Em 1924, cerca de 1300 ministros presbiterianos, membros da Presbyterian Church in the United States of America [PCUSA], assinaram a liberal Declaração de Auburn, negando a necessidade de se aceitar algumas doutrinas para a ordenação de seus ministros e demais oficiais. Entre alguns dos ensinos da Confissão de Fé de Westminster este novo documento negava a inerrância da Escritura Sagrada, e declarava que a crença em doutrinas essenciais, como a expiação substitutiva de Cristo e a Sua ressurreição corpórea não deveriam ser “testes para a ordenação, ou para a boa norma da nossa igreja.” Este é um exemplo histórico do processo de degeneração doutrinária e moral que a nossa igreja-mãe [PCUSA] sofreu, e continua se apostatando da Palavra de Deus. Atualmente em defesa da inclusão homossexual, como uma prática não pecaminosa, estão propondo um novo documento eclesiástico chamado A Nova Declaração de Auburn.
Uma das marcas da verdadeira igreja é a sua pureza doutrinária. Entretanto, sabe-se que o processo de corrupção é primeiramente um problema ético que se manifestará confessional. Quando um candidato é chamado pelo concílio para ser ordenado ele deve prestar juramento e votos de fidelidade ao padrão doutrinário que a denominação sustenta. Todavia, em muitos casos, o que é declarado com a boca é desprezado pelo coração, ou ignorado pela mente. É possível que existam entre nós, ministros presbiterianos que estão sendo infiéis aos seus votos de ordenação! Fato é, que há muitos que negam abertamente dos seus púlpitos doutrinas claramente ensinadas na Confissão de Fé de Westminster como a inerrância das Escrituras Sagradas, ou, casos que desprezam na prática a necessidade de disciplina na Igreja, ou talvez mais escandalosamente, pastores faladores de línguas estranhas e que aceitam novas revelações sendo incoerentes com a doutrina da suficiência da Escritura Sagrada.
Este artigo tem o propósito de refletir a necessidade de revermos o importante processo de ordenação dos ministros e demais oficiais da nossa denominação. Creio firmemente, se não houver uma postura dos concílios, a começar pelo Supremo Concílio, acerca da prática de tolerância doutrinária que tem se espalhado em nossa denominação, em breve teremos ministros e oficiais se reunindo e tomando decisões similares àqueles que assinaram a Declaração de Auburn.
O cuidado na ordenação
A Palavra de Deus nos declara que a ordenação é realizada por oficiais autorizados por Deus e representantes da autoridade de Cristo (1 Tm 4:14). Por isso, o nosso Senhor exige que sejamos cuidadosos na ordenação dos oficiais. A Escritura nos adverte que “a ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (1 Tm 5:22, ARA). Acerca desta passagem J.N.D. Kelly comenta que
"o reconhecimento que os presbíteros são passíveis de cair na má conduta, e do julgamento terrível que os aguarda caso assim fizerem, sublinha a importância de usar cuidado e deliberação extremos quando se nomeia tais oficiais. Além disto, está de acordo com a preocupação de Paulo nas [epístolas] Pastorais o fato de ser muito desejável obter para o ministério homens de caráter firme e comprovado. (...) Uma razão sadia porque um pastor principal deve exercer prudência em ordenar é evitar a associação de si mesmo com os pecados de outrem. Ele poderia, com toda justiça, ser considerado até certo ponto responsável se o homem a quem ordenara com pressa imprópria se tornasse ocasião de escândalo. Longe de permitir que isto acontecesse, o líder cristão que é conclamado a julgar, e também a castigar outros, deve (conforme Paulo admoesta a Timóteo) conservar-se a si mesmo puro, i.é., sua própria vida deve estar absolutamente acima de repreensão."[1]
A fidelidade aos votos da ordenação
O direito que a Igreja Presbiteriana do Brasil tem de determinar as qualificações dos candidatos a cargos eclesiásticos e de requerer-lhes compromissos de fidelidade é constitucional, moral e bíblico. A Confissão de Fé de Westminster declara que "quem vai prestar um juramento deve considerar refletidamente a gravidade de ato tão solene, e nada afirmar senão do que esteja plenamente persuadido ser a verdade, obrigando-se tão-somente por aquilo que é justo e bom, e que tem como tal, e por aquilo que pode e está resolvido a cumprir. É, porém, pecado recusar prestar juramento concernente a qualquer coisa justa e boa, que seja exigido pela autoridade legal."[2]
O pecado da reserva mental é uma prática comum em muitas situações onde o juramento é exigido. A reserva mental é o ato em que o indivíduo voluntariamente se limita a aceitar ou concordar, sem que seja por completo, mantendo algumas reservas, sem revelá-las aos seus inquiridores. Não é necessário dizer que esta atitude é pecaminosa, faltando com a transparência, e divorciando a palavra da disposição do coração. A Confissão de Fé de Westminster declara que "o juramento deve ser prestado conforme o sentido comum e claro das palavras, sem equívoco ou reserva mental. Não pode obrigar a pecar; mas, sendo prestado com referência a qualquer coisa não pecaminosa, obriga ao cumprimento, mesmo com prejuízo de quem jura. Não deve ser violado, ainda que feito a hereges ou infiéis."[3]
Existe uma outra situação onde o que jura também falha em seu juramento.[4] É possível que embora seja sincero em sua disposição em concordar com o que está declarando, mas que esteja mentindo por não conhecer ou não entender as implicações de seu juramento, ou das doutrinas que está aceitando. Esta prática não é menos pecado do que a desonesta reserva mental. Pois, como posso dizer que creio num sistema doutrinário que ignoro, ou não entendo? Ao participar de um grupo é indispensável que se saiba claramente qual o seu sistema doutrinário. O nosso é bem definido: os padrões de Westminster.
Notas:
[1] J.N.D. Kelly, I eII Timóteo e Tito – introdução e comentário (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1986), p. 122.
[2] Confissão de Fé de Westminster XXII.3
[3] Confissão de Fé de Westminster XXII.4
[4] Lewis B. Smedes, Moralidad y Nada Más (Grand Rapids, Wm. B. Eerdmans Publishong Co., 1997), p. 232.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
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