Por Thomas Brooks
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra
Neste capítulo trataremos com outras duas estratégias usadas pelo diabo para fazer com que os crentes caiam em pecado. Primeiro, Satanás lhes fala que os melhores crentes da Bíblia pecaram e, portanto, os crentes também podem pecar. Em segundo lugar, Satanás lhes dirá que não se preocupem com os seus pecados, que Deus é misericordioso para perdoá-los. Então, vejamos a forma de enfrentar estas artimanhas.
Primeiro, às vezes, Satanás diz aos crentes que, como todos aqueles acerca de quem lemos na Bíblia pecaram, então, o pecado não é tão grave. Davi foi um homem que amou a Deus e, todavia, cometeu o adultério. Satanás se apoia neste assunto para dizer-nos que o adultério não é algo tão mal. Noé foi um homem que achou graça diante os olhos de Deus (Gn 6:8), entretanto, em Gn 9:21 lemos que este homem embreagou-se. Satanás dirá aos crentes que tão pouco a embriaguez é um pecado tão grave diante de Deus. O texto de Mt 16:17 nos fala que Pedro foi abençoado pelo Senhor; mas em Mt 26:74 o mesmo apóstolo amaldiçoou e negou ao nosso Senhor Jesus Cristo. Com base nisto, Satanás diz aos crentes que tais pecados não são graves de modo algum.
Satanás tem razão? David, Noé, Pedro e outros filhos de Deus pecaram gravemente contra Deus. Isto significa que os crentes não devem se preocupar com os seus pecados?
Em primeiro lugar, Satanás somente está mencionando uma parte da história. Davi pecou, mas também Davi se arrependeu. O Salmo 51 nos fala de como Davi se sentiu e o que fez após cair no pecado. “Lava-me mais e mais de minha maldad, limpa-me de meu pecado.” (Sl 51:2) Estas não são as palavras de alguém que não se preocupava com o pecado, mas de alguém que estava arrependido, que odiou o seu pecado e pediu perdão à Deus. Da mesma maneira, depois que Pedro amaldiçoou e negou ao Senhor, saiu e chorou amargamente. (Mt 26:75) Por que Pedro chorava? Chorava porque estava consciente de seu pecado e arrependido do que fez. Quando alguém pensa que pode pecar porque os crentes da Bíblia o fizeram, este deve se perguntar se é capaz de arrepender-se como eles o fizeram. A verdade é que muitos pecam da mesma forma que estes homens, mas bem poucos se arrependem como eles. Em outras palavras, ainda que os crentes bíblicos caíram ocasionalmente no pecado, na realidade eles o odiavam. Do mesmo modo, os crentes devem odiar o pecado e desejar afastar-se dele.
Em segundo, note que estes crentes não permaneceram no pecado. Pecaram em ocasiões, mas não viviam no pecado. E ainda quando pecaram, não o fizeram de todo coração. Satanás deseja que os crentes pequem incessantemente, a fim de que se acostumem ao pecado, quer que se sintam a vontade pecando. Isto é muito diferente da forma em que caíram Davi e Pedro.
É necessário recordar que Davi e os demais crentes mencionados sofriam muito a consequência de seus pecados. No Salmo 51, Davi disse que lhe foi tão doloroso como a fratura de um osso. (Sl 51:8). E Deus lhe sentenciou, como consequência de sua falta, dizendo que sempre haveria violência em sua família, e assim aconteceu.
Os pecados de Davi e Pedro estão registrados na Bíblia como uma advertência aos crentes e também para o seu auxílio. Por um lado, Deus não quer que os crentes se desesperem quando pecam, e por esta razão nos mostra que os crentes mais fortes também pecaram. E, por outro lado, Deus adverte aos crentes a não descuidarem em sua luta contra o pecado. Devemos aprender com as quedas dos outros, ou seja, suas quedas podem nos ajudar a não cairmos. Não há nenhuma garantia em nossos anos como crentes, muito menos em nossa fidelidade no passado. Há graça e perdão para os que caíram, mas também há disciplina.
