15 julho 2020

Respeitáveis pecados do mundo reformado

por Tim Challies


Jerry Bridges deu muitos presentes à igreja, dos quais o menos importante foi seu livro Respectable Sins, [Pecados respeitáveis] publicado em 2007. Neste livro ele cunhou um termo que descreve toda uma categoria de pecados que, de outra forma nos passariam desapercebidos. “Respectable Sins” são comportamentos que os cristãos (individual e, às vezes, corporativamente) são considerados aceitáveis, embora a Bíblia os descreva como pecaminosos. Eles são tão sutis ou refinados, de modo que podemos até vesti-los para que se tornem num tipo de virtude. Bridges oferece muitos exemplos: ansiedade, frustração, descontentamento, ingratidão, impaciência, irritabilidade, mundanismo e assim por diante.

Um aspecto complicado desta lista de pecados respeitáveis é que seu conteúdo pode mudar com o tempo. O que era respeitável em uma época pode ser escandaloso em outra, antes de voltar à respeitabilidade. Hoje gostaria de oferecer algumas sugestões de pecados que consideramos respeitáveis em 2020, com um foco especial naqueles que são promovidos e disseminados online.

Pecado da suspeita
Esta é uma era polarizada agravada pelos meios de comunicação e pelas redes sociais que prosperam em elogiar os informantes enquanto desacreditam os desinformados. O ideal de objetividade foi substituído pelo vício da suspeita. Embora a Bíblia elogie a sabedoria e o discernimento, rejeita a suspeita, especialmente em relação aos nossos irmãos. Não temos o direito de duvidar dos outros por negligência ou de desconfiar deles por cautela, como se fossem culpados até que se prove inocente. Não podemos nos permitir suspeitar das ações, motivos ou da salvação dos irmãos e irmãs no Senhor. Afinal, o amor é mostrado não apenas em nossas ações, mas também em nossas atitudes, pois “o amor suporta todas as coisas, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7). Enquanto sempre precisamos estar alerta contra falsos ensinos e falsos mestres dentro da igreja, precisamos igualmente estar alerta contra suspeitas em nossos corações. Não há nada de respeitável nisso.

Pecado da fofoca
Os nossos onipresentes dispositivos digitais e as mídias sociais sempre ativas nos deram a capacidade de nos comunicar com velocidade e abrangência incomparáveis. Mas com esse grande poder vem uma responsabilidade preocupante, pois a Bíblia geralmente adverte sobre o poder das nossas palavras e nossa tendência a usá-las mal. Tanto a vida quanto a morte estão no poder da língua (Pv 18.21). Somos responsáveis não apenas por falar a verdade sobre os outros, mas também por nos afastar daqueles que não falam. Afinal, são necessárias duas pessoas para fofocar e, assim como é pecado falar mal dos outros, é pecado ouvir sem discernimento. No entanto, o mundo cristão e, talvez, em especial, o mundo cristão reformado, é absolutamente repleto de fofocas. Do púlpito ao banco, do auditório da conferência à transmissão ao vivo da conferência, as fofocas são desenfreadas. É sussurrado em nome de informações importantes e blogado em nome de discernimento - as duas maneiras de vesti-las com roupas respeitáveis. Mas se não é verdade, não é edificante e não é necessário, é fofoca. Verdadeiramente, as fofocas podem ser o pecado assolador deste movimento e um dos principais contribuintes para o seu colapso atual ou iminente.

Pecado da calúnia
Intimamente ligada à fofoca está a calúnia. Quando caluniamos outra pessoa, proferimos declarações falsas destinadas a prejudicar a sua reputação. A maneira como podemos tornar esse pecado respeitável é insistirmos que estamos alertando os outros para que se afastem de um falso mestre e que estamos protegendo ovelhas ingênuas e desamparadas. Estamos apenas prejudicando a reputação dessa pessoa porque temos tanto amor e preocupação pelos outros! O que tendemos a fazer, então, é transmitir informações que ouvimos através dos canais de fofocas, mas não verificamos, nem analisamos a sua validade. E assim, seguimos o exemplo de pessoas que fabricam informações para os motivos mais feios e as espalhamos como se fossem verdade. Embora nossos motivos possam ser bons (ou, pelo menos, não totalmente depravados), as nossas ações ainda são pecaminosas. Esteja avisado: “Digo a vocês que, no Dia do Juízo, as pessoas darão conta de toda palavra inútil que proferirem” (Mt 12.36).

