12 agosto 2019

A Companhia de Pastores de Calvino - resenha

por Michael Horton[1]

Com muitos outros, tenho antecipado a publicação de Calvin’s Company of Pastors: Pastoral Care and the Emerging Reformed Church, 1536–1609 de Scott Manetsch. Não é bem o que eu esperava, ou seja, uma atualização mais completa para The Register of the Company of Pastors of Geneva in the Time of Calvin (1966) de Phillip Hugues. Nós precisávamos de algo assim, que fosse uma publicação de nicho que pareceria muito com uma avaliação para uma audiência geral. No entanto, o livro de Manetsch é isso e muito mais.

Repleta de novos estudos (incluindo a análise de registros nunca examinados de perto), Calvin’s Company of Pastors[2] é uma leitura fascinante. Enquanto muitos estudos se inclinam para a história intelectual, Manetsch segue o rastro de historiadores sociais mais recentes (e obscuros). A sua análise engloba fatores sociais mais amplos, e ele tira conclusões com base em fontes frequentemente omitidas de outros relatos. Como um bom sermão, o enorme peso da pesquisa em primeira mão está por trás, e não a frente da história.

Respaldado com as notas de rodapé e tabelas é uma narrativa vívida que nos esboça um notável ministério de uma equipe de pastores, presbíteros e diáconos. Apesar do título, Manetsch, professor de história da igreja e da história do pensamento cristão na Trinity Evangelical Divinity School, nas proximidades de Chicago, mostra que Calvino era apenas o moderador de uma Companhia de Pastores que resistia a qualquer culto à personalidade.

Definindo o Contexto

Manetsch define o contexto observando que a reforma inicial da igreja genebrina reduziu os clérigos da cidade (incluindo monges e freiras) de 500 para 15, transformando o convento e dois mosteiros em um hospital público e escola. Ele observa que as Ordenanças Eclesiásticas, elaboradas por Calvino em 1541, estabeleceram uma rotatividade de ministros em todas as igrejas para evitar a impressão de que os ministros eram pregadores, não pastores.

Após seu retorno de Estrasburgo em 1541, Calvino pregou rotineiramente em St. Pierre aos Domingos e no templo da Madeleine durante a semana de trabalho. Essa prática de rotação foi projetada por Calvino para garantir que o povo de Genebra fosse edificado por uma variedade de pregadores; também afirmava a natureza colegial do ministério pastoral na cidade, e desencorajava os ministros de verem seus postos de pregação como feudos pessoais.

Poucas figuras históricas sofreram mais em termos de rumores do que por fatos. Há muito é observado por especialistas (católicos romanos e protestantes) que Calvino estava longe do aiatolá que normalmente encontra no parágrafo dedicado a ele nos livros didáticos do ensino médio. Manetsch dissipa esses rumores com muita atenção às fontes primárias.

Nesse sentido, Manetsch também avalia os registros da igreja (ou registro) em detalhes notáveis. O exame de casos disciplinares por si só torna este livro útil para qualquer pessoa interessada num retrato preciso de uma prática muito mal compreendida.
Ao contrário das caricaturas de um regime repressivo, os registros mostram uma preocupação primariamente “em educar os ignorantes, defender os fracos e intermediar conflitos interpessoais”. Calvino e outros repetidamente afirmaram que o consistório não podia administrar punições legais ou temporais (isto é, aqueles que não têm “a espada espiritual da Palavra de Deus” e que “as correções nada mais são do que remédios para trazer os pecadores de volta ao nosso Senhor.” Calvino advertiu contra a disciplina que se degenera em “carnificina espiritual”, e foi especialmente crítico do rigor indevido tanto pelos católicos romanos como da disciplina anabatista.

Muitas das questões envolviam assegurar que os paroquianos conhecessem a fé cristã o suficiente para receber a Comunhão. Não se pode receber o sacramento enquanto se crê em crenças e práticas católicas romanas ou anabatistas; a maioria dos casos, entretanto, estava na categoria de aconselhamento, admoestação e instrução, em vez de censura séria (muito menos excomunhão). Dentro destes parâmetros, a excomunhão seria rara. Além disso, essas questões tinham que permanecer privadas; a maledicência também poderia provocar uma carta do consistório.

