O Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil em sua última reunião, em Julho, decidiu sair da AMIR - Aliança Mundial das Igrejas Reformadas. Talvez, alguém que esteja descontextualizado se pergunte, porque a IPB, sendo uma denominação histórico e teologicamente "reformada" deixou a AMIR? A resposta é simples, porque embora as denominações que participem da AMIR descendam historicamente da Reforma calvinista, abandonaram a sua identidade doutrinária realmente reformada. Muitos deles poderiam ser classificados como adeptos da teologia feminista e da teologia da libertação, Bultmannianos, Tillichianos, e principalmente Barthianos, mas não calvinistas!
Após ler o artigo[1] da colunista Letícia Ferreira fornecendo uma descrição fiel aos fatos da “24ª Assembléia Geral da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas” (AMIR) qualquer um ficaria estarrecido com o seu teor! Ciente de que a apostasia doutrinária, de vários grupos intitulados reformados, têm se tornado uma realidade cada vez maior, é preocupante que se torne também cada vez mais próxima de nós presbiterianos brasileiros.
Deveríamos continuar participando desse banquete pagão e celebrar a comunhão dos que ceiam a comida sacrificada aos ídolos? Nesse caldeirão onde se encontram as mais diversas tendências teológicas neo-ortodoxas, sendo apresentadas com naturalidade, exigindo tolerância ao pecado e, redefinindo o amor cristão como adoção dum pluralismo confessional e sexual, devemos gritar com eloqüência profética “há veneno na panela”!
As fotos da 24ª Assembléia Geral da AMIR podem ser usadas para descrever eventos totalmente diferentes daquilo que chamamos de cristãos. A foto do púlpito (pág. 14) assemelha-se a um altar de Umbanda. O arco-íris cobrindo os participantes do congresso parece mais um encontro da “Parada Gay” (pág. 15). O que seria a celebração da Santa Ceia é um ritual da Nova Era. Mas fazer da cruz um manequim de mãe-de-santo já é o cúmulo do absurdo!
Qual seria a explicação que devo dar àqueles que conhecendo o compromisso teológico da AMIR, me questionam acerca do propósito da participação da IPB nela? Membros da igreja que pastoreio ficaram horrorizados! Alunos de seminários ficaram confusos! Se somos uma denominação confessional calvinista, e creio, que seja num sentido estrito do termo. Se somos conservadores, crendo que a Escritura Sagrada é a Palavra de Deus, padrão absoluto de verdade, única regra de fé e prática. Se somos uma igreja que tem procurado encontrar-se fiel e pura, tanto em doutrina como na prática. Se somos chamados pela graça para pregar acerca do Deus Santo, que odeia o pecado e ama o pecador, chamando-o ao arrependimento e fé em Cristo Jesus e, que nos santifica pela obra do seu Espírito Santo. Então, abertamente, eu mesmo pergunto: o que estaríamos fazendo no meio da AMIR?
O que procuramos na AMIR? Perdemos alguma coisa essencial para reencontrar ali? Está nos faltando alguma coisa que somente eles podem dar? Somos tão ignorantes que apenas eles têm o melhor ensino para passar-nos? Para quem não entendeu ainda, faço uma declaração bastante sincera, saímos desse meio, porque tem veneno na panela.
Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki
Nota:
[1] Jornal Brasil Presbiteriano, Outubro de 2004. Ano 46/ No. 601, pp. 14-15
O labor teológico de quem se preocupa em oferecer a sistematização e aplicabilidade das Escrituras para a proclamação do Reino de Deus
24 novembro 2006
Há veneno na panela
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História da Igreja
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
21 novembro 2006
Congresso Fé Reformada
Olá amados
Desculpem-me não atualizar o blog durante todo esse tempo. Estive em Manaus participando do Congresso Fé Reformada. Este foi o 7o. congresso realizado em Manaus, por iniciativa da Igreja Presbiteriana de Cidade Nova. Tivemos dias de banquete espiritual, foi maravilhoso ouvir e compartilhar as exposições bíblicas e teológicas daqueles servos de Deus.
Os palestrantes foram:
1. Jaime Marcelino
A Comunhão do Espírito Santo
2. Iain Murray
O Espírito Santo na História da Igreja
3. Frederico Orr
O Preparo de Obreiros à Seara
4. Solano Portela
A Multiforme Atuação do Espírito Santo
5. Hermisten M.P. Costa
O Espírito Santo e a Palavra
6. Mauro Meister
O Espírito Santo no Antigo Testamento
7. Ronaldo Lidório
O Espírito Santo e as Missões
Acima estão as fotos de alguns dos preletores. Mas, deixo aqui o convite para que agendem para o ano de 2007, que se realizará em 31 de Outubro à 3 de Novembro, sendo o próximo tema "a família na Palavra" [informações do próprio Rev. Jaime, organizador do evento]. Espero que mais servos comprometidos com a Palavra e com a Igreja de Cristo sejam despertados para participar deste congresso tão edificante.
Abraços
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
14 novembro 2006
A plenitude e batismo com o Espírito
Os equívocos sempre foram inimigos de uma correta ortodoxia e, conseqüentemente, de uma correta ortopraxia. Se não se entender perfeitamente o que se ensina a conseqüência será uma vida marcada por uma prática deficiente e frustrante. Diante disso, este artigo identifica dois pressupostos a respeito do assunto, o carismático e o reformado, e se propõe a expô-los argumentando a favor do pressuposto reformado. Estaremos dando, assim, condições de melhor desfrutar da ação do Espírito Santo em nós. O que se tem visto nos arraiais da igreja evangélica brasileira é que, quando um indivíduo recebe o batismo com o Espírito Santo, ele é autenticado por uma espiritualidade emergente e “num passe de mágica” torna-se um super crente.
Muitas são as doutrinas formuladas em relação ao Batismo com o Espírito Santo. Afinal, em qual momento a pessoa é batizada com o Espírito? É claro que não se tem a intenção de se alongar nesse ponto, pois não é o objetivo primário do artigo, mas algumas coisas devem ser ditas, para que o ensaio seja embasado em uma posição firme e pautada na Bíblia. Iniciaremos a abordagem a respeito do Espírito Santo analisando alguns pressupostos carismáticos, já que estes diferem em pontos vitais sobre a questão, e é o que mais tem assolado as igrejas nesses últimos tempos. E, também, o que mais confunde “plenitude do Espírito” com “batismo com o Espírito”.
Pressupostos Carismáticos
O modelo de Atuação do Espírito Santo na vida do pecador, segundo esse pressuposto, diz que, primeiro, o Espírito Santo batiza o pecador arrependido no corpo, na regeneração e, segundo, Cristo batiza o crente com o Espírito Santo, posteriormente, com poder para servir, mediante busca pessoal. Para isso, usam como argumentação alguns textos das Escrituras, como vemos abaixo:
1.º - João 7.39; 16.7 - Jesus precisava ir/ser glorificado, antes do Espírito Santo ser enviado.
2.º - João 20.1-9 - Jesus ressuscita glorificado.
3.º - João 20.22 - Jesus envia o Espírito Santo sobre os discípulos já convertidos.
4.º - Atos 1.4,5,8 - Jesus manda esperar um batismo/revestimento de poder para testemunhar.
5.º - Atos 2.1-4 - Tal batismo se dá!
Diante desses argumentos carismáticos, faz-se necessária uma contra argumentação para um esclarecimento completo. Primeiramente, deve-se levar em conta que para haver batismo tem que estar presente: o batizador, o batizando, o elemento e o propósito. No modelo carismático, onde o Espírito Santo batiza o pecador arrependido no corpo, na regeneração, a pergunta é: qual o elemento do batismo aqui? Com o que o Espírito Santo batiza? Com o próprio Espírito Santo? Não há como o Espírito Santo ser o batizador e o elemento ao mesmo tempo. Esse modelo carismático trás o Espírito Santo como Batizador; como Batizando o pecador arrependido; como propósito a regeneração. Mas, e o elemento? Nesse modelo carismático fica faltando o elemento para que seja válido e, ainda, o objetivo é somente a regeneração, sendo necessário uma “segunda bênção” para que o propósito seja totalmente completo.
Passemos agora, ao problema dos textos usados pelos carismáticos como argumentação para se afirmar o batismo com o Espírito Santo como uma bênção posterior e distinta da conversão. Trabalharemos com o texto de João 20.22: “E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”.
