Por Rev. Alan Rennê Alexandrino
Peço licença aos meus amigos aqui no Facebook para falar um pouco a respeito de algo que me é bastante incômodo. E, de início, gostaria de afirmar que este texto, de forma alguma, não é uma expressão de animosidade. Tristeza, talvez. Mas, animosidade, não. Por isso, peço que você me acompanhe até o final.
Não raro, diante de ensinamentos, ouço a pergunta que dá título a este texto. Recentemente participei de uma mesa redonda com o Dr. Mark Jones, e alguém perguntou: "O que dizer desses pastores mais novos, que chegam numa igreja e começam a ensinar coisas que nunca foram ensinadas pelos pastores anteriores? Quer dizer que os pastores anteriores ensinaram tudo errado? Por que eles não ensinaram essas mesmas coisas?"
Eu não considero esse questionamento indevido. Considero natural que o mesmo seja feito, pois, inegavelmente, há muita coisa que aparece diante da igreja de Cristo como "algo novo".
E, para explicar isso, eu gostaria de fazer referência a uma palestra ministrada pelo Dr. Heber Campos Jr., por ocasião do Encontro da Fé Reformada, ano passado, na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia. O Rev. Heber Campos Jr., numa palestra proferida na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, ano passado, a respeito de qual calvinismo tem sido descoberto no Brasil (ACESSE AQUI), fez algumas afirmações muito interessantes que nos ajudam a compreendermos o porquê da nossa dificuldade quando ouvimos algumas coisas que soam como novas aos nossos ouvidos. Ele faz uma comparação entre o que nós continuamos a aprender e a descobrir sobre a nossa fé reformada e aquilo que foi conhecido no início, quando a fé reformada chegou aqui no Brasil. De acordo com ele, o interesse no calvinismo não tem uma longa história no Brasil. Mesmo no século 19, com a chegada do presbiterianismo no Brasil, a fé reformada não se tornou devidamente conhecida. Ele afirma que os parâmetros presbiterianos no século 19 estavam bem confusos, devido a uma teologia mista que era adotada por Simonton, mas não apenas por ele, por outros missionários também. Isso é muito sério, meus irmãos. Essa teologia misturava a fé reformada legítima com a teologia reavivalista, carismática de um movimento americano chamado Segundo Grande Despertamento. Uma consequência disso, de acordo com ele, é que igrejas eram plantadas com ideias misturadas, que nem sempre davam a devida consistência às nossas igrejas. Essa teologia mista ia sendo passada de geração em geração. Novos pastores eram formados com essas ideias, e assim por diante.
Isso ajuda a explicar a dificuldade existente quando a teologia reformada é ensinada em igrejas reformadas. As pessoas estão ouvindo certas coisas pela primeira vez. Elas comparam com aquilo que ouviram ao longo de décadas e chegam à conclusão de que aquilo que lhes está sendo ensinado agora, com toda certeza, não pode ser verdade, afinal de contas, elas passaram a vida inteira ouvindo outras coisas, fazendo outras coisas. “Nossa igreja já tem mais de 150 anos, e esse pastor vem com essas inovações?” Inovações? Inovações porque estão sendo inventadas agora ou porque estamos ouvindo falar apenas agora? Esta é uma pergunta que merece uma reflexão séria e humilde da nossa parte.
Para se ter uma ideia, a literatura reformada e presbiteriana era praticamente inexistente no Brasil até a década de 80. Nossos seminários formavam seus pastores com muitos livros de teólogos liberais. João Calvino foi publicado, pela primeira vez, em português, apenas em 1985. Louis Berkhof, o principal livro de Teologia Sistemática usado em nossos seminários, só foi publicado em português no ano de 1990. E olha que o presbiterianismo chegou por essas bandas em 1859. Um dos pastores mais conhecidos em nossa denominação, durante o início do século 20, foi um homem chamado Erasmo Braga. Ele se tornou conhecido, dentre outras coisas, por seus esforços em prol de um Seminário Unido, que seria um seminário com professores de denominações diferentes: congregacionais, presbiterianos, batistas, assembleianos e, assim por diante. Qual o resultado disso? Uma salada de doutrinas e convicções sendo instiladas nas mentes dos seminaristas, ao passo que doutrinas fundamentais do presbiterianismo eram deixadas de lado. Então, do século 19 até quase o final do século 20 nossos referenciais eram confusos. Tanto é assim que não são poucas as igrejas locais da Igreja Presbiteriana do Brasil, nas quais a Confissão de Fé de Westminster nunca foram e ainda hoje não são mencionadas.
Uma consequência disso é o que acontece, hoje em dia, à medida que tanto os nossos membros quanto pessoas de outras denominações passam a conhecer a fé reformada. Muitos membros de igrejas presbiterianas passam a estranhar igrejas presbiterianas que se tornam presbiterianas e reformadas em sua doutrina e liturgia. E muitas pessoas que conhecem a fé reformada estranham igrejas presbiterianas que são iguais às suas igrejas em sua doutrina liturgia. E quando a fé reformada, o presbiterianismo confessional é descoberto e passa a ser ensinado, rapidamente ele é objeto de acusações como: radicalismo, falta de equilíbrio e até mesmo neopuritanismo.
Recentemente eu tive a oportunidade de conversar com um conhecido pastor veterano a este respeito. Ele reconhece ser fruto de tudo o que foi falado aqui. Suas palavras a mim foram: “Eu confesso que nós temos muito a aprender sobre o que significa ser presbiteriano confessional”. Um amigo pessoal, que é pastor há quase 30 anos, em conversa comigo, também expressou sua felicidade, mas em relação à formação do seu filho no Seminário Presbiteriano do Norte. Suas palavras foram: "Não tínhamos isso na nossa época. A geração de vocês é uma geração privilegiada". O Dr. Heber Jr., diz algo semelhante em sua palestra: “Ainda há muito a ser descoberto; coisas que, outrora, estiveram nas mãos de alguns poucos”.
Não quero aqui dar a entender que os pastores de gerações anteriores agiram de má fé ou qualquer coisa do tipo. Longe disso! Eu os reputo como homens que se doaram pelo evangelho e usaram as ferramentas que lhes foram disponibilizadas.
O que ocorre é algo semelhante ao que é comum em outros campos do conhecimento. A medicina, por exemplo. Pensemos nas gerações anteriores de médicos e nos que são formados hoje em dia. Conquanto existam excelentes profissionais veteranos, é preciso que se entenda que parte de sua excelência é explicada pelo fato de sempre continuarem a estudar, de sempre continuarem a se aperfeiçoar. São médicos, profissionais que acompanham as novas descobertas, as mais recentes produções acadêmicas.
O mesmo ocorre com a formação em nossos seminários.
E eu creio que as nossas igrejas deveriam ser gratas a Deus por isso. Paulo plantou. Apolo regou. E Deus tem supervisionado todo o processo, dando o crescimento para a glória dele!
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