20 setembro 2017

A doutrina da Igreja Católica Romana de servir um elemento na Eucaristia

Quando e com qual fundamento a Igreja Católica Romana, no ato da Eucaristia, distribui apenas a óstia, negando aos fiéis o cálice do vinho? Recorrendo aos seus documentos oficiais este breve artigo intenciona responder a questão.

A decisão de dar apenas o pão ocorreu no Concílio de Constança, que é o 16º ecumênico, de 5 Novembro de 1414 à 22 Abril de 1418, na sessão 13ª, de 15 Junho de 1415, no Decreto Cum in nonnullis, confirmado pelo Papa Martinho V, em 1 Setembro de 1425. Este decreto é repetido nas constituições de In eminentis de 1 Setembro de 1425 (BarAE, ao ano de 1425, n. 18 / Theiner 28,27) e Apostolicae sedis praecellens de 25 de Janeiro de 1426, declarando que

em algumas partes do mundo, alguns ousam temerariamente afirmar que o povo cristão deve receber o santo sacramento da Eucaristia sob as duas espécies do pão e do vinho e fazem comungar em geral a assembleia dos leigos não só com a espécie do pão, mas também com a do vinho, inclusive depois da refeição ou doutro modo sem jejum. Eles sustentam obstinadamente que este é o modo de se comungar, opondo-se ao louvável costume da Igreja, justificado também racionalmente, que de modo condenável procuram reprovar como sacrílego: por isso, este Concílio … declara, decreta e define que, se bem que Cristo tenha instituído e administrado depois da refeição aos apóstolos este venerando sacramento sob ambas as espécies do pão do vinho, não obstante isso, a admirável autoridade dos sagrados cânones e o autorizado costume da Igreja têm declarado e declaram que este sacramento não deve ser administrado depois da refeição nem a fiéis que não estão em jejum, salvo no caso de doença ou de outra necessidade, concedido ou admitido pelo direito ou pela Igreja. E como este costume foi introduzido, com razão, para evitar perigos e escândalos, com análoga ou maior razão foi introduzido e observado este outro: se bem que na Igreja primitiva este sacramento era recebido pelos fiéis sob ambas as espécies, mais tarde, porém, era recebido pelos consagrantes sob ambas as espécies, mas pelos leigos somente sob a espécie do pão, pois é preciso crer com toda a firmeza e sem sombra de dúvida que o corpo e o sangue de Cristo estão verdadeiramente contidos, na sua integridade, tanto sob a espécie do pão, como sob a do vinho. Portanto, visto que foi introduzido com boa razão pela Igreja e pelos santos Padres e observada durante muitíssmo tempo, este costume deve ser considerado como uma lei que não pode ser reprovada nem modificada arbitrariamente, sem o consentimento da Igreja. É errôneo sustentar que a observância deste costume ou lei é sacrílega ou ilícita; e os que se obstinam em sustentar o contrário devem ser tratados como hereges ....[1]

No Concílio de Trento [1545-1563] houve a ratificação da prática estabelecida no Concílio de Constança, conforme decisão abaixo:

Doutrina da Comunhão sob Ambas Espécies e da Comunhão das Crianças
Tendo presente o Sacrossanto, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos mesmos Legados da Sé Apostólica, os vários e monstruosos erros que pelos malignos artifícios do demônio aparecem em diversos lugares acerca do Imenso e Santíssimo Sacramento da Eucaristia, pelos quais, parece que em algumas províncias, muitos se apartaram da fé e obediência à Igreja Católica, teve por bem expor agora a doutrina respectiva da Comunhão em ambas as espécies e a comunhão das crianças.

Com esta finalidade, proíbe a todos os fiéis cristãos o atrevimento, de ora em diante, de crer, ensinar ou pregar acerca da Comunhão, de qualquer outro modo que não seja o que é definido nos presentes decre-tos:

Cap. I - Os leigos e clérigos que não celebram, não estão obrigados, por direito divino, a comungar sob as duas espécies
Em continuidade, o mesmo Santo Concílio, ensinado pelo Espírito Santo, que é o Espírito de Sabedoria, Inteligência, Conselho e Piedade, e seguindo o ditame do costume da Igreja, declara e ensina que os leigos e os clérigos que não celebram a missa, não estão obrigados, por preceito divino algum, a receber o Sacramento da Eucaristia sob as duas espécies, e que não cabe, absolutamente, dúvida nenhuma, sem faltar à fé, que lhes basta, para conseguir a salvação, a comunhão de apenas uma das espécies. Pois, ain-da que Cristo, nosso Senhor, tenha instituído na última ceia este venerável Sacramento nas espécies do pão e do vinho, e o tenha dado a Seus Apóstolos, sem dúvida, não tem por finalidade aquela instituição e comunhão estabelecer a obrigação de que todos os fiéis cristãos devam receber devido a esse estabele-cimento de Jesus Cristo, uma e outra espécie. Nem tampouco se faça a coligação a bem do sermão que se acha no capítulo sexto de São João, que o Senhor mandasse, sob o preceito da comunhão das espé-cies, de qualquer modo que se entenda, segundo várias interpretações dos Santos Padres e Doutores, pois o mesmo que disse "Se não comeres a carne do filho do homem, nem beberes seu sangue, não terás a própria vida", disse também: "Se alguém comer deste pão, viverá eternamente". E aquele que disse: "Quem come Minha carne e bebe Meu sangue, consegue a vida eterna", disse também: "O pão que Eu darei, é Minha carne, que darei para vivificar o mundo". E finalmente, quem disse "Quem come de mi-nha carne e bebe do meu sangue, fica em Mim e Eu nele", também disse: "Quem come este pão viverá eternamente".

Cap. II - Do poder da Igreja para dispensar o Sacramento da Eucaristia
Declara também que na administração de seus Sacramentos, sempre teve a Igreja, poder para estabelecer ou mudar, salvada sempre a essência deles, quando tiver julgado ser o mais conveniente, de acordo com as circunstâncias das coisas, tempos e lugares, à utilidade dos que recebem os Sacramentos, ou à sua veneração. É exatamente isso que parece que insinuou o Apóstolo São Paulo, quando disse: "Devemos ser reputados como ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus". E consta que muitas vezes o mesmo Apóstolo fez uso desse poder, tanto a respeito de outros pontos como dos Sacramentos, pois disse, quando fez regras a respeito de seu uso: "quando cheguar a hora, darei ordens ao restante". Portanto, reconhecendo a Santa Mãe Igreja esta autoridade que tem na administração dos Sacramentos, mesmo tendo sido freqüente o uso de comungar sob as duas espécies, desde o princípio da religião cris-tã, porém verificando, em muitos lugares, com o passar do tempo, a mudança nesse costume, aprovou, movida por muitas graves e justas causas, a comunhão sob uma só espécie, decretando que isso fosse observado como lei, a qual não é permitido mudar ou reprovar arbitrariamente sem a autorização expres-sa da Igreja.

Cap. III - Que Cristo é recebido por inteiro e também verdadeiro Sacramento em qualquer uma das espécies
Declara o santo Concilio depois disto, que ainda que nosso Redentor, como já disse antes, instituiu na última ceia este Sacramento nas duas espécies, e o deu a seus Apóstolos, se deve confessar porém, que também se recebe em cada uma única espécie a Cristo todo e inteiro e verdadeiro Sacramento. E que por conseguinte, as pessoas que recebem uma única espécie, não ficam prejudicadas a respeito do fruto de nenhuma graça necessária para conseguir a salvação.

[...]

Cânones da Comunhão sob Ambas Espécies e da Comunhão das Crianças
Cân. I - Se alguém disser que todos e cada um dos fiéis cristãos estão obrigados por preceito divino ou por necessidade de conseguir a salvação, a receber as duas espécies do Santíssimo Sacramento da Euca-ristia, seja excomungado.
Cân. II - Se alguém disser que não teve a Santa Igreja Católica, causa nem razões justas para dar a co-munhão apenas sob uma das espécie aos fiéis leigos, assim como aos clérigos que não celebram, ou que erra nisto, seja excomungado.
Cân. III - Se alguém negar que Cristo, Fonte e Autor de todas as graças, é recebido todo e inteiro sob a única espécie do pão, dando por razão, como falsamente o afirmam alguns, que não se recebe segundo o estabeleceu o mesmo Jesus Cristo, nas duas espécies, seja excomungado.
Cân. IV - Se alguém disser que é necessária a comunhão da Eucaristia às crianças antes que cheguem ao uso da razão, seja excomungado.
O mesmo Santo Concílio reserva para outro tempo, e será quando se lhe apresente a primeira ocasião, o exame e definição dos artigos já propostos, mas que ainda não foram discutidos, a saber:
Se as razões que induziram a Santa Igreja Católica a dar a Comunhão em uma única espécie aos leigos, assim como aos clérigos que não celebram, devem de tal modo subsistir e que por motivo nenhum seja permitido a ninguém o uso do cálice.
E também: Se em caso que pareça dever-se conceder a alguma nação ou reino, do cálice por razões prudentes e conformes com a caridade cristã, deverá ser concedida sob algumas condições, e quais são elas.[2]

O afastamento da Igreja Reformada ocorre por esta e outras tantas doutrinas e práticas da Igreja Católica Romana. A Reforma restaurou a distribuição de ambas as espécies para todos os participantes da Ceia do Senhor.