Decifrando o texto de João 20.22:
Pedro decifra-o ao explicar o fenômeno em Atos 2.1-4. Regra número dois de Hermenêutica: “A Bíblia é seu Intérprete; a Escritura explica melhor a Escritura”.[1]
1.º - Refere-se a Atos 2.4 como sendo a sua experiência inicial com o Espírito Santo (Atos 11.15);
2.º - Identifica a experiência de Cornélio (Atos 11.15-17 – arrependimento/batismo com Espírito Santo) com a sua própria experiência em Pentecostes (Atos 2.4), ambas prometidas em Atos 1.5 (v. Joel 2.28-32);
3.º - Prega o recebimento do dom/promessa do Espírito Santo aos três mil - 3.000 – (Atos 2.38,39), a mesma promessa, derramada em Atos 2.4 (v.2.33) – Atos 2.16-21; 1.5, com base exclusivamente no arrependimento;
4.º - Afirma que somente após a total e completa exaltação de Cristo (cruz, ressurreição, exaltação) [2] é que Cristo derramou o Espírito Santo e não antes (i.e., João 20.22).[3]
Como conclusão inicial observaremos que é Atos 2.1-4 e não João 20.22 o cumprimento da promessa de João 1.33; 7.39; 14.16; 16.7; Atos 1.5; 2.16-21 na experiência atípica dos apóstolos (atípica porque creram em Cristo antes da inauguração da Era do Espírito Santo em Pentecostes) ou mesmo durante o Pentecostes (!?) – ver Atos 11.17.
- Mas... e João 20.22?
1.º - Deve-se atentar para as regras da hermenêutica bíblica, em especial à da ANALOGIA DA ESCRITURA que, considerando a Bíblia como um todo inerrante e auto-explicativo, propõe que uma doutrina, como a da segunda bênção, baseada em João 20.22, deva ser descartada porque:
a) O número de passagens que apóiam a doutrina é extremamente reduzido;
b) João 20.22 é tido pelos estudiosos como texto de difícil interpretação, e não se deve apoiar uma doutrina em cima de um único texto, ainda mais com este grau de dificuldade. Champlin[4] lista seis interpretações para esse texto, somada à interpretação carismática, tem-se sete interpretações para um único texto. Vejamos, brevemente, as seis interpretações de João 20.22:
1. Meramente um anúncio simbólico sobre a futura vinda do Espírito Santo;
2. O Senhor teria transmitido aos discípulos os dons da santificação e do apostolado, embora não ainda os dons plenos do Espírito Santo, que se daria no dia do Pentecostes;
3. Jesus teria soprado “um espírito santo” e não “o Espírito Santo”;
4. Houve ali uma doação preliminar do Espírito Santo, que era a promessa e a garantia de que seria concretizada aquela doação mais completa, quando o Senhor Jesus fosse glorificado;
5. Este texto do Evangelho de João equivale à narrativa sobre o dia do Pentecostes, no segundo capítulo do livro de Atos;
6. Aqueles discípulos receberam uma comissão e uma missão especial (ofício especial de apostolado – v.23).
2.º - Pode-se crer que em João 20.22 aconteceu algo semelhante ao modo de operação do Espírito Santo no Velho Testamento, isto é, o Espírito Santo “habitava com” mas não “estava em” os apóstolos (João 14.17). Qual a finalidade de João 20.22? Missão apostólica (v.23).
3.º - Ou que João 20.22 foi um ato simbólico de Cristo diante da solene hora que se aproximava do início da Nova Aliança, inaugurada pelo Espírito Santo em Atos 2.1-4.
- O simbolismo profético era tipicamente judaico (Ex. Ágabo – Atos 21.10,11);
- Gênesis 2.7 usa o mesmo verbo “soprar” quando da criação do homem (analogia).
Como conclusão final observaremos que a interpretação carismática para João 20.22, das sete possíveis, é a que mais contraria o restante do Novo Testamento, por não levar em conta todos os aspectos mencionados acima.
Pressupostos Reformados
A teologia reformada, ao abordar sobre o batismo com o Espírito Santo, relaciona-o ao ato da conversão. Ato único e restritivo aos que nasceram de novo , ou seja, aos que foram levados pelo Espírito a Cristo para a salvação.[5] Podemos definir este conceito de forma mais clara dizendo que a escritura ensina que a experiência normal do Espírito Santo coincide com a regeneração-conversão, e que são selados por este mesmo Espírito todos os que crêem genericamente em Cristo Jesus. E, qualquer pessoa que tenha sido regenerada pelo Espírito Santo, também foi batizada no Espírito Santo e tem o seu selo do Espírito.
É importante que se diga que o Espírito Santo não batiza, ele é o elemento do batismo interior. Quem batiza é o Senhor Jesus, pois nos diz o texto sagrado: "...e Ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo" (Mt.3.11).[6] Diante disso, podemos começar dizendo que uma das finalidades do batismo com o Espírito Santo na vida do crente, seria a nossa inclusão na igreja ou corpo de Cristo, que é composta de todos os salvos.[7] Através do batismo somos introduzidos e unidos ao corpo místico de Cristo. Entendendo desta forma não podemos desvencilhar, ou seja, separar o batismo do ato da conversão.
O batismo com o Espírito Santo, segundo a teologia reformada, introduz no cristão selo, a marca de Deus, que o torna separado (Ef.1.13), como propriedade exclusiva de um Deus zeloso (1Pe.2.9). Somos separados do mundo para Deus, e comissionados para irmos ao mundo.
Desta forma ganhamos o direito de sermos chamados filhos de Deus, e o privilégio de sermos co-herdeiros com Cristo das promessas presentes e, também, futuras. Esse selo nos estimula a justificarmos a nossa eleição e vocação, ou seja chamado, através de uma vida de santidade e serviço, aos santos e a Deus (Ef 5.21). O batismo pode ser entendido como algo que transforma o nosso caráter e nos conduz a buscarmos uma vida de fé, pureza e santidade, ao mesmo tempo que nos capacita para a obra de Deus no mundo.
Como já começamos a dizer logo acima, o agente deste batismo é o Senhor Jesus. Os receptores são todos aqueles que crêem nele, e só nele confiam como Senhor e salvador. É desta forma que entende a teologia reformada, pois compreende que, em nenhum momento, as Sagradas Escrituras encorajam o buscar por esse batismo com o Espírito Santo após a conversão ou regeneração, já que é um ato único e restritivo ao momento da conversão.[8]
Na teologia reformada somos encorajados a buscarmos a evidência do Espírito Santo em nós através de um encher diário e constante do Espírito Santo.[9] No modelo reformado, o batismo com o Espírito Santo trás Jesus como Batizador; o pecador arrependido como batizando; o Espírito Santo como o elemento nesse batismo; e, como propósito, a regeneração e a capacitação (dons) do pecador, não sendo necessário, portanto, nenhuma segunda bênção.
Não há, na teologia reformada, algum tipo de ritual para a recepção do Espírito Santo, tal como a crisma na igreja católica ou a oração comunitária no pentecostalismo. Na visão reformada, a experiência do batismo é instantânea e inesperada. Não existe um local marcado para que tal aconteça, como querem os chamados movimentos pentecostais.
Não há nenhum sinal externo específico para aquele que foi batizado com o Espírito Santo. Quando se fala que não há nenhum sinal externo, é bom que fique claro que se refere a manifestações sobrenaturais como evidência de ter se recebido tal batismo. Agora, é claro que aquele que foi batizado pelo Espírito Santo no ato de sua conversão, começa a evidenciar mudanças profundas em seu caráter e modo de vida. O que se pode dizer com certeza, é que os sinais que atestam esta experiência são os mesmos da conversão. O fruto do Espírito, presente na vida do cristão, é que evidencia essa experiência ímpar.
O batismo e plenitude do Espírito Santo sempre foram conceitos confusos para alguns crentes. Muitos confundem tais conceitos, sendo, então, tidos como sinônimos, ou desconhecendo totalmente o que seja plenitude. Portanto, é imprescindível que se diga que o primeiro se refere a um ato único, como já foi dito, restritivo ao momento da conversão. O segundo é um processo constante que, por durar a vida inteira, deve ser estimulado e exercitado pelo crente.
Notas:
[1] Princ. Interp. Bíblia. W. Henrichsen, pp.14-16.
[2] A glorificação de Cristo, iniciada na cruz, inclui sua ressurreição, mas atinge o ápice glorioso quando da Sua designação como Soberano, a direita de Deus (...na ascensão!).