Deve-se notar que nenhum ministro ou presbítero - nem mesmo Calvino - poderia exercer disciplina individualmente. Todas as ações eram as do Consistório - ministros e presbíteros - como um corpo em comum consenso. Manetsch até relaciona casos de ministros sendo examinados e removidos do cargo. E apesar do estereótipo, ele relata que os pecados sexuais foram responsáveis por “apenas cerca de 13% de todas as suspensões” da Comunhão. Em alguns casos, o Consistório solicitou ao Conselho Menor que fornecesse emprego remunerado para as jovens mulheres e “defendia a causa de órfãos desamparados, trabalhadores pobres, prisioneiros maltratados, refugiados desprezados e desajustados sociais”.

O mesmo rigor em sua pesquisa é evidente ao relacionar o desenvolvimento da academia (que Lambert Daneau chamou de “um dos mercados mais ricos para o comércio intelectual do mundo”) e a composição de pastores, professores e estudantes atraídos para Genebra. Embora tirada principalmente das “classes urbanas da Europa francófona, assim como da nobreza francesa”, muitos outros vieram da Itália, Espanha, Inglaterra, Polônia e além. Ele também aponta o notável foco e energia da Companhia de Pastores para missões - incluindo a primeira missão protestante para o Novo Mundo (no Brasil).

Explorando o ministério da Palavra e Sacramentos em Genebra, Manetsch revela a relativa ausência de pregação na cidade antes da Reforma. Como na maioria dos lugares, os sermões eram raros, exceto pela aparição ocasional de um pregador itinerante.

Ao contrário da impressão geral, Calvino não era o único pastor da igreja de St. Pierre, a principal paróquia da cidade, mas compartilhava da rotação com os outros. Os sermões eram frequentes (vários no Domingo e outros no decorrer da semana; Calvino pregava de 18 a 20 vezes por mês). No entanto, Calvino e a Companhia limitaram os cultos a não mais do que uma hora. Além dos cultos de oração de Quarta-feira, havia estudos semanais sobre passagens bíblicas, em que os paroquianos tinham um papel ativo nas discussões.

Pontos Marcantes

Um dos pontos marcantes de Manetsch, particularmente em vista da prática contemporânea, diz respeito à redefinição do ministério pastoral. Primeiro, houve um esforço determinado para evitar um culto à personalidade: “Calvino, o pregador, quase nunca fala de seus assuntos pessoais”. É o ministério de Cristo, não o próprio ministro, que deve estar à frente e no centro do povo de Deus. Segundo, Manetsch observa: “O pregador não era o proprietário de um púlpito ou o comandante de sua congregação: foi Cristo quem presidiu a sua igreja por meio da Palavra”.

A Companhia de Pastores foi edificada, como instituição, com base no princípio básico de que todos os ministros cristãos possuíam igual autoridade sob a Palavra para proclamar o evangelho e administrar os sacramentos. Por isso, Calvino e seus colegas rejeitaram qualquer noção de preeminência ou hierarquia de autoridade dentro da companhia pastoral. Pelo menos em teoria, os ministros do evangelho cristão eram intercambiáveis.

De fato, cada um se submeteria à decisão da maioria. Manetsch aponta a comparação de Calvino acerca dos ministros aos “amigos do noivo” que têm o privilégio de “exercer autoridade sobre a igreja para representar a pessoa do Filho de Deus”. No entanto, eles devem observar a diferença entre “eles mesmos e o que pertence ao Esposo” e não “ficar no caminho de Cristo tendo somente o domínio em sua igreja ou governando-o somente por sua Palavra.” Calvino continuou: “Aqueles que ganham a igreja para si mesmos, em vez de para Cristo, violam a casamento que eles deveriam honrar”.

De fato, o caráter fraterno dos ministros torna-se uma característica recorrente no estudo de Manetsch. “Quanto menos discussões de doutrina tivermos juntos, maior o perigo de opiniões perniciosas”, observou Calvino. “A solidão leva a um grande abuso.” Consequentemente, havia amplas oportunidades de avaliação pelos pares a portas fechadas entre os pastores, variando de avaliações de sermões a discussões doutrinárias e ao manejo dos assuntos da igreja.

