08 abril 2013

Breve nota sobre lectio continua e pregação expositiva



O termo lectio continua se refere a pregação sequenciada verso após verso. Este seria um comentário explicativo seguindo a ordem no estilo texto após texto. Até onde sei Ulrich Zwingli foi o primeiro dentre os reformadores a adotar a prática e antes de iniciar a reforma pública em Zurique ele pregou todo o Evangelho de Mateus nesta modalidade. João Calvino deu sequência a prática da pregação expositiva com lectio continua, e isto, pode-se perceber claramente em seus comentários bíblicos, bem como nos seus sermões que foram preservados escritos.[1]

Quanto a pregação expositiva se refere além do método também à disposição de se pregar delimitando-se em expor uma porção do texto [perícope]. Segue algumas definições:

Pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico derivado e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, que o Espírito primeiramente aplica à personalidade e experiência do pregador, e, depois, através dele, a seus ouvintes.[2]

A pregação expositiva é a apresentação da verdade bíblica, derivada de e transmitida através de um estudo histórico, gramatical e guiado pelo Espírito, de uma passagem em seu contexto, no qual o Espírito Santo aplica primeiramente à vida do pregador e em seguida este a sua congregação.[3]

O sermão expositivo vernacular: um discurso bíblico derivado de um texto vernacular independente, a partir do qual o tema é revelado, analisado e explicado, através de seu contexto, sua gramática e sua estrutura literária, cujo tem a é infundido pelo Espírito Santo na vida do pregador e do ouvinte.[4]

Richard L. Mayhue auxilia-nos esclarecendo em 10 teses negativas. Ele escreve que a pregação expositiva:
1. Não é um comentário de palavra por palavra, nem versículo por versículo sem unidade, esboço ou uma direção dominante.
2. Não são comentários erráticos, nem declarações casuais acerca de uma passagem, sem o contexto de uma exegese exaustiva e uma ordem lógica.
3. Não é uma massa de sugestões desconectadas e inferências baseadas no significado superficial de uma passagem que não se apoiam num estudo profundo do texto.
4. Não é pura exegese, independentemente do quão erudita seja, se lhe falta um tema, uma tese, um esboço ou um desenvolvimento.
5. Não é um mero esboço estrutural de uma passagem com vários comentários de apoio, mas sem outros elementos retóricos e homiléticos.
6. Não é homilia temática que utiliza algumas porções da passagem, mas que omite a discussão de outras partes de igual importância.
7. Não é uma coleção detalhada de aspectos gramaticais e citações de comentários sem a relação necessária destes elementos numa mensagem suave, que flua, ou que seja interessante e motivadora.
8. Não é uma discussão de Escola Dominical que tem um esboço do conteúdo, que é informal e fervorosa, mas que lhe falta a estrutura homilética e ingredientes retóricos.
9. Não é uma leitura bíblica que vincula várias passagens espalhadas com um tema comum, mas que não consegue manejar nenhum deles de maneira completa, gramatical e contextual.
10. Não é a comum reflexão devocional que se dá numa reunião de oração que combina comentários gerais, declarações superficiais, sugestões desconexas e reações pessoais numa discussão parcialmente inspiradora, mas não tem o benefício do estudo exegético-contextual básico nem os elementos da persuasão.[5]

O que difere a pregação expositiva dos demais modelos [temático e tópico, biográfico e etc] é o fato do pregador:
1. Analisar o texto dentro da estrutura de todo o livro ou epístola.
2. A intencionalidade/mensagem do escritor original é o assunto a ser extraído é o que deve ser pregado [a ideia homilética/preposição é formulada a partir da ideia exegética].
3. As divisões do sermão devem seguir o argumento natural do autor nas frases ou afirmações da perícope.
4. A verdade/princípio absoluto deve ser afirmado e a aplicação trazida para o nosso contexto.

A pregação lectio continua tende a ser expositiva porque o pregador deverá expor a ideia ou ensino original pretendido pelo autor aos leitores originais, aplicando aos ouvintes de hoje. Entretanto, é possível pregar expositiva sem ser lectio continua, mas para isso, é necessário que o pregador faça um esforço de resumidamente incluir em seu sermão:
1. O tema geral do livro.
2. Como ele se estrutura, e a argumentação de desdobra no todo.
3. E, como a perícope do sermão se relaciona com todo o livro, ou seja, a perícope é apenas um argumento dentre os demais argumentos do livro.

NOTAS:
[1] John H. Leith, "Calvin's Doctrine of the Proclamation of the Word and Its Significance for Today in the Light of Recent Research", Review and Expositor, 86, 1989, p. 34.
[2] Haddon W. Robinson, A pregação bíblica (São Paulo, Edições Vida Nova, 1983), p. 22
[3] Haddon W. Robinson, "What Is Expository Preaching?, Biblioteca Sacra, 131, Janeiro-Março, 1974, p. 57
[4] Karl Lachler, Prega a Palavra - passos para a exposição bíblica (São Paulo, Edições Vida Nova, 1995), p. 52
[5] Richard L. Mayhue, "El redescubrimiento de la predicación expositiva" in: La predicación, John MacArthur, Jr., org., (Thomas Nelson Publishing, 2009), pp. 26-27

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