[3] Atos 2.32,33,36; 5.31; João 7.39; 17.5; 14.16; 16.7; Efésios 1.20-23. Ver também João 20.17 (após a ressurreição!!!)e imediatamente antes de João 20.22.
[4] CHAMPLIM, R. N. O Novo Testamento Interpretado – Versículo por Versículo. São Paulo: Candeia, 1995. p.640.
[5] CALVINO, Juan. Breve Instruccion. Baíses Bajos: Felire, 1990. pp.41,42
[6] Sobre isto ver a página 13 deste trabalho, onde desenvolveu-se um pouco sobre a questão de que o Espírito Santo não pode ser o batizador e o elemento ao mesmo tempo. Portanto, no ato do batismo/regeneração, Jesus é o batizador e o Espírito Santo o Elemento.
[7] CALVINO, Juan. Op. Cit., pp.50,51.
[8] Confissão de Fé de Westminster, Cap. XI, da Justificação
[9] Confissão de Fé de Westminster, Cap. XII, da Santificação.
Rev. Baltazar Lopes Fernandes
Muitas são as doutrinas formuladas em relação ao Batismo com o Espírito Santo. Afinal, em qual momento a pessoa é batizada com o Espírito? É claro que não se tem a intenção de se alongar nesse ponto, pois não é o objetivo primário do artigo, mas algumas coisas devem ser ditas, para que o ensaio seja embasado em uma posição firme e pautada na Bíblia. Iniciaremos a abordagem a respeito do Espírito Santo analisando alguns pressupostos carismáticos, já que estes diferem em pontos vitais sobre a questão, e é o que mais tem assolado as igrejas nesses últimos tempos. E, também, o que mais confunde “plenitude do Espírito” com “batismo com o Espírito”.
Pressupostos Carismáticos
O modelo de Atuação do Espírito Santo na vida do pecador, segundo esse pressuposto, diz que, primeiro, o Espírito Santo batiza o pecador arrependido no corpo, na regeneração e, segundo, Cristo batiza o crente com o Espírito Santo, posteriormente, com poder para servir, mediante busca pessoal. Para isso, usam como argumentação alguns textos das Escrituras, como vemos abaixo:
1.º - João 7.39; 16.7 - Jesus precisava ir/ser glorificado, antes do Espírito Santo ser enviado.
2.º - João 20.1-9 - Jesus ressuscita glorificado.
3.º - João 20.22 - Jesus envia o Espírito Santo sobre os discípulos já convertidos.
4.º - Atos 1.4,5,8 - Jesus manda esperar um batismo/revestimento de poder para testemunhar.
5.º - Atos 2.1-4 - Tal batismo se dá!
Diante desses argumentos carismáticos, faz-se necessária uma contra argumentação para um esclarecimento completo. Primeiramente, deve-se levar em conta que para haver batismo tem que estar presente: o batizador, o batizando, o elemento e o propósito. No modelo carismático, onde o Espírito Santo batiza o pecador arrependido no corpo, na regeneração, a pergunta é: qual o elemento do batismo aqui? Com o que o Espírito Santo batiza? Com o próprio Espírito Santo? Não há como o Espírito Santo ser o batizador e o elemento ao mesmo tempo. Esse modelo carismático trás o Espírito Santo como Batizador; como Batizando o pecador arrependido; como propósito a regeneração. Mas, e o elemento? Nesse modelo carismático fica faltando o elemento para que seja válido e, ainda, o objetivo é somente a regeneração, sendo necessário uma “segunda bênção” para que o propósito seja totalmente completo.
Passemos agora, ao problema dos textos usados pelos carismáticos como argumentação para se afirmar o batismo com o Espírito Santo como uma bênção posterior e distinta da conversão. Trabalharemos com o texto de João 20.22: “E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”.
Decifrando o texto de João 20.22:
Pedro decifra-o ao explicar o fenômeno em Atos 2.1-4. Regra número dois de Hermenêutica: “A Bíblia é seu Intérprete; a Escritura explica melhor a Escritura”.[1]
1.º - Refere-se a Atos 2.4 como sendo a sua experiência inicial com o Espírito Santo (Atos 11.15);
2.º - Identifica a experiência de Cornélio (Atos 11.15-17 – arrependimento/batismo com Espírito Santo) com a sua própria experiência em Pentecostes (Atos 2.4), ambas prometidas em Atos 1.5 (v. Joel 2.28-32);
3.º - Prega o recebimento do dom/promessa do Espírito Santo aos três mil - 3.000 – (Atos 2.38,39), a mesma promessa, derramada em Atos 2.4 (v.2.33) – Atos 2.16-21; 1.5, com base exclusivamente no arrependimento;
4.º - Afirma que somente após a total e completa exaltação de Cristo (cruz, ressurreição, exaltação) [2] é que Cristo derramou o Espírito Santo e não antes (i.e., João 20.22).[3]
Como conclusão inicial observaremos que é Atos 2.1-4 e não João 20.22 o cumprimento da promessa de João 1.33; 7.39; 14.16; 16.7; Atos 1.5; 2.16-21 na experiência atípica dos apóstolos (atípica porque creram em Cristo antes da inauguração da Era do Espírito Santo em Pentecostes) ou mesmo durante o Pentecostes (!?) – ver Atos 11.17.
- Mas... e João 20.22?
1.º - Deve-se atentar para as regras da hermenêutica bíblica, em especial à da ANALOGIA DA ESCRITURA que, considerando a Bíblia como um todo inerrante e auto-explicativo, propõe que uma doutrina, como a da segunda bênção, baseada em João 20.22, deva ser descartada porque:
a) O número de passagens que apóiam a doutrina é extremamente reduzido;
b) João 20.22 é tido pelos estudiosos como texto de difícil interpretação, e não se deve apoiar uma doutrina em cima de um único texto, ainda mais com este grau de dificuldade. Champlin[4] lista seis interpretações para esse texto, somada à interpretação carismática, tem-se sete interpretações para um único texto. Vejamos, brevemente, as seis interpretações de João 20.22:
1. Meramente um anúncio simbólico sobre a futura vinda do Espírito Santo;
2. O Senhor teria transmitido aos discípulos os dons da santificação e do apostolado, embora não ainda os dons plenos do Espírito Santo, que se daria no dia do Pentecostes;
3. Jesus teria soprado “um espírito santo” e não “o Espírito Santo”;
4. Houve ali uma doação preliminar do Espírito Santo, que era a promessa e a garantia de que seria concretizada aquela doação mais completa, quando o Senhor Jesus fosse glorificado;
5. Este texto do Evangelho de João equivale à narrativa sobre o dia do Pentecostes, no segundo capítulo do livro de Atos;
6. Aqueles discípulos receberam uma comissão e uma missão especial (ofício especial de apostolado – v.23).
2.º - Pode-se crer que em João 20.22 aconteceu algo semelhante ao modo de operação do Espírito Santo no Velho Testamento, isto é, o Espírito Santo “habitava com” mas não “estava em” os apóstolos (João 14.17). Qual a finalidade de João 20.22? Missão apostólica (v.23).
3.º - Ou que João 20.22 foi um ato simbólico de Cristo diante da solene hora que se aproximava do início da Nova Aliança, inaugurada pelo Espírito Santo em Atos 2.1-4.
- O simbolismo profético era tipicamente judaico (Ex. Ágabo – Atos 21.10,11);
- Gênesis 2.7 usa o mesmo verbo “soprar” quando da criação do homem (analogia).
Como conclusão final observaremos que a interpretação carismática para João 20.22, das sete possíveis, é a que mais contraria o restante do Novo Testamento, por não levar em conta todos os aspectos mencionados acima.
Pressupostos Reformados
A teologia reformada, ao abordar sobre o batismo com o Espírito Santo, relaciona-o ao ato da conversão. Ato único e restritivo aos que nasceram de novo , ou seja, aos que foram levados pelo Espírito a Cristo para a salvação.[5] Podemos definir este conceito de forma mais clara dizendo que a escritura ensina que a experiência normal do Espírito Santo coincide com a regeneração-conversão, e que são selados por este mesmo Espírito todos os que crêem genericamente em Cristo Jesus. E, qualquer pessoa que tenha sido regenerada pelo Espírito Santo, também foi batizada no Espírito Santo e tem o seu selo do Espírito.
