por R. Scott Clark
Até recentemente, era amplamente sustentado que a teologia do
pacto foi criada em meados do século XVII por teólogos como Johannes Cocceius
(1609–1669). Na verdade, a teologia do pacto nada mais é do que a teologia da
Bíblia. É também a teologia das confissões reformadas. Na história da teologia,
os elementos que conhecemos como partes da teologia do pacto — o pacto da
redenção antes do tempo entre as pessoas da Trindade, o pacto das obras com
Adão e o pacto da graça após a Queda — existem desde a Igreja Primitiva.
De fato, os leitores reformados que se voltam para os
primeiros pais da igreja (100-500 d.C.) podem se surpreender ao ver com que
frequência eles usavam padrões de linguagem e pensamento que são muito
familiares para nós. A teologia do pacto dos pais enfatizou a unidade do pacto
da graça, a superioridade do novo pacto sobre o antigo pacto (mosaico) e que,
como Jesus é a verdadeira semente de Abraão, todos os cristãos, sejam judeus ou
gentios, são filhos de Abraão. Eles também enfatizaram as obrigações morais da
filiação ao pacto da graça.
A teologia do pacto da igreja medieval (500-1500 d.C.) estava
relacionada à dos primeiros pais, mas também era distinta em certos aspectos.
Em resposta à crítica de que o cristianismo dava origem à imoralidade, a igreja
primitiva tendia a falar sobre a história da redenção como a história de duas
leis: a antiga (Moisés) e a nova (Cristo). A tendência era falar da graça como
o poder com o qual a lei foi cumprida para que pudéssemos ser justificados. Esse
hábito só aumentou na igreja medieval. Os principais teólogos argumentaram que
Deus só pode justificar pessoas que são real e inerentemente justas. Eles
pensavam que isso acontecia quando os pecadores eram infundidos com graça e, ao
cooperar com essa graça, eles se tornavam santos. De acordo com esse esquema,
santificação é igual a justificação, fé é obediência e dúvida é a essência da
fé.
Na teologia do pacto medieval, a palavra “pacto” tornou-se
sinônimo da palavra “lei”. Eles não falaram sobre o pacto das obras e o pacto
da graça, como nós fazemos. Em vez disso, foi a graça do pacto que nos permitiu
cumprir a Lei. Perto do fim da era medieval [Medieval Tardia], alguns teólogos
começaram a enfatizar a ideia de que Deus concedeu uma espécie de graça a todos
os seres humanos, fazendo um pacto de que “para aqueles que agem de acordo com
o que está dentro de si, Deus não reterá a graça”. Em outras palavras, Deus
ajuda aqueles que se ajudam. A Reforma não apenas reformaria a teologia do
pacto dos primeiros pais, mas declararia guerra aberta à teologia do pacto da
igreja medieval.
Quando Martinho Lutero (1483–1546) rejeitou a doutrina
medieval da salvação por meio da cooperação humana com a graça de Deus, ele
estava rejeitando a distinção entre a antiga e a nova lei na compreensão da
história redentora. Ele passou a entender que nas Escrituras há duas maneiras
de falar: a lei e o evangelho. A lei exige obediência perfeita, enquanto o
evangelho proclama a perfeita obediência de Cristo a essa lei, sua morte e sua
ressurreição por seu povo.
Pouco depois de Lutero adotar sua visão protestante, outros já
estavam reformando a teologia do pacto seguindo as mesmas linhas protestantes.
No início da década de 1520, o teólogo reformado suíço Johannes Oecolampadius
(1482–1531) ensinava o que mais tarde seria conhecido como “o pacto da redenção”
(pactum salutis) entre o Pai e o Filho desde toda a eternidade. Ele também fez
uma distinção entre a aliança de obras como um pacto legal e o pacto da graça
como um pacto misericordioso.
Alguns anos depois, Heinrich Bullinger (1504–75) publicou o
primeiro livro protestante dedicado à explicação do pacto da graça. Seguindo os
Pais da Igreja, seu trabalho enfatizou a graça e a unidade dentro do pacto da graça.
João Calvino (1509–1564) tinha uma sólida teologia do pacto e
ensinava a substância da teologia federal mais desenvolvida, incluindo o pacto
da redenção na eternidade, o pacto das obras antes da Queda e o pacto da graça
depois da Queda.
Os teólogos pós-Reforma, depois de Calvino, tiveram que
enfrentar sérios desafios, como o ressurgimento da igreja romana, o
arminianismo e o amiraldismo. Tudo isso os forçou a articular uma teologia do
pacto muito mais detalhada. Era necessário não apenas explicar a história da
salvação, mas também como essa história se relaciona com nossa compreensão de
como os pecadores são justificados e santificados.
Os teólogos reformados em Heidelberg fizeram isso entrelaçando
os fios que os protestantes anteriores não abordaram. Zacharias Ursinus
(1534–1583) e Caspar Olevianus (1536–1587) foram dois dos mais importantes
teólogos reformados da teologia do pacto no final do século XVI. Foram esses
dois teólogos do pacto os principais autores do Catecismo de Heidelberg (1563).
