do Senhor Jesus Cristo, que haveria disputas por causa da função episcopal. Por esse motivo, prevendo exatamente o futuro, instituíram aqueles de quem falávamos antes, e ordenaram que, por ocasião da morte desses, outros homens provados lhes sucedessem no ministério. Os que foram estabelecidos por eles ou por outros homens eminentes, com a aprovação de toda a igreja, e que serviram irrepreensivelmente ao rebanho de Cristo, com humildade, calma e dignidade, e que durante muito tempo receberam o testemunho de todos, achamos que não é justo demiti-los de suas funções. Para nós, não seria culpa leve se exonerássemos do episcopado aqueles que apresentaram os dons de maneira irrepreensível e santa. Felizes os presbíteros que percorreram seu caminho e cuja vida terminou de modo fecundo e perfeito. Eles não precisam temer que alguém os afaste do lugar que lhes foi designado."[2]
O mais antigo manual de catecúmenos, conhecido como Didaquê, instrui que “escolham para vocês bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados, porque eles também exercem para vocês o ministério de profetas e mestres.”[3] Novamente, usa-se o título de bispo em lugar de presbíteros para se referir ao mesmo oficial. Não é ao sistema episcopal que os autores da Didaquê fazem menção, pois estes bispos eram eleitos pela igreja, e não por um colégio episcopal. Podemos aceitar a conclusão do anglicano J.B. Lightfoot ao reconhecer que “na linguagem do Novo Testamento o mesmo ofício na Igreja é chamada indistintamente tanto por ‘bispo’ (episkopos) e ‘ancião’ ou ‘presbítero’ (presbyteros).”[4] É possível comparar as evidências em algumas passagens bíblicas (At 14:23; 20:17, 28; Fp 1:1; Tt 1:5-7; 1 Pe 1-2).
Notas:
[1] T.M. Lindsay, The Church and Ministry in the Early Centuries (London, Hodder and Stoughton Publishing, 1903), p. 155.
[2] Clemente de Roma in: Padres Apostólicos (São Paulo, Ed. Paulus, 1995), vol. 1, p. 54-55.
[3] Didaquê in: Padres Apostólicos (São Paulo, Ed. Paulus, 1995), vol. 1, p. 358.
[4] J.B. Lightfoot, Saint Paul’s Epistle to the Philippians (Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1956), p. 95.