NOTAS:
[1] Heinrich Denzinger & Petrus Hünermann, Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral (São Paulo, Editora Paulina e Edições Loyola, 2007), pp. 347-348.
[2] Philip Schaff, "The Canons and Dogmatic Decrees of the Concil of Trent" in: The Creeds of Chistendom - with a history and critical notes (Grand Rapids, Baker Books, 6a ed., 2007), vol. 2, pp. 170-176.

19 setembro 2017

Declaração de Nashville - sobre sexualidade

Declaração publicada pelo Conselho sobre a Masculinidade e Feminilidade Bíblica no dia 29 de agosto de 2017 na cidade de Nashville, EUA.


Preâmbulo


“Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto…“ – Salmos 100:3

Cristãos Evangélicos, na aurora do século XXI, encontram-se em um momento de transição histórica. Como a cultura ocidental tem se tornado cada vez mais pós-Cristã, ela tem embarcado em uma revisão massiva do significado do que é ser humano. De um modo geral, o espírito de nossa época, não percebe ou se deleita mais com a beleza do projeto de Deus para a vida humana. Muitos negam que Deus criou o ser humano para a sua glória, e que os seus bons propósitos para conosco incluem o nosso modelo físico e pessoal como masculino e feminino. É comum pensar que a identidade humana como masculina e feminina não seja uma parte do maravilhoso plano de Deus, mas é, e é mais do que um expressão individual de suas preferências autônomas. O caminho para a alegria completa e duradoura através do bom projeto de Deus para suas criaturas é então substituído pelo caminho de alternativas míopes que, mais cedo ou mais tarde, arruinam com a vida humana e desonram a Deus.

Este espírito secular de nossa época apresenta um grande desafio para a igreja Cristã. A igreja do Senhor Jesus Cristo perderá sua convicção, clareza e coragem bíblica, e se misturará ao espírito da época? Ou ela se manterá firme à palavra da vida, suscitará coragem através de Jesus, e despudoradamente proclamará o seu modo como o caminho da vida? Ela preservará o seu testemunho transparente, contracultural para um mundo que parece caído em ruína?

Estamos convencidos de que a fidelidade em nossa geração significa declarar mais uma vez, a verdadeira história do mundo e de nosso lugar nele – particularmente como masculino e feminino. As Escrituras Cristãs ensinam que existe apenas um Deus, e que é o Criador e Senhor de tudo. Somente a ele, uma pessoa deve agradecimento alegre, adoração sincera e total lealdade. Este é o caminho não só para glorificar a Deus, mas também para conhecer a si mesmo. Esquecer do nosso Criador é esquecermo-nos de nós mesmos, pois ele nos fez para ele mesmo. E nós não podemos nos conhecer verdadeiramente sem conhecemo-Lo verdadeiramente. Nós não nos fizemos. Nós não somos de nós mesmos. Nossa verdadeira identidade, como pessoas masculinas e femininas, é dada por Deus. Não é apenas tolo, como também inútil, tentarmos fazer de nós mesmos o que Deus não nos criou para ser.

Nós acreditamos que o projeto de Deus para a criação e o seu caminho de salvação servem para levar a ele a glória maior e trazer a nós o bem maior. O plano bom de Deus nos fornece a liberdade maior. Jesus disse que ele veio para que nós possamos ter uma vida abundante. Ele é por nós e não contra nós. Portanto, na esperança de servir à igreja de Cristo e testemunhar publicamente para os propósitos bons de Deus para a sexualidade humana revelada nas Escrituras Cristãs, nós oferecemos as seguintes afirmações e negações.

Artigo I

NÓS AFIRMAMOS que Deus designou o casamento para ser uma união pactual, sexual, procriativa, vitalícia entre um homem e uma mulher.

NÓS NEGAMOS que Deus designou o casamento para ser uma relação homossexual, poligámica ou poliamorosa. Nós também negamos que o casamento seja uma mero contrato humano, e não um pacto feito diante de Deus.

Artigo II

NÓS AFIRMAMOS que a vontade de Deus revelada para todas as pessoas é a castidade fora do casamento e a fidelidade dentro do casamento.

NÓS NEGAMOS que qualquer afeição, desejo ou compromisso justifiquem o ato sexual, seja antes ou fora do casamento; ou que justifiquem qualquer forma de imoralidade sexual.

