Por Thomas Brooks
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra
Outra tática do Diabo é a de dizer ao crente que pode aproximar-se do pecado sem cair nele. Ele insistirá com o crente que pode achegar-se a pessoas com vidas pecaminosas, ou que pode estar em lugares onde se cometem atos pecaminosos, sem que nada lhe aconteça. Dirá que pode conviver com os beberrões sem embriagar-se, que pode acompanhar as pessoas imorais sem participar de suas imoralidades. Dirá que pode aproximar-se da porta da prostituta, desde que não suba em sua cama, que pode olhar a beleza de Jezabel, mas não cometer pecado com ela, que pode por as suas mãos na joia de ouro de Acã sempre, mas desde não a roube. Em outras palavras, que pode acercar-se do pecado sem ser afetado por ele. Todavia, com frequência sucede que ao aproximar-se do pecado, de imediato, este o conduz a pecar.
A Bíblia adverte aos crentes a respeito dos lugares e das pessoas que lhes incentivam a pecar. O texto de 1Ts 5.22 lhes manda apartar-se de toda classe de mal. E Pv 4.14-15 diz: “Não entres pela vereda dos ímpios, não siga pelo caminho dos maus. Deixa-o, não passes por ele; afaste-se dele”. Há que evitar tudo o que não é bom, saudável e santo. Não faça nada que pareça mau, ou que tenha a aparência de pecado. Se não quiser ser queimado, deverá afastar-se do fogo. Se não quiser pecar, deverá alongar-se de qualquer coisa que lhe conduziria a pecar; se não o faz, não poderá ter vitória sobre o pecado.
A Bíblia nos fala daqueles que foram vitoriosos sobre o pecado. Se afastaram de tudo o que lhes poderia conduzir a pecar, ainda que somente fosse uma aparência. O Diabo considera como meia vitória, como quase uma conquista, o fato de que não se aparte daquilo que pode conduzi-lo a pecar. O caso de José, é uma ilustração de alguém que se afastou da tentação do pecado. Ainda que a esposa de Potifar lhe provocasse a cometer o adultério, José não a escutava, nem aceitava estar na presença dela. (Gn 39.10). Se você quer usufruir das bençãos de Deus, tem que afastar-se de tudo o que lhe conduz a pecar.
O fato de evitar a aparência do pecado é uma evidência da graça de Deus que lhe eleva acima dos homens que pertencem ao mundo. Desta maneira Abraão viveu uma vida piedosa em meio a um povo imundo. Daniel permaneceu fiel num país onde se adorava a falsos deuses. Timóteo viveu uma vida controlada pelo Espírito de Deus em meio a um povo pagão em Éfeso. Os crentes não devem escutar ao Diabo quando lhes diz que podem acercar-se do pecado, todavia, sem pecar. O ensino da Bíblia é claro acerca disto, afaste-se de qualquer coisa que lhe conduza a pecar.
Outra artimanha usada por Satanás para conduzir aos crentes ao pecado é dizer-lhes que os não arrependidos gozam de uma vida prazerosa e sem problemas. “Veja essas pessoas como pecam e estão felizes, cheias de boas coisas. Não têm preocupações. Una-se a elas e vá se divertir”. Às vezes, Deus é bondoso e abençoa nesta vida aos mesmos que estão destinados à condenação. A maneira que Deus trata uma pessoa nesta vida nem sempre indica o que Deus pensa acerca dessa pessoa. Da mesma maneira Deus, às vezes, envia coisas difíceis às pessoas que são objeto de seu amor. O sol brilha sobre os espinhos e sobre as árvores frutíferas. A boa dádiva de Deus é outorgada aos bons e aos maus. Tanto os bons como os maus gozam de boa saúde, recebem riqueza e abundância; ainda assim, sofrem indistintamente perdas e enfermidades.
o primeiro remédio contra esta tática é despertar-nos de que Deus é contra os que usam as suas bençãos como um pretexto para pecar. O desprezo de Deus é muito forte contra os que, desta maneira, abusam de sua bondade. Os crentes nunca devem pensar que a ternura de Deus lhes dá liberdade para pecar; pelo contrário, sua benignidade deveria conduzi-los para o arrependimento.
Segundo, não há miséria maior nesta vida do que a ausência da correção e a disciplina de Deus. Aqueles cujas vidas sofrem destas marcas devem se preocupar. Se Deus nunca lhes envia problemas, se suas vidas sempre foram fáceis, então estão no pior estado possível. Quando Deus não se preocupa por corrigir e provar uma pessoa, essa pessoa está perdida. Os incrédulos podem se sentir felizes porque Deus não lhes corrige, mas é falso o seu sentimento de segurança. Longe de indicar que tudo está bem com eles, indica o contrário, que tudo está mal. A prosperidade é uma piedra na qual milhões de pessoas tropeçam; tropeçaram, caíram e fraturaram a cerviz de sua alma para sempre.
Terceiro, é certo que os pecadores usufruem de boas coisas nesta vida, mas as suas “bençãos” não são nada comparadas com o que não têm. Os pecadores podem gozar do dinheiro, poder, amigos, saúde, felicidade; mas não conhecem à Deus, nem à Cristo, nem ao Espírito de Deus. Não têm a paz com Deus, nem o perdão de seus pecados. Não são filhos de Deus e não são livres do poder dominante do pecado. Não são objeto da graça de Deus e muito menos têm a esperança de irem para o céu. De que servem todas as bençãos temporais desta vida se não têm o amor de Deus, o perdão de seus pecados, a presença de Cristo e a esperança de glória eterna?
Quarto, as coisas boas desta vida nem sempre são o que aparentam ser. As coisas “boas” sempre estão mescladas com coisas más. O poder e o dinheiro trazem temores, preocupações e não tão somente a felicidade. O Sl 92.7 diz que os ímpios brotam como a erva, que floresce os que praticam a iniquidade, mas que serão destruídos eternamente. Frequentemente, Deus castigará com juízos espirituais as mesmas pessoas que sofrem menos castigos nesta vida. Por juízos espirituais quero dizer que não estão dispostos a arrepender-se, que não se preocupam com suas almas, que suas consciências estão cauterizadas, seus corações endurecidos, estão cegos em relação à verdade de Deus. Juízos semelhantes a estes são piores que todos os sofrimentos e tristezas desta vida terrena.