Existem alguns problemas com a Companhia de Pastores de Calvino que poderiam ser levantados. Manetsch apresenta uma pesquisa útil sobre o culto de adoração em Genebra, mas alguns elementos da liturgia que Calvino elaborou não estão inclusos. Os leitores também podem achar um tanto confuso que “Reformado” seja “reformado” (em minúsculas), mesmo que as referências às tradições católicas romana, luteranas e anabatistas sejam todas em maiúsculas. Embora provavelmente não intencional, isso pode minar o ponto abundantemente apoiado em todo o trabalho de que Calvino era membro e contribuiu para uma tradição maior do que ele. No entanto, isso não diminui a utilidade de um estudo que reúna essa amplitude de pesquisa em um único volume.

NOTAS:
[1] O artigo foi publicado em 25 de Fevereiro de 2013. Acessado em 24 de Maio de 2019.
[2] O livro pode ser adquirido AQUI.

08 agosto 2019

Como se preparar espiritualmente para o exame de ordenação

Por Dr. Ryan M. McGraw[1]


Participar de um exame ministerial ou de ordenação deve ser um ato de piedade. Apegar-se a este pensamento é o melhor meio de se aproximar de um exame sem temer os homens que o examinarão. Em muitos aspectos a preparação para licenciamento e ordenação pode ser um dos melhores meios para se preparar para o pastorado. Se somos servos de Jesus Cristo, então não deveríamos nos preocupar em agradar aos homens (Gl 1.10). Ser examinado para o ministério é o primeiro ato entre muitos no ministério onde um homem enfrenta o conflito entre falar o que a sua consciência crê pela Palavra de Deus, ou dizer aos examinadores o que acha que eles desejam ouvir. A maneira como você encara os seus exames, geralmente, indica como você exercerá o seu ministério. Você deve, em espírito de oração, portar-se em seu exame de uma maneira que seja digna do ofício para o qual deseja entrar. Isso significa que você estará preparado para confessar a sua fé em Cristo e seu desejo de obedecê-lo com humildade, submissão e sinceridade, mas com ousadia.

Um exame ministerial é, acima de tudo, um teste do coração. Os seus examinadores podem discernir o que você lhes apresenta externamente, mas somente você pode sondar o seu coração e realizar seu exame como um ato de adoração ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Em todas as suas laboriosas preparações para o ministério, assegure-se de guardar o seu coração diligentemente, pois são as fontes da vida (Pv 4.23). Pela bênção do Deus trino as considerações a seguir o ajudarão abordar ao seu exame como um ato de piedade.

1. Considere o seu exame como um testemunho público ao Senhor Jesus Cristo e às verdades da sua Palavra. Você deve através dele confessar com a sua boca o que crê em seu coração (Rm 10.9). Isso deve tornar seu exame um ato de adoração. Isso é verdade sempre que você fala em nome do Senhor Jesus Cristo. Se o confessar diante dos homens, então ele o confessará diante de seu Pai que está no céu, mas se você o negar diante dos homens, então ele o negará diante de seu Pai no céu (Mt 10.32-33). Se você está confiante de que Cristo está satisfeito com suas respostas, então o presbitério também estará.

2. Submeta-se ao seu exame em oração e fé. O texto de Fp 4.6–7 afirma: “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.”[2] Houve momentos em meu ministério em que orei fervorosamente por essa passagem diariamente a fim de perseverar. Este texto fornece os meios bíblicos para lidar com a ansiedade na qualidade de uma ordenança e uma promessa. Orem através de todos os seus preparativos para assegurar que seus estudos sejam conduzidos ao seu coração e vida pela obra do Espírito Santo, e não negligenciem a gratidão! Quando damos graças ao Senhor por meio das e durante as circunstâncias que nos tentam para a ansiedade, então colocamos a nossa confiança nele e confessamos a sua soberana sabedoria.

