30 novembro 2018

A Delegação Inglesa no Sínodo de Dordt

A delegação inglesa foi designada pelo rei, e não pela Igreja.[1] Dos quatro primeiros delegados ingleses incluíam entre eles um bispo e dois futuros bispos. James I, que não simpatizava com os puritanos e presbiterianos na Inglaterra e na Escócia, enviou cinco episcopais para representá-lo. Os calvinistas, apesar de erastianos, seguiram o seu pacífico e moderado conselho. Os delegados eram o Dr. George Carleton (não relacionado ao embaixador britânico), bispo de Llandaff; Dr. Joseph Hall, decano de Worcester; Dr. John Davenant, Mestre do Queens College, em Cambridge, e Professor de Teologia; e o Dr. Samuel Ward, mestre do Sidney Sussex College, em Cambridge, e arquidiácono de Taunton.

As instruções dadas ao Rei James I e aos teólogos ingleses:[2]
1. Nossa vontade e prazer é que a partir deste momento em diante em todas as ocasiões vocês se acostumem com a prática da língua latina, de modo que, quando houver ocasião, vocês possam exercitar as suas mentes com maior desembaraço e facilidade.
2. Vocês deverão em todos os pontos a serem debatidos e disputados resolverem entre si, antecipadamente, qual é o verdadeiro estado do assunto, de modo que, alegre e uniformemente sejam concordes.
3. E se pelos eruditos no debate do tema, emergir qualquer coisa da qual vocês não pensaram antes, deverão se reunir e consultar novamente, e assim resolver entre vocês satisfatoriamente o que está apto a ser mantido. E isso deverá estar de acordo com as Escrituras e à doutrina da igreja da Inglaterra.
4. Seu conselho deve ser àquelas igrejas que seus ministros não entregam no púlpito para as pessoas estas coisas como doutrinas ordinárias, que são os pontos mais altos das escolas, e não servem para capacidade vulgar, mas são disputáveis em ambos os lados.[3]
5. Que eles se conformem às confissões públicas das igrejas reformadas circunvizinhas, com as quais devem ter boa correspondência, sem desonra para elas.
6. Que se alguém quiser opor-se entre aqueles que adicionam as suas próprias opiniões, seu esforço será que certas posições sejam moderadamente estabelecidas, e que possam tender a amenizar em ambos os lados.

(Exeter College, Oxford, MS. 48, folios 1.)

NOTAS:
[1] H.R. Trevor-Roper, King James I and his Bishops (History Today, Sept. 1955), pp. 571-581, citado em http://archive.churchsociety.org/churchman/documents/Cman_106_2_Dewar.pdf acessado em 18/10/2018.
[2] http://archive.churchsociety.org/churchman/documents/Cman_106_2_Dewar.pdf acessado em 18/10/2018.
[3] O texto original trás “Your advise shall be to those churches that theire ministers do not deliver in the pulpit to the people these things for ordinary doctrines which are the highest points of schooles, & not fit for vulgar capacity, but disputable on bothe sides.”

26 novembro 2018

Evangélicos incompreendidos e a morte de John Allen Chau

Por Thomas Kidd


As convicções centrais dos evangélicos, incluindo a necessidade de salvação através de Cristo e o mandato de compartilhar a fé, estão se tornando cada vez mais incompreensíveis para uma cultura americana pós-cristã. Não há melhor ilustração dessa incompreensibilidade na reação da mídia à trágica morte de John Allen Chau, enquanto ele tentava alcançar a sociedade isolada de caçadores da Ilha Sentinela do Norte, na distante da costa da Índia.

As leis indianas proíbem o contato com o povo da Ilha Sentinela do Norte, em parte devido à suposição de que são excepcionalmente vulneráveis a doenças epidêmicas. Reportagens da mídia sugerem que Chau (um graduado da Universidade Oral Roberts) não disse a verdade sobre suas razões para entrar na Índia.

Certamente não defenderia a quebra duma lei a fim de promover os objetivos evangelísticos. É claro que os missionários “fazedores de tendas” têm uma longa história como uma forma de contornar as proibições ao evangelismo aberto. (Eles são trabalhadores ou turistas de longo prazo e compartilham o evangelho em ambientes privados). Embora tenhamos forte apoio das Escrituras para a ideia de que quando as autoridades temporais instruem os crentes a não compartilhar a sua fé, o crente deve obedecer a Deus e não ao homem (At 5.29).