Quinto, um dia os homens entenderão todas as bençãos que receberam durante a sua vida terrena. “Porque a todo que muito é dado, muito será cobrado” (Lc 12.48). O que dirão estas pessoas por tantas bênçãos que Deus lhes concedeu? Deus é paciente agora, mas a sua paciência e sua bondade deveriam nos guiar ao arrependimento, de outro modo, a sua bondade se converterá num motivo de maior juízo.
O labor teológico de quem se preocupa em oferecer a sistematização e aplicabilidade das Escrituras para a proclamação do Reino de Deus
26 junho 2018
Remédios preciosos contra as artimanhas do Diabo - Capítulo 5
Labels:
Santificação,
Satanás,
Tentações,
Thomas Brooks
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
22 junho 2018
Remédios preciosos contra as artimanhas do Diabo - Capítulo 4
Por Thomas Brooks
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra
Neste capítulo poderemos observar outro método usado pelo Diabo para induzir aos crentes que caiam no pecado. Satanás lhes diz que é fácil arrepender-se, tão simples como confessálo ao sacerdote. Tudo o que se tem que dizer é: “Senhor tenha misericórdia de mim”, e ele o perdoará. Sussurrará em seu ouvido que o arrependimento é fácil.
Esta mentira do Diabo é muito perigosa. É uma mentira que é usada para enganar a muitos e coloca-los sob o controle e domínio do pecado. O arrependimento não é algo fácil de se obter; está além das forças humanas. Para arrepender-se é necessário o mesmo poder que levantou a Cristo dos mortos, ou seja, é necessário o poder de Deus.
O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo que os servos de Deus devem ensinar a verdade com a esperança que Deus conceda arrepentimiento aos ouvintes (2Tm 2:25). O arrependimento não é fácil; o arrependimento é um dom de Deus. O profeta Jeremias perguntou: “O etíope mudará a cor de sua pele, e o leopardo as suas manchas? Assim também, podereis fazer bem, estando habituados a fazer o mal?” (Jr 13:23). As pessoas não podem transformar a si mesmas; falta-lhes o poder de Deus para que possam experimentar essa mudança. O simples fato de dizer: “Senhor tem misericórdia de mim,” não é o arrependimento verdadeiro. Os que usam esta linguagem, sem uma mudança genuína em suas vidas, estão se enganando. Muitos agora estão no inferno porque se equivocaram quanto à natureza do arrependimento.
Há três elementos essenciais no arrependimento. O primeiro elemento é uma mudança substancial; é dar as costas para o pecado e voltar-se para Deus. O arrependimento é deixar as trevas e volver-se para a luz. Isaías disse: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o iníquo os seus pensamentos, e voltem-se para Deus” (Is 55:7). O arrependimento significa dar as costas a todo pecado, inclusive ao pecado mais amado. Significa também uma mudança de atitude para com Deus e em relação a tudo o que ele manda. Quando uma pessoa se arrepende verdadeiramente, sabe que não existe nada nela que agrade a Deus, e tudo o que ela possui é o seu pecado. Isto lhe faz voltar-se a Deus suplicando ajuda e perdão. O arrependimento não é fácil. Sempre é difícil e ocasiona dor e vergonha.
O segundo elemento no arrependimento verdadeiro é uma mudança completa de vida. O arrependimento significa uma mudança na vida interior, no que pensa e no que deseja. O arrependimento significa uma mudança tão poderosa na vida, que outros podem vê-la, uma transformação em sua maneira de viver, em seus hábitos, em sua perspectiva. Em Is 1:16 diz que “Lavai e limpai-vos; tirai a iniquidade de vossas obras diante de meus olhos; deixai de fazer o mal; aprendei a fazer bem”. Isto significa uma mudança externa e interna, uma alteração completa de vida.
O terceiro elemento do arrependimento é sua continuidade ao longo de toda a vida do crente. Arrepender-se significa sempre esforçar para guardar a lei de Deus de forma mais completa. Significa aproximar-se cada vez mais de Deus, ainda que ao mesmo tempo, saibamos que não podemos deixar de considerar-nos pecadores. A vida cristã consiste de um processo contínuo de mortificação do pecado. O apóstolo Paulo, que foi usado grandemente por Deus, disse: “Miserável homem que sou! Quem me livrará deste corpo de morte?” (Rm 7:24).
O arrependimento não é próprio da natureza humana. É necessário tanto do poder de Deus para arrepender-se, como para não pecar. “Vinde e voltemos a Jehová porque ele nos abateu e curará; nos feriu e tratará. Ele nos dará a vida depois de dois dias; no terceiro dia nos ressuscitará e viveremos diante dele” (Os 6:1-2). Convença-se que Deus é quem faz todas estas coisas a favor de seu povo. Ele os sara. Ele ata as suas feridas. Ele os vivifica e restaura. O poder e o amor de Deus estão atuando no arrependimento. Sem a misericórdia e o amor de Deus atuando, não é possível ocorrer o verdadeiro arrependimento.
É comum que Satanás diga que o arrependimento é fácil. Mas após ocorrer a queda no pecado, a sua mensagem mudará, pois dirá que o arrependimento é impossível. Uma vez que a pessoa se acostuma ao pecado, o Diabo dirá que o arrependimento é a coisa mais difícil que alguém poderá obter. Ele lhe dirá que é difícil abandonar aos pecados que fazem parte de sua vida. Dirá que não haverá a possibilidade de arrependimento, porque abusou da misericórdia de Deus e desprezou as advertências divinas. Satanás lhe falará de quantas vezes caiu e quão perversos são seus pecados. Ele lhe dirá: “É impossível arrepender-se.”