É importante que se diga que o Espírito Santo não batiza, ele é o elemento do batismo interior. Quem batiza é o Senhor Jesus, pois nos diz o texto sagrado: "...e Ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo" (Mt.3.11).[6] Diante disso, podemos começar dizendo que uma das finalidades do batismo com o Espírito Santo na vida do crente, seria a nossa inclusão na igreja ou corpo de Cristo, que é composta de todos os salvos.[7] Através do batismo somos introduzidos e unidos ao corpo místico de Cristo. Entendendo desta forma não podemos desvencilhar, ou seja, separar o batismo do ato da conversão.
O batismo com o Espírito Santo, segundo a teologia reformada, introduz no cristão selo, a marca de Deus, que o torna separado (Ef.1.13), como propriedade exclusiva de um Deus zeloso (1Pe.2.9). Somos separados do mundo para Deus, e comissionados para irmos ao mundo.
Desta forma ganhamos o direito de sermos chamados filhos de Deus, e o privilégio de sermos co-herdeiros com Cristo das promessas presentes e, também, futuras. Esse selo nos estimula a justificarmos a nossa eleição e vocação, ou seja chamado, através de uma vida de santidade e serviço, aos santos e a Deus (Ef 5.21). O batismo pode ser entendido como algo que transforma o nosso caráter e nos conduz a buscarmos uma vida de fé, pureza e santidade, ao mesmo tempo que nos capacita para a obra de Deus no mundo.
Como já começamos a dizer logo acima, o agente deste batismo é o Senhor Jesus. Os receptores são todos aqueles que crêem nele, e só nele confiam como Senhor e salvador. É desta forma que entende a teologia reformada, pois compreende que, em nenhum momento, as Sagradas Escrituras encorajam o buscar por esse batismo com o Espírito Santo após a conversão ou regeneração, já que é um ato único e restritivo ao momento da conversão.[8]
Na teologia reformada somos encorajados a buscarmos a evidência do Espírito Santo em nós através de um encher diário e constante do Espírito Santo.[9] No modelo reformado, o batismo com o Espírito Santo trás Jesus como Batizador; o pecador arrependido como batizando; o Espírito Santo como o elemento nesse batismo; e, como propósito, a regeneração e a capacitação (dons) do pecador, não sendo necessário, portanto, nenhuma segunda bênção.
Não há, na teologia reformada, algum tipo de ritual para a recepção do Espírito Santo, tal como a crisma na igreja católica ou a oração comunitária no pentecostalismo. Na visão reformada, a experiência do batismo é instantânea e inesperada. Não existe um local marcado para que tal aconteça, como querem os chamados movimentos pentecostais.
Não há nenhum sinal externo específico para aquele que foi batizado com o Espírito Santo. Quando se fala que não há nenhum sinal externo, é bom que fique claro que se refere a manifestações sobrenaturais como evidência de ter se recebido tal batismo. Agora, é claro que aquele que foi batizado pelo Espírito Santo no ato de sua conversão, começa a evidenciar mudanças profundas em seu caráter e modo de vida. O que se pode dizer com certeza, é que os sinais que atestam esta experiência são os mesmos da conversão. O fruto do Espírito, presente na vida do cristão, é que evidencia essa experiência ímpar.
O batismo e plenitude do Espírito Santo sempre foram conceitos confusos para alguns crentes. Muitos confundem tais conceitos, sendo, então, tidos como sinônimos, ou desconhecendo totalmente o que seja plenitude. Portanto, é imprescindível que se diga que o primeiro se refere a um ato único, como já foi dito, restritivo ao momento da conversão. O segundo é um processo constante que, por durar a vida inteira, deve ser estimulado e exercitado pelo crente.
Notas:
[1] Princ. Interp. Bíblia. W. Henrichsen, pp.14-16.
[2] A glorificação de Cristo, iniciada na cruz, inclui sua ressurreição, mas atinge o ápice glorioso quando da Sua designação como Soberano, a direita de Deus (...na ascensão!).
[3] Atos 2.32,33,36; 5.31; João 7.39; 17.5; 14.16; 16.7; Efésios 1.20-23. Ver também João 20.17 (após a ressurreição!!!)e imediatamente antes de João 20.22.
[4] CHAMPLIM, R. N. O Novo Testamento Interpretado – Versículo por Versículo. São Paulo: Candeia, 1995. p.640.
[5] CALVINO, Juan. Breve Instruccion. Baíses Bajos: Felire, 1990. pp.41,42
[6] Sobre isto ver a página 13 deste trabalho, onde desenvolveu-se um pouco sobre a questão de que o Espírito Santo não pode ser o batizador e o elemento ao mesmo tempo. Portanto, no ato do batismo/regeneração, Jesus é o batizador e o Espírito Santo o Elemento.
[7] CALVINO, Juan. Op. Cit., pp.50,51.
[8] Confissão de Fé de Westminster, Cap. XI, da Justificação
[9] Confissão de Fé de Westminster, Cap. XII, da Santificação.
Rev. Baltazar Lopes Fernandes
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Teologia Sistemática
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10 novembro 2006
Recursos para ser cheio do Espírito
O mesmo Espírito que nos convence do pecado, nos purifica, nos sela e nos sustenta é o que nos dá condições de, não só perseverarmos mas, também, de crescermos em santificação e graça. Essas condições proporcionadas pelo Espírito não são reveladas apenas a alguns “iniciados” e ocultas para a maioria, mas são proporcionadas a todos os crentes. E não somente proporcionadas mas incentivadas a serem buscadas e, além disso, recebendo do próprio Espírito, o desejo de assim proceder.
Abaixo, então, observa-se os meios pelos quais somos, a cada dia, repletos do Espírito Santo de Deus.
A Palavra
Diferentemente do catolicismo romano, que considera a igreja e não a Palavra como meio primeiro de graça, sendo os demais meios sujeitos a ela, o calvinismo, segundo o dizer do Dr. Berkhof, honra “a Palavra de Deus nessa qualidade, e até a considera superior aos sacramentos”.[1]
Há uma íntima relação entre a Palavra e o Espírito Santo de Deus, sendo que a Palavra dissociada do Espírito não pode produzir a fé e a conversão. O Espírito é livre para agir, e como um Ser livre poderia agir sem a Palavra, mas não o faz.
Comentando sobre isso Milne irá dizer que "o elo entre o Espírito e a Palavra é uma das chaves para entender todo o seu ministério na igreja. Ao guiar, inspirar, santificar e edificar o povo de Deus, o instrumento supremo do Espírito é a Escritura (2Tm 3.16s). De modo inverso, qualquer reivindicação da presença do Espírito, de sua liderança ou bênção, que não leve em conta ou diminua a autoridade da Palavra, é claramente alheia ao Espírito que guiou e capacitou Jesus e os apóstolos, sendo portanto estranha à fé sincera que dá glória a Deus."[2]
Assim, a atuação do Espírito por meio da Palavra, não se limita apenas à conversão do pecador, mas todo o seu processo de crescimento na sua vida cristã. Berkhof expõe essa idéia da seguinte maneira: “A Bíblia... é também o meio que o Espírito Santo emprega para a propagação da igreja e para a edificação e nutrição dos santos”.[3] Portanto, o crente que negligencia a Palavra como agente eficaz no processo do encher contínuo do Espírito em nós dando, antes, mais ênfase na “experiência” (calafrios, cultos avivados, orações em lugares específicos, etc.) irá ter uma vida marcada por inconstância no que diz respeito ao seu relacionamento com Deus e consigo mesmo. Pois os sentimentos não são base segura para se apoiar, sendo inconstantes e, muitas vezes, não confiáveis. Assim, somente a Palavra pode nos dar um alicerce seguro para prosseguirmos em nosso constante encher do Espírito.
Os Sacramentos
Sabemos que existem várias opiniões sobre a quantidade de sacramentos, como por exemplo, a igreja católica que o admite em número de sete, e os menonitas que, além do batismo e da ceia, acrescentam o “lava pés”.
Também sabemos que existem divergências quanto à sua essência, como a consubstanciação defendida por Lutero e a transubstanciação defendida pelos católicos. Mas não iremos entrar nesses pormenores do assunto. Iremos trabalhar com o conceito aceito pelas igrejas reformadas sem maiores esclarecimentos.
