13 agosto 2018

A interpretação de descendit in inferna por Rufino de Aquileya

Também o seu descenso ao inferno foi claramente preanunciado nos Salmos, onde disse: Levaste-me ao pó da morte; e também: Para que serve meu sangue enquanto permanece sob a corrupção? E também: Eu afundei no seio do abismo, nem poder ficar de pé? Também João disse: És tu o que viria (ao inferno, sem dúvida), ou esperamos outro? De modo que Pedro disse: Cristo, morto na carne, mas vivificado no Espírito; no mesmo Espírito foi pregar aos espíritos que foram trancados no cárcere, os que foram incrédulos no tempo de Noé. Também neste texto se declara o que fez no inferno. Mas o próprio Senhor, como anunciando o futuro, disse por meio do profeta: Não abandonarás minha alma no inferno, nem permitirás que teu justo veja a corrupção. E, apesar disto, profeticamente mostra que se cumpriu, quando afirma: Senhor, tiraste a minha alma do inferno, salvaste-me dos que descendem ao fosso.

NOTAS:
[1] Cf. Rm 10.7; 1Pe 3.18-20; 4.6; Ef 4.8-9. Recordando a declaração na nota 144. O inciso descendit in inferna não se encontrava em R, nem em nos Símbolos orientais. Em Aquileya se inclui esta fórmula, que aparece pela primeira vez na Quarta Fórmula de Sirmio, um Credo do ano de 359 d.C.. Também está em Nicéia e em Constantinopla. Alguns Credos espanhóis do século sexto também incluem (D3) e desde os tempos de são Cesário de Arlés se estende nos Credos das Gálias (DS 25-28). J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, cit., pp. 446-452. Parece que a conotação original fora sublinhar a realidade da morte de Cristo: a descida ao sepulcro. Na concepção judaico-cristã a alma, ao morrer, passava para o sheol. A base bíblica se pode encontrar em Rm 10.7: “‘Quem descerá ao abismo?’; ou seja, para fazer subir Cristo dentre os mortos”; 1Pe 3.18-19: “Também Cristo, para levar-nos a Deus, morreu uma única vez pelos pecados ... No espírito foi pregar aos espíritos encarcerados”; 4.6: “Por isso, inclusive aos mortos se anunciou a boa nova”. Também em Mt 12.40; At 2.24-27; Ef 4.7-10. Cf. Ch. Perrot, La descente du Christ aux enfers dans le Nouveau Testament, Lum Vie 87 (1968), pp. 5-29. A especulação dos teólogos posteriores dá lugar a duas interpretações: para uns, Cristo foi ao inferno pregar a sua mensagem aos que não puderam ouvi-lo, aos justos do Antigo Testamento. Para a segunda interpretação, predominantemente no Oriente e que Rufino segue, a descida ao inferno é a confirmação da vitória do Redentor sobre a morte e libertação dos justos do Antigo Testamento. Rufino identifica o conteúdo desta cláusula com o da sepultura. São Cirilo disse: “Desceu ao sheol, para ali resgatar os justos. Por acaso, queres, lhe pergunto, que os vivos gozassem da graça de Deus sem ser muitos deles santos? Que não conseguissem a liberdade aqueles que estavam prisioneiros a longo tempo, desde Adão? O profeta Isaías anunciou com voz excelsa muitas coisas acerca dele. Não querias, pois, que o rei o libertasse, descendo com o seu anúncio? Ali estavam Davi, Samuel e todos os profetas. E inclusive o próprio João, que dizia por meio de seus enviados: “tu és o que haveria de vir, ou devemos esperar outro?” (Mt 11.3). Não desejarias que descendo, liberasse a esses homens?”: Cat., IV, 11, pp. 104-105.
[2] Sl 30.10. Não é citado por são Cirilo.
[3] Sl 69.3. Também não é citado por são Cirilo.
[4] Lc 7.20. Rufino interpretando deste modo Lc 7.20, segue a são Cirilo, ainda que no texto evangélico os enviados por João Batista estão apenas a perguntar a Cristo, se ele é o Messias, sem nenhuma referência à descida ao inferno. Alguns Pais põem na boca de João a pergunta quando Jesus vai ao seu encontro no sheol. Cf. Cirilo, Cat., XIV. 9, p. 329.
[5] 1Pe 3.18-20. Este texto, como os foram citados antes (1Pe 4.6; Rm 10.7; Ef 4.8-9), pressupõe como conhecido e pregado a descida Cristo ao inferno, após a sua morte.
[6] Sl 16.10. Cf. Cirilo, Cat., XIV, 4, p. 325.
[7] Sl 30.4. Cf. Cirilo, Cat., ibid.


Extraído de Rufino de Aquileya, Comentário al Símbolo Apostólico – Biblioteca Patrística (Madrid, Editorial Ciudad Nueva, 2001), pp. 83-84.

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