Os verdadeiros crentes buscarão o arrependimento enquanto há tempo, isto é, hoje! O arrependimento nunca é fácil, mas com a ajuda e com a misericórdia de Deus, é possível desprezar ao pecado e volver-se para Deus.
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra
Neste capítulo poderemos observar outro método usado pelo Diabo para induzir aos crentes que caiam no pecado. Satanás lhes diz que é fácil arrepender-se, tão simples como confessálo ao sacerdote. Tudo o que se tem que dizer é: “Senhor tenha misericórdia de mim”, e ele o perdoará. Sussurrará em seu ouvido que o arrependimento é fácil.
Esta mentira do Diabo é muito perigosa. É uma mentira que é usada para enganar a muitos e coloca-los sob o controle e domínio do pecado. O arrependimento não é algo fácil de se obter; está além das forças humanas. Para arrepender-se é necessário o mesmo poder que levantou a Cristo dos mortos, ou seja, é necessário o poder de Deus.
O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo que os servos de Deus devem ensinar a verdade com a esperança que Deus conceda arrepentimiento aos ouvintes (2Tm 2:25). O arrependimento não é fácil; o arrependimento é um dom de Deus. O profeta Jeremias perguntou: “O etíope mudará a cor de sua pele, e o leopardo as suas manchas? Assim também, podereis fazer bem, estando habituados a fazer o mal?” (Jr 13:23). As pessoas não podem transformar a si mesmas; falta-lhes o poder de Deus para que possam experimentar essa mudança. O simples fato de dizer: “Senhor tem misericórdia de mim,” não é o arrependimento verdadeiro. Os que usam esta linguagem, sem uma mudança genuína em suas vidas, estão se enganando. Muitos agora estão no inferno porque se equivocaram quanto à natureza do arrependimento.
Há três elementos essenciais no arrependimento. O primeiro elemento é uma mudança substancial; é dar as costas para o pecado e voltar-se para Deus. O arrependimento é deixar as trevas e volver-se para a luz. Isaías disse: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o iníquo os seus pensamentos, e voltem-se para Deus” (Is 55:7). O arrependimento significa dar as costas a todo pecado, inclusive ao pecado mais amado. Significa também uma mudança de atitude para com Deus e em relação a tudo o que ele manda. Quando uma pessoa se arrepende verdadeiramente, sabe que não existe nada nela que agrade a Deus, e tudo o que ela possui é o seu pecado. Isto lhe faz voltar-se a Deus suplicando ajuda e perdão. O arrependimento não é fácil. Sempre é difícil e ocasiona dor e vergonha.
O segundo elemento no arrependimento verdadeiro é uma mudança completa de vida. O arrependimento significa uma mudança na vida interior, no que pensa e no que deseja. O arrependimento significa uma mudança tão poderosa na vida, que outros podem vê-la, uma transformação em sua maneira de viver, em seus hábitos, em sua perspectiva. Em Is 1:16 diz que “Lavai e limpai-vos; tirai a iniquidade de vossas obras diante de meus olhos; deixai de fazer o mal; aprendei a fazer bem”. Isto significa uma mudança externa e interna, uma alteração completa de vida.
O terceiro elemento do arrependimento é sua continuidade ao longo de toda a vida do crente. Arrepender-se significa sempre esforçar para guardar a lei de Deus de forma mais completa. Significa aproximar-se cada vez mais de Deus, ainda que ao mesmo tempo, saibamos que não podemos deixar de considerar-nos pecadores. A vida cristã consiste de um processo contínuo de mortificação do pecado. O apóstolo Paulo, que foi usado grandemente por Deus, disse: “Miserável homem que sou! Quem me livrará deste corpo de morte?” (Rm 7:24).
O arrependimento não é próprio da natureza humana. É necessário tanto do poder de Deus para arrepender-se, como para não pecar. “Vinde e voltemos a Jehová porque ele nos abateu e curará; nos feriu e tratará. Ele nos dará a vida depois de dois dias; no terceiro dia nos ressuscitará e viveremos diante dele” (Os 6:1-2). Convença-se que Deus é quem faz todas estas coisas a favor de seu povo. Ele os sara. Ele ata as suas feridas. Ele os vivifica e restaura. O poder e o amor de Deus estão atuando no arrependimento. Sem a misericórdia e o amor de Deus atuando, não é possível ocorrer o verdadeiro arrependimento.
É comum que Satanás diga que o arrependimento é fácil. Mas após ocorrer a queda no pecado, a sua mensagem mudará, pois dirá que o arrependimento é impossível. Uma vez que a pessoa se acostuma ao pecado, o Diabo dirá que o arrependimento é a coisa mais difícil que alguém poderá obter. Ele lhe dirá que é difícil abandonar aos pecados que fazem parte de sua vida. Dirá que não haverá a possibilidade de arrependimento, porque abusou da misericórdia de Deus e desprezou as advertências divinas. Satanás lhe falará de quantas vezes caiu e quão perversos são seus pecados. Ele lhe dirá: “É impossível arrepender-se.”
Os verdadeiros crentes buscarão o arrependimento enquanto há tempo, isto é, hoje! O arrependimento nunca é fácil, mas com a ajuda e com a misericórdia de Deus, é possível desprezar ao pecado e volver-se para Deus.
Labels:
Espiritualidade,
Piedade,
Puritanos,
Santificação,
Satanás,
Soteriologia,
Thomas Brooks
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
21 junho 2018
Remédios preciosos contra as artimanhas do Diabo - Capítulo 3
Por Thomas Brooks
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra
Neste capítulo trataremos com outras duas estratégias usadas pelo diabo para fazer com que os crentes caiam em pecado. Primeiro, Satanás lhes fala que os melhores crentes da Bíblia pecaram e, portanto, os crentes também podem pecar. Em segundo lugar, Satanás lhes dirá que não se preocupem com os seus pecados, que Deus é misericordioso para perdoá-los. Então, vejamos a forma de enfrentar estas artimanhas.