Segundo a Confissão de Fé da Igreja Presbiteriana, existem dois sacramentos devidamente ordenados por Cristo, a saber: batismo e santa ceia.[4] Sabemos que os sacramentos não têm poder em si mesmos e que a sua eficácia não depende daquele que o administra. Então, qual a utilidade dos sacramentos para o processo de santificação na vida do cristão? A Confissão de Fé nos diz que sua eficácia depende “da obra do Espírito e da palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o uso deles, contém uma promessa de benefício aos que dignamente o recebem.”[5] Assim, toda eficácia dos sacramentos repousa na Pessoa do Espírito Santo de Deus que, de maneira poderosa e graciosa, aplica seus benefícios em nossas vidas.
J.I. Packer diz que “os sacramentos são vistos corretamente como meios de graça, pois Deus os faz meios para fé, usando-os para fortalecer a confiança da fé em suas promessas e produzir atos de fé para receber as boas dádivas significadas”.[6]
Como meio de crescimento, encontramos o batismo, sendo um ato único na vida do cristão. Segundo o Novo Testamento, o batismo era o momento em que a fé, expressada anteriormente em Cristo para a salvação, era evidenciada publicamente e, assim, havia uma apropriação de Cristo e das bênçãos da salvação, tais como a purificação dos pecados, a renovação no Espírito, a capacitação para servir e a entrada no corpo de Cristo [7]
A santa ceia, sendo também um meio de crescimento, difere do batismo por não ser um ato único, mas constante. Por ela nós partilhamos Cristo juntamente com aqueles que se aproximam com fé genuína. O próprio Espírito, ao participarmos da ceia, nos coloca em comunhão com Cristo e nutre a nossa fé.
A Mutualidade da Igreja
Viver mutuamente sempre foi um desafio para a igreja de Cristo. Afinal, muitas vezes é menos doloroso desenvolver nossa vida espiritual sozinhos. O fato de encontrarmos no Novo Testamento mandamentos como “aconselhai-vos uns aos outros”, “amai-vos uns aos outros”, “sujeitai-vos uns aos outros”, etc., não nos deixa dúvidas da importância de se viver em comunidade.
Vemos, ainda, que quando Paulo fala em Efésios 5.18 sobre o encher do Espírito, ele dá uma ordem para a comunidade e não para que a pessoa faça isso sozinha. Há, da parte do apóstolo, um chamado à mutualidade em todos os relacionamentos dessa comunidade.
Por mutualidade quer se dizer uma via de mão dupla, onde o eu é importante, determinante e imprescindível para o tu, que por sua vez o é para o eu (eu + tu = nós). Isto faz pensar na consciência cultural ocidentalizada, individualista e egoísta, que leva a igreja a não experimentar algumas práticas bíblicas imprescindível à igreja de Cristo de qualquer geração.
Com impulso para a mutualidade está se querendo dizer aquela vontade de atingir uma consagração a Deus, que leve o indivíduo a experimentar, com a comunidade, e junto dela, o dirigir de Deus, por meio do Espírito, com evidências visíveis. Diante disto, W. Ian Thomas evidencia que “Cristo não morreu meramente para que você pudesse ser livrado de uma má consciência, ou para remover de você a mancha dos fracassos passados, mas a fim de purificar o caminho para a atuação divina”.[8] E isso só é possível quando um grupo quer ser mais do que um grupo, mas quando se quer ser “a comunidade dos discípulos de Cristo em missão no mundo”.[9]
O compromisso de uma igreja com Jesus faz com que o povo tenha uma mutualidade saudável, onde o ideal de ser cheio Espírito Santo ganhará aliados para que, como comunidade, seja posto em prática. Pois Deus reconcilia consigo mesmo o homem que responde afirmativamente ao Seu chamamento, e também torna a comunicar-lhe, na qualidade de pecador perdoado, a presença do Espírito Santo. Logo, a presença do Espírito Santo em cada crente deve despertar a viverem e andarem juntos, orarem juntos, aconselharem uns aos outros, e assim chegarem a “estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.13b).
Não se crê que sem mutualidade do tipo “cada um por si e Deus para todos” a igreja estará cumprindo com seu papel de ser igreja, mas de forma que reflita a glória de Cristo, pois onde há esta há união em torno de um mesmo propósito. Portanto, qualquer tentativa de viver a vida no Espírito de forma solitária, não encontrando ressonância no nível comunitário, deve ser por nós descartada. A plenitude do Espírito na vida do crente, encontra a sua razão de ser no meio da comunidade dos santos.
Considerações Finais
Como considerações finais não nos propomos, neste momento, fazer qualquer tipo de aplicação de modo geral, mas destacar, dentro deste capítulo, aspectos importantes e relevantes.
Este capítulo se prestou a esclarecer algumas condições para que o crente possa, através da prévia providência do Espírito Santo em proporcionar essas condições, utilizar-se, de forma correta e consciente, das condições ou meios proporcionados pelo Espírito para que aja em sua vida um constante encher-se do Espírito.
De uma forma geral, destacamos que todos os recursos providenciados pelo Espírito para nossa edificação, só são eficazes porque o próprio Espírito se utiliza deles para desenvolver em nós a santificação. Portanto, somente aqueles que foram resgatados por Cristo e, conseqüentemente, possuem o Espírito Santo, podem ser eficazmente desenvolvidos em um processo contínuo e ininterrupto de santificação.
Notas:
[1] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas-SP: LPC, 1990. p.615.
[2] MILNE, Bruce. Estudando as Doutrinas da Bíblia.. São Paulo: ABU, 1991.p.209.
[3] Berkhof. Op cit., p.615.
[4] Confissão de Fé.Op. Cit., Cap. XXVII. Ver Também El Catecismo de Heidelberg. Perguntas 65 a 68.
[5] Confissão de Fé de Westminster, cap.XXVII, parte III.
[6] PACKER, J. I. Teologia Concisa: Síntese dos Fundamentos Históricos da Fé Cristã.. p.194.
[7] 1Coríntios 12.12; 1Pedro 3.21
[8] THOMAS, W. Ian. Salvos pela Vida de Cristo: Editora Leitor Cristão, São Paulo, 1961.
[9] Anotações da Disciplina “missões” ministradas pelo professor rev. Ricardo Agreste da Silva.
Rev. Baltazar Lopes Fernandes
Abaixo, então, observa-se os meios pelos quais somos, a cada dia, repletos do Espírito Santo de Deus.
A Palavra
Diferentemente do catolicismo romano, que considera a igreja e não a Palavra como meio primeiro de graça, sendo os demais meios sujeitos a ela, o calvinismo, segundo o dizer do Dr. Berkhof, honra “a Palavra de Deus nessa qualidade, e até a considera superior aos sacramentos”.[1]
Há uma íntima relação entre a Palavra e o Espírito Santo de Deus, sendo que a Palavra dissociada do Espírito não pode produzir a fé e a conversão. O Espírito é livre para agir, e como um Ser livre poderia agir sem a Palavra, mas não o faz.
Comentando sobre isso Milne irá dizer que "o elo entre o Espírito e a Palavra é uma das chaves para entender todo o seu ministério na igreja. Ao guiar, inspirar, santificar e edificar o povo de Deus, o instrumento supremo do Espírito é a Escritura (2Tm 3.16s). De modo inverso, qualquer reivindicação da presença do Espírito, de sua liderança ou bênção, que não leve em conta ou diminua a autoridade da Palavra, é claramente alheia ao Espírito que guiou e capacitou Jesus e os apóstolos, sendo portanto estranha à fé sincera que dá glória a Deus."[2]
Assim, a atuação do Espírito por meio da Palavra, não se limita apenas à conversão do pecador, mas todo o seu processo de crescimento na sua vida cristã. Berkhof expõe essa idéia da seguinte maneira: “A Bíblia... é também o meio que o Espírito Santo emprega para a propagação da igreja e para a edificação e nutrição dos santos”.[3] Portanto, o crente que negligencia a Palavra como agente eficaz no processo do encher contínuo do Espírito em nós dando, antes, mais ênfase na “experiência” (calafrios, cultos avivados, orações em lugares específicos, etc.) irá ter uma vida marcada por inconstância no que diz respeito ao seu relacionamento com Deus e consigo mesmo. Pois os sentimentos não são base segura para se apoiar, sendo inconstantes e, muitas vezes, não confiáveis. Assim, somente a Palavra pode nos dar um alicerce seguro para prosseguirmos em nosso constante encher do Espírito.
Os Sacramentos
Sabemos que existem várias opiniões sobre a quantidade de sacramentos, como por exemplo, a igreja católica que o admite em número de sete, e os menonitas que, além do batismo e da ceia, acrescentam o “lava pés”.