3. Avalie a causa dos seus temores. Frequentemente, precisamos refletir acerca dos nossos medos. Por que tememos um exame mais do que o fato de que podemos potencialmente fracassar no ministério, além das demais consequências desse fracasso? Isso destaca um grande perigo no ministério. Uma vez que você foi ordenado e o medo de passar ou reprovar num exame seja removido, a tentação de se tornar negligente no ofício que você recebeu de Cristo se torna mais forte. Se você negligenciar o seu conhecimento da Palavra de Deus e deixar de crescer em seu estudo de teologia, então você não “falhará” num exame, mas você deve responder a Cristo pelas magras ovelhas enfraquecidas que estão sob seus cuidados, que são incapazes de enfrentar os ataques do maligno. O medo antes de um exame é “natural”, mas lembre-se: “Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no SENHOR está seguro” (Pv 29.25). “O Senhor é meu auxílio, não temerei; o que o homem pode fazer comigo?” (Hb 13.6; Sl 118.6). O Senhor advertiu Isaías que é audácia contra Deus um dos seus mensageiros temer aos homens: “Eu sou eu mesmo aquele vos consola. Quem, pois, és tu, para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem, que não passa de erva” (Is 51.12).

4. Seja honesto e preserve uma consciência limpa diante de Deus e dos homens. Se você não sabe a resposta para uma pergunta, então seja honesto e diga-o. Você realmente gostaria de ficar diante de uma congregação e dizer: “assim diz o Senhor”, quando não tem certeza se ele realmente disse isso, ou não? Se assim for, então por que você desejaria fazê-lo diante de homens ordenados que estão examinando-o para o ministério? Além disso, dar uma resposta quando se está incerto ou inseguro quase sempre lhe causará problemas - especialmente num exame oral.

5. Lembre-se que o ministério é ousado. Alguns candidatos ao ministério objetam que eles não saem tão bem em exames orais como em testes escritos. Se for esse o caso, então o seu exame oral será ainda mais proveitoso para ajudar a preparar-se para o ministério. A maior parte do trabalho público de um ministro na igreja local é verbal e não escrito. Se você pretende falar em nome de Cristo no púlpito, então é bom que você aprenda a falar sem se envergonhar diante de um presbitério, ou diante duma comissão de exame. Embora muitas vezes intimidante, um presbitério (ou comissão de ordenação similar) é um ambiente relativamente amigável, enquanto que um mundo incrédulo e, às vezes, uma congregação, não o é. Imitemos os apóstolos orando por ousadia (At 4.29; Fp 1.19-20).

6. Lembre-se de que aqueles que estarão examinando você para o ministério, receberam uma incumbência sagrada do Senhor. Eles são mordomos dos mistérios de Deus (1Co 4.1). Quando eles admitem alguém em seu número através da imposição de mãos (1Tm 4.14, etc), devem ser cuidadosos para que não imponham as mãos sobre qualquer um apressadamente, para que não compartilhem dos pecados daqueles que provam serem desqualificados para o ofício (1Tm 5.22).[3] Seja humilde e respeite o encargo solene que recaiu sobre tais homens e que, se o Senhor quiser, você um dia compartilhará com eles. Seria do seu agrado que os seus examinadores ordenassem você ao ministério de maneira descuidada ou errada, por mais que eles pudessem desejar isso?

7. Olhe para o exame minucioso de ordenação como uma confirmação do seu chamado ao ministério. Lembre-se de que o Deus trino usa a sua Igreja para separar os homens para o ministério evangélico. Quando um homem tem um senso pessoal de chamado para o ofício da Igreja, e este chamado é confirmado tanto pela eleição de uma congregação local, como por um grupo de presbíteros previamente ordenados, então, e somente então, aquele homem saberá com confiança que o Espírito Santo fez dele um supervisor (At 20.28). O seu motivo para o ministério deve ser o amor ao Deus que primeiro o amou em Cristo (1Jo 4.19). O seu objetivo no ministério deve ser proclamar o amor do Pai, como é manifesto através da graça de Jesus Cristo, por meio da comunhão e consolo do Espírito Santo (Ef 2.18; 2Co 13.14). No entanto, o seu chamado para o ministério nunca será um desejo interno ou uma mera decisão individual. Facilmente nos enganamos. Os homens podem ter um invencível “senso de chamado” para o ministério em seus corações, mas a menos que a Igreja concorde que este é o caso, tanto no nível local, quanto no presbitério, a verdade é que tais homens não foram realmente "chamados" para o ministério. A simples razão para isto é que a Igreja ainda não lhe deu um chamado para trabalhar como um de seus ministros! Conheço homens que creem que são chamados para o ministério e, no entanto, praticamente ninguém na Igreja parece concordar com eles. Que você nunca se esqueça: "O que confia no seu próprio coração é insensato" (Pv 28.26). O seu exame não é formal nem supérfluo. Não há exemplo de um oficial ordinário no Novo Testamento que não foi eleito pelo povo e ordenado pela imposição das mãos de um presbitério. Um chamado para o ministério é sempre um assunto da Igreja. Se Cristo está chamando você para o ministério, então seu exame é parte de como ele está fazendo isso.