Primeiro, às vezes, Satanás diz aos crentes que, como todos aqueles acerca de quem lemos na Bíblia pecaram, então, o pecado não é tão grave. Davi foi um homem que amou a Deus e, todavia, cometeu o adultério. Satanás se apoia neste assunto para dizer-nos que o adultério não é algo tão mal. Noé foi um homem que achou graça diante os olhos de Deus (Gn 6:8), entretanto, em Gn 9:21 lemos que este homem embreagou-se. Satanás dirá aos crentes que tão pouco a embriaguez é um pecado tão grave diante de Deus. O texto de Mt 16:17 nos fala que Pedro foi abençoado pelo Senhor; mas em Mt 26:74 o mesmo apóstolo amaldiçoou e negou ao nosso Senhor Jesus Cristo. Com base nisto, Satanás diz aos crentes que tais pecados não são graves de modo algum.
Satanás tem razão? David, Noé, Pedro e outros filhos de Deus pecaram gravemente contra Deus. Isto significa que os crentes não devem se preocupar com os seus pecados?
Em primeiro lugar, Satanás somente está mencionando uma parte da história. Davi pecou, mas também Davi se arrependeu. O Salmo 51 nos fala de como Davi se sentiu e o que fez após cair no pecado. “Lava-me mais e mais de minha maldad, limpa-me de meu pecado.” (Sl 51:2) Estas não são as palavras de alguém que não se preocupava com o pecado, mas de alguém que estava arrependido, que odiou o seu pecado e pediu perdão à Deus. Da mesma maneira, depois que Pedro amaldiçoou e negou ao Senhor, saiu e chorou amargamente. (Mt 26:75) Por que Pedro chorava? Chorava porque estava consciente de seu pecado e arrependido do que fez. Quando alguém pensa que pode pecar porque os crentes da Bíblia o fizeram, este deve se perguntar se é capaz de arrepender-se como eles o fizeram. A verdade é que muitos pecam da mesma forma que estes homens, mas bem poucos se arrependem como eles. Em outras palavras, ainda que os crentes bíblicos caíram ocasionalmente no pecado, na realidade eles o odiavam. Do mesmo modo, os crentes devem odiar o pecado e desejar afastar-se dele.
Em segundo, note que estes crentes não permaneceram no pecado. Pecaram em ocasiões, mas não viviam no pecado. E ainda quando pecaram, não o fizeram de todo coração. Satanás deseja que os crentes pequem incessantemente, a fim de que se acostumem ao pecado, quer que se sintam a vontade pecando. Isto é muito diferente da forma em que caíram Davi e Pedro.
É necessário recordar que Davi e os demais crentes mencionados sofriam muito a consequência de seus pecados. No Salmo 51, Davi disse que lhe foi tão doloroso como a fratura de um osso. (Sl 51:8). E Deus lhe sentenciou, como consequência de sua falta, dizendo que sempre haveria violência em sua família, e assim aconteceu.
Os pecados de Davi e Pedro estão registrados na Bíblia como uma advertência aos crentes e também para o seu auxílio. Por um lado, Deus não quer que os crentes se desesperem quando pecam, e por esta razão nos mostra que os crentes mais fortes também pecaram. E, por outro lado, Deus adverte aos crentes a não descuidarem em sua luta contra o pecado. Devemos aprender com as quedas dos outros, ou seja, suas quedas podem nos ajudar a não cairmos. Não há nenhuma garantia em nossos anos como crentes, muito menos em nossa fidelidade no passado. Há graça e perdão para os que caíram, mas também há disciplina.
Satanás, além desta tática, trata de obter que os crentes não se preocupem com o pecado, dizendo-lhes que Deus é misericordioso e que sempre os perdoará. O Diabo lhes fala que Deus é um Deus de pura graça e que está disposto a conceder misericórdia, e que sempre estará mais propenso a perdoar que a castigar ao seu povo. Vejamos a continuação de cinco remédios preciosos contra esta tática.
Primeiro, sempre é um sinal de que Deus está contra nós, quando não nos preocupamos com o pecado. Quando vemos que alguém não está preocupado com os seus pecados, podemos ter certeza de que Deus está julgando esta pessoa. É uma coisa terrível quando Deus entrega alguém aos seus próprios pecados. Deus disse, numa ocasião, em relação aos israelitas: “Os deixei, portanto, para a dureza de seu coração; caminharam em seus próprios conselhos” (Sl 81:12). Noutro momento disse: “Efraim é entregue aos ídolos; deixe-o” (Os 4:17). Este foi o juízo de Deus contra eles. Quando Deus abandona a um povo, então, ele não se preocupa com seus pecados.
Segundo, Deus é tanto misericordioso como justo, a sua misericórdia não anula a sua justiça. Satanás oculta esta verdade quando diz que Deus será sempre e somente misericordioso. Quando Adão pecou, Deus em sua justiça expulsou-o para fora do paraíso. Quando o mundo antediluviano se corrompeu, Deus em sua justiça mandou o dilúvio. A menos que os pecadores se arrependam, Deus não lhes perdoará.
Terceiro, os pecados contra a misericórdia de Deus acarretam maior juízo. Quando os homens abusam da misericórdia de Deus, então, vem seu juízo. Esta é a ordem em que Deus atua: primeiro oferece a sua misericórdia, mas se os homens a desprezam, então são julgados. Deus mostrou grande misericórdia e ternura aos israelitas, todavia, eles se afastaram e esqueceram de Deus. Jesus lhes advertiu que não ficaria pedra sobre pedra de seu templo e assim sucedeu (Mc 13:2). Jerusalém e o templo foram destruídos. Muitos judeus foram mortos e outros levados cativos. Os que abusaram da misericórdia de Deus e lhe deram as costas às suas advertências, foram objetos de sua justiça. Por mais que alguém seja abençoado, mais severo será o seu juízo se esquecer-se de Deus. Cafarnaum que foi elevada ao céu, posteriormente foi posta na parte mais baixa do inferno (Mt 11:23).