Artigo III

NÓS AFIRMAMOS que Deus criou Adão e Eva, os primeiros seres humanos, à sua imagem, iguais, perante Deus, como pessoas, e distintos como masculino e feminino.

NÓS NEGAMOS que as diferenças ordenadas divinamente entre homem e mulher façam com que os mesmos sejam desiguais em dignidade e valor.

Artigo IV
NÓS AFIRMAMOS que as diferenças ordenadas divinamente entre homem e mulher refletem o projeto de criação original de Deus e foram feitas para o bem e para a prosperidade do homem.

NÓS NEGAMOS que essas diferenças são resultado da Queda ou que devem ser superadas.

Artigo V

NÓS AFIRMAMOS que as diferenças entre as estruturas reprodutivas do homem e da mulher são integrantes do projeto de Deus para a auto concepção como masculino ou feminino.

NÓS NEGAMOS que anomalias físicas ou condições psicológicas anulam a ligação designada por Deus entre o sexo biológico e a auto concepção como masculino ou feminino.

Artigo VI

NÓS AFIRMAMOS que aqueles nascidos com desordem física de desenvolvimento sexual são criados à imagem de Deus e têm dignidade e valor assim como todos os outros portadores da imagem. Eles são reconhecidos pelo Nosso Senhor Jesus em suas próprias palavras sobre “eunucos que assim nasceram do ventre da mãe”. Juntamente com outros, eles são bem-vindos como seguidores da fé de Jesus Cristo e deveriam abraçar seu sexo biológico até o ponto que o mesmo seja conhecido.

NÓS NEGAMOS que ambiguidades relacionadas ao sexo biológico de uma pessoa a torne incapaz de viver uma vida fértil em obediência alegre a Cristo.

Artigo VII
NÓS AFIRMAMOS que a auto concepção de masculino e feminino deve ser definida pelos propósitos sagrados de Deus na criação e redenção, como revelado pelas Escrituras.

NÓS NEGAMOS que adotar uma auto concepção homossexual ou transgênero consista dos propósitos sagrados de Deus na criação e redenção.

Artigo VIII

NÓS AFIRMAMOS que as pessoas que possuem atração sexual pelo mesmo sexo podem viver uma vida rica e próspera, agradando a Deus através da fé em Jesus Cristo, enquanto eles, assim como todo Cristão, caminham na pureza da vida.

NÓS NEGAMOS que a atração pelo mesmo sexo seja parte da bondade natural da criação original de Deus, ou que isso ponha alguém fora da esperança do Evangelho.

Artigo IX

NÓS AFIRMAMOS que o pecado distorce os desejos sexuais por direcioná-los para longe do pacto matrimonial e por aproximá-los da imoralidade sexual – uma distorção que inclui tanto a imoralidade heterossexual como a homossexual.

NÓS NEGAMOS que um padrão persistente de imoralidade sexual justique o comportamento sexualmente imoral.

Artigo X

NÓS AFIRMAMOS que é pecaminoso aprovar a imoralidade homossexual ou o transgênerismo e que tal aprovação constitui um desvio essencial da fé e do testemunho de Jesus Cristo.

NÓS NEGAMOS que a aprovação de imoralidade homossexual ou de transgênerismo seja questão de indiferença moral sobre a qual Cristãos fiéis deveriam concondar para descordar.

Artigo XI
NÓS AFIRMAMOS a nossa obrigação de sempre falar a verdade em amor, incluindo quando falamos com ou sobre outra pessoa como masculino ou feminino.

NÓS NEGAMOS qualquer obrigação de falar em desonra ao projeto de Deus de seus portadores da imagem como masculino e feminino.

Artigo XII

NÓS AFIRMAMOS que a graça de Deus em Cristo fornece tanto perdão misericordioso como poder transformador, e que este perdão e poder permitem ao seguidor de Jesus aniquilar desejos pecaminosos e caminhar de uma forma louvável ao Senhor.

NÓS NEGAMOS que a graça de Deus em Cristo seja insuficiente para perdoar qualquer pecado sexual e para dar poder de santidade para qualquer crente que se sinta afogado no pecado sexual.

Artigo XIII
NÓS AFIRMAMOS que a graça de Deus em Cristo permite pecadores a abandonar auto concepções de transgeneridade e através de paciência divina, de aceitar a ligação designada por Deus entre o sexo biológico e a auto concepção de alguém como masculino ou feminino.

NÓS NEGAMOS que a graça de Deus em Cristo sancione auto concepções que são estranhas à vontade de Deus revelada.

Artigo XIV

NÓS AFIRMAMOS que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que através da morte e ressurreição de Cristo, o perdão e a vida eterna estão disponíveis para qualquer pessoa que se arrependa de seus pecados e confie em Cristo como seu único Salvador, Senhor e tesouro supremo.