Uma das reações mais incompreensíveis à morte de Chau veio, surpreendentemente, no Wall Street Journal. Eu escrevi um artigo para eles sobre a morte do missionário Michael Riddering em Burkina Faso em 2016, de modo que o Jornal se sabe que é capaz de fazerem uma reportagem compreensiva a tais tragédias. Mas a coluna do jornalista Tunku Varadarajan demonstra desprezo por Chau e, aparentemente, não entende da mentalidade ou das motivações de Chau.

Dado o simbolismo e a óbvia tragédia de sua morte, haverá aqueles que atribuem nobreza a Chau e coragem ... . Mas vá com calma no relato de Chau e no seu fim confuso e martirizado. Ele quebrou a lei indiana ao entrar no país com um visto de turista enquanto intencionava realizar uma missão evangelística. O visto de Chau seria recusado caso mencionasse as palavras “Ilha Sentinela do Norte”… .

O que tivemos no final foi o teatro fútil e fatal de um homem. Mas há uma consequência moral: o missionário encontrou o martírio, os sentineleses tiraram uma vida. Dessa tragédia virá uma nova e vigorosa consciência de quem eles são e do que eles não precisam. E isso inclui Bíblias à prova d'água.

Um atento observador perceberia que, por mais mal elaborado que fosse o plano de Chau, fazia sentido para ele determinadas suposições evangélicas sobre a salvação e a eternidade. "Deixe a Ilha Sentinela do Norte sozinha" faz todo o sentido se o que você crê sobre Deus não tem nada a ver com o seu destino eterno. Se não há vida após a morte (ou se não podemos saber nada sobre a vida após a morte), então o que Chau estava fazendo era o auge da insensatez.

Eu não sei muito sobre os detalhes da fé de Chau, e parecia que ele não estava trabalhando com uma organização missionária. Mas as suas anotações no diário sugerem que ele cria que a reconciliação com Deus através de Cristo é a coisa mais importante na vida. É uma questão de vida ou morte para todos e, portanto, algo pelo qual você daria a sua vida. Isso é lógico, se você aceitar que os evangélicos acreditam que isso é a verdade.

A resposta do Jornal à morte de Chau está em contraste com a cobertura da mídia de Jim Elliot e dos mártires do Equador em 1956. Em particular, a revista Life realizou uma reportagem muito simpática à morte de Elliot e de seus companheiros missionários num ataque de flechas pelos índios Waorani.

A diferença da reportagem certamente tem a ver com o fato de que Chau parece, à primeira vista, mais um ator trapaceiro do que Elliot. Mas o contraste também é uma medida de quanto a cultura americana mudou nas seis décadas seguintes. Uma revista nacional como a Life, em 1956, pelo menos ressoaria com a tentativa de trazer a civilização ocidental para pessoas que eles chamavam de “selvagens da Idade da Pedra”. Mas a Life também representava fielmente a agenda evangélica de Elliot, explicando que ele e seus colegas estavam sob comissão divina ao pregar o evangelho a todas as nações.

Seis décadas depois, vivemos no mundo onde as elites acadêmicas e da mídia são alérgicas à noção de que uma cultura é superior à outra. Muitos evangélicos - especialmente os missionários - aplaudiriam esse afastamento de um senso de superioridade cultural ocidental também. Mas perdura a convicção evangélica sobre a verdade transcendente do evangelho para todas as pessoas. Essa convicção leva muitos a fazerem coisas aparentemente imprudentes para compartilhar o evangelho, mesmo com aqueles que não querem ouvi-lo. Podemos esperar que alguns no mundo da observação denunciem tais evangelistas como tolos e intrometidos.

Esse tipo de desprezo nos proporciona o tipo de status cultural que as Escrituras prometem que teríamos. “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1Co 1.18).


Acessado em https://www.thegospelcoalition.org/blogs/evangelical-history/incomprehensible-evangelicals-death-john-allen-chau/