Quarto, os crentes não devem pensar que tudo está bem devido ao desfrute de algumas bençãos de Deus. Todos de alguma maneira, ou de outra, constantemente recebem benefícios da bondade de Deus. Mas a misericórdia especial de Deus é somente para aqueles que o amam e lhe obedecem. “Todos os caminhos de Jehová são misericórdia e verdade para os que guardam o seu pacto e seus testemunhos” (Sl 25:10). “Os olhos de Jehová estão sobre os que o teme, sobre os que esperam a sua misericórdia.” (Sl 33:18). “Porque como é a altura dos céus sobre a terra, engrandeceu a sua misericórdia sobre os que lhe temem.” (Sl 103:11). Você teme a Deus? Se sim, então, não desejará pecar contra a sua misericórdia.
Quinto, a misericórdia de Deus é um fortíssimo motivo para não pecar. A bondade de Deus nunca deve se converter em pretexto para pecar. A Bíblia diz que devido à misericórdia de Deus, os crentes devem se entregar completamente a ele, seu corpo, sua mente e tudo o que são, a fim de que sejam usados em seu serviço (Rm 12:1). A misericórdia de Deus deve conduzir aos crentes a amá-lo e não a pecar contra ele. Os que têm a misericórdia de Deus como um pretexto para pecar, estão seguindo uma lógica satânica. Quando esta lógica predomina no pensamento de uma pessoa, há motivos para supor que tal pessoa está em perdição. Quando uma pessoa diz que a misericórdia de Deus significa que o pecado não importa, tal pessoa demostra que não está valorizando corretamente este atributo divino. Uma compreensão correta da misericórdia divina, traz como resultado uma atração em relação à Deus e um desprezo pelo pecado.
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra
Neste capítulo trataremos com outras duas estratégias usadas pelo diabo para fazer com que os crentes caiam em pecado. Primeiro, Satanás lhes fala que os melhores crentes da Bíblia pecaram e, portanto, os crentes também podem pecar. Em segundo lugar, Satanás lhes dirá que não se preocupem com os seus pecados, que Deus é misericordioso para perdoá-los. Então, vejamos a forma de enfrentar estas artimanhas.
Primeiro, às vezes, Satanás diz aos crentes que, como todos aqueles acerca de quem lemos na Bíblia pecaram, então, o pecado não é tão grave. Davi foi um homem que amou a Deus e, todavia, cometeu o adultério. Satanás se apoia neste assunto para dizer-nos que o adultério não é algo tão mal. Noé foi um homem que achou graça diante os olhos de Deus (Gn 6:8), entretanto, em Gn 9:21 lemos que este homem embreagou-se. Satanás dirá aos crentes que tão pouco a embriaguez é um pecado tão grave diante de Deus. O texto de Mt 16:17 nos fala que Pedro foi abençoado pelo Senhor; mas em Mt 26:74 o mesmo apóstolo amaldiçoou e negou ao nosso Senhor Jesus Cristo. Com base nisto, Satanás diz aos crentes que tais pecados não são graves de modo algum.
Satanás tem razão? David, Noé, Pedro e outros filhos de Deus pecaram gravemente contra Deus. Isto significa que os crentes não devem se preocupar com os seus pecados?
Em primeiro lugar, Satanás somente está mencionando uma parte da história. Davi pecou, mas também Davi se arrependeu. O Salmo 51 nos fala de como Davi se sentiu e o que fez após cair no pecado. “Lava-me mais e mais de minha maldad, limpa-me de meu pecado.” (Sl 51:2) Estas não são as palavras de alguém que não se preocupava com o pecado, mas de alguém que estava arrependido, que odiou o seu pecado e pediu perdão à Deus. Da mesma maneira, depois que Pedro amaldiçoou e negou ao Senhor, saiu e chorou amargamente. (Mt 26:75) Por que Pedro chorava? Chorava porque estava consciente de seu pecado e arrependido do que fez. Quando alguém pensa que pode pecar porque os crentes da Bíblia o fizeram, este deve se perguntar se é capaz de arrepender-se como eles o fizeram. A verdade é que muitos pecam da mesma forma que estes homens, mas bem poucos se arrependem como eles. Em outras palavras, ainda que os crentes bíblicos caíram ocasionalmente no pecado, na realidade eles o odiavam. Do mesmo modo, os crentes devem odiar o pecado e desejar afastar-se dele.
Em segundo, note que estes crentes não permaneceram no pecado. Pecaram em ocasiões, mas não viviam no pecado. E ainda quando pecaram, não o fizeram de todo coração. Satanás deseja que os crentes pequem incessantemente, a fim de que se acostumem ao pecado, quer que se sintam a vontade pecando. Isto é muito diferente da forma em que caíram Davi e Pedro.
É necessário recordar que Davi e os demais crentes mencionados sofriam muito a consequência de seus pecados. No Salmo 51, Davi disse que lhe foi tão doloroso como a fratura de um osso. (Sl 51:8). E Deus lhe sentenciou, como consequência de sua falta, dizendo que sempre haveria violência em sua família, e assim aconteceu.
Os pecados de Davi e Pedro estão registrados na Bíblia como uma advertência aos crentes e também para o seu auxílio. Por um lado, Deus não quer que os crentes se desesperem quando pecam, e por esta razão nos mostra que os crentes mais fortes também pecaram. E, por outro lado, Deus adverte aos crentes a não descuidarem em sua luta contra o pecado. Devemos aprender com as quedas dos outros, ou seja, suas quedas podem nos ajudar a não cairmos. Não há nenhuma garantia em nossos anos como crentes, muito menos em nossa fidelidade no passado. Há graça e perdão para os que caíram, mas também há disciplina.
Satanás, além desta tática, trata de obter que os crentes não se preocupem com o pecado, dizendo-lhes que Deus é misericordioso e que sempre os perdoará. O Diabo lhes fala que Deus é um Deus de pura graça e que está disposto a conceder misericórdia, e que sempre estará mais propenso a perdoar que a castigar ao seu povo. Vejamos a continuação de cinco remédios preciosos contra esta tática.
