28 outubro 2009

Ellen G. White falou a verdade? - parte 2

EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS ANTERIORES À CONSTANTINO

Sem recorrermos ao Novo Testamento como prova histórica,[1] é possível evidenciar documentalmente que os cristãos observaram o primeiro dia da semana desde os seus primórdios? Devemos recordar que o argumento de Ellen G. White é que o abandono do sétimo dia para a guarda do domingo somente ocorreu em 321 d.C. quando Constantino promulgou a “Lei Dominical”. Leiamos o que registraram os pais da Igreja, nos séculos que antecederam à Constantino, e a nossa conclusão poderá descansar sobre o firme alicerce da verdade.

Didaquê
O mais antigo manual de preparação de batismo e discipulado da Igreja Cristã (80-90 d.C.) conhecido por Didaquê instrui como deveria ser a vida comunitária. A orientação era de que “reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacríficio de vocês seja puro.”[2] A expressão Dia do Senhor, em grego kuriakê heméra e, em latim Dies Domini tornou-se o termo para indicar o primeiro dia da semana, a que chamamos de Domingo, o dia em que o Senhor ressuscitou!

Inácio de Antioquia
Inácio de Antioquia em sua Carta aos Magnésios (110 d.C.) declara que
aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte. Alguns negam isso, mas é por meio desse mistério que recebemos a fé e no qual perseveramos para ser discípulos de Jesus Cristo, nosso único Mestre.[3]


A sistematização doutrinária exposta por Inácio aponta para a transição da antiga para a nova aliança. Esclarece que a ressurreição de Cristo é a causa da descontinuidade e acomodação para a nova ordem, e, isto inevitavelmente envolve a mudança do dia de descanso do sétimo para o primeiro dia da semana, inaugurando uma nova era.

Plínio “o jovem”
Conhecido por ser justo em seus julgamentos, Plínio “o jovem”, segundo o seu relato, procurava através de tortura e questionamentos descobrir o grau de culpabilidade do réu. Num período em que o imperador romano Trajano exigia a prisão, tortura, e dependendo do caso a pena de morte dos cristãos, e, neste contexto Plínio escreve uma carta questionando do motivo de prender e executá-los, se neles nenhum motivo de culpa era encontrado. Em 113 d.C., o relator descreve que os cristãos, sob tortura, confessaram que “unânimes em reconhecer que sua culpa se reduzia apenas a isso: em determinados dias, costumavam comer antes da alvorada e rezar responsivamente hinos a Cristo como a um deus...”.[4]

O testemunho do governador pagão expressou admiração com o costume cristão. Não havia nada de absurdo, nem ofensivo naquela religião. A menção de determinados dias confirma que as suas reuniões seguiam uma norma semanal, e que antes do amanhecer se reuniam.

A carta a Diogneto
O desconhecido escritor da Carta a Diogneto afirma que “não creio que tenhas necessidade de que eu te informe sobre o escrúpulo deles a respeito de certos alimentos, a sua superstição sobre os sábados...”.[5] Em 120 d.C., o contraste entre cristãos e judeus estava estabelecido, de modo que a guarda do sétimo dia era visto pelos cristãos como sendo uma superstição judaica, e não como algo normativo para a Igreja.

A carta de Barnabé
Um importante documento histórico apresenta alguns traços do Cristianismo do século II. A “carta de Barnabé” não tem autoria certa, mas pelo seu conteúdo a crítica literária especializada em patrística é de consenso datá-la entre 134-135 d.C.. O autor interpreta o significado do sábado. Ele declara que
vede como ele diz: não são os sábados atuais que me agradam, mas aquele que eu fiz e no qual, depois de ter levado todas as coisas ao repouso, farei o início do oitavo dia, isto é, o começo de outro mundo. Eis por que celebramos como festa alegre o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus.[6]


O seu conteúdo é abertamente contrário aos sistemas judaizantes. Nesta interpretação acerca do sábado, o autor contrasta entre o entendimento do Judaísmo e o Cristianismo.

Justino de Roma
O apologista cristão expressou que “no dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas.” Noutro lugar ele continua
celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.[7]


A preocupação de Justino não era de firmar novas doutrinas, mas apenas de expor aos seus inquisitores o que era crença e prática tradicional dentro do Cristianismo. A sua I Apologia é datada em 155 d.C. apontando para a proximidade da era apostólica, um período de pureza na fé cristã.

