30 dezembro 2017

O que significa subscrever os Padrões de Westminster?

G. I. Williamson


Ninguém pode ser um ministro, presbítero regente ou diácono na Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC, na sigla em inglês) sem, primeiro, responder afirmativamente à seguinte pergunta:
“Você sinceramente recebe e adota a Confissão de Fé e os Catecismos desta Igreja como contendo o sistema de doutrina ensinado nas Sagradas Escrituras?”

Todos estamos familiarizados com este voto, mas o que ele significa? Segundo Charles Hodge, nossos votos têm sido entendidos de três diferentes maneiras na história do presbiterianismo. “Primeiro”, diz Hodge, “para alguns eles significam que cada proposição contida na Confissão de fé se inclui na profissão feita na ordenação. Segundo, outros dizem que eles significam apenas aquilo a que as palavras se referem. O que se adota é o ‘sistema de doutrina’. O sistema das Igrejas Reformadas é um esquema de doutrina conhecido e admitido, e é esse esquema, nem mais nem menos, que nós professamos adotar. A terceira visão do assunto é esta: por sistema de doutrina contido na Confissão deve-se entender as doutrinas essenciais do cristianismo, e nada mais” (ênfase do editor).

I

A primeira, diz Hodge, nunca foi a visão sequer entre os presbiterianos da Velha Escola. Sempre houve liberdade para se afirmar o pensamento de que esta ou aquela palavra (ou frase) não seja a melhor forma de expressar o ensino bíblico. E, com isso, estou de pleno acordo. Para explicar por que, quero citar dois exemplos. (1) No capítulo VII, seção 4, da Confissão de Westminster, lemos que “este pacto da graça é frequentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de testamento [...]”. O problema é que, embora tudo o mais nesta afirmação seja verdade, eu não penso que a palavra “frequentemente” seja precisa. Será então que não tenho a liberdade de asseverar esse fato sem que alguém me acuse de discordar da doutrina do pacto? (2) Ou tome a afirmação do capítulo XXI, seção 8, no qual a Confissão explica como o Dia do Senhor deve ser santificado. Aqui somos informados de que os homens não apenas estão obrigados a guardar “durante todo o dia um santo descansos das suas obras, palavras e pensamentos a respeito de seus empregos seculares e de suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto [a Deus] [...]”. O meu problema aqui não é discordar da doutrina, mas pensar que esta não seja a melhor forma de afirmá-la. Eu não penso que nós possamos nos envolver com empregos ou recreações “seculares” em qualquer dia da semana mais do que no Dia do Senhor. Penso que, aqui, um termo melhor seria “diários” ou “cotidianos”. O outro termo que eu gostaria de poder ver aperfeiçoado seria a palavra “exercícios”. Essa palavra me parece invocar a ideia de um tipo de espiritualidade mecanizada, como passar o domingo inteiro lendo a Bíblia ou orando. Em alguns momentos, penso, a melhor coisa que eu posso fazer num domingo é tirar um breve cochilo (o que dificilmente poderia ser chamado de um exercício)!
Poderíamos dar outros exemplos. Mas o meu ponto é que o texto da Confissão não é perfeito como o texto inspirado da Bíblia o é. Então, tem de haver o direito de discordar de uma expressão específica aqui e acolá, contanto que a discordância de fato seja com o fraseado, não com as doutrinas.

II

A outra visão à qual Charles Hodge se opôs foi o que se pode chamar de “visão da substância da doutrina”. E, também aqui, estou de pleno acordo com ele. Se há uma coisa que eu aprendi na história recente da igreja, é a devastação que essa perspectiva trouxe sobre as igrejas presbiterianas ao redor do mundo.