NÓS NEGAMOS que o braço do Senhor seja curto demais para salvar ou que qualquer pecador esteja além do seu alcance.

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Signatários Iniciais
Denny Burk John Piper James Dobson
Russell Moore J. I. Packer Wayne Grudem
R. Albert Mohler, Jr. Tony Perkins D. A. Carson
John MacArthur Sam Allberry R. C. Sproul
Rosaria Butterfield Francis Chan Marvin Olasky
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H.B. Charles, Jr. Christopher Yuan Dennis Rainey
Frank Page Nancy DeMoss Wolgemuth Daniel L. Akin
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Jerry A. Johnson Mark Dever Randy Alcorn
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James MacDonald James Merritt Jack Graham
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Bryant Wright Don Sweeting Jeff Purswell
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Mark L. Bailey K. Erik Thoennes Vaughan Roberts
David French Paige Patterson R. Kent Hughes
Jeff Iorg Sam Storms Richard Land
Robert A. J. Gagnon Samuel W. “Dub” Oliver Ronnie Floyd
C. J. Mahaney Jason G. Duesing Matt Carter
Chuck Kelley Burk Parsons Eric Teetsel
Alastair Roberts Kevin Ezell Ray Ortlund
O. S. Hawkins Thom S. Rainer Michael Reeves
Todd Wagner John M. Frame Randy Stinson
Mac Brunson Paul Nyquist Thomas Schreiner
H. Wayne House J. P. Moreland Bruce Ware
Michael Goeke Joel Belz Michael Horton
Jackie Hill Perry Dick Lucas Afshin Ziafat
Stephen Strang Christiana Holcomb Jimmy Draper
Owen Strachan Anthony Kidd James M. Hamilton, Jr.
Bryan Carter Chris Larson Bruce Riley Ashford
Candi Finch Curtis Woods Nathan Finn
James Robison C. Ben Mitchell Darrell Bock
William Philip David Mathis Ken Magnuson
Daniel Heimbach Hershael W. York Mary Mohler
Hunter Baker Dorothy Kelley Patterson Jim Shaddix
John N. Oswalt Jack Deere Juan R. Sanchez
Malcolm B. Yarnell, III Jonathan Leeman Mary A. Kassian

Fonte: site PALAVRA PRUDENTE

15 setembro 2017

A história documental da excomunhão de Lutero

Indice

1. A bula Unigenitus Dei Filius sobre o valor da indulgência
2. A bula Salvador Noster
3. A bula Liquet omnibus
4. A Instrutio summaria ad subcomissarios
5. A fórmula de absolvição da indulgência de Tetzel
6. Debate para o esclarecimento do valor das indulgências - as 95 teses
7. Carta Martinho Lutero a George Spalatino
8. Sermão de Lutero: sobre a indulgência e a graça
9. O decreto Cum postquam
10. Carta de Martinho Lutero à Johannes Staupitz
11. Debate e defesa do frei Martinho Lutero contra as acusações de João Eck
12. Carta de Ulrich von Hutten à Lutero
13. Bula Exsurge Domine de Leão X condenando os 41 erros de Lutero
14. Carta de Leão X a Frederico, o Sábio
15. Carta de Lutero ao papa Leão x
16. Contra a execrável bula do Anticristo
17. Carta de Martinho Lutero a Johannes Staupitz
18. Carta de Martinho Lutero a Johannes Staupitz
19. Discurso pronunciado na Dieta de Worms por Martinho Lutero
20. Relatos sobre Lutero na Dieta de Worms
21. Carta de Martinho Lutero a George Spalatino
22. Carta de Martinho Lutero a Alberto de Magúncia


Introdução

Aprendi que “história se faz com documentos”. Os manuais de história, bem como as biografias de Lutero, por vezes, oferecem breves citações de alguns documentos, ou de alguns fragmentos de suas declarações, e a leitura dos fatos passam apenas pelo filtro do historiador. Talvez, a sua curiosidade tenha se aguçado ao ler estas citações nos livros de história, desejando ler todo o texto, mas foi impedido, por não ter acesso às fontes originais. Essa tem sido, em muitos casos, pelo menos, a minha experiência com leitor.

O que você dispõe nesta compilação é o esforço de resolver o meu problema de curiosidade, e possivelmente, a de outros estudantes de história e teologia. Por isso produzi essa coletânea dos principais documentos, correspondências e livros que envolveram a excomunhão de Martinho Lutero. Espero que ela seja útil para o aprendizado e que possibilite, por si, discernir os fatos, ponderando no julgamento que condenou o pai da Reforma.