Primeiro, sempre é um sinal de que Deus está contra nós, quando não nos preocupamos com o pecado. Quando vemos que alguém não está preocupado com os seus pecados, podemos ter certeza de que Deus está julgando esta pessoa. É uma coisa terrível quando Deus entrega alguém aos seus próprios pecados. Deus disse, numa ocasião, em relação aos israelitas: “Os deixei, portanto, para a dureza de seu coração; caminharam em seus próprios conselhos” (Sl 81:12). Noutro momento disse: “Efraim é entregue aos ídolos; deixe-o” (Os 4:17). Este foi o juízo de Deus contra eles. Quando Deus abandona a um povo, então, ele não se preocupa com seus pecados.
Segundo, Deus é tanto misericordioso como justo, a sua misericórdia não anula a sua justiça. Satanás oculta esta verdade quando diz que Deus será sempre e somente misericordioso. Quando Adão pecou, Deus em sua justiça expulsou-o para fora do paraíso. Quando o mundo antediluviano se corrompeu, Deus em sua justiça mandou o dilúvio. A menos que os pecadores se arrependam, Deus não lhes perdoará.
Terceiro, os pecados contra a misericórdia de Deus acarretam maior juízo. Quando os homens abusam da misericórdia de Deus, então, vem seu juízo. Esta é a ordem em que Deus atua: primeiro oferece a sua misericórdia, mas se os homens a desprezam, então são julgados. Deus mostrou grande misericórdia e ternura aos israelitas, todavia, eles se afastaram e esqueceram de Deus. Jesus lhes advertiu que não ficaria pedra sobre pedra de seu templo e assim sucedeu (Mc 13:2). Jerusalém e o templo foram destruídos. Muitos judeus foram mortos e outros levados cativos. Os que abusaram da misericórdia de Deus e lhe deram as costas às suas advertências, foram objetos de sua justiça. Por mais que alguém seja abençoado, mais severo será o seu juízo se esquecer-se de Deus. Cafarnaum que foi elevada ao céu, posteriormente foi posta na parte mais baixa do inferno (Mt 11:23).
Quarto, os crentes não devem pensar que tudo está bem devido ao desfrute de algumas bençãos de Deus. Todos de alguma maneira, ou de outra, constantemente recebem benefícios da bondade de Deus. Mas a misericórdia especial de Deus é somente para aqueles que o amam e lhe obedecem. “Todos os caminhos de Jehová são misericórdia e verdade para os que guardam o seu pacto e seus testemunhos” (Sl 25:10). “Os olhos de Jehová estão sobre os que o teme, sobre os que esperam a sua misericórdia.” (Sl 33:18). “Porque como é a altura dos céus sobre a terra, engrandeceu a sua misericórdia sobre os que lhe temem.” (Sl 103:11). Você teme a Deus? Se sim, então, não desejará pecar contra a sua misericórdia.
Quinto, a misericórdia de Deus é um fortíssimo motivo para não pecar. A bondade de Deus nunca deve se converter em pretexto para pecar. A Bíblia diz que devido à misericórdia de Deus, os crentes devem se entregar completamente a ele, seu corpo, sua mente e tudo o que são, a fim de que sejam usados em seu serviço (Rm 12:1). A misericórdia de Deus deve conduzir aos crentes a amá-lo e não a pecar contra ele. Os que têm a misericórdia de Deus como um pretexto para pecar, estão seguindo uma lógica satânica. Quando esta lógica predomina no pensamento de uma pessoa, há motivos para supor que tal pessoa está em perdição. Quando uma pessoa diz que a misericórdia de Deus significa que o pecado não importa, tal pessoa demostra que não está valorizando corretamente este atributo divino. Uma compreensão correta da misericórdia divina, traz como resultado uma atração em relação à Deus e um desprezo pelo pecado.
Labels:
Espiritualidade,
Piedade,
Puritanos,
Satanás,
Tentações,
Thomas Brooks
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
15 junho 2018
Os pastores antigos que passaram aqui ensinaram tudo errado?
Por Rev. Alan Rennê Alexandrino
Peço licença aos meus amigos aqui no Facebook para falar um pouco a respeito de algo que me é bastante incômodo. E, de início, gostaria de afirmar que este texto, de forma alguma, não é uma expressão de animosidade. Tristeza, talvez. Mas, animosidade, não. Por isso, peço que você me acompanhe até o final.
Não raro, diante de ensinamentos, ouço a pergunta que dá título a este texto. Recentemente participei de uma mesa redonda com o Dr. Mark Jones, e alguém perguntou: "O que dizer desses pastores mais novos, que chegam numa igreja e começam a ensinar coisas que nunca foram ensinadas pelos pastores anteriores? Quer dizer que os pastores anteriores ensinaram tudo errado? Por que eles não ensinaram essas mesmas coisas?"
Eu não considero esse questionamento indevido. Considero natural que o mesmo seja feito, pois, inegavelmente, há muita coisa que aparece diante da igreja de Cristo como "algo novo".
E, para explicar isso, eu gostaria de fazer referência a uma palestra ministrada pelo Dr. Heber Campos Jr., por ocasião do Encontro da Fé Reformada, ano passado, na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia. O Rev. Heber Campos Jr., numa palestra proferida na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, ano passado, a respeito de qual calvinismo tem sido descoberto no Brasil (ACESSE AQUI), fez algumas afirmações muito interessantes que nos ajudam a compreendermos o porquê da nossa dificuldade quando ouvimos algumas coisas que soam como novas aos nossos ouvidos. Ele faz uma comparação entre o que nós continuamos a aprender e a descobrir sobre a nossa fé reformada e aquilo que foi conhecido no início, quando a fé reformada chegou aqui no Brasil. De acordo com ele, o interesse no calvinismo não tem uma longa história no Brasil. Mesmo no século 19, com a chegada do presbiterianismo no Brasil, a fé reformada não se tornou devidamente conhecida. Ele afirma que os parâmetros presbiterianos no século 19 estavam bem confusos, devido a uma teologia mista que era adotada por Simonton, mas não apenas por ele, por outros missionários também. Isso é muito sério, meus irmãos. Essa teologia misturava a fé reformada legítima com a teologia reavivalista, carismática de um movimento americano chamado Segundo Grande Despertamento. Uma consequência disso, de acordo com ele, é que igrejas eram plantadas com ideias misturadas, que nem sempre davam a devida consistência às nossas igrejas. Essa teologia mista ia sendo passada de geração em geração. Novos pastores eram formados com essas ideias, e assim por diante.