Em 1879, a Igreja Presbiteriana Unida na Escócia inventou o que ficou conhecido como Ato Declaratório (ou Resolução Declaratória). Outras igrejas rapidamente seguiram o exemplo (a Igreja Livre em 1892 e a Igreja Presbiteriana na Nova Zelândia (PCNZ) em 1901). Por essa resolução, a PCNZ estabeleceu que “a diversidade de opinião é admitida naqueles pontos da Confissão que não envolvem a substância da fé reformada, sendo da igreja a competência privativa para determinar que pontos se enquadram nessa descrição”. Qualquer que tenha sido a intenção de se adotar esse ato, como observou o Rev. Jack Sawyer, “o notório efeito histórico desse ato foi possibilitar que os concílios da igreja admitissem desvios cada vez mais sérios das proposições doutrinárias expressas na Confissão de Westminster, até o ponto em que a Confissão de Westminster, na verdade, deixou de ter qualquer autoridade vinculante como um padrão subordinado da igreja”.[1]

Como o próprio Dr. Hodge afirmou, “a substância da doutrina não é a doutrina, assim como a substância do homem não é o homem”. Dizer “Eu adoto a Confissão de Fé e os Catecismos desta igreja como contendo o sistema de doutrina ensinado nas Escrituras” é uma coisa. Dizer “Eu adoto a substância do sistema de doutrina contido nos ensinos da Confissão de Fé e dos Catecismos” é outra coisa.
O erro fatal dessa visão é que não existe nenhuma definição do que seja a substância do sistema de doutrina. Nós sabemos o que é o sistema de doutrina, porque ele está claramente (conquanto não perfeitamente) expresso nos Padrões de Westminster. Mas ninguém sabe o que significa falar numa “substância” dessa doutrina.

III

Então, segundo o Dr. Hodge, a única visão aceitável é a adoção da Confissão de Fé e dos Catecismos como contendo o sistema de doutrina ensinado na Bíblia. E, a esse respeito, o Dr. Hodge diz: “o candidato não tem nenhum direito de atribuir o seu próprio sentido às palavras que lhe são propostas. Ele não tem nenhum direito de escolher, de todos os significados possíveis dessas palavras, o sentido particular que se amolde aos seus propósitos, ou aquele que ele acredite poder salvar sua consciência. É bem sabido que esse caminho tem sido abertamente defendido, não apenas pelos jesuítas, mas por homens desta geração, neste país e na Europa. Diz-se que a ‘química do pensamento’ pode tornar iguais todos os credos. Os homens se orgulham em afirmar que poderiam subscrever qualquer símbolo de fé ou credo. Para um homem num balão a terra parece uma planície, perdendo-se de vista, na distância, todas as irregularidades de sua superfície. E eis aqui uma elevação filosófica a partir da qual todas as formas de crença humana parecem indistintas. Elas se sublimam em fórmulas genéricas, as quais incluem tudo e nada distinguem. O Professor Newman, pouco antes de sua apostasia declarada, publicou um tratado no qual defendia seu direito de permanecer na Igreja da Inglaterra, mesmo sustentando as doutrinas da Igreja de Roma. Ele reivindicava subscrever os Trinta e Nove Artigos em um “sentido não-natural”; isto é, no sentido que ele próprio escolhia atribuir às palavras. Isso é uma afronta ao senso comum e à honestidade comum aos homens. Não é preciso arrazoar sobre a matéria. A torpeza de tal princípio é vista com muito mais clareza intuitivamente do que discursivamente”.