Irineu de Lião
Enquanto Justino defendia os cristãos diante dos governadores pagãos, Irineu se dedicava a atacar as heresias que brotavam dentro do Cristianismo. Irineu como apologista analisava os desvios doutrinários que haviam se infiltrado dentre os cristãos. Especificamente para o nosso propósito selecionamos os heréticos que se nomeavam ebionitas,[8] que segundo Irineu eles “praticam a circuncisão e continuam a observar a Lei e os costumes judaicos da vida e até adoram Jerusalém como se fosse a casa de Deus.”[9] Além de negar a salvação somente pela graça e a sua suficiência em Cristo, os ebionitas ensinavam uma redenção por meio da obediência da lei. Dentre os “costumes judaicos da vida” incluíam a prática de guardar o sétimo dia. Eles não entenderam a cessação dos aspectos civis da lei, nem o seu cumprimento cerimonial em Cristo, de modo que, persistiam em exigi-los como complemento da salvação, e nisto consistia a sua heresia. O livro Contra as Heresias é datado entre 180 a 190 d.C..

Tertuliano
No início do século III os cristãos demonstravam desprezo pelos costumes judaizantes. Em seu livro Da Idolatria, escrito entre os anos 200 e 210 d.C., Tertuliano declara que “não temos praticado os Shabbats ou, outras festividades judaicas, do mesmo modo que evitamos as práticas pagãs.”[10] A sua afirmação esclarece que, tanto a idolatria quanto práticas judaicas, eram evitadas no mesmo pé de igualdade. Não há dúvidas de que o descanso cristão no fim do século II era marcadamente o domingo, da mesma forma que o exclusivismo cristão testemunhava contra pagãos e judeus!

Conclusão
As evidências exigem um veredicto! A declaração da senhora Ellen G. White é insustentável por causa da ausência de fontes e de provas. A verdade está contra ela, pois todo testemunho histórico aponta para a celebração do primeiro dia da semana como sendo o santo dia de descanso, de comunhão e de celebração dos cristãos primitivos que antecederam a “Lei Dominical” de Constantino.

Todos os editos e leis foram promulgados para que os seus súditos incentivados por benefícios civis adotassem a religião cristã. O império romano estava se adaptando ao Cristianismo e não o contrário. Assim, o primeiro dia da semana tornou-se descanso civil, por ser tradicionalmente desde o final do primeiro século um dia reservado para o culto cristão.

Evidências históricas apontam para o favorecimento do imperador romano para o Cristianismo. O que vimos foi que a Igreja no período da Patrística não somente evitava a guarda do sétimo dia, mas desprezava-a como sendo superstição, idolatria e heresia judaizante! Não há no puro Cristianismo nenhum grupo, em nenhum lugar e período que celebrasse o sábado como o dia cristão.


NOTAS:
[1] Deixo esclarecido que aceito a plena inerrância e historicidade do Novo Testamento. Apenas não recorrerei a textos do NT para evitar uma discussão exegética, mantendo-me apenas na análise histórica extrabíblica. Aqueles que têm alguma dúvida quanto à historicidade do NT sugiro a leitura de Eta Linnermann, Crítica Histórica da Bíblia (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2009). Talvez, numa outra oportunidade postarei a exposição bíblica dos motivos de se guardar o Domingo como sendo o SHABBATH na Nova Aliança, e não mais o sétimo dia, como o era na Antiga Aliança.
[2] Didaquê in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 1, pág. 357.
[3] Inácio de Antioquia – Epístola aos Magnésios – Padres Apostólicos in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 1, pág. 94.
[4] Henry Bettenson, ed., Documentos da Igreja Cristã (São Paulo, ASTE, 4ªed., 2001), págs. 29-30.
[5] Carta a Diogneto – Pais Apologistas in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 2, pág. 21.
[6] Carta de Barnabé – Pais Apologistas in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 1, pág. 311.
[7] Justino de Roma, I Apologia in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 2ªed., 1995), vol. 3, págs. 83-84.
[8] Sabe-se que “eram judeus que aceitavam Jesus como o Messias ao mesmo tempo em que continuavam a afirmar que Paulo era um apóstota da lei, negavam o nascimento virginal, praticavam a circuncisão, observavam o Sábado, a Páscoa e outras festividades judaicas”. Robert G. Clouse, et. al., Dois reinos (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), pág. 33.
[9] Irineu de Lião, Contra as Heresias in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 2ª ed., 1995), vol. 4, pág. 108.
[10] Tertulian, On Idolatry in: Ante-Nicene Fathers, vol. 3, pág. 70 citado em G.H. Waterman, Sabbath in: The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids, Zondervan Publishing, 1977), vol. 5, pág. 187. Este pai da Igreja é conhecido por causa da sua ortodoxia trinitária. O termo “Trindade” foi cunhado por ele, e Philip Schaff concede-lhe o título de fundador do Cristianismo Latino.

27 outubro 2009

Ellen G. White falou a verdade? - parte 1

É verdade? Cadê a prova?

