O apóstolo Paulo escreveu aos cristãos da igreja de Filipos “Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se! Que a moderação de vocês seja conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não fiquem preocupados com coisa alguma, mas, em tudo, sejam conhecidos diante de Deus os pedidos de vocês, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Fp 4.4-7 NAA). Ele prescreve que as mentes dos cristãos não fossem dominadas pelo medo de sofrerem algum mal. Esse medo pode produzir uma nociva ansiedade que tiraria a alegria em Cristo Jesus.
Como evitar a ansiedade e o medo excessivo? A maioria dos motivos das nossas ansiedades e temores, talvez, nunca acontecerão. Mas estas emoções são reais e furtam a nossa alegria, paz, vigor e produtividade. Atualmente temos um contexto de pandemia do COVID-19 [coronavírus] que oferece riscos à nossa saúde e vida. Sabemos que há pessoas que exageram e causam um pânico desnecessário, mas não ignoramos que toda prevenção é salutar para combater a proliferação e contágio desse vírus. Sei que o assunto do coronavírus é massificado na mídia, redes sociais e nas conversas pessoais, mas, apesar de cansativo ele é necessário. Contudo, pensar nele o tempo todo nos leva a uma condição de ansiedade ininterrupta, cansaço emocional e desgaste mental. É sobre isso que Paulo nos adverte.
A Palavra de Deus no texto de Fp 4.4-7, sem nos alienar dos problemas, orienta a pensar nalgumas verdadeiras ideias que produzirão vigor físico e espiritual. Primeiro, ele nos lembra da alegria no Senhor [veja o verso 4]. A alegria no Senhor e não qualquer entretenimento, é a nossa fonte de revigoramento. Neemias vendo o desânimo dos judeus lhe orientou que: “Vão para casa, comam e bebam o que tiverem de melhor. E mandem porções aos que não têm nada preparado para si. Porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto, não fiquem tristes, porque a alegria do Senhor é a força de vocês” (Ne 8.10, NAA). Paulo declarou duplamente que devemos nos alegrar no Senhor. Entendendo essa verdade Johannes Sebastian Bach compôs uma famosa música sob o título de “Jesus é a alegria dos homens” [disponível no Youtube].
Em segundo lugar, Paulo nos adverte que a nossa moderação deve influenciar aos que estão ao nosso redor. Em qualquer situação, seja diversão, festividade, dor, perda por falecimento, ou o contexto de pandemia que vivemos, não devemos tirar os freios das nossas emoções. Não podemos nos entregar ao desespero de modo que contribuamos para o pânico. Jó vendo a perda de seus bens e filhos não saiu gritando, xingando, blasfemando, ou agredindo os outros, pelo contrário, ele se levantou em meio à sua tristeza e louvou ao Senhor com uma das mais confortadoras declarações da Bíblia (Jó 1.20-21). Se, porventura, não sentirmos o consolo de Deus, se não entendermos o motivo do que está acontecendo, ainda assim, somos exortados a pensar que “perto está o Senhor”. Ele nos basta, porque a sua suficiência é maior do que tudo.
Em terceiro lugar, o apóstolo nos repreende a não andarmos ansiosos. A ansiedade em si não é pecado, porque ela, em geral, revela a maturidade e responsabilidade de quem sabe o que é sofrer, dos danos e consequências de enfermidades, dívidas, escassez, pobreza, ameaças e sofrimentos que vão além do nosso controle. Então, a ansiedade foi um desses sentimentos que Deus colocou no homem ao cria-lo, assim como a ira, o amor, a alegria e o medo são legítimos se exercidos com o propósito que Deus lhes deu, isto é, nos santificar e afastar do pecado e promover a nossa devoção à Deus. Por isso, não devemos “andar” ansiosos, ou seja, uma ansiedade incessante que domina todo o nosso comportamento, causando malefícios como descontrole, perturbação e insônia. A recomendação da Palavra de Deus é que coloquemos diante de Deus, por meio da oração, tudo o que nos rouba a paz e alegria em Cristo. Mas não é somente pedir. O texto bíblico [Fp 4.6b] nos orienta a orar “com ações de graças”. Isso significa agradecer a Deus, mesmo que o nosso coração lute usando armas de mortal amargura contra a viva esperança que vem do alto. É o SENHOR Deus quem define o valor do que temos na vida e, por isso, a importância do que fazemos é medido pelo quão gratos somos a Ele quando nos dá ou tira algo de nós. Deus nos ordena a sermos sempre agradecidos por tudo o que Ele faz conosco, porque tudo é para nosso bem e para a sua glória (1Ts 5.18). A gratidão cura o egoísmo e a amargura.
Em quarto lugar, Paulo nos dá uma promessa. Algumas pessoas não sabem o que é ter paz há muito tempo, e algumas, talvez, nunca experimentaram “a paz de Deus que excede todo o entendimento”. Certamente que Paulo como israelita não se refere apenas à ausência de conflitos ou tormentos, mas é possível que esteja pensando em shalom, que é um conceito hebraico muito mais rico em significado. A ideia de shalom, por vezes traduzida por “paz”, refere-se a perfeita ordem e funcionamento de todas as coisas produzindo o pleno bem-estar e contentamento em Deus. É algo que transcende às boas ou más circunstâncias, está além do estado de espírito, ou qualquer outro subjetivismo. O profeta Habacuque sob a eminente invasão dos babilônios, em 605 a.C., faz uma confissão de fé: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na videira; ainda que a