“São dois os princípios que, pelo consenso comum de todos os homens honestos, determinam a interpretação de juramentos e profissões de fé: primeiro, o significado natural e histórico das palavras; e, segundo, o animus imponentis, isto é, a intenção da parte que impõe o juramento ou exige a profissão. Portanto, as palavras ‘sistema de doutrina ensinado nas Sagradas Escrituras’ devem ser tomadas em seu sentido natural e histórico. Um homem não tem a liberdade de entender as palavras ‘Sagradas Escrituras’ como significando todos os livros escritos por homens santos, pois, embora tal interpretação possa estar de acordo com a significação das palavras, ela é inconsistente com o sentido histórico da frase. Tampouco ele as pode entender como se incluíssem os apócrifos, como fariam os romanistas, porquanto as palavras usadas por uma igreja protestante devem ser tomadas num sentido protestante. Também não pode o candidato dizer que entende por “sistema de doutrina” o cristianismo em oposição ao islamismo, nem o protestantismo em oposição ao romanismo, nem o evangelicalismo em contraste com a teologia das igrejas reformadas (isto é, calvinistas), porque as palavras usadas por uma igreja reformada devem ser entendidas no sentido que aquela igreja, sabidamente, lhes atribui. Se um homem professa receber a doutrina da Trindade, a palavra deve ser tomada em seu sentido cristão; o candidato não pode substituí-lo por aquela ideia sabeliana de uma trindade modal, nem pela tricotomia filosófica do panteísmo. O mesmo pode ser dito de todas as demais expressões que possuem um significado histórico fixo. Mais uma vez, no que se refere ao animus imponentis, deve-se entender não a mente ou intenção do bispo que ordena, na Igreja Episcopal, nem do presbitério que ordena, na Igreja Presbiteriana; e sim a mente ou intenção da Igreja, da qual o bispo ou presbitério é o órgão ou agente. Ainda que um bispo da Igreja da Inglaterra, simpatizante da doutrina romanista, atribuísse um significado “não-natural” aos Trinta e Nove Artigos, o sacerdote que os subscrevesse em tal sentido não seria inocente do crime de perjúrio moral; e ainda que um presbitério atribuísse um significado totalmente errôneo à Confissão de Westminster, isso não justificaria que um candidato à ordenação adotasse aquele sentido. A Confissão deve ser adotada no sentido da Igreja, a cujo serviço o ministro, em virtude dessa adoção, é recebido. Esses são princípios básicos de honestidade, e nós presumimos que eles são universalmente aceitos, ao menos no que se refere à nossa Igreja”.[2]

A história presbiteriana e reformada demonstra o fato de que não existe salvaguarda absoluta em nenhuma forma de subscrição. Isso não significa que nenhum aperfeiçoamento seja possível. Quando as Igrejas Reformadas da Nova Zelândia adotaram a Confissão de Fé de Westminster ao lado das Três Formas de Unidade, elas também modificaram o texto da fórmula de subscrição. A frase “todos os pontos de doutrina” foi substituída por “todo o sistema de doutrina”. E a minha opinião é que esse foi um modesto aperfeiçoamento. Mas, seja como for, permanece o fato de que nada protegerá a igreja do erro senão a diligência da parte daqueles que administram esse juramento.

Em outras palavras, os homens que já são ministros e presbíteros regentes devem ser diligentes e zelosos ao examinarem outros homens que aspirem aos ofícios bíblicos. Eles devem fazer isso a fim de descobrir, com a maior clareza possível, o que tais homens de fato querem dizer ao afirmar que sinceramente recebem e adotam a Confissão de Fé e os Catecismos como expressões fiéis (conquanto não infalíveis) do ensino bíblico. Na minha opinião, é isso – mais do que tudo – que tem permitido à Igreja Presbiteriana Ortodoxa continuar alinhada com aqueles homens que tanto sacrificaram, em 1936, por crerem nessas doutrinas.

Nós, como oficiais da OPC, precisamos ser homens de integridade. Precisamos examinar nossos próprios corações diante do Senhor, a fim de nos certificarmos de que somos fieis a nossos compromissos. E um desses compromissos é o dever de verificar se aqueles a quem ordenamos dão evidências convincentes de sua plena concordância com o sistema de doutrina contido nos Padrões de Westminster.