Ellen G. White é conhecida como sendo uma das principais expoentes do movimento sabatista moderno. Em seu mais lido livro O Grande Conflito afirma que
o imperador Constantino promulgou um decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano (ver Apêndice). O dia do sol era reverenciado por seus súditos pagãos e honrado pelos cristãos. Foi instado a fazer isto pelos bispos da igreja. Inspirados pela sede de poder, perceberam que, se o mesmo dia fosse observado tanto por cristãos quanto por pagãos, isto resultaria em maior poder e glória para a igreja. Mas, conquanto muitos cristãos tementes a Deus fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado e o observavam em obediência ao quarto mandamento.
[1]

A declaração da senhora White a respeito deste momento histórico merece algumas considerações. Talvez, alguém questione porque eu dedicaria o meu tempo em refutar tão infundada afirmação. A resposta impulsiona do meu amor pela verdade. O volume que tenho em mãos em sua contracapa declara: “mais de 10 milhões de exemplares vendidos em 65 línguas”; e, a minha edição é de 2004. Alguns volumes a mais foram publicados neste meio tempo até hoje! Isto significa que desde que este livro foi escrito, sendo traduzido e divulgado, o seu conteúdo foi ensinado para milhares de pessoas. Em conversa com sabatistas sempre ouvi que quem mudou a guarda do sétimo dia para o domingo fora o imperador romano Constantino, mas não sabia a fonte de onde procedia esta idéia, até que ganhei um exemplar de O Grande Conflito e pude lê-lo.

Sinto-me constrangido por um segundo motivo a escrever uma resposta à sua declaração. Ellen Gould White (1827-1915)[2] embora tenha origem metodista, a sua família recebeu influência do movimento milenarista e sabatista procedente de William Miller (1782-1849) que profetizou a vinda de Cristo para o dia 22 de Outubro de 1844, fato que nunca ocorreu. Após serem excluídos da Igreja Metodista, por divergência doutrinária, associaram-se ao movimento adventista, sendo que ela tornou-se a sua líder e profetiza,[3] e durante um ministério de aproximadamente setenta anos, alegou ter recebido duas mil visões e sonhos proféticos.[4] Numa de suas profecias ela afirma que a guarda do domingo é a marca da besta.[5] Não perderei tempo analisando tão insana afirmação, visto que não há nada na Escritura Sagrada que autorize interpretar com este significado o texto de Ap 13, como o faz a senhora White.

Passemos imediatamente a analisar o que esta escritora disse em O Grande Conflito. Primeiro ela simplesmente menciona um decreto promulgado por Constantino, e a respeito deste documento, em que nenhuma fonte é citada, nem se afirma com necessária clareza o teor do conteúdo desta lei imperial. Talvez, ela não soubesse que história se escreve com documentos. Entretanto, ela induz o leitor a entender que este texto foi responsável pela mudança da observância do descanso do sábado para o domingo. Conforme a sua interpretação histórica, a senhora White alega que interesses políticos, e até evangelísticos fizeram com que os líderes cristãos, contemporâneos do imperador romano, contribuíssem para a transição da guarda do sétimo para o primeiro dia da semana.

Embora a autora não forneça nenhuma fonte da sua alegação, os editores o fizeram. Contudo, a bibliografia mencionada volta-se contra eles mesmos.[6] O historiador Albert H. Newman argumenta que a suposta conversão de Constantino [cerca de 310 d.C.] favorecia socialmente os cristãos no seu império. O Cristianismo não estava sofrendo mutações para adaptar-se aos romanos, mas o império pagão estava se moldando ao costumes cristãos.[7] Newman menciona uma série de favores que o imperador concedia aos cristãos, por exemplo, como os contidos no Edito de Milão (313 d.C.),[8] a isenção da liderança cristã do serviço militar e de impostos públicos (313 d.C.),[9] aboliu práticas e festividades pagãs que fossem públicas (315 d.C.), concedeu o direito privado às igrejas locais (321 d.C.) e tornou um dever civil o descanso no domingo, conforme era o costume cristão (321 d.C.).[10] Assim, o Dies Domini celebrado no primeiro dia da semana passou a ser descanso estatal.[11] O historiador Philip Schaff esclarece que Constantino
é o fundador, de no mínimo, da observância civil do Domingo, em que somente deste modo a sua observância religiosa na igreja poderia se tornar universal e propriamente assegurada. No ano de 321, ele editou uma lei proibindo o trabalho manual nas cidades e todas as transações judiciais, e posteriormente também o exercício militar no Domingo.[12]


Em outras palavras, o domingo não se tornou obrigatoriamente um dia de descanso para os cristãos por causa da lei de Constantino. Mas, o decreto tornou um dever civil o que por séculos era o costume religioso dos cristãos.