8. Lembre-se de que os seus examinadores são, em potencial, seus futuros colegas no ministério. Se eles foram devidamente chamados ao seu ofício, então o desejo deles é o bem da Igreja. Isso inclui o bem da sua alma. Você deve evitar ver esses homens como “inimigos”, mas olhe para eles como soldados companheiros no Senhor Jesus Cristo. Alguns deles são experientes veteranos de quem você muito tem a aprender. Quantas vezes os rapazes zombaram das críticas que descobriram mais tarde serem “palavras de sabedoria e instrução” (Pv 1.2)?

9. Considere que o exame de ordenação como um excelente exercício de autonegação. Quer você seja aprovado ou fracasse, o Senhor atua tanto em você quanto na Igreja por meio desse processo. Submeta-se à sua providência humildemente e, se for possível, com alegria. Um bom teste para saber se estamos nos negando é considerar se nos encontramos reclamando do processo. Alunos de teologia que se queixam de uma carga horária pesada, tornam-se candidatos que se queixam dos seus exames. Candidatos que se queixam dos seus exames, por sua vez, tornam-se ministros que se queixam das suas igrejas e presbíteros. Ministros fiéis e trabalhadores percebem rapidamente que o curso mais rigoroso de treinamento no seminário não pode ser comparado às dificuldades do pastorado. Se você se encontrar desenvolvendo um padrão pecaminoso nesta área, então negue-se, ore para que esteja contente em toda e qualquer situação em que você estiver (Fp 4.11), leia Nm 11 e continue regularmente!

10. Preparar-se para que o seu exame forneça uma base mais forte para o conhecimento bíblico e a piedade pessoal. Devemos evitar fazer uma distinção nítida entre conhecimento e piedade. Precisamos saber o que praticamos e devemos praticar o que sabemos. A verdade, como é revelada nas Escrituras, é de acordo com a piedade (Tt 1.1). Toda verdade da Escritura, incluindo - entre muitas outras - as duas naturezas de Cristo, o pacto das obras, a eficácia dos sacramentos, a lei de Deus e a Trindade, são ridicularizadas como "sutilezas" teológicas. Todavia, cada uma destas áreas tem implicações pastorais significativas. Se não vemos como a verdadeira teologia é “proveitosa para a doutrina, para a repreensão, para a correção, para a instrução na justiça” (2Tm 3.16), então, a culpa invariavelmente está mais em nós do que na Palavra do Deus trino. Pois, toda verdade teológica deve aumentar nossa comunhão pessoal com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Para passar num exame da OAB, um futuro advogado deve conhecer as leis e como aplicá-las. Os mesmos padrões se aplicam à medicina e a outras disciplinas. Deveríamos esperar menos diligência e menor rigor em relação aos futuros ministros do evangelho? Estudar para um exame, frequentemente, força os homens a se unirem de forma mais abrangente do que aprenderam no seminário. Os candidatos devem usar essa rara oportunidade para orar essas verdades de maneira mais completa em seus corações e vidas. Preparar-se para o seu exame obriga-os a rever o seu conhecimento, mas deixe-o servir como uma ocasião para casar o seu conhecimento com a sua piedade. Se você buscar o seu exame para o ministério como um ato de piedade, então você nunca achará a experiência estéril ou infrutífera.