NOTAS:
[1] D. G. Vanderpyyl, Trust and Obey: A forty year history of the Reformed Churches of New Zealand, p. 453.
[2] Todas as citações de Hodge são da sua obra Church Polity, recentemente republicada por Westminster Discount Books of Scarsdale, N.Y..
“… o credo é o vínculo de comunhão... e um instrumento para a preservação tanto da pureza como da paz. Os que subscrevem ao credo se obrigam a devotar-se ao seu ensino, ao mesmo tempo em que desfrutam dos privilégios decorrentes daquela subscrição e da comunhão que ela promove. Eles devem renunciar tais privilégios tão logo não sejam mais capazes de confessar os princípios expressos no credo.” (John Murray)


Tradução: Pb. Vinícius Silva Pimentel
Revisão Rev. Ewerton B. Tokashiki

28 dezembro 2017

O que é Escolasticismo Reformado?

por Willem J. Van Asselt



Por que Escolasticismo Reformado?

Este livro é uma introdução ao método teológico conhecido, geralmente, como Escolasticismo Reformado. Esta reflexão e exposição sobre as doutrinas da Igreja cristã é considerada forçada na maioria das vezes, fazendo vir à mente imagens de teólogos rígidos do século XVII que, após Calvino, colocaram a mensagem cristã em formas aristotélicas, de modo que nada da mensagem pura e original que os reformadores tivessem lhes passado ainda existisse. Os estudantes da Divindade foram enviados às igrejas com um sistema morto e inflexível usado para punir a congregação a partir do púlpito a cada domingo. O resultado foi uma fé fatiada e seca, desprovida de uma vida e de uma teologia, direcionadas para um caminho de morte ou, ainda pior, presas nas garras do racionalismo.

Os escritores deste livro acreditam que essa imagem se baseia em uma gama de desentendimentos históricos e sistemáticos. Em primeiro lugar, o escolasticismo não era algo praticado somente por teólogos reformados “rígidos”; autores luteranos e católicos também se usaram amplamente desse método depois da Reforma. Desse modo, o escolasticismo era uma atividade ecumênica. Em segundo lugar, o escolasticismo não era utilizado somente no século XVII. Toda a Igreja ocidental havia criado uma teologia escolástica desde o século XI. Uma aproximação escolástica também era aplicada em outras disciplinas acadêmicas. O termo “escolasticismo”, portanto, não deveria estar tão associado assim com o conteúdo, mas sim com o método, uma forma acadêmica de argumentação e disputa.

Tudo isso, de forma alguma, significa a única visão sobre o escolasticismo. A nossa perspectiva positiva é combatida por aqueles que argumentam que afirmações de fé não devem tolerar qualquer tipo de método escolástico de pensamento, ou de que o escolasticismo envolve uma distorção racionalista do testemunho bíblico. Outros ponderam sobre como o escolasticismo se relaciona aos reformadores. Será que eles não tinham rompido com o escolasticismo? E quanto aos seus seguidores que, uma vez mais, bebiam dos escritores medievais? Será que isso não era simplesmente um retorno às “trevas” da Idade Média? Outros questionam o valor do escolasticismo para o presente. Será que não estaríamos lidando apenas com uma relíquia do passado, ou será que poderia ajudar a se navegar pelo emaranhado de diversos impasses teológicos e ecumênicos? Essas são questões que serão tratadas neste livro. Esta introdução, assim, se resume às questões de continuidade e descontinuidade. Será que houve um rompimento radical entre a mensagem dos reformadores e a teologia da Idade Média? E será que a teologia da ortodoxia protestante teria sido, então, uma traição da mensagem original da Reforma? Ao se cuidar desses assuntos, este livro abre caminho para os dois lados do debate. Sem saltar para as conclusões do nosso estudo, queremos tocar no motivo de consideramos o estudo do escolasticismo reformado ser muito importante: primeiramente, a universalidade do escolasticismo reformado; em segundo lugar, o seu sentido histórico-teológico e, finalmente, a sua relevância teológica- sistemática. Pela universalidade do escolasticismo reformado, nós queremos dizer que aqueles que o praticaram buscaram, de forma explícita, permanecer dentro da tradição de toda a Igreja. Eles não tinham pretensão alguma de promover uma originalidade ou de desenvolverem uma “verdadeira doutrina”. Como estudantes dos reformadores, eles queriam desenvolver uma teologia na qual houvesse uma vasta reflexão sobre o âmago do Evangelho, com todas as suas implicações. Eles se colocaram em linha com a teologia de todos os tempos, e se engajaram em uma reflexão teológica “juntos com todos os santos”. Eles não olharam somente para o passado, mas também para o futuro. Os escolásticos reformados pretenderam contribuir para a existência contínua da Igreja no futuro. É necessário prestar atenção ao escolasticismo reformado a partir de uma perspectiva histórica-teológica, conforme o interesse tem apenas recentemente sido mostrado na história da teologia reformada de depois da época da Reforma. Diferentes abordagens podem ser tomadas, tanto históricas, como sistemáticas.

