Por Thomas Brooks
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra
Outra tática do Diabo é a de dizer ao crente que pode aproximar-se do pecado sem cair nele. Ele insistirá com o crente que pode achegar-se a pessoas com vidas pecaminosas, ou que pode estar em lugares onde se cometem atos pecaminosos, sem que nada lhe aconteça. Dirá que pode conviver com os beberrões sem embriagar-se, que pode acompanhar as pessoas imorais sem participar de suas imoralidades. Dirá que pode aproximar-se da porta da prostituta, desde que não suba em sua cama, que pode olhar a beleza de Jezabel, mas não cometer pecado com ela, que pode por as suas mãos na joia de ouro de Acã sempre, mas desde não a roube. Em outras palavras, que pode acercar-se do pecado sem ser afetado por ele. Todavia, com frequência sucede que ao aproximar-se do pecado, de imediato, este o conduz a pecar.
A Bíblia adverte aos crentes a respeito dos lugares e das pessoas que lhes incentivam a pecar. O texto de 1Ts 5.22 lhes manda apartar-se de toda classe de mal. E Pv 4.14-15 diz: “Não entres pela vereda dos ímpios, não siga pelo caminho dos maus. Deixa-o, não passes por ele; afaste-se dele”. Há que evitar tudo o que não é bom, saudável e santo. Não faça nada que pareça mau, ou que tenha a aparência de pecado. Se não quiser ser queimado, deverá afastar-se do fogo. Se não quiser pecar, deverá alongar-se de qualquer coisa que lhe conduziria a pecar; se não o faz, não poderá ter vitória sobre o pecado.
A Bíblia nos fala daqueles que foram vitoriosos sobre o pecado. Se afastaram de tudo o que lhes poderia conduzir a pecar, ainda que somente fosse uma aparência. O Diabo considera como meia vitória, como quase uma conquista, o fato de que não se aparte daquilo que pode conduzi-lo a pecar. O caso de José, é uma ilustração de alguém que se afastou da tentação do pecado. Ainda que a esposa de Potifar lhe provocasse a cometer o adultério, José não a escutava, nem aceitava estar na presença dela. (Gn 39.10). Se você quer usufruir das bençãos de Deus, tem que afastar-se de tudo o que lhe conduz a pecar.
O fato de evitar a aparência do pecado é uma evidência da graça de Deus que lhe eleva acima dos homens que pertencem ao mundo. Desta maneira Abraão viveu uma vida piedosa em meio a um povo imundo. Daniel permaneceu fiel num país onde se adorava a falsos deuses. Timóteo viveu uma vida controlada pelo Espírito de Deus em meio a um povo pagão em Éfeso. Os crentes não devem escutar ao Diabo quando lhes diz que podem acercar-se do pecado, todavia, sem pecar. O ensino da Bíblia é claro acerca disto, afaste-se de qualquer coisa que lhe conduza a pecar.
Outra artimanha usada por Satanás para conduzir aos crentes ao pecado é dizer-lhes que os não arrependidos gozam de uma vida prazerosa e sem problemas. “Veja essas pessoas como pecam e estão felizes, cheias de boas coisas. Não têm preocupações. Una-se a elas e vá se divertir”. Às vezes, Deus é bondoso e abençoa nesta vida aos mesmos que estão destinados à condenação. A maneira que Deus trata uma pessoa nesta vida nem sempre indica o que Deus pensa acerca dessa pessoa. Da mesma maneira Deus, às vezes, envia coisas difíceis às pessoas que são objeto de seu amor. O sol brilha sobre os espinhos e sobre as árvores frutíferas. A boa dádiva de Deus é outorgada aos bons e aos maus. Tanto os bons como os maus gozam de boa saúde, recebem riqueza e abundância; ainda assim, sofrem indistintamente perdas e enfermidades.
o primeiro remédio contra esta tática é despertar-nos de que Deus é contra os que usam as suas bençãos como um pretexto para pecar. O desprezo de Deus é muito forte contra os que, desta maneira, abusam de sua bondade. Os crentes nunca devem pensar que a ternura de Deus lhes dá liberdade para pecar; pelo contrário, sua benignidade deveria conduzi-los para o arrependimento.
Segundo, não há miséria maior nesta vida do que a ausência da correção e a disciplina de Deus. Aqueles cujas vidas sofrem destas marcas devem se preocupar. Se Deus nunca lhes envia problemas, se suas vidas sempre foram fáceis, então estão no pior estado possível. Quando Deus não se preocupa por corrigir e provar uma pessoa, essa pessoa está perdida. Os incrédulos podem se sentir felizes porque Deus não lhes corrige, mas é falso o seu sentimento de segurança. Longe de indicar que tudo está bem com eles, indica o contrário, que tudo está mal. A prosperidade é uma piedra na qual milhões de pessoas tropeçam; tropeçaram, caíram e fraturaram a cerviz de sua alma para sempre.
Terceiro, é certo que os pecadores usufruem de boas coisas nesta vida, mas as suas “bençãos” não são nada comparadas com o que não têm. Os pecadores podem gozar do dinheiro, poder, amigos, saúde, felicidade; mas não conhecem à Deus, nem à Cristo, nem ao Espírito de Deus. Não têm a paz com Deus, nem o perdão de seus pecados. Não são filhos de Deus e não são livres do poder dominante do pecado. Não são objeto da graça de Deus e muito menos têm a esperança de irem para o céu. De que servem todas as bençãos temporais desta vida se não têm o amor de Deus, o perdão de seus pecados, a presença de Cristo e a esperança de glória eterna?
Quarto, as coisas boas desta vida nem sempre são o que aparentam ser. As coisas “boas” sempre estão mescladas com coisas más. O poder e o dinheiro trazem temores, preocupações e não tão somente a felicidade. O Sl 92.7 diz que os ímpios brotam como a erva, que floresce os que praticam a iniquidade, mas que serão destruídos eternamente. Frequentemente, Deus castigará com juízos espirituais as mesmas pessoas que sofrem menos castigos nesta vida. Por juízos espirituais quero dizer que não estão dispostos a arrepender-se, que não se preocupam com suas almas, que suas consciências estão cauterizadas, seus corações endurecidos, estão cegos em relação à verdade de Deus. Juízos semelhantes a estes são piores que todos os sofrimentos e tristezas desta vida terrena.
Quinto, um dia os homens entenderão todas as bençãos que receberam durante a sua vida terrena. “Porque a todo que muito é dado, muito será cobrado” (Lc 12.48). O que dirão estas pessoas por tantas bênçãos que Deus lhes concedeu? Deus é paciente agora, mas a sua paciência e sua bondade deveriam nos guiar ao arrependimento, de outro modo, a sua bondade se converterá num motivo de maior juízo.
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