Satanás, além desta tática, trata de obter que os crentes não se preocupem com o pecado, dizendo-lhes que Deus é misericordioso e que sempre os perdoará. O Diabo lhes fala que Deus é um Deus de pura graça e que está disposto a conceder misericórdia, e que sempre estará mais propenso a perdoar que a castigar ao seu povo. Vejamos a continuação de cinco remédios preciosos contra esta tática.
Primeiro, sempre é um sinal de que Deus está contra nós, quando não nos preocupamos com o pecado. Quando vemos que alguém não está preocupado com os seus pecados, podemos ter certeza de que Deus está julgando esta pessoa. É uma coisa terrível quando Deus entrega alguém aos seus próprios pecados. Deus disse, numa ocasião, em relação aos israelitas: “Os deixei, portanto, para a dureza de seu coração; caminharam em seus próprios conselhos” (Sl 81:12). Noutro momento disse: “Efraim é entregue aos ídolos; deixe-o” (Os 4:17). Este foi o juízo de Deus contra eles. Quando Deus abandona a um povo, então, ele não se preocupa com seus pecados.
Segundo, Deus é tanto misericordioso como justo, a sua misericórdia não anula a sua justiça. Satanás oculta esta verdade quando diz que Deus será sempre e somente misericordioso. Quando Adão pecou, Deus em sua justiça expulsou-o para fora do paraíso. Quando o mundo antediluviano se corrompeu, Deus em sua justiça mandou o dilúvio. A menos que os pecadores se arrependam, Deus não lhes perdoará.
Terceiro, os pecados contra a misericórdia de Deus acarretam maior juízo. Quando os homens abusam da misericórdia de Deus, então, vem seu juízo. Esta é a ordem em que Deus atua: primeiro oferece a sua misericórdia, mas se os homens a desprezam, então são julgados. Deus mostrou grande misericórdia e ternura aos israelitas, todavia, eles se afastaram e esqueceram de Deus. Jesus lhes advertiu que não ficaria pedra sobre pedra de seu templo e assim sucedeu (Mc 13:2). Jerusalém e o templo foram destruídos. Muitos judeus foram mortos e outros levados cativos. Os que abusaram da misericórdia de Deus e lhe deram as costas às suas advertências, foram objetos de sua justiça. Por mais que alguém seja abençoado, mais severo será o seu juízo se esquecer-se de Deus. Cafarnaum que foi elevada ao céu, posteriormente foi posta na parte mais baixa do inferno (Mt 11:23).
Quarto, os crentes não devem pensar que tudo está bem devido ao desfrute de algumas bençãos de Deus. Todos de alguma maneira, ou de outra, constantemente recebem benefícios da bondade de Deus. Mas a misericórdia especial de Deus é somente para aqueles que o amam e lhe obedecem. “Todos os caminhos de Jehová são misericórdia e verdade para os que guardam o seu pacto e seus testemunhos” (Sl 25:10). “Os olhos de Jehová estão sobre os que o teme, sobre os que esperam a sua misericórdia.” (Sl 33:18). “Porque como é a altura dos céus sobre a terra, engrandeceu a sua misericórdia sobre os que lhe temem.” (Sl 103:11). Você teme a Deus? Se sim, então, não desejará pecar contra a sua misericórdia.
Quinto, a misericórdia de Deus é um fortíssimo motivo para não pecar. A bondade de Deus nunca deve se converter em pretexto para pecar. A Bíblia diz que devido à misericórdia de Deus, os crentes devem se entregar completamente a ele, seu corpo, sua mente e tudo o que são, a fim de que sejam usados em seu serviço (Rm 12:1). A misericórdia de Deus deve conduzir aos crentes a amá-lo e não a pecar contra ele. Os que têm a misericórdia de Deus como um pretexto para pecar, estão seguindo uma lógica satânica. Quando esta lógica predomina no pensamento de uma pessoa, há motivos para supor que tal pessoa está em perdição. Quando uma pessoa diz que a misericórdia de Deus significa que o pecado não importa, tal pessoa demostra que não está valorizando corretamente este atributo divino. Uma compreensão correta da misericórdia divina, traz como resultado uma atração em relação à Deus e um desprezo pelo pecado.
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