Este texto é uma mera compilação. É o resultado de anos acumulados de leitura e aulas que oportunizaram-me colecionar estes documentos. Alguns estão disponíveis em português, mas em obras menos conhecidas, outros textos tive que traduzi-los. Os textos estão em ordem cronológica a fim de facilitar o entendimento dos fatos que sucederam no processo de excomunhão. Adicionei algumas cartas que revelam as intenções e sentimentos dos envolvidos. Nota-se que os primeiros documentos são decisões dos concílios da Igreja cristã acerca das indulgências. É importante entender o contexto teológico que antecedeu, e criou o contexto histórico da discussão em que Lutero se envolveria, e que culminaria em sua excomunhão.

Esta coletânea ainda não está completa. Há outros documentos que procuro, e estão em minha lista de desejos, e, se Deus quiser, pretendo terminar a minha coleção com o máximo de documentos, dos mais diversos, a fim de apresentar ao estudante a oportunidade duma leitura ad fontes.
Espero que o texto seja útil aos seus estudos, aulas ou palestras. A minha oração é que o Senhor Deus da Igreja, continue reformando-a de acordo com a sua Escritura Sagrada.

[ACESSE O TEXTO COMPLETO AQUI]

11 setembro 2017

A forma de questionar e examinar aos pequenos antes de serem admitidos na Ceia do Senhor

Escrito por João Calvino

Pergunta o mestre: Vocês são cristãos?
Responde o discípulo: Sim somos, pela misericórdia de Deus.

Mestre: Vocês nasceram cristãos, ou se tornaram após o nascimento?
Discípulo: Todos nascemos pecadores desde o ventre da mãe, condenados, inimigos de Deus e filhos da ira por natureza. Mas, depois recebemos o benefício de sermos cristãos por amor de Jesus Cristo.

Mestre: Por que motivo nascemos assim?
Discípulo: Porque todos pecamos em Adão, por ele ter se tornado pecador, nascemos pecadores corrompidos e sentenciados a morte como traidores.

Mestre: Que sinal vocês têm de que são cristãos?
Discípulo: Tenho a fé do evangelho e o batismo.

Mestre: Se têm a fé por sinal de são cristãos, digam-me agora em que creem?
Discípulo: Cremos em Deus Pai, e em Jesus Cristo seu Filho, e no Espírito Santo, em quem tenho toda confiança de minha salvação, e a quem sempre recorremos em todas as nossas necessidades.

Mestre: O Pai, o Filho e o Espírito Santo são mais de um Deus?
Discípulo: Não. Porque não há, nem pode existir além de um, que é o Criador e Preservador de tudo.

Mestre: Que confissão de fé vocês fazem?
Discípulo: A que é desde sempre comum à Igreja de Jesus Cristo, que se chama o Símbolo dos Apóstolos, que começa: Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra ...

Mestre: Em quantas partes se divide?
Discípulo: Em quatro.

Mestre: Diga o resumo do que contém na primeira parte.
Discípulo: Que Deus, que é Pai de Jesus Cristo, nosso Senhor, é também pai de todos nós por amor dele; e é o princípio e causa de todas as coisas, as quais governa de tal maneira que nada ocorre sem a sua ordenação e vontade, e ele é o provedor de todas as coisas, o que mantém e sustenta com sua bondade, sabedoria e poder.

Mestre: Agora diga o que contém na segunda.
Discípulo: Que Jesus Cristo, sendo Deus igual ao Pai, condescendeu ao mundo, e se fez homem no ventre da santa e virgem Maria, por obra do Espírito Santo, e vindo cumprir tudo o que se requeria para nossa salvação; e que do céu, aonde subiu após ressuscitado, e onde está assentado à destra do Pai, no último dia virá com grande glória e majestade para julgar vivos e mortos.

Mestre: Passe para as duas últimas.
Discípulo: A suma da terceira é que confessamos crer no Espírito Santo, Deus verdadeiro, igual com o Pai e o Filho, por cuja virtude e potência as promessas feitas e cumpridas em Jesus Cristo são impressas e seladas em nossos corações; o qual nos santifica e conserva pela fé, e nos faz seu templo. A última é que há uma igreja santa e universal, congregada e iluminada pelo Espírito Santo, livre e purificada de seus pecados pelo sangue de Jesus Cristo, o qual é seu cabeça, de onde recebe espírito e vida, e que Deus lhe tem equipada a cumprida possessão da vida eterna. Este é o resumo e substância do que creio.