Também sabemos que existem divergências quanto à sua essência, como a consubstanciação defendida por Lutero e a transubstanciação defendida pelos católicos. Mas não iremos entrar nesses pormenores do assunto. Iremos trabalhar com o conceito aceito pelas igrejas reformadas sem maiores esclarecimentos.
Segundo a Confissão de Fé da Igreja Presbiteriana, existem dois sacramentos devidamente ordenados por Cristo, a saber: batismo e santa ceia.[4] Sabemos que os sacramentos não têm poder em si mesmos e que a sua eficácia não depende daquele que o administra. Então, qual a utilidade dos sacramentos para o processo de santificação na vida do cristão? A Confissão de Fé nos diz que sua eficácia depende “da obra do Espírito e da palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o uso deles, contém uma promessa de benefício aos que dignamente o recebem.”[5] Assim, toda eficácia dos sacramentos repousa na Pessoa do Espírito Santo de Deus que, de maneira poderosa e graciosa, aplica seus benefícios em nossas vidas.
J.I. Packer diz que “os sacramentos são vistos corretamente como meios de graça, pois Deus os faz meios para fé, usando-os para fortalecer a confiança da fé em suas promessas e produzir atos de fé para receber as boas dádivas significadas”.[6]
Como meio de crescimento, encontramos o batismo, sendo um ato único na vida do cristão. Segundo o Novo Testamento, o batismo era o momento em que a fé, expressada anteriormente em Cristo para a salvação, era evidenciada publicamente e, assim, havia uma apropriação de Cristo e das bênçãos da salvação, tais como a purificação dos pecados, a renovação no Espírito, a capacitação para servir e a entrada no corpo de Cristo [7]
A santa ceia, sendo também um meio de crescimento, difere do batismo por não ser um ato único, mas constante. Por ela nós partilhamos Cristo juntamente com aqueles que se aproximam com fé genuína. O próprio Espírito, ao participarmos da ceia, nos coloca em comunhão com Cristo e nutre a nossa fé.
A Mutualidade da Igreja
Viver mutuamente sempre foi um desafio para a igreja de Cristo. Afinal, muitas vezes é menos doloroso desenvolver nossa vida espiritual sozinhos. O fato de encontrarmos no Novo Testamento mandamentos como “aconselhai-vos uns aos outros”, “amai-vos uns aos outros”, “sujeitai-vos uns aos outros”, etc., não nos deixa dúvidas da importância de se viver em comunidade.
Vemos, ainda, que quando Paulo fala em Efésios 5.18 sobre o encher do Espírito, ele dá uma ordem para a comunidade e não para que a pessoa faça isso sozinha. Há, da parte do apóstolo, um chamado à mutualidade em todos os relacionamentos dessa comunidade.
Por mutualidade quer se dizer uma via de mão dupla, onde o eu é importante, determinante e imprescindível para o tu, que por sua vez o é para o eu (eu + tu = nós). Isto faz pensar na consciência cultural ocidentalizada, individualista e egoísta, que leva a igreja a não experimentar algumas práticas bíblicas imprescindível à igreja de Cristo de qualquer geração.
Com impulso para a mutualidade está se querendo dizer aquela vontade de atingir uma consagração a Deus, que leve o indivíduo a experimentar, com a comunidade, e junto dela, o dirigir de Deus, por meio do Espírito, com evidências visíveis. Diante disto, W. Ian Thomas evidencia que “Cristo não morreu meramente para que você pudesse ser livrado de uma má consciência, ou para remover de você a mancha dos fracassos passados, mas a fim de purificar o caminho para a atuação divina”.[8] E isso só é possível quando um grupo quer ser mais do que um grupo, mas quando se quer ser “a comunidade dos discípulos de Cristo em missão no mundo”.[9]
O compromisso de uma igreja com Jesus faz com que o povo tenha uma mutualidade saudável, onde o ideal de ser cheio Espírito Santo ganhará aliados para que, como comunidade, seja posto em prática. Pois Deus reconcilia consigo mesmo o homem que responde afirmativamente ao Seu chamamento, e também torna a comunicar-lhe, na qualidade de pecador perdoado, a presença do Espírito Santo. Logo, a presença do Espírito Santo em cada crente deve despertar a viverem e andarem juntos, orarem juntos, aconselharem uns aos outros, e assim chegarem a “estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.13b).
Não se crê que sem mutualidade do tipo “cada um por si e Deus para todos” a igreja estará cumprindo com seu papel de ser igreja, mas de forma que reflita a glória de Cristo, pois onde há esta há união em torno de um mesmo propósito. Portanto, qualquer tentativa de viver a vida no Espírito de forma solitária, não encontrando ressonância no nível comunitário, deve ser por nós descartada. A plenitude do Espírito na vida do crente, encontra a sua razão de ser no meio da comunidade dos santos.
Considerações Finais
Como considerações finais não nos propomos, neste momento, fazer qualquer tipo de aplicação de modo geral, mas destacar, dentro deste capítulo, aspectos importantes e relevantes.
Este capítulo se prestou a esclarecer algumas condições para que o crente possa, através da prévia providência do Espírito Santo em proporcionar essas condições, utilizar-se, de forma correta e consciente, das condições ou meios proporcionados pelo Espírito para que aja em sua vida um constante encher-se do Espírito.
De uma forma geral, destacamos que todos os recursos providenciados pelo Espírito para nossa edificação, só são eficazes porque o próprio Espírito se utiliza deles para desenvolver em nós a santificação. Portanto, somente aqueles que foram resgatados por Cristo e, conseqüentemente, possuem o Espírito Santo, podem ser eficazmente desenvolvidos em um processo contínuo e ininterrupto de santificação.
Notas:
[1] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas-SP: LPC, 1990. p.615.
[2] MILNE, Bruce. Estudando as Doutrinas da Bíblia.. São Paulo: ABU, 1991.p.209.
[3] Berkhof. Op cit., p.615.
[4] Confissão de Fé.Op. Cit., Cap. XXVII. Ver Também El Catecismo de Heidelberg. Perguntas 65 a 68.
[5] Confissão de Fé de Westminster, cap.XXVII, parte III.
[6] PACKER, J. I. Teologia Concisa: Síntese dos Fundamentos Históricos da Fé Cristã.. p.194.
[7] 1Coríntios 12.12; 1Pedro 3.21
[8] THOMAS, W. Ian. Salvos pela Vida de Cristo: Editora Leitor Cristão, São Paulo, 1961.
[9] Anotações da Disciplina “missões” ministradas pelo professor rev. Ricardo Agreste da Silva.
Rev. Baltazar Lopes Fernandes
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Teologia pastoral,
Teologia Sistemática
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
08 novembro 2006
A autoridade da Escritura
A Igreja da Idade Média afirmava que a autoridade das Escrituras procedia da Igreja, com base no texto de 1 Timóteo 3:15 que afirma: “A Igreja do Deus vivo, [é], coluna e baluarte da verdade.”
Mas este texto não afirma que a autoridade das Escrituras procede da Igreja. Quando um decreto é colocado numa coluna, a coluna serve para sustentar e proclamar o decreto, mas a autoridade do decreto procede do rei que o assina e não da coluna. A Igreja como coluna sustenta e proclama as verdades das Escrituras. A sua autoridade, porém procede de Deus.[1]
1. AS REIVINDICAÇÕES DO ANTIGO TESTAMENTO DE SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
A primeira reivindicação da autoridade das Escrituras está em Êxodo 17:14, quando Moisés foi ordenado por Deus a escrever sobre a vitória contra os Amalequitas, num livro como memorial e foi a instruído a repeti-lo a Josué. Deus ordenou a provisão para preservar a primeira porção do cânon das Escrituras, dentro da Arca da Aliança no Santo dos Santos (Deuteronômio 31:24-26); e a feitura de uma cópia a ser utilizada pelo rei (Deuteronômio 17:18-19).
Após a morte de Moisés, Deus ordenou a Josué a não cessar de falar do livro da lei meditando nele dia e noite para obedecer aos seus ensinos (Josué 1:8). Quando Samuel declarou o direito do reino, ele escreveu-o num livro e o dedicou perante o Senhor (1 Samuel 10:25).
