23 fevereiro 2012

O método crítica da forma de Martin F. Dibelius

Escrito por Juan Bosch Navarro


Nascido em Dresde, em 14 de Setembro de 1883, e falecido em Heidelberg, em 11 de Novembro de 1947. Filho de família de pastores da Igreja Luterana, fez os estudos de Filosofia e Teologia em Neuchatel, Leipzig, Tubing e Berlim. Catedrático da Universidade de Berlim (1910). Professor de Novo Testamento na Universidade de Heidelberg (1915), sucedendo a Johannes Weiss na cátedra de Exegese e Crítica do Novo Testamento. Trabalha com o “método da história das formas” aplicando-o aos evangelhos sinópticos. A partir de seu Die Formgestchichte des Evangeliums (1919)[1] o método se universaliza na exegese mais liberal. Muito atrativo no movimento ecumênico, especialmente em “Fé e Constituição.”

Martin Dibelius passou para a história da exegese como um dos pioneiros e autores mais expressivos no emprego do método da história das formas (Formegeschichte) aplicado a investigação sinóptica. Este método também foi utilizado por outros autores como H. Gunkel, aplicando-o ao livro dos Salmos; por K.L. Schmidt, G. Bertram e, mais tarde, por R. Bultmann. A sua intenção consistiu em interpretar os textos evangélicos de acordo com as suas próprias leis. Dibelius partia da convicção de que nos sinópticos – como em qualquer outro monumento da literatura – deveria distinguir entre os vários gêneros literários, chamados, às vezes, “formas” (hinos, parábolas, poesia, relatos históricos, etc.) em ordem a determinar a identidade, os condicionamentos sócio-religiosos em que surge cada um dos textos sinópticos. Este método implicava também a comparação com outras formas literárias extra-bíblicas provenientes do contexto do Oriente Médio para investigar as possíveis dependências e inter-relações e também a originalidade. O importante para Dibelius era analisar as palavras do escritor bíblico, mas sempre enquadrado num contexto muito mais amplo que a sua própria individualidade no que aparecesse a mentalidade e estilos literários do ambiente. A personalidade do hagiógrafo não era o mais importante, pois o seu estilo está condicionado e em direta dependência de algumas formas fixas e típicas anteriormente existentes.[2]

Em seu livro Die Formgeschichte des Evangeliums (1919), recorda que os evangelistas sinópticos pertencem à literatura menor. Com isso afirmava que ainda que os seus escritos não sejam obras literárias no sentido exato do termo, todavia, não são escritos privados, senão que possuem um caráter público. Neste sentido, como indica, os “autores” podem ser somente considerados escritores no sentido mais lato do termo, já que fundamentalmente são “simples compiladores, transmissores ou redatores.” Para Dibelius a atividade dos sinópticos, especialmente Mateus e Marcos, “consiste sobretudo em transmitir, agrupar e reelaborar um material recebido.” Então, a participação do evangelista na redação do texto se torna, na realidade, muito limitada e de mínima importância. Dibelius opina logicamente que os evangelistas receberam “um material configurado”, ou seja, pequenas unidades ou fragmentos literários, e que, portanto, a “história das formas do evangelho” não começava com os evangelistas, senão que com as “unidades menores.” Portanto, se tratará de conhecer as regras pela quais se regiam essas unidades, a situação histórico-social em que nasceram e se desenvolveram aquelas primeiras formas literárias. Em outras palavras, é conhecer o seu “Sitz im Leben”. Não interessa tanto conhecer o gênio pessoal dos autores, senão a vida da comunidade cristã primitiva, o verdadeiro autor dos fragmentos que chegaram aos hagiógrafos.

Esta obra fundamental corrigida a partir da segunda edição de 1933, é hoje um clássico da literatura bíblica e apesar de suas limitações a sua leitura é de consulta obrigatória. Os onze capítulos iniciam o leitor no apaixonado mundo do processo de redação da literatura sinóptica, tratando destes temas: 1. A história das formas; 2. A pregação; 3. O paradigma; 4. A breve narração; 5. A lenda; 6. Analogias; 7. A história da paixão; 8. A obra de compilação; 9. A parênesis; 10. O mito; 11. Forma, história e teologia. Se a finalidade de um relato evangélico consiste em expressar e expor a fé existente de modo a tornar coerente a própria comunidade cristã, ou para que em terreno missionário expor aos judeus e pagãos, na realidade o texto definitivo não responderia por completo o gênio do autor, senão apontaria para a comunidade primitiva que havia experimentado aquela fé.

A história das formas recebeu críticas e foram expostos os seus limites. E se é verdade que este método “não carece de razões para considerar aos Evangelhos como obra de compilação”, é também verdade que “entre os resultados seguros a que se chegaram os estudos recentes sobre os sinópticos deve-se enumerar a afirmação de que a atividade dos evangelistas não se limitava simplesmente a compilar um patrimônio recebido, senão que deve ser considerada como uma atividade literária consciente nascida de uma concepção teológica refletida. No que se refere aos Evangelhos, deve-se corrigir, portanto, o juízo da história das formas” (G. Iber). E se é verdade que ninguém dúvida de que os estudos mais recentes “foram mais longe do que o método da história das formas em certos pontos essenciais”, haverá de estar de acordo com o citado especialista que também “os mesmos trabalhos demonstram que esse método tem se focalizado na exegese e uma importância permanente na história da teologia.”[3]

NOTAS:
[1] Tradução: “A narrativa da forma dos Evangelhos.” Nota do tradutor.
[2] Este método exegético estabelece-se sobre premissas deístas, ou seja, uma base antissobrenaturalista, o seu primeiro axioma é a negação da imanência de Deus, em que ele se revela e comunica de modo proposicional. A sua segunda premissa é negar que os hagiógrafos como autores, eram as testemunhas oculares dos atos e ensino de Cristo, bem como dos eventos originais.
[3] A sua importância é medida pela quantidade de adeptos. Entretanto, o tradutor não adota este método por entender que ele é teoricamente insustentável, bem como teologicamente incoerente com a identidade reformada.


Extraído de Juan B. Navarro, ed., Diccionario de Teólogos/as Contemporáneos (Burgos, Editorial Monte Carmelo, 2004), pp. 286-287.

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki
23 de Fevereiro de 2012.

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