Mestre: Está bem declarado, passemos adiante. Devemos servir a Deus segundo os seus mandamentos, ou segundo as tradições dos homens?
Discípulo: Devemos servi-lo segundo os seus mandamentos, e não segundo as tradições dos homens.

Mestre: Por que não temos de servi-lo segundo as tradições dos homens?
Discípulo: Porque todos os serviços que por elas se fazem, os têm proibidos como sendo vãos e abomináveis. E castiga com cegueira de entendimento e outros muitos males aos homens por eles.

Mestre: Onde encontraremos os mandamentos de Deus pelos quais requer servi-lo?
Discípulo: Encontraremos em muitos lugares da santa Escritura, e singularmente no capítulo 20 de Êxodo. Deus os deu a seu povo, pela mão de Moisés, dizendo: “Ouve Israel, Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da escravidão: não terás outros deuses diante de mim”, etc. E os demais da primeira e segunda tábua.

Mestre: Vocês têm força para cumpri-los como Deus ordena?
Discípulo: Não, de modo algum; porque toda a nossa inclinação é fraqueza, ignorância e corrupção.

Mestre: Então, quem é que os cumpre em vocês?
Discípulo: O Espírito Santo.

Mestre: E depois de Deus ter concedido o seu Espírito, vocês são capazes de cumpri-los perfeitamente?
Discípulo: Muito menos.

Mestre: Deus na lei amaldiçoa e rejeita a todos os que não cumprem perfeitamente os seus mandamentos.
Discípulo: Assim é verdade.

Mestre: Então, por qual meio vocês serão salvos e livres da maldição de Deus?
Discípulo: Seremos salvos somente pela morte e sofrimento de nosso Senhor Jesus Cristo.

Mestre: Como assim?
Discípulo: Porque por sua morte nos restituiu a vida, e nos reconciliou com o eterno Pai. Segundo disse são Paulo, que foi morto pelos nossos pecados, e ressuscitou para nossa justificação.

Mestre: De que maneira vocês serão participantes do benefício de sua morte e ressurreição para alcançar a salvação?
Discípulo: Recebendo-o por verdadeira fé e confiança na misericórdia de Deus.

Mestre: Essa fé com que se recebe o benefício de Cristo, encontra-se sem a obediência de Deus, e sem caridade para com o próximo?
Discípulo: Não, de modo algum. Porque ela é a raiz de onde procedem. E assim, quem verdadeiramente crê, alegremente obedece a Deus e ama ao seu próximo, e pelas boas obras que lhe faz, declara tanto um como o outro.

Mestre: De que maneira a fé, a obediência e o amor estão juntas no cristão?
Discípulo: Na verdade elas sempre andam tão unidas que onde qualquer uma delas se acha, necessariamente se encontram todas as outras.

Mestre: Satisfeito, passemos à oração, e digam-me primeiro. Em nome de quem vocês invocam a Deus?
Discípulo: Em nome de Jesus Cristo, que é o nosso perpétuo intercessor e advogado diante de sua Majestade.

Mestre: Há outro advogado, ou temos necessidade de outro além deste diante do Pai?
Discípulo: Não há outro, nem temos necessidade de outro. Porque não há além de um Redentor, que é Jesus Cristo, assim não há, nem pode haver mais de um advogado e mediador entre Deus e os homens, que é ele mesmo.

Mestre: Será ouvido se fizer uma oração a Deus por meio de outro que não seja Jesus Cristo?
Discípulo: Não. Pelo contrário, peca em orar assim. Porque não tem mandamento, nem promessa de Deus para isto; e tudo o que não procede da fé, é pecado.

Mestre: Logo os que invocam a Deus por meio dos santos que passaram por este mundo, são deste modo ofensores de sua Majestade?
Discípulo: É verdade. Porque não tem Deus expressamente proibido e mostram os que assim o fazem, que não têm Deus por Pai, nem conhecem a Jesus Cristo.

Mestre: Vejamos qual é a forma que se tem que invocá-lo?
Discípulo: A que ensinou Jesus Cristo aos seus apóstolos, para a sua Igreja, de onde se contém tudo o que temos que pedir a Deus para passar desta vida, e vir depois a gozar da que é eterna. E começa desta maneira: Pai nosso, que está no céu, etc.

Mestre: É permitido usar de outra forma de oração que não seja esta?
Discípulo: É lícito, desde que se refira a esta todas as orações que fizermos.

Mestre: Por que?
Discípulo: Porque nesta oração se abrange tudo o que Deus requer que lhe peçamos, e nos é dada por regra de bem orar.

Mestre: Quantos sacramentos há na Igreja cristã?
Discípulo: Somente dois.

Mestre: Quais são?
Discípulo: O batismo e a Santa Ceia do Senhor.

