O modo como entendemos toda a história da salvação estrutura-se no pacto de Deus conosco. Segue abaixo um resumo da Teologia do Pacto:[2]
1. A teologia do pacto estrutura a totalidade da revelação bíblica. De Gênesis a Apocalipse há uma unidade pactual. Por isso, cremos que há uma unidade contínua em toda a Escritura e que a Igreja é a soma dos eleitos do Antigo e Novo Testamento, tendo apenas uma aliança, reino e um modo de salvação.
2. A teologia reformada clássica ensina três pactos: o pacto de redenção, o pacto da graça e pacto das obras. Eles são desdobramentos da mesma obra de Deus no decreto, criação, providência, redenção e consumação.
3. O pacto da redenção é o eterno decreto da Trindade em que tudo foi decidido antes da criação do mundo. Louis Berkhof observa que “Essa aliança eterna [da redenção] é o fundamento firme da aliança da graça. Se não houvesse conselho eterno de paz entre o Pai e o Filho, não poderia ter havido acordo entre Deus e o pecador. A aliança da redenção torna possível a aliança da graça”.[3]
4. O pacto das obras é a perfeita lei de Deus imposta ao homem para uma obediente resposta aos mandatos espiritual, cultural e social. Esta lei que originalmente foi declarada antes da Queda e escrita no coração do homem, ela é posteriormente registrada em tábuas de pedra.
5. Na história da salvação o pacto da redenção significa obras para Cristo e graça para nós. O Filho deveria obedecer satisfatoriamente todas exigências da lei de Deus.
6. Cristo cumpriu as obrigações legais do pacto da redenção em sua obediência ativa e passiva como o representante dos eleitos. Ele pode conceder redenção ao seu povo escolhido.
7. O pacto da graça é a administração progressiva da lei/evangelho na história da redenção do Antigo e Novo Testamento. Deus redime revelando graça aos eleitos, que pela fé, recebem do Mediador as promessas do pacto da graça. Assim, toda a comunidade do pacto será, em Cristo, redimida para a sua glória. O pacto é um vínculo de amor do Pai, merecido pelo Filho e concedido pelo Espírito Santo aos seus eleitos.
8. Jesus Cristo é o mediador do pacto. Nele recebemos aceitação e perdão do Pai, a nossa condenação é satisfeita, e a sua justiça é imputada em nosso favor nos adotando como filhos de Deus. A salvação é um vínculo pactual entre os eleitos, pela mediação de Cristo, com o Pai.
9. Deus tem apenas um povo. Israel e a Igreja formam uma única comunidade pactual, universal e local, no decorrer da antiga e nova aliança confessando o senhorio de Jesus Cristo.
10. Todos os cristãos são ordenados a unirem-se, a fim de formar parte de uma verdadeira comunidade pactual governada pela Escritura Sagrada. Deus instituiu oficiais extraordinários e ordinários para o governo de sua Igreja. Os oficiais extraordinários como os reis, profetas e sacerdotes no Antigo Testamento, bem como os apóstolos e profetas do Novo Testamento foram transitórios. No novo pacto os oficiais permanentes são os presbíteros e diáconos.
11. Na antiga aliança os sinais sacramentais eram a circuncisão e páscoa que na nova aliança foram substituídos pelo batismo e ceia do Senhor. Os sinais de uma verdadeira comunidade pactual que confessa a Cristo são a fiel pregação do Evangelho (o pacto da graça), a correta administração dos sinais e selos pactuais (os sacramentos: batismo e a ceia do Senhor) e a zelosa aplicação da disciplina. O batismo infantil somente é compreendido estruturalmente a partir da doutrina do pacto.
12. A revelação é progressiva no decorrer de toda a história da salvação alcançando a sua plenitude ao completar o fundamento apostólico. Ao completar o registro da revelação com o fechamento do cânon, os antigos modos cessaram, e não há mais comunicação de novas revelações, o retorno das antigas modalidades, nem o ressurgimento dos agentes revelacionais. Somente a Escritura Sagrada é a Palavra de Deus na plena transição da nova aliança.
13. Uma vida cristã integral não pode ser vivida saudavelmente fora de uma verdadeira comunidade pactual que confesse o senhorio de Cristo.
A teologia do pacto é tão essencial à teologia reformada que modificar a teologia do pacto é distorcer a substância da teologia reformada.
J.I. Packer resume bem a relação pactual de Deus conosco, ao escrever que
a estrutura da aliança compreende a inteira administração da graça soberana de Deus. O ministério celestial de Cristo continua a ser o de Mediador de uma nova aliança (Hb 12:24). A Salvação é a salvação da aliança; a justificação, a adoção, a regeneração e a santificação são as misericórdias da aliança; a eleição foi a escolha que Deus fez dos futuros membros da comunidade de sua aliança, a Igreja; o batismo e a Ceia do Senhor, correspondendo à circuncisão e à Páscoa, são ordenanças da aliança; a lei de Deus é a lei da aliança, e sua observância é a expressão mais verdadeira de gratidão pela aliança da graça e de lealdade ao nosso Deus da aliança. Pactuar com Deus em resposta à sua aliança conosco deve constituir um exercício devocional regular para todos os crentes, seja na privacidade ou na Mesa do Senhor. Uma compreensão da aliança da graça guia-nos do começo ao fim e ajuda-nos a apreciar as maravilhas do amor salvífico de Deus.[3]
Todo o nosso relacionamento com Deus somente é possível porque Cristo perfeitamente cumpriu satisfatoriamente todo o pacto. Este pacto que foi estabelecido entre o Pai e o Filho, na eternidade e, realizado na história. Consumada a sua obra o Senhor Jesus nos recebe como seus pelo pacto da graça, e por ter cumprido o pacto das obras Ele nos torna misericordiosamente aceitáveis diante do Pai, concedendo-nos todos os benefícios de seus méritos.
NOTAS:
[1] Citado em John L. Giardeau, The Federal Theology: its import and its regulative influence (Greenville, Reformed Academic Press, 1994), p. 5.
[2] Alguns teólogos e tradutores preferem o termo “pacto” enquanto outros usam “aliança”, mas isto em nada afeta o seu significado bíblico. Os termos Teologia Federal, Teologia do Pacto ou da Aliança são sinônimos.
[3] Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2012), p. 115.
[] J.I. Packer, Teologia Concisa (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004), pp. 82-83.
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