Apêndice: John Erskine (1721–1803)
Sobre a importância do exame de ordenação


Em 1750, John Erskine pregou um sermão intitulado “Sobre as Qualificações Necessárias para os Professores do Cristianismo”. Erskine foi um influente ministro escocês que ajudou a preparar para a publicação o livro A História da Obra da Redenção de Jonathan Edwards. Ele concluiu este sermão com uma exortação aos presbitérios sobre o seu envolvimento na ordenação de homens para o ministério do Evangelho. O material de Erskine reforça o que está escrito acima, observando os exames ministeriais do ponto de vista do corpo examinador. Dividi os enormes parágrafos originais em partes menores para facilitar a leitura.[4]

Quão terrível é a advertência de Paulo a Timóteo a todos os que estão preocupados em ordenar alguém ao ofício pastoral! Não imponha as mãos apressadamente sobre ninguém, nem participe dos pecados de outros homens: mantenha-se puro. Como se ele tivesse dito, embora você não tenha nenhuma razão particular para suspeitar da desqualificação de um candidato para o ministério, não seja por isso que avaliará de modo leviano e superficial as qualificações dele, mas examine, com o máximo cuidado e exatidão o seu caráter moral e aptidão para ensinar; pois, por indolência e descuido você deixará de fazer essas questionamentos, por meio dos quais poderia descobrir o que está errado; ou se, através de uma ternura excessiva pelos candidatos, através de temor de homens, que em si é uma armadilha, ou através de algum outro motivo indigno, você até agora for conivente com seus vícios ou defeitos conhecidos, de modo a conceder-lhe a ordenação, por essa conduta, você participa com ele, não apenas nos pecados que ele cometeu, mas também naqueles que posteriormente cometerá, enquanto ensina ou vive malignamente; e, portanto, você responderá por todas as consequências perniciosas da sua ordenação, arruinando a sua própria alma e as almas do seu rebanho. Caso outros ministros sejam imprudentemente precipitados neste assunto, e exortem-no a concordar com eles, não retroceda com o pedido ou autoridade deles, proceda contrário ao próprio julgamento, para que você não seja condenado com a culpa deles.

No verso que antecede essa advertência, os ministros são cobrados a não preferirem um antes do outro, e a nada fazerem por parcialidade, ou seja, não decidirem uma causa a favor ou contra uma pessoa, até ouvirem o que pode ser declarado de ambos os lados; não preferirem um antes do outro, onde não parece haver razão suficiente para tal preferência; e não serem influenciados pela amizade ou preconceito, sendo favorável a um e mais severo com outro do que deveríamos ser. E, no final do capítulo, encorajando essa diligência, o apóstolo nos informa que, se prosseguirmos com a devida deliberação, não perderemos nosso esforço, mas, ordinariamente poderemos formar um juízo sobre os candidatos. Os pecados de alguns homens são antecipadamente revelados, indo adiante deles para julgamento; no entanto, há alguns homens que seus pecados só se manifestam depois. Da mesma forma, também, as boas obras de alguns são manifestas de antemão; e, por exemplo as suas boas obras, que de outro modo, não podem ser escondidas. O significado é que os pecados de alguns homens são tão hediondos e notórios que antecedem o julgamento, pouco ou nenhum discernimento é necessário para descobri-los. E os pecados de outros os seguem para o julgamento; porque, embora menos notados, eles também podem, na maioria dos casos, pela devida investigação, serem trazidos à luz. Da mesma forma, as boas obras de alguns, e sua aptidão para a ordenação, são facilmente discernidas, mesmo antes de passarem por um julgamento formal; e aquelas boas obras que não são manifestas de antemão, mas que, pela modéstia ou pela obscura situação de quem as pratica, são pouco observadas, podendo muitas vezes, por uma busca diligente serem descobertas.

