Edwards
adotava a categorização dos dons como ordinários e extraordinários. Por
extraordinários ele diz
tais
como o dom de línguas, de milagres, de profecia etc., são chamados extraordinários porque, como tais, não
são dados no curso ordinário da providência divina. Não são outorgados do modo
comum e providencial de Deus tratar com seus filhos, mas só em ocasiões
extraordinárias, como foram outorgados aos profetas e apóstolos, tal como a
capacidade de revelar a mente e vontade de Deus antes que o cânon das
Escrituras fosse completado, e assim à igreja primitiva, para sua fundação e
estabelecimento no mundo. Mas, desde que o cânon das Escrituras se completou e
estas foram estabelecidas, estes dons extraordinários cessaram.[4]
Noutro
sermão ele reitera que
no
conhecimento que o apóstolo diz que se desvanecerá está implícito um dom
particularmente miraculoso que subsistia na igreja de Deus naqueles dias. Pois
o apóstolo, como já vimos, está aqui comparando a caridade com os dons
miraculosos do Espírito – aqueles dons extraordinários que eram comuns na
igreja daqueles dias; um desses dons era o dom de profecia, e outro, o dom de
línguas, ou o poder de falar em idiomas que nunca tinham sido aprendidos. Ambos
esses dons são mencionados no texto; e o apóstolo diz que acabariam e
cessariam. [...] É este dom miraculoso que o apóstolo afirma aqui que
desapareceria, juntamente com os demais dons miraculosos dos quais ele fala,
tais como profecia e o dom de línguas etc. Todos esses foram dons
extraordinários outorgados por certo tempo para a introdução e estabelecimento
do cristianismo no mundo; e, quando se atingiu seu propósito, todos eles
desapareceram e cessaram.[5]
Edwards
declara que não há mais revelações hoje.
Se
em algum momento alguém tem uma impressão extraordinária causada em sua mente, e
crer que isso procede de Deus, a revelar-se algo que sucederá no futuro, isso,
se fosse real, provaria ser um dom extraordinário do Espírito Santo, a saber, o
dom de profecia; mas, à luz do que foi dito, é evidente que esse não seria um
sinal seguro da graça ou de algo salvífico; sim, se fosse real, repito – pois,
na verdade, não temos razão para considerar tais coisas, como se pretende em
nossos dias, como sendo algo mais além do que ilusão.[6]
Ele
negava qualquer possibilidade de restauração dos dons extraordinários. A
doutrina da luz divina no pensamento de Edwards é, por vezes, mal compreendida.
Ela não pode ser confundida com o ensino dos entusiastas do século XVI, nem com
os quackers no século XVII, em que se alegava uma comunicação revelacional
imediata à alma pelo Espírito Santo. Ele define a luz divina como sendo “um
verdadeiro sentido da excelência das coisas reveladas na Palavra de Deus, e
convicção da verdade e da realidade que delas então emana.”[7]
Ele negava que esta luz tenha natureza independe da Escritura Sagrada, ou que
seja dada sem a sua mediação. Por isso, ele declara que
essa
luz espiritual não é a sugestão de algumas novas verdades ou proposições não
contidas na Palavra de Deus. Essa sugestão de novas verdades ou doutrinas à
mente, independentemente de qualquer revelação anterior a essas proposições,
seja em palavra ou escrita, é inspiração; como os profetas e apóstolos tiveram,
e como alguns entusiastas pretendem ter. Mas essa luz espiritual da qual estou
falando é coisa bem diferente da inspiração. Ela não revela nova doutrina, não
sugere nova proposição à mente, não ensina coisa nova sobre Deus, ou Cristo, ou
outro mundo, não ensinado na Bíblia, mas apenas dá uma apresentação correta
dessas coisas que são ensinadas na Palavra de Deus.[8]
Apesar de Edwards aceitar com discernimento,
interpretando à luz das Escrituras, as experiências sobrenaturais que ocorreram
durante o Grande Despertamento, em nenhum momento ele admitiu a ocorrência dos
dons revelacionais, ou a possibilidade de novas revelações pelo Espírito Santo
à igreja em seus dias.
[1] Um pastor
contemporâneo de Edwards, em junho de 1743, escreveu: “não sabemos de visões,
transes nem revelações; mas de exortações fraternais, com a mais modesta e
afetuosa do que é representada”. Joseph Tracy, The Great Awekening (Edinburg, The
Banner of Truth, 1976), p. 326.
[2] George
Marsden, A breve vida de Jonathan Edwards
(São José dos Campos, Editora Fiel, 2015), p. 107.
[3] Dentre eles James Ryle, John Arnott, Guy Chevreau,
Gerald Coates, Patrick Dixon, William DeArteaga, Nick Needham, Rand Clark. Veja
em Hank Hanegraaff, Counterfeit Revival –
Looking for God in all the wrong places (Nashville, Word Publishing, 2001),
pp. 95-115.
[4] Jonathan
Edwards, Caridade e seus frutos – um
estudo sobre o amor em 1 Coríntios 13 (São Paulo, Editora Fiel, 2015), pp.
50-51.
[5] Jonathan
Edwards, Caridade e seus frutos – um
estudo sobre o amor em 1 Coríntios 13, pp. 342-343.
[6] Jonathan
Edwards, Caridade e seus frutos – um
estudo sobre o amor em 1 Coríntios 13, pp. 65-66.
[7] Jonathan
Edwards, A busca do crescimento (São
Paulo, Editora Cultura Cristã, 2010), p. 33.
[8] Jonathan
Edwards, A busca do crescimento, p.
32.