Escritores posteriores referiram-se aos seus predecessores como livros sagrados:
a) Daniel referindo-se a Jeremias (Daniel 9:2), afirmou que a profecia de Jeremias era Palavra do Senhor (Jeremias 25:11).
b) Os profetas Isaías e Jeremias mostraram cuidado em escreve as profecias em seus respectivos ministérios (Isaías 8:16 e Jeremias 36).
c) Zacarias no ano 520 a.C. referiu-se aos profetas anteriores como escritos que tinham status autoritativo em sua visão (Zacarias 1:4-6).[2]
d) O uso das expressões “disse o Senhor”, “falou o Senhor”, “veio a mim a palavra do Senhor”, 3.808 vezes no Antigo Testamento ratificam a autoridade divina das Escrituras.[3]
2. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A AUTORIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO
Podemos avaliar a autoridade do Antigo Testamento através da visão de Jesus Cristo e da visão dos apóstolos.
2.1. JESUS VIA A ESCRITURA DO ANTIGO TESTAMENTO COMO UM LIVRO DIVINO.
a) Jesus via o Antigo Testamento como um registro fiel dos fatos históricos. Ele fez referências a Abel, Noé, Abraão, à instituição da circuncisão como fatos históricos (Lc. 11:51; Mt. 24:37-39; Jo. 8:56; Jo. 7:22) etc.[4]
b) Jesus usou histórias que muitos críticos consideram inaceitáveis como base de seu ensino, como por exemplo: o dilúvio de Noé (Mt. 24:37-39), Sodoma e Gomorra (Mt. 10:15; 11: 23, 24) e a história de Jonas (Mt. 12:39-41).
c) Jesus usou o A.T. como competente tribunal de apelação em suas controvérsias com os escribas e fariseus (Mt. 19:3-12), com os saduceus (Mt. 22:23-33).[5]
d) Jesus ensinou que nada passaria da lei, até que tudo se cumprisse (Mt. 5:17-20) e que a Escritura não pode falhar (João 10:35).
e) Jesus usou as Escrituras para refutar cada uma das tentações de Satanás. Tanto Jesus como Satanás aceitaram as afirmativas bíblicas como argumentos contra os quais não havia contestação.
2.2. OS APÓSTOLOS VIAM AS ESCRITURAS DO ANTIGO TESTAMENTO COMO AUTORITATIVOS
a) Os usos do Antigo Testamento no Novo Testamento atestam esta autoridade. São cerca de 239 citações formais, 1600 citações sem fórmulas introdutórias e muitas alusões ao Antigo Testamento. O apóstolo Paulo faz 93 citações do Antigo Testamento em suas 13 epístolas sendo 26 somente nos capítulos 9, 10 e 11 de Romanos. O livro de Apocalipse é um belo exemplo de Teologia do Antigo Testamento onde há 278 citações em seus 404 versos sem fórmula introdutória.[6]
b) O uso das fórmulas introdutórias pelos escritores do Novo Testamento demonstra que embora reconhecessem autores humanos das Escrituras, eles viam as Escrituras com autoridade divina. Jesus atribuiu ao Criador a autoria dos livros de Moisés (Mt. 19:3-8). Paulo usou expressões: “como diz Oséias”, “dele Isaías clama”, “como Isaías já disse”, “já Moisés dissera”, e “Isaías mais se atreve e diz” (Rm. 9:25, 27, 29; 10:19, 20). Para os escritores do Novo Testamento quando a Escritura fala, é Deus quem fala: “como está escrito”, “pois ele diz a Moisés”, “a Escritura diz a Faraó” (Atos 13:34, Rm. 9:13, 15, 17).[7]
c) A expressão “oráculos de Deus”, embora apareça apenas quatro vezes no Novo Testamento, para descrever o Antigo Testamento (Atos 7:38; Rm. 3:2; Hb. 5:12 e 1 Pd. 4:11); no texto de Rm. 3:2 refere-se à totalidade do Antigo Testamento, afirmando que todo o Antigo Testamento é a Palavra de Deus.[8]
d) As passagens de 2 Timóteo 3:16 e 2 Pedro 1:19-21, consideradas como clássicas no estudo da doutrina da Inspiração das Escrituras, atestam a autoridade da totalidade das Escrituras do Antigo Testamento.
3. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
escritores do Novo Testamento viam sua autoridade como procedente de Deus.
3.1. Paulo intitula-se apóstolo, arauto, testemunha e embaixador (Romanos 1:1, 5; Gálatas 1:8, 9; 1 Tessalonicenses 2:13; 1 Timóteo 2:7). Ele declarou que as cartas que escreveu eram para ser lidas na Igreja e obedecidas (Colossenses 4:16; 2 Tessalonicenses 3:14). Esta leitura pública seguia a prática da sinagoga, em que as Escrituras do Antigo Testamento foram lidas (Lucas 4:16, 17; Atos 13:15). A nova palavra profética é agora também para ser lida e obedecida (Apocalipse 1:3). Paulo tinha plena convicção de que seus escritos eram autoritativos. (1 Coríntios 2:13 e 14:37).[9]
3.2. Outros escritores do Novo Testamento deram testemunho semelhante. Lucas no prólogo de seu Evangelho (1:1-4) menciona seu cuidado em escrever de modo que a crença do leitor seja edificada sobre uma irrefutável base histórica.
3.3. João afirma que as coisas que ele escreveu aconteceram e foram de fato feitos na presença de testemunhas (João 20:30) e que seu próprio testemunho ocular sobre Jesus é verdadeiro (João 19:35). No livro de Apocalipse ele afirma que o que escrevia é a Palavra de Deus (Apocalipse 1:1, 2, 11; 22:18-19).
3.4. Alguns escritores do Novo Testamento referem-se a outros como Escritura:
a) Em 1 Timóteo 5:18, Paulo escreve: “Pois a Escritura declara: Não amordaceis o boi quando pisa o grão e ainda: o trabalhador é digno de seu salário”. A primeira citação vem de Deuteronômio 25:4, e a segunda de Lucas 10:7. A conclusão lógica é que Paulo considera tanto Deuteronômio quanto Lucas como Escritura.
b) O apóstolo Pedro em 2 Pedro 3:14-18, no final de sua segunda carta refere-se às Epístolas de Paulo como Escrituras, prevenindo a Igreja contra os falsos mestres que deturpam o ensino das Escrituras.[10]
CONCLUSÃO
O conteúdo ímpar das Escrituras atesta a sua autoridade divina.
Quem poderia conceber a idéia de que a eternidade nasceria?
Que aquele que troveja no céu choraria numa manjedoura?
Que aquele que governa as estrelas nasceria de uma virgem?
Que o príncipe da vida morreria?
Que o Senhor da glória seria envergonhado?
Que o pecado seria punido em sua totalidade, e ainda totalmente perdoado?
Quem poderia conceber a doutrina da ressurreição, que o mesmo corpo que é partido em milhares de pedaços, ressuscitaria o mesmo corpo individual?
Quem poderia conceber toda esta sabedoria, se Deus não houvesse revelado a nós nas Escrituras?
Notas:
[1] Thomas Watson. The Body of Divinity, pág. 21.
[2] Walter Kaiser. Toward Rediscovering The Old Testament, Pág. 39, 40.
[3] Martyn Lloyd Jones. Autoridade, Núcleo. Centro de Publicações Cristãs. Apartado 1. Queluz.
[4] John Wenham. Christ’s View of Scripture in Inerrancy (Norman Geisler), Zondervan Publishing House. Grand Rapids. MI. 1980, pág. 6
[5] Idem, pág. 10
[6] Edwin A. Blum. The Apostle’s View of Scripure in Inerrancy, pág. 41
[7] Idem. Pág. 42
[8] Idem. Pág. 43
[9] Idem. Pág. 51
[10] Idem. Pág. 52
Rev. Robson Pires Gripp
Mas este texto não afirma que a autoridade das Escrituras procede da Igreja. Quando um decreto é colocado numa coluna, a coluna serve para sustentar e proclamar o decreto, mas a autoridade do decreto procede do rei que o assina e não da coluna. A Igreja como coluna sustenta e proclama as verdades das Escrituras. A sua autoridade, porém procede de Deus.[1]
1. AS REIVINDICAÇÕES DO ANTIGO TESTAMENTO DE SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
A primeira reivindicação da autoridade das Escrituras está em Êxodo 17:14, quando Moisés foi ordenado por Deus a escrever sobre a vitória contra os Amalequitas, num livro como memorial e foi a instruído a repeti-lo a Josué. Deus ordenou a provisão para preservar a primeira porção do cânon das Escrituras, dentro da Arca da Aliança no Santo dos Santos (Deuteronômio 31:24-26); e a feitura de uma cópia a ser utilizada pelo rei (Deuteronômio 17:18-19).