Isso ajuda a explicar a dificuldade existente quando a teologia reformada é ensinada em igrejas reformadas. As pessoas estão ouvindo certas coisas pela primeira vez. Elas comparam com aquilo que ouviram ao longo de décadas e chegam à conclusão de que aquilo que lhes está sendo ensinado agora, com toda certeza, não pode ser verdade, afinal de contas, elas passaram a vida inteira ouvindo outras coisas, fazendo outras coisas. “Nossa igreja já tem mais de 150 anos, e esse pastor vem com essas inovações?” Inovações? Inovações porque estão sendo inventadas agora ou porque estamos ouvindo falar apenas agora? Esta é uma pergunta que merece uma reflexão séria e humilde da nossa parte.
Para se ter uma ideia, a literatura reformada e presbiteriana era praticamente inexistente no Brasil até a década de 80. Nossos seminários formavam seus pastores com muitos livros de teólogos liberais. João Calvino foi publicado, pela primeira vez, em português, apenas em 1985. Louis Berkhof, o principal livro de Teologia Sistemática usado em nossos seminários, só foi publicado em português no ano de 1990. E olha que o presbiterianismo chegou por essas bandas em 1859. Um dos pastores mais conhecidos em nossa denominação, durante o início do século 20, foi um homem chamado Erasmo Braga. Ele se tornou conhecido, dentre outras coisas, por seus esforços em prol de um Seminário Unido, que seria um seminário com professores de denominações diferentes: congregacionais, presbiterianos, batistas, assembleianos e, assim por diante. Qual o resultado disso? Uma salada de doutrinas e convicções sendo instiladas nas mentes dos seminaristas, ao passo que doutrinas fundamentais do presbiterianismo eram deixadas de lado. Então, do século 19 até quase o final do século 20 nossos referenciais eram confusos. Tanto é assim que não são poucas as igrejas locais da Igreja Presbiteriana do Brasil, nas quais a Confissão de Fé de Westminster nunca foram e ainda hoje não são mencionadas.
Uma consequência disso é o que acontece, hoje em dia, à medida que tanto os nossos membros quanto pessoas de outras denominações passam a conhecer a fé reformada. Muitos membros de igrejas presbiterianas passam a estranhar igrejas presbiterianas que se tornam presbiterianas e reformadas em sua doutrina e liturgia. E muitas pessoas que conhecem a fé reformada estranham igrejas presbiterianas que são iguais às suas igrejas em sua doutrina liturgia. E quando a fé reformada, o presbiterianismo confessional é descoberto e passa a ser ensinado, rapidamente ele é objeto de acusações como: radicalismo, falta de equilíbrio e até mesmo neopuritanismo.
Recentemente eu tive a oportunidade de conversar com um conhecido pastor veterano a este respeito. Ele reconhece ser fruto de tudo o que foi falado aqui. Suas palavras a mim foram: “Eu confesso que nós temos muito a aprender sobre o que significa ser presbiteriano confessional”. Um amigo pessoal, que é pastor há quase 30 anos, em conversa comigo, também expressou sua felicidade, mas em relação à formação do seu filho no Seminário Presbiteriano do Norte. Suas palavras foram: "Não tínhamos isso na nossa época. A geração de vocês é uma geração privilegiada". O Dr. Heber Jr., diz algo semelhante em sua palestra: “Ainda há muito a ser descoberto; coisas que, outrora, estiveram nas mãos de alguns poucos”.
Não quero aqui dar a entender que os pastores de gerações anteriores agiram de má fé ou qualquer coisa do tipo. Longe disso! Eu os reputo como homens que se doaram pelo evangelho e usaram as ferramentas que lhes foram disponibilizadas.
O que ocorre é algo semelhante ao que é comum em outros campos do conhecimento. A medicina, por exemplo. Pensemos nas gerações anteriores de médicos e nos que são formados hoje em dia. Conquanto existam excelentes profissionais veteranos, é preciso que se entenda que parte de sua excelência é explicada pelo fato de sempre continuarem a estudar, de sempre continuarem a se aperfeiçoar. São médicos, profissionais que acompanham as novas descobertas, as mais recentes produções acadêmicas.
O mesmo ocorre com a formação em nossos seminários.
E eu creio que as nossas igrejas deveriam ser gratas a Deus por isso. Paulo plantou. Apolo regou. E Deus tem supervisionado todo o processo, dando o crescimento para a glória dele!
Peço licença aos meus amigos aqui no Facebook para falar um pouco a respeito de algo que me é bastante incômodo. E, de início, gostaria de afirmar que este texto, de forma alguma, não é uma expressão de animosidade. Tristeza, talvez. Mas, animosidade, não. Por isso, peço que você me acompanhe até o final.
Não raro, diante de ensinamentos, ouço a pergunta que dá título a este texto. Recentemente participei de uma mesa redonda com o Dr. Mark Jones, e alguém perguntou: "O que dizer desses pastores mais novos, que chegam numa igreja e começam a ensinar coisas que nunca foram ensinadas pelos pastores anteriores? Quer dizer que os pastores anteriores ensinaram tudo errado? Por que eles não ensinaram essas mesmas coisas?"
Eu não considero esse questionamento indevido. Considero natural que o mesmo seja feito, pois, inegavelmente, há muita coisa que aparece diante da igreja de Cristo como "algo novo".
