Com o renovado entendimento de Rm 1:16-17, Martinho Lutero recebe a indulgência como sendo uma afronta à suficiência de Cristo na redenção do pecador. Atuando como professor de Bíblia na recém organizada Universidade de Wittemberg, e também como padre da igreja local, viu o grande mal que Johannes Tetzel causava nesta cidade apregoando a promessa do perdão dos pecados e a libertação das penas, sob a garantida condição de se comprar uma indulgência. Sabemos da história, e que Lutero fixou nos portais da Catedral de Wittenberg as suas 95 Teses dando início ao movimento de Reforma.
Jean-Henri Merle d'Aubigné ministro protestante suíço e historiador na obra História da Reforma do Século XVI a [1] registra a fórmula de absolvição da infame indulgência vendida por Tetzel:
Que nosso Senhor Jesus Cristo tenha piedade de ti, ........ [nome do comprador da indulgência], e te absolva pelos merecimentos de sua santíssima paixão! E eu, em virtude do poder apostólico que se me há conferido, te absolvo de todas as censuras eclesiásticas, sentenças e penas em que tenhas incorrido; e também de todos os excessos, pecados e crimes que tenhas cometido, por grandes e enormes que possam ser, e por qualquer causa que seja, ainda quando fossem dos reservados a nosso santíssimo padre, o papa, e à sé apostólica. Eu apago todas as manchas de incapacidade e todas as notas de infâmia de que te tenhas coberto até esta ocasião. Perdoô-te as penas que tenhas devido sofrer no purgatório. Faço-te de novo participante dos sacramentos da igreja. Imploro-te outra vez na comunhão dos santos, e te reestabeleço na inocência e na pureza que tiveste no ato de teu batismo. De maneira que, no momento de tua morte, a porta pela qual se entra para o lugar dos tormentos e das penas te será fechada, e, ao contrário, a porta que conduz ao paraíso da alegria te será aberta. E se tu não tiveres de morrer em breve, esta graça permanecerá imutável até o momento de teu fim derradeiro. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Frei Johannes Tetzel, comissário, a assinou de seu próprio punho.
Notas:
[1] J.H. Merle D'Aubiné, História da Reforma do Século XVI (SP, Casa Editora Presbiteriana, s/d), volume 1 , págs. 239-240.