Desta notável passagem ... Grotius observa, que não devemos apenas perguntar se um candidato à ordenação é inocente de crimes atrozes, mas se a sua conduta é muito boa, vendo que as ações piedosas do eminente piedoso, raramente, são escondidas. E, de acordo com isso, Paulo exige, não apenas que um bispo seja irrepreensível, mas que tenha um bom testemunho dos de fora, para que ele não caia no opróbrio; de modo que o livramento de escândalos grosseiros, sem evidências positivas de uma disposição piedosa, não é garantia suficiente para que ordenemos alguém. É criminoso impor as mãos sobre um candidato, se não tivermos base positiva para esperar que ele pregue com proveito; e é igualmente criminoso fazê-lo, se não tivermos base positiva para esperar que seja um exemplo para os outros em palavra, conversação, caridade, espírito, fé e em pureza; pois a última qualificação é realmente uma parte do dever do ministro, e realmente um meio de ser usado para salvar almas, como o primeiro. As coisas, diz Paulo a Timóteo, de que ouviste de mim entre muitas testemunhas, o mesmo comprometa-se com os homens fiéis, que também ensinarão aos outros. Devemos ter provas verificáveis de sua fidelidade, bem como da sua capacidade de ensinar. Até mesmo os diáconos são primeiramente provados e somente depois, autorizados a ocuparem o ofício de diácono. É óbvio, então, que os ministros, cujo ofício é muito mais honroso e importante, não sejam autorizados a exercê-lo, até que a sua aptidão para isso seja devidamente provada.

Se alguém alegar que não haveria um número suficiente de ministros para todas as nossas igrejas, caso ordenássemos com tamanha cautela, eu respondo, é melhor arriscar nesse inconveniente do que quebrar uma lei expressa de Cristo, fazendo-nos menos exigentes na ordenação. Vamos nos importar com nosso dever e deixar os eventos para a providência. A rigidez nas admissões pode, de fato, desencorajar os que preferem morrer de fome ou envenenamento, do que alimentar as almas de seus rebanhos. Mas desencorajar tal coisa é altamente louvável: e um pequeno número de pastores capazes e fiéis, é mais desejável que uma multidão de inexperientes, ignorantes, noviços iletrados, incapazes de explicar ou defender a religião de Jesus; ou de educados que se apostatam do evangelho para a filosofia, que consideram o seu tempo mais útil e agradavelmente gasto no estudo de livros de ciência, do que em estudar as suas Bíblias; ou de mercenários contratados, de uma disposição tão mesquinha e sórdida quanto aquele que, conforme lemos em 1Sm 2.36, se subordinou para ser um sumo-sacerdote por um pedaço de prata e uma porção de pão, dizendo: “Põe-me, peço-te, como um dos ofícios dos sacerdotes, para que eu coma um pedaço de pão”.

Que Deus, em sua misericórdia, impeça que homens tão baixos e infelizes entrem na função sagrada! Que um ministério fiel, capaz e bem-sucedido seja a bênção da nossa terra! Que o glorioso cabeça da Igreja designe todas as moradas do monte Sião, e todas as suas igrejas, pastores segundo o seu próprio coração, para alimentar o seu povo com conhecimento e entendimento! E que ele, cujas palavras são operantes, diga à toda nossa igreja, e em particular a esta região: “Este é meu descanso para sempre; aqui habitarei; porque eu desejei isto. Abençoarei abundantemente a sua provisão; satisfarei com pão aos seus pobres. Também vestirei os seus sacerdotes com justiça, e os seus santos gritarão de alegria. Eu ordenei uma lâmpada para o meu ungido. Revestirei com vergonha os seus inimigos; mas sobre si a sua coroa florescerá.”

NOTAS:
[1] Ryan M. McGraw é um ministro da Presbyterian Church in America, em Conway, Carolina do Sul. Ele é graduado no Greenville Presbyterian Theological Seminary e na Universidade do Estado Livre, Bloemfontein, África do Sul. Este artigo foi originalmente publicado na revista Servo Ordenado Online, em Fevereiro de 2012. http://opc.org/os.html?article_id=294&issue_id=72 .
[2] As citações bíblicas são Almeida Revista e Atualizada. O Dr Ryan usou a New King James Version.
[3] Veja o “Apêndice” abaixo.
[4] Retirado de John Brown (de Edimburgo), ed., The Christian Pastor’s Manual: A Selection of Tracts on the Duties, Difficulties, and Encouragements of the Christian Ministry (orig. pub., Edinburgh, 1826, reprint, Ligonier, PA: Soli Deo Gloria Publications, 1991), 136–140. Infelizmente este excelente volume está esgotado. No entanto, pode ser baixado na íntegra de http://www.archive.org/details/christianpastor00brow .