1. Assim, pela lei, vemos a necessidade de redenção; agora precisamos considerar a verdade da redenção no evangelho.
2. O evangelho é as boas novas, ou ensino concernente ao Filho de Deus, que foi enviado ao mundo, de modo que, depois que assumisse a nossa natureza, ele pudesse sujeitar-se à maldição da lei em nosso lugar e pela sua perfeita obediência à ela, conquistasse a vida eterna por nós.
PROPOSIÇÕES
I. O evangelho é como a lei em ter as mesmas causas eficiente e instrumental: Deus e a palavra escrita. Eles diferem com respeito a externa causa instrumental; a lei foi obviamente dada mediante Moisés, e o evangelho por meio de Cristo; deste modo, eles diferem naquilo que a lei é também conhecida ao homem natural, e onde o evangelho é conhecido somente pela graciosa revelação de Deus.
II. Eles são similares por causa do seu comum conteúdo. Ambos exigem a obediência com promessas e com ameaças. Eles diferem por causa do especial conteúdo de cada um: a lei primariamente ensina o que deve ser feito, o evangelho, o que deve ser crido.
III. Eles são similares por causa de sua comum forma: ambos um modelo de perfeita obediência. Eles diferem por causa da especial forma de cada um: a lei ensina o que é perfeita retidão, agradável a Deus; o evangelho ensina onde e em quem podemos encontrar aquela perfeita retidão. A lei nos exige esta retidão; o evangelho a apresenta em Cristo.
IV. Eles são similares por causa de seu propósito final, que é a glória de Deus, e, o próximo em importância, que é a nossa salvação, que pode ser percebida em ambos. Eles diferem em seu especial propósito. A lei dá uma direção para buscarmos a Cristo; o evangelho nos revela Cristo.
V. Eles têm similaridade em seu comum objeto, isto é, o homem caído. Eles diferem em seu especial objeto. O especial objeto da lei é que o homem seja advertido e humilhado.
VI. Eles são similares por causa do comum complemento, santidade, bondade e perfeição, que são consideradas em si mesmos, cada um tendo igualmente. Eles diferem por causa da explicação de circunstâncias particulares, e de nossas fraquezas, a lei sem o evangelho não seria suficiente para salvar.
VII. Do que foi afirmado acima pode ser percebido naquele sentido que, na Escritura, a lei é oposta ao evangelho, e que naquele sentido ela é subordinada à ele.
VIII. Quando homens são considerados como não-regenerados ou regenerados, então, a lei e o evangelho precisam ser entendidos como opostos; quando os homens são considerados como regenerados, então a lei deve ser subordinada ao evangelho.
Tal é a oposição indicada pelo apóstolo: “não estais debaixo da lei, e sim, debaixo da graça” (Rm 6:14, ARA). Aqui ele aponta para o estado do homem antes e depois da regeneração. Do homem incrédulo é afirmado estar “sob a lei”, porque (1) ele é sujeito à maldição da lei; (2) ele é sujeito à severidade da lei, pela qual ela exige a perfeita retidão e obediência; e, (3) por isso, ele olha para a ocasião de pecar como explicação da lei, de acordo com o provérbio: “o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado.” (veja Rm 7:8, ARA).
Do homem fiel é afirmado que está debaixo da graça porque (1) ele está livre da maldição da lei; (2) ele está livre da severidade da lei e das exigências da perfeita retidão, desde que Cristo a satisfez; e (3) por isso ele está livre do pecado governando-o, de modo que, ele não cobiça desejos pecaminosos sobre a conta da lei, pelo contrário, começa a fazer o que a lei requer, através do Espírito Santo e por causa da sua gratidão.
A lei é apresentada como subordinada ao evangelho quando Cristo é chamado de “o fim da lei” (Rm 10:4); e a lei é “um tutor até Cristo” (Gl 3:24), e onde a lei diz para que não seja oposta, quem realiza as obras do espírito (Gl 5:22-23). De fato, o evangelho concede ao homem fiel, em Cristo, todas as justiças que a lei requer. E, embora não sejamos capazes de satisfazer a lei nesta vida, todavia, o novo nascimento, através do dom da santificação, iniciará a fazê-lo.
Extraído de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 85-86.