Ursinus começou sua teologia do pacto com o pacto de obras pela qual Adão
poderia ter entrado em um estado de bem-aventurança eterna obedecendo à lei. A
transgressão daquele pacto da Lei teve repercussões eternas. Segundo Ursinus,
Cristo cumpriu o pacto das obras por meio de sua obediência representativa em
nome dos eleitos e, portanto, suportou a merecida punição por seus pecados. Com
base nisso, Deus fez um pacto de graça com os pecadores. A mensagem da aliança
da graça é o evangelho do favor imerecido para com os pecadores.
Foi a mesma abordagem do prestigioso livro, escrito por Caspar
Olevianus, Sobre a Substância do Pacto da Graça entre Deus e os Eleitos (1585).
Ele ensinou que o pacto da graça pode ser considerado tanto em um sentido mais
amplo quanto em um sentido mais restrito. No sentido mais estrito, pode-se
dizer que o pacto foi feito somente com os escolhidos. São os eleitos que foram
unidos a Cristo somente pela graça, somente pela fé, somente por Cristo, que
recebem os benefícios do pacto – estritamente falando. Porque somente Deus sabe
quem são os eleitos, em sua administração, o pacto da graça, em seu sentido
mais amplo, é feita com todos os batizados. É por isso que batizamos com base
no mandamento e na promessa divina, e os consideramos filhos do pacto antes
mesmo de fazerem sua profissão de fé, e eles são considerados cristãos, a menos
que evidências provem o contrário. Aqueles que estão na aliança apenas naquele
sentido mais amplo ou externo recebem alguns dos benefícios da aliança (Hb 6.4–6),
mas não recebem o que Olevianus chamou de “substância do pacto” ou o “duplo
benefício” do pacto: justificação e santificação. Somente aqueles que são
verdadeiramente eleitos se apropriam – somente pela graça, somente pela fé – do
“duplo benefício” do pacto da graça.
Duas das teologias do pacto mais desenvolvidas do século XVII
foram as de Johannes Cocceius (1609–1669) e Herman Witsius (1636–1708). Eles
ensinavam os pactos da redenção, das obras e da graça — e, também, usavam os
pactos bíblicos como uma maneira de organizar a história da redenção. Muitos
outros teólogos reformados na Europa e na Grã-Bretanha ensinavam teologia
usando as mesmas categorias. Foi também a teologia do pacto da Confissão de Fé
de Westminster e dos Catecismos Maior e Breve. Os teólogos reformados
confessionais no período moderno (como os teólogos do Seminário de Princeton)
seguiram o esquema teológico do pacto dos períodos da Reforma e pós-Reforma.
Desde o século XIX, entretanto, tem havido considerável
confusão sobre a teologia do pacto. Parte disso se deve à influência do teólogo
suíço Karl Barth (1886–1968). Ele rejeitou amplamente a teologia clássica do
pacto da perspectiva reformada, considerando-a legalista, “escolástica” e
antibíblica. Julgado pelos padrões históricos, grande parte do restante da
teologia do pacto no século XX também deve ser julgada como idiossincrática.
Em meados do século XX, vários teólogos influentes na Holanda
e nos Estados Unidos rejeitaram os pactos de redenção e obras. Outros
argumentaram que não há distinção entre sentido restrito e amplo no pacto da
graça. Outras revisões ou rejeições da teologia ortodoxa do pacto incluem o
chamado movimento da visão federal, que não apenas rejeita o pacto da redenção.
Ele também rejeita a distinção entre lei e evangelho e a distinção entre os pactos
de obras e graça. Segundo eles, todo batizado é escolhido e unido a Cristo por
meio do batismo; entretanto, essa eleição e essa união podem ser perdidas pela
apostasia.
Em suma, ao longo da história da igreja sempre houve a teologia
do pacto. A Reforma recuperou o evangelho e a distinção bíblica entre graça e
obras, o que tornou possível à teologia reformada construir uma teologia do
pacto detalhada e frutífera.
Os experimentos do período moderno que querem eliminar os
pactos de redenção e obras tendem a transformar o pacto da graça em um pacto
legal. Confundir os pactos de obras e graça causa confusão entre a lei e o
evangelho, a distinção fundamental entre a Reforma e o evangelho. Em vez de
tornar a teologia reformada mais cheia de graça e centrada em Cristo — como
prometido — as revisões atuais levaram a uma teologia mais egocêntrica. No
entanto, há alguns sinais encorajadores. Alguns estudos bíblicos recentes têm
chamado a atenção para a existência de antigos tratados do Oriente Próximo que
esclarecem as alianças bíblicas de obras e graça. A teologia histórica renovou
seu estudo das fontes originais da teologia do pacto da perspectiva reformada,
o que está ajudando a recuperar a teologia do pacto clássica e confessional dos
séculos XVI e XVII para o nosso tempo.
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