Após a morte de Moisés, Deus ordenou a Josué a não cessar de falar do livro da lei meditando nele dia e noite para obedecer aos seus ensinos (Josué 1:8). Quando Samuel declarou o direito do reino, ele escreveu-o num livro e o dedicou perante o Senhor (1 Samuel 10:25).
Escritores posteriores referiram-se aos seus predecessores como livros sagrados:
a) Daniel referindo-se a Jeremias (Daniel 9:2), afirmou que a profecia de Jeremias era Palavra do Senhor (Jeremias 25:11).
b) Os profetas Isaías e Jeremias mostraram cuidado em escreve as profecias em seus respectivos ministérios (Isaías 8:16 e Jeremias 36).
c) Zacarias no ano 520 a.C. referiu-se aos profetas anteriores como escritos que tinham status autoritativo em sua visão (Zacarias 1:4-6).[2]
d) O uso das expressões “disse o Senhor”, “falou o Senhor”, “veio a mim a palavra do Senhor”, 3.808 vezes no Antigo Testamento ratificam a autoridade divina das Escrituras.[3]
2. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A AUTORIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO
Podemos avaliar a autoridade do Antigo Testamento através da visão de Jesus Cristo e da visão dos apóstolos.
2.1. JESUS VIA A ESCRITURA DO ANTIGO TESTAMENTO COMO UM LIVRO DIVINO.
a) Jesus via o Antigo Testamento como um registro fiel dos fatos históricos. Ele fez referências a Abel, Noé, Abraão, à instituição da circuncisão como fatos históricos (Lc. 11:51; Mt. 24:37-39; Jo. 8:56; Jo. 7:22) etc.[4]
b) Jesus usou histórias que muitos críticos consideram inaceitáveis como base de seu ensino, como por exemplo: o dilúvio de Noé (Mt. 24:37-39), Sodoma e Gomorra (Mt. 10:15; 11: 23, 24) e a história de Jonas (Mt. 12:39-41).
c) Jesus usou o A.T. como competente tribunal de apelação em suas controvérsias com os escribas e fariseus (Mt. 19:3-12), com os saduceus (Mt. 22:23-33).[5]
d) Jesus ensinou que nada passaria da lei, até que tudo se cumprisse (Mt. 5:17-20) e que a Escritura não pode falhar (João 10:35).
e) Jesus usou as Escrituras para refutar cada uma das tentações de Satanás. Tanto Jesus como Satanás aceitaram as afirmativas bíblicas como argumentos contra os quais não havia contestação.
2.2. OS APÓSTOLOS VIAM AS ESCRITURAS DO ANTIGO TESTAMENTO COMO AUTORITATIVOS
a) Os usos do Antigo Testamento no Novo Testamento atestam esta autoridade. São cerca de 239 citações formais, 1600 citações sem fórmulas introdutórias e muitas alusões ao Antigo Testamento. O apóstolo Paulo faz 93 citações do Antigo Testamento em suas 13 epístolas sendo 26 somente nos capítulos 9, 10 e 11 de Romanos. O livro de Apocalipse é um belo exemplo de Teologia do Antigo Testamento onde há 278 citações em seus 404 versos sem fórmula introdutória.[6]
b) O uso das fórmulas introdutórias pelos escritores do Novo Testamento demonstra que embora reconhecessem autores humanos das Escrituras, eles viam as Escrituras com autoridade divina. Jesus atribuiu ao Criador a autoria dos livros de Moisés (Mt. 19:3-8). Paulo usou expressões: “como diz Oséias”, “dele Isaías clama”, “como Isaías já disse”, “já Moisés dissera”, e “Isaías mais se atreve e diz” (Rm. 9:25, 27, 29; 10:19, 20). Para os escritores do Novo Testamento quando a Escritura fala, é Deus quem fala: “como está escrito”, “pois ele diz a Moisés”, “a Escritura diz a Faraó” (Atos 13:34, Rm. 9:13, 15, 17).[7]
c) A expressão “oráculos de Deus”, embora apareça apenas quatro vezes no Novo Testamento, para descrever o Antigo Testamento (Atos 7:38; Rm. 3:2; Hb. 5:12 e 1 Pd. 4:11); no texto de Rm. 3:2 refere-se à totalidade do Antigo Testamento, afirmando que todo o Antigo Testamento é a Palavra de Deus.[8]
d) As passagens de 2 Timóteo 3:16 e 2 Pedro 1:19-21, consideradas como clássicas no estudo da doutrina da Inspiração das Escrituras, atestam a autoridade da totalidade das Escrituras do Antigo Testamento.
3. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
escritores do Novo Testamento viam sua autoridade como procedente de Deus.
3.1. Paulo intitula-se apóstolo, arauto, testemunha e embaixador (Romanos 1:1, 5; Gálatas 1:8, 9; 1 Tessalonicenses 2:13; 1 Timóteo 2:7). Ele declarou que as cartas que escreveu eram para ser lidas na Igreja e obedecidas (Colossenses 4:16; 2 Tessalonicenses 3:14). Esta leitura pública seguia a prática da sinagoga, em que as Escrituras do Antigo Testamento foram lidas (Lucas 4:16, 17; Atos 13:15). A nova palavra profética é agora também para ser lida e obedecida (Apocalipse 1:3). Paulo tinha plena convicção de que seus escritos eram autoritativos. (1 Coríntios 2:13 e 14:37).[9]
3.2. Outros escritores do Novo Testamento deram testemunho semelhante. Lucas no prólogo de seu Evangelho (1:1-4) menciona seu cuidado em escrever de modo que a crença do leitor seja edificada sobre uma irrefutável base histórica.
3.3. João afirma que as coisas que ele escreveu aconteceram e foram de fato feitos na presença de testemunhas (João 20:30) e que seu próprio testemunho ocular sobre Jesus é verdadeiro (João 19:35). No livro de Apocalipse ele afirma que o que escrevia é a Palavra de Deus (Apocalipse 1:1, 2, 11; 22:18-19).
3.4. Alguns escritores do Novo Testamento referem-se a outros como Escritura:
a) Em 1 Timóteo 5:18, Paulo escreve: “Pois a Escritura declara: Não amordaceis o boi quando pisa o grão e ainda: o trabalhador é digno de seu salário”. A primeira citação vem de Deuteronômio 25:4, e a segunda de Lucas 10:7. A conclusão lógica é que Paulo considera tanto Deuteronômio quanto Lucas como Escritura.
b) O apóstolo Pedro em 2 Pedro 3:14-18, no final de sua segunda carta refere-se às Epístolas de Paulo como Escrituras, prevenindo a Igreja contra os falsos mestres que deturpam o ensino das Escrituras.[10]
CONCLUSÃO
O conteúdo ímpar das Escrituras atesta a sua autoridade divina.
Quem poderia conceber a idéia de que a eternidade nasceria?
Que aquele que troveja no céu choraria numa manjedoura?
Que aquele que governa as estrelas nasceria de uma virgem?
Que o príncipe da vida morreria?
Que o Senhor da glória seria envergonhado?
Que o pecado seria punido em sua totalidade, e ainda totalmente perdoado?
Quem poderia conceber a doutrina da ressurreição, que o mesmo corpo que é partido em milhares de pedaços, ressuscitaria o mesmo corpo individual?
Quem poderia conceber toda esta sabedoria, se Deus não houvesse revelado a nós nas Escrituras?
Notas:
[1] Thomas Watson. The Body of Divinity, pág. 21.
[2] Walter Kaiser. Toward Rediscovering The Old Testament, Pág. 39, 40.
[3] Martyn Lloyd Jones. Autoridade, Núcleo. Centro de Publicações Cristãs. Apartado 1. Queluz.
[4] John Wenham. Christ’s View of Scripture in Inerrancy (Norman Geisler), Zondervan Publishing House. Grand Rapids. MI. 1980, pág. 6
[5] Idem, pág. 10
[6] Edwin A. Blum. The Apostle’s View of Scripure in Inerrancy, pág. 41
[7] Idem. Pág. 42
[8] Idem. Pág. 43
[9] Idem. Pág. 51
[10] Idem. Pág. 52
Rev. Robson Pires Gripp
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Apologética,
Teologia Sistemática
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
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