A tarefa do historiador é a de mergulhar em autores e em seus respectivos escritos em termos do relacionamento que eles tiveram com eventos anteriores, contemporâneos ou posteriores. A análise e a avaliação do conteúdo e da intenção, como também da coerência de vários pontos de doutrina, são mais sistemáticos em sua natureza. Os autores desta introdução creem que uma combinação dessas duas abordagens é algo desejável, e, diversas vezes, até mesmo necessário. Esse período na história do protestantismo reformado conecta a teologia reformada do presente com a da Reforma e com a teologia de todos os tempos. Finalmente, estamos convencidos de que a teologia sistemática atual é aprimorada por um conhecimento profundo da teologia desse período. Nós mencionamos três importantes fatores: primeiro, a tentativa de unir a teologia sistematicamente com a prática de fé, por ser o mais importante de tudo como, por exemplo, na reforma posterior holandesa (Nadere Reformatie). Segundo, nós apontamos a qualidade argumentativa da teologia reformada. Como veremos, os teólogos orientados de modo sistemático colocavam ênfase grande na argumentação sistemática e ordenada, e tinham como alvo uma definição clara dos termos que utilizavam. Com grande cuidado, eles explicavam em suas teses os termos que eles usavam e percebiam os diversos significados que um único termo poderia ter. Os escolásticos reformados não se limitavam à apenas um aspecto da teologia, mas viam cada parte em relação ao todo. Respostas para uma única questão não poderiam conflitar com as de outra. O que era argumentado em conexão com a doutrina de Deus não poderia conflitar com o que já havia sido exposto para a doutrina da Providência. Terceiro, a teologia escolástica era praticada em conexão íntima com outras disciplinas, tais como filologia, exegese, filosofia e assim por diante. As posições tomadas neste contexto eram exaustivamente defendidas. Não bastava simplesmente que se reproduzisse a visão de uma outra pessoa. Era dado espaço para contra-argumentações e objeções. Isso era um reconhecimento explícito ou implícito de que diferentes métodos poderiam ser seguidos para se explicar diferentes pontos teológicos de doutrina. A teologia escolástica não era nem uma roupagem rígida de doutrina, tampouco uma caça às bruxas de heresias, mas sim apontando para a análise da posição de alguém, assim como para as de outros e clarificando as consequências de um determinado ponto de vista. Esses três fatores – prática de fé, qualidade argumentativa e relacionamento com outras disciplinas – podem, da mesma maneira, serem proveitosas para a prática da teologia sistemática nos dias atuais.

[Acesse o TEXTO COMPLETO AQUI]

05 dezembro 2017

Resenha de Synopsis Purioris Theologiae

por Dr. Ryan M. McGraw

Esta tradução apresenta um texto da ortodoxia reformada historicamente importante para o mundo de língua inglesa. Quatro professores da Universidade de Leiden (Walaeus, Polyander, Thysius e Rivetus) produziram esse texto em 1625 para apresentar uma alternativa "mais pura" em relação à teologia dos arminiano, recentemente expulsa daquela instituição. Este volume atual é o primeiro de três volumes planejados, que incluem o texto paralelo em latim e em inglês. Como este texto permaneceu importante no mundo reformado por pelo menos até o final do século XIX, estudantes modernos de teologia reformada deveriam usá-lo como meio de conectá-los ao histórico ensino reformado.

