28 dezembro 2010

O monarca britânico é o Anticristo?

Escrito por Robert Shaw[1]

Que o Senhor Jesus Cristo é o único cabeça da Igreja precisa ser mantido, não somente em oposição aos papistas, que afirmam que o Papa de Roma é o sucessor de Pedro e como o vice-regente de Cristo, é o cabeça da Igreja universal; como também em oposição aos erastianos[2] que fazem do magistrado superior, o cabeça da Igreja em seus próprios domínios.

Uma liderança ou domínio universal pertence a Cristo. Como Deus, ele tem um direito natural e essencial de governar e ordenar todas as criaturas segundo o seu beneplácito, e para a manifestação da sua própria glória. [...] Cristo não delegou a sua autoridade nem a papas ou a príncipes, de modo que, estando ele no céu corporalmente presente, necessite comissioná-los para agir em seu lugar na Igreja terrena. [...] Ousada usurpação foi muitas vezes feita sobre esta real prerrogativa de Cristo, tanto dos poderes civil como eclesiástico. Desde o início o Homem da Iniqüidade e Filho da Perdição de forma blasfema apropriou-se da liderança universal e do senhorio para dominar; e quando a Reforma ocorreu na Inglaterra, o senhorio sobre a Igreja apenas foi transferido do Pontificado de Roma para a Soberania Britânica.[3] Henrique VIII foi reconhecido como o “supremo cabeça da Igreja da Inglaterra”; e promulgado “que o rei, e seus herdeiros, será recebido, aceito, reputado o único cabeça supremo sobre a terra da Igreja da Inglaterra, chamada Anglicana Ecclesia [...]. Esta sacrílega usurpação da autoridade espiritual, e ímpia invasão da soberania de Cristo, é sancionada pela Igreja da Inglaterra em seu 37º Artigo.[4]

NOTAS:
[1] Robert Shaw (1795-1863) nasceu em Perth, Escócia. Estudou na Universidade de Edinburgh e no Divinity Hall da Constitutional Associate Presbytery. Foi ordenado pastor em 1817, e também exerceu a docência. Este comentário da CFW foi publicado originalmente em 1845. O Comentário de Robert Shaw da Confissão de Fé é uma obra de referência para os estudiosos dos documentos da Assembléia de Westminster. O seu comentário do texto da CFW XXV.6 possuí uma excelente exposição acerca do senhorio de Cristo como cabeça da Igreja, entretanto, ele omite detalhar acerca da declaração de que o Papa seja o Anticristo, e redireciona identificando o monarca da Grã Bretanha como sendo o Anticristo.
[2] Erastianismo “deriva o seu nome de Thomas Erasto (1524-1583), que nasceu em Baden, estudou Teologia em Basiléia e, posteriormente, Medicina, tornando-se catedrático de Medicina em Heidelberg. [...] O nome ‘erastiano’ surgiu na Inglaterra na Assembléia de Westminster (1643), quando homens de destaque como Selden e Whitelocke defenderam a supremacia do Estado sobre a Igreja. A Assembléia rejeitou este ponto de vista, e resolveu que a Igreja e o Estado têm suas esferas separadas, porém coordenadas, cada um na sua própria província, mas comprometidos entre si para a mútua cooperação, visando à glória de Deus.” A.M. Renwick, “Erastianismo” in: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã (São Paulo, Edições Vida Nova, 1992), vol. 2, págs. 33-34.
[3] A tese de Shaw é que o anticristo é todo o que usurpa a posição de governante supremo da Igreja. A sua sugestão é que como Henrique VIII pelo Ato de Supremacia ocupava esta posição ele seria o anticristo no contexto da Assembléia de Westminster. Entretanto, a sua interpretação não se sustenta por falta de prova histórica, pois não há evidências de que os membros da Assembléia entendessem o monarca da Inglaterra como o anticristo.
[4] O autor se refere aos 39º Artigos da Religião Anglicana. O 37º Artigo afirma que “A Majestade do Rei tem o principal poder neste Reino da Inglaterra e outros dos seus domínios, a quem o chefe do Governo de todos os Estados deste Reino, sejam elas civis ou eclesiásticas, pertencem todas as causas, e não é, nem deve ser assunto de qualquer jurisdição estrangeira. Quando atribuímos à Majestade Real, o principal governo pelos Títulos, entendem as mentes de alguns caluniadores por serem ofendidas. Não concedemos aos nossos príncipes o poder de ministrar, quer seja a Palavra de Deus ou os sacramentos, ou qualquer Mandados que sejam estabelecidos por Elizabeth, a nossa Rainha, por mais lúcido testemunho; mas, que a única prerrogativa que vemos ter sido dada sempre a todos os piedosos príncipes nas Sagradas Escrituras pelo próprio Deus, ou seja, que eles deveriam governar todos os estados e graus ordenados ao seu cargo por Deus, sejam eles Eclesiástico ou Temporal, e restringir com o poder da espada aos teimosos e iníquos. O Bispo de Roma tem nenhuma jurisdição neste reino da Inglaterra. As leis do reino podem punir cristãos com a pena de morte por causa de crimes lamentáveis e odiosos. É lícito aos cristãos sob mandamento do Magistrado, portar armas e servir nas guerras.” The Book of Common Prayer (London, Oxford University Press, 1969), pág. 710. O texto adotado pela Igreja Anglicana do Brasil difere neste artigo, trazendo um texto mais breve e declarando a submissão não ao monarca inglês, mas ao governo brasileiro.

Extraído de Robert Shaw, The Reformed Faith – An Exposition of the Westminster Confession of Faith (Inverness, Christian Focus Publications, 1974), pág. 267-271.

Tradução livre 26 de Dezembro de 2010.
Rev. Ewerton B. Tokashiki

3 comentários:

TonMoura disse...

Muito esclarecedor o texto. Pergunta de quem quer saber (e não causar confusão): O fato de Shaw ser escossês influencia até aonde no seu ponto-de-vista? Se ele fosse britânico inglês ou galês seu posicionamento seria diferente? Sabemos que Escócia, a rigor, tenta se manter distante tanto do catolicismo irlandês quanto do anglicanismo inglês.

Quanto ao conetúdo do seu comentário, não concordo que alguém seja O Anticristo apocalíptico com menor ou maior exagero somente por se presumir acima de todos os homens, embora seja idolatria. Mas, creio que este termo (Anticristo) seja reservado a Lúcifer ou ao humano reservado para o domínio mencionado em apocalipse.

Corrija-me onde eu estiver errado, por favor.

Ewerton B. Tokashiki disse...

Caro Normando

Neste caso é possível que a nacionalidade tenha influenciado a interpretação de Shaw.

Não Creio que o Anticristo seja Satanás. A Escritura fala que eles trabalharão em parceria.

Filósofo Calvinista disse...

Muito interessante o texto. Convido-o e a todos os seus leitores para seguir, comentar, criticar nosso blog:

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