Pecado da intromissão
Neil Postman certa vez fez esta pergunta: “Quantas vezes ocorre que as informações fornecidas no rádio ou no noticiário da manhã ou no jornal da manhã fazem com que você altere os seus planos para o dia, ou adote alguma ação que, de outra forma, não seria a opção? Ou dão informações sobre algum problema que você precisa resolver?” Na maioria dos casos, a resposta é “não com muita frequência”. Pode-se pedir o mesmo das informações que obtemos das mídias sociais ou de outras fontes de notícias e informações cristãs. Quantas vezes fazemos algo sobre isso? E, talvez ainda melhor, com que frequência é realmente nossa responsabilidade fazer algo sobre isso? Postman lamentou o ciclo impotente no qual “as notícias suscitam de você uma variedade de opiniões sobre as quais você nada pode fazer, exceto para oferecê-las como mais notícias, acerca das quais você não faz nada”. Estou convencido de que experimentamos algo semelhante hoje em que recebemos notícias sobre as quais nada podemos fazer; portanto, o que fazemos é transmiti-las, transmitindo a nossa opinião, alegria ou indignação. Mas repassar a informação adiante não é um ato neutro. De fato, pode ser um ato de intromissão, isto é, a ação de um intrometido. Difundir opiniões sobre situações que ocorreram muito distantes de nós, que não nos interessam, sobre as quais nada podemos fazer e acerca das quais pouco sabemos, parece corresponder à própria definição de intromissão.

Pecado da ociosidade
Toda nova tecnologia traz benefícios e desvantagens, e a mídia social não é exceção. As pessoas podem usar as mídias sociais para serem tremendamente produtivas - para liberar seus dons, talentos, tempo, energia e entusiasmo pelo bem dos outros e para a glória de Deus. Mas as pessoas também podem usar as mídias sociais para serem tremendamente improdutivas. O uso das mídias sociais pode refletir a ociosidade e a indolência. Podemos dar uma aparência ao nosso uso das mídias sociais como plataforma de construção ou expressão de discernimento ou incentivo. Mas se formos honestos conosco mesmos, para muitos de nós, é um meio de escapar do mundo real e das nossas vidas reais. É preguiça, não produtividade, e a Bíblia tem repetidas e preocupantes advertências sobre aqueles que são preguiçosos (por exemplo, Ec 10.18, Pv 19.15 e 1Ts 5.14). Ironicamente, as pessoas que são mais ativas nas mídias sociais, igualmente, podem ser as mais inativas.

Pecado da impugnação
Impugnar é questionar a verdade, validade ou honestidade dos motivos de outra pessoa. Intimamente ligado à contestação dos motivos da outra pessoa, está a sugestão de que você sabe a verdade por trás deles. Hoje em dia, existe muito disso no mundo cristã e gera tão pouca desaprovação, que é algo classificado como respeitável. No entanto, uma simples introspecção guiada pela Bíblia nos revela que, muitas vezes, nem conhecemos nossos próprios motivos e, se não conhecemos nossas intenções, como poderíamos conhecer de outras pessoas? O texto de Tg 3.17–18 nos desafia que “a sabedoria do alto é primeiro pura, depois pacífica, gentil, aberta à razão, cheia de misericórdia e bons frutos, imparcial e sincera”. E, 1Co 4.5 adverte que “não devemos pronunciar juízo antes do tempo, antes que o Senhor venha, porque trará à luz as coisas que estão ocultas nas trevas e revelará os propósitos do coração”. Se quisermos pressupor algum sentimento sobre os motivos de outra pessoa, devemos assumir o melhor, não o pior. Quando se trata de um irmão ou irmã em Cristo, é pecado assumir más motivações; é pecaminoso deixar de nutrir bons motivos.

Cada um de nós é um santo, mas cada um de nós ainda é um pecador. Como tal, continuamos atraídos por certos pecados e propensos a revesti-los com roupas respeitáveis. Por isso, é uma boa e necessária disciplina a prática do autoexame, a fim de ponderarmos se evitamos apenas os pecados que consideramos mais feios, mas também aqueles que consideramos mais bonitos. Façamos isso sabendo que mesmo o mais “respeitável” dos nossos pecados é odioso a Deus e, por esse motivo, deve ser igualmente odioso para o seu povo.


Acesse o artigo original AQUI acessado em 15 de Julho de 2020.
Traduzido por Ewerton B. Tokashiki

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