Este trabalho possui muitas qualidades úteis. É inerentemente importante como um resumo da teologia reformada daquele período. Hoje em dia, os estudantes de teologia começam a surpreender ao saber que a maioria dos autores reformados no passado escreveram as suas principais obras teológicas em latim. Isso significa que muitos leitores modernos são limitados do que é, indiscutivelmente, o período mais significativo no desenvolvimento da teologia reformada. Algumas seções na sinopse, como a Disputa vinte e um acerca do Sábado, expressam debates em grande parte de questões entre os holandeses. No entanto, a maioria dos capítulos ajudará os leitores a compreenderem melhor a substância e a estrutura da ortodoxia reformada a partir da doutrina do conhecimento de Deus e da Escritura, através da criação, do homem e do pecado, às relações e diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento. As notas de rodapé dispostas ao longo deste volume também ajudarão muitos leitores a entender melhores referências as filosóficas, teológicas e históricas no texto original.

O Leiden Synopsis, no entanto, tem algumas deficiências surpreendentes. Muitas discussões estão incompletas ou qualificadas de forma inadequada. Por exemplo, Thysius mencionou, mas largamente omitiu, a suficiência da Escritura em seu tratamento da perfeição das Escrituras, a favor de combater a visão papal da tradição não escrita (107). As definições de teologia, que ocuparam um lugar tão proeminente em outros sistemas na época, são declaradas e aprovadas nas primeiras páginas do livro, a fim de desenvolver a doutrina das Escrituras com mais rapidez. O pecado é descrito como a ausência do bem sem a realidade metafísica. No entanto, este ponto pode enganar os leitores sem explicar que os autores reformados geralmente tratavam o pecado como uma ação direcionada a uma extremidade errada em vez de não ser. Outros tópicos, como artigos fundamentais, os decretos de Deus (subordinados e renomeados sob a providência), e a aliança de redenção, são omitidos inteiramente. A teologia da aliança vem diretamente na Disputa vinte e três, que aborda a relação entre o Antigo e o Novo Testamento. A terminologia não é explicada o suficiente para ser uma boa fonte para entender as nuanças do desenvolvimento reformado da aliança. Muitos tratamentos doutrinários nesta obra são muito breves para ajudar os leitores modernos a entender a teologia que está por trás dessas declarações. Várias posições são simplesmente declaradas sem argumentação da Escritura. Esses pontos, surpreendentemente, contrastam com o mais curto Compendium Christianae Theologiae do mesmo período de tempo de Johannes Wollebius.

O Synopsis Purioris Theologiae[1] é um trabalho, historicamente, muito importante da teologia reformada. Embora seja um texto de leitura obrigatória daquele período, provavelmente, não será o melhor ponto de partida para os leitores novatos em ler fontes primárias na ortodoxia reformada. É uma sinopse de uma tradição teológica mais ampla. O seu principal valor consiste em ensinar aos leitores quais as perguntas a foram feitas e onde procurar a expansão teológica em outras publicações reformadas.

Ryan M. McGraw
Greenville Presbyterian Theological Seminary


Te Velde, Dolf (ed.). et al. Synopsis Purioris Theologiae / Synopsis of a Purer Theology: Latin Text and English Translation. Vol. 1, Disputations 1-23. Translated by Riemer A. Faber. Studies in Medieval and Reformation Traditions 187; Text and Sources, 5. Leiden: Brill, 2014.

NOTAS:
[1] O título original é Synopsis purioris theologiae: disputationibus quinquaginta duabus comprehensa ac conscripta per Johannem Polyandrum, Andream Rivetum, Antonium Walaeum, Antonium Thysium, S. S. theologiae doctores et professores in Academia Leidensi.

04 dezembro 2017

Arquivo de textos de teologia reformada

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Boa leitura.
Pr Ewerton B. Tokashiki