Mestre: Qual é a significação do batismo?
Discípulo: Tem duas partes. Porque nele nos representa o Senhor, de um lado, e a remissão dos nossos pecados, e por outro, a nossa regeneração ou renovação espiritual.

Mestre: E o que nos significa a Santa Ceia?
Discípulo: Significamos que pela comunhão do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, são mantidas nossas almas na esperança da vida eterna.

Mestre: O que nos representa o pão e o vinho que nos são dados na Santa Ceia?
Discípulo: Representam-nos que o corpo e sangue de Jesus Cristo têm tal virtude para manter nossas almas, do mesmo modo que o pão e o vinho para sustentar os nossos corpos.

Mestre: A Ceia foi instituída para que novamente se faça nela o sacrifício a Deus do corpo de seu Filho?
Discípulo: Não, de maneira alguma. Porque somente a Jesus Cristo, por ser o eterno sacerdote, pertence o ofício de sacrificar, o qual na cruz ofereceu seu corpo em perpétuo sacrifício, que bastou para a nossa salvação. Portanto, não resta senão que gozemos dele.

Mestre: Então, para que foi estabelecida a Ceia, se não temos que sacrificar?
Discípulo: Foi-nos deixada por um perpétuo memorial da morte do Senhor. E assim, pelo uso legítimo dela somos induzidos a considerar tudo o que ele fez para a nossa salvação, e somos mantidos espiritualmente, e confirmados na fé de tudo isto.

Mestre: Todo cristão deve receber o sinal do pão e do vinho, ou basta usar apenas de um deles.
Discípulo: É necessário a todo cristão receber ambas os elementos. Porque assim o Senhor Jesus Cristo deixou ordenado e estabelecido. E quem o fizer contra isto, incorre em gravíssimo pecado.

Mestre: Vocês entendem que o corpo de Jesus Cristo esteja encerrado no pão, e o seu sangue no vinho?
Discípulo: Não.

Mestre: Então, onde devemos buscar a Jesus Cristo a fim de satisfazermos nele?
Discípulo: No céu, na glória do Pai.

Mestre: Qual é o meio para ao céu onde Jesus Cristo está?
Discípulo: É a verdadeira fé do evangelho. Porque por ela Deus nos atraí para si, e vamos a ele.

Mestre: Então, é necessário exercer a verdadeira fé, antes que possamos bem usar deste santo sacramento?
Discípulo: É verdade. Porque foi instituída para confortar e esforçar os que estão vivos em Deus, e nenhum está se não a tiver.

Mestre: O que recebem os que carecendo desta fé se achegam da mesa do Senhor para comungar?
Discípulo: Recebendo o sacramento do corpo e do sangue do Senhor, recebem juízo e condenação contra si, como disse são Paulo.

Mestre: Então o que faremos para que recebendo o sacramento nos seja saudável?
Discípulo: Devemos nos examinar como ordena o apóstolo.

Mestre: Como se fará esta prova e exame?
Discípulo: Que observe cada um antes da comunhão, se tem verdadeiro arrependimento de seus pecados, e firme propósito de viver conforme a lei de Deus; se está unido com Jesus Cristo pela fé, e com seus próximos pelo amor.

Mestre: E como podemos ter esta fé para que estejamos dispostos para este celestial convite?
Discípulo: Obtemos pelo Espírito Santo que mora em nossos corações e nos faz certos das promessas de Deus, que nos são feitas no evangelho.

Mestre: Que sinais teremos para conhecer que as recebemos?
Discípulo: Temos quatro. A primeira, amar a Deus e estar afeiçoados pela sua lei. A segunda, ter a consciência pacífica e certa de que são perdoados os nossos pecados pelo sangue de Jesus Cristo. A terceira, usar da caridade com os próximos em geral, e especialmente com os fiéis e membros de Cristo. A última, mortificar continuamente todas as concupiscências e desejos da carne, e ter grande ódio ao pecado.

Mestre: Onde houver estes frutos, existirá a fé verdadeira e eficaz?
Discípulo: Sim, porque eles são conhecidos.

Mestre: Agora sigam com a graça de Deus, e esforcem-se sempre com diligência de frutificar desta maneira, e roguem ao Senhor que faça a todos, que seja glorificado por meio de todos, e que sejamos verdadeiros imitadores de Jesus Cristo, o nosso único Redentor e Senhor.

Fim do catecismo


Traduzido de B. Foster Stockwell, "Catecismo de la Iglesia de Ginebra [1542]" in: Catecismos de la Iglesia Reformada (Buenos Aires, Editorial "La Aurora", 1962), pp. 116-124.