E, para explicar isso, eu gostaria de fazer referência a uma palestra ministrada pelo Dr. Heber Campos Jr., por ocasião do Encontro da Fé Reformada, ano passado, na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia. O Rev. Heber Campos Jr., numa palestra proferida na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, ano passado, a respeito de qual calvinismo tem sido descoberto no Brasil (ACESSE AQUI), fez algumas afirmações muito interessantes que nos ajudam a compreendermos o porquê da nossa dificuldade quando ouvimos algumas coisas que soam como novas aos nossos ouvidos. Ele faz uma comparação entre o que nós continuamos a aprender e a descobrir sobre a nossa fé reformada e aquilo que foi conhecido no início, quando a fé reformada chegou aqui no Brasil. De acordo com ele, o interesse no calvinismo não tem uma longa história no Brasil. Mesmo no século 19, com a chegada do presbiterianismo no Brasil, a fé reformada não se tornou devidamente conhecida. Ele afirma que os parâmetros presbiterianos no século 19 estavam bem confusos, devido a uma teologia mista que era adotada por Simonton, mas não apenas por ele, por outros missionários também. Isso é muito sério, meus irmãos. Essa teologia misturava a fé reformada legítima com a teologia reavivalista, carismática de um movimento americano chamado Segundo Grande Despertamento. Uma consequência disso, de acordo com ele, é que igrejas eram plantadas com ideias misturadas, que nem sempre davam a devida consistência às nossas igrejas. Essa teologia mista ia sendo passada de geração em geração. Novos pastores eram formados com essas ideias, e assim por diante.
Isso ajuda a explicar a dificuldade existente quando a teologia reformada é ensinada em igrejas reformadas. As pessoas estão ouvindo certas coisas pela primeira vez. Elas comparam com aquilo que ouviram ao longo de décadas e chegam à conclusão de que aquilo que lhes está sendo ensinado agora, com toda certeza, não pode ser verdade, afinal de contas, elas passaram a vida inteira ouvindo outras coisas, fazendo outras coisas. “Nossa igreja já tem mais de 150 anos, e esse pastor vem com essas inovações?” Inovações? Inovações porque estão sendo inventadas agora ou porque estamos ouvindo falar apenas agora? Esta é uma pergunta que merece uma reflexão séria e humilde da nossa parte.
Para se ter uma ideia, a literatura reformada e presbiteriana era praticamente inexistente no Brasil até a década de 80. Nossos seminários formavam seus pastores com muitos livros de teólogos liberais. João Calvino foi publicado, pela primeira vez, em português, apenas em 1985. Louis Berkhof, o principal livro de Teologia Sistemática usado em nossos seminários, só foi publicado em português no ano de 1990. E olha que o presbiterianismo chegou por essas bandas em 1859. Um dos pastores mais conhecidos em nossa denominação, durante o início do século 20, foi um homem chamado Erasmo Braga. Ele se tornou conhecido, dentre outras coisas, por seus esforços em prol de um Seminário Unido, que seria um seminário com professores de denominações diferentes: congregacionais, presbiterianos, batistas, assembleianos e, assim por diante. Qual o resultado disso? Uma salada de doutrinas e convicções sendo instiladas nas mentes dos seminaristas, ao passo que doutrinas fundamentais do presbiterianismo eram deixadas de lado. Então, do século 19 até quase o final do século 20 nossos referenciais eram confusos. Tanto é assim que não são poucas as igrejas locais da Igreja Presbiteriana do Brasil, nas quais a Confissão de Fé de Westminster nunca foram e ainda hoje não são mencionadas.
Uma consequência disso é o que acontece, hoje em dia, à medida que tanto os nossos membros quanto pessoas de outras denominações passam a conhecer a fé reformada. Muitos membros de igrejas presbiterianas passam a estranhar igrejas presbiterianas que se tornam presbiterianas e reformadas em sua doutrina e liturgia. E muitas pessoas que conhecem a fé reformada estranham igrejas presbiterianas que são iguais às suas igrejas em sua doutrina liturgia. E quando a fé reformada, o presbiterianismo confessional é descoberto e passa a ser ensinado, rapidamente ele é objeto de acusações como: radicalismo, falta de equilíbrio e até mesmo neopuritanismo.
Recentemente eu tive a oportunidade de conversar com um conhecido pastor veterano a este respeito. Ele reconhece ser fruto de tudo o que foi falado aqui. Suas palavras a mim foram: “Eu confesso que nós temos muito a aprender sobre o que significa ser presbiteriano confessional”. Um amigo pessoal, que é pastor há quase 30 anos, em conversa comigo, também expressou sua felicidade, mas em relação à formação do seu filho no Seminário Presbiteriano do Norte. Suas palavras foram: "Não tínhamos isso na nossa época. A geração de vocês é uma geração privilegiada". O Dr. Heber Jr., diz algo semelhante em sua palestra: “Ainda há muito a ser descoberto; coisas que, outrora, estiveram nas mãos de alguns poucos”.
Não quero aqui dar a entender que os pastores de gerações anteriores agiram de má fé ou qualquer coisa do tipo. Longe disso! Eu os reputo como homens que se doaram pelo evangelho e usaram as ferramentas que lhes foram disponibilizadas.
O que ocorre é algo semelhante ao que é comum em outros campos do conhecimento. A medicina, por exemplo. Pensemos nas gerações anteriores de médicos e nos que são formados hoje em dia. Conquanto existam excelentes profissionais veteranos, é preciso que se entenda que parte de sua excelência é explicada pelo fato de sempre continuarem a estudar, de sempre continuarem a se aperfeiçoar. São médicos, profissionais que acompanham as novas descobertas, as mais recentes produções acadêmicas.
O mesmo ocorre com a formação em nossos seminários.
E eu creio que as nossas igrejas deveriam ser gratas a Deus por isso. Paulo plantou. Apolo regou. E Deus tem supervisionado todo o processo, dando o crescimento para a glória dele!
Ministro presbiteriano, escritor, tradutor, revisor e professor de teologia
Assinar:
Postagens (Atom)