Notas:
[1] Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, Casa Publicadora Brasileira, 7ª ed., 2004), pág. 33.
[2] Para maiores detalhes veja A.A. Hoekema, Adventismo del Septimo Dia (Kalamazoo, SLC, 1990).
[3] Em suas CRENÇAS FUNDAMENTAIS DA IGREJA ADVENTISTA DO 7º DIA declara que “18. O Dom de Profecia - Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma característica da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua e autorizada fonte de verdade e proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à Igreja. (Joel 2:28 e 29; Atos 2:14-21; Heb. 1:1-3; Apoc. 12-17; 19:10)” extraído de http://www.adventistado7dia.org/iasd/crencas-fundamentais acessado em 7/10/2009.
[4] J.D. Douglas, White, Ellen Gould in: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã (São Paulo, Edições Vida Nova, 1990), vol. 3, pág. 646.
[5] J.K. Van Baalen, O Caos das Seitas (São Paulo, Imprensa Bíblica Regular, 1970), pág. 155.
[6] Os editores no indicado “Apêndice” mencionam a LEI DOMINICAL DE CONSTANTINO apontam para a obra do historiador reformado Philip Schaff, History of the Christian Church, vol. III, cap. 7. Todavia, na mesma seção [75], em seu primeiro parágrafo Schaff diz “a observância do Domingo originou no tempo dos apóstolos, e as formas básicas da adoração pública, com o seu honrar, santificar e exultante influência em todas as terras cristãs”, pág. 300. É estranho que a fonte que os editores citam para favorecer a tese de que a mudança era do período de Constantino (321 d.C.), inicie o texto com esta declaração!
[7] Outra obra citada no “Apêndice” como evidência a favor da tese da senhora White é o livro-texto do batista Albert H. Newman, A Manual of Church History. Mas, a discussão desenvolvida por Newman é contrária à tese sabatista!
[8] O edito encontra-se na sua íntegra transcrito na obra Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 2000), vol. 15, págs. 491-494.
[9] Veja este outro edito em Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, vol. 15, págs. 499-500.
[10] Kenneth S. Latourette, Historia del Cristianismo (El Paso, Casa Bautista Publicaciones, 1976), vol. 1, págs., 132-133.
[11] Albert H. Newman, A Manual of Church History (Philadelphia, The American Baptist Publication Society, 1953), vol. 1, págs. 306-307.
[12] Philip Schaff, History of the Christian Church (Albany, Ages Software, 1997), vol. III, pág. 301.

Grau de autoridade das afirmações teológicas

A nossa teologia constará de distintos tipos de afirmações teológicas que podem ser classificadas com base em sua derivação. É importante atribuir a cada tipo de afirmação um grau apropriado de autoridade.

1. As afirmações diretas das Escrituras deve-se conceder o maior peso. Á medida que representam corretamente o que ensina a Bíblia, tem o status de palavra de Deus. Assim, há que assegurar de que se está trabalhando com o que realmente está ensinando as Escrituras, e não com uma interpretação imposta.

2. Para as implicações diretas das Escrituras também se deve dar um grau de prioridade. Entretanto, tem-se que considerar como sendo um pouco menos autoritativas que as afirmações diretas, porque a introdução de um passo adicional (inferência lógica) leva consigo a possibilidade de erro interpretativo.

3. As implicações prováveis das Escrituras, isto é, as inferências que se extraem nos casos em que uma das pressuposições ou premissas é somente provável, tem menos autoridade que as implicações diretas. Ainda que mereçam respeito, estas afirmações deveriam ser tomadas com certa provisionalidade.

4. As conclusões indutivas das Escrituras variam em seu grau de autoridade. A investigação indutiva, por suposto, somente oferece probabilidades. A certeza de suas conclusões aumenta em proporção ao que aumenta o número de referências realmente consideradas e o número total de referências pertinentes que poderiam ser consideradas.

5. As conclusões que se inferem da revelação geral, que é menos particular e menos implícita que a revelação especial, devem estar sempre sujeitas às informações mais claras e explícitas da Bíblia.

6. As especulações precisas, que com freqüência incluem hipóteses baseadas numa só afirmação ou insinuação das Escrituras, ou que deviram de alguma parte obscura ou pouco clara da Bíblia, também podem ser expostas e utilizadas pelos teólogos. Não existe nenhum perigo desde que o teólogo seja consciente e advirta o leitor, ou ao ouvinte do que está fazendo. Surge um sério problema se estas especulações se apresentam com o mesmo grau de autoridade que se atribuem às afirmações da primeira categoria.

O teólogo empregará todos estes materiais legítimos que estão a sua disposição, dando em cada caso nem maior ou menor crédito do que seja conveniente, segundo a natureza das fontes.

Extraído de Millard Erickson, Teología Sistemática (Barcelona, CLIE, 2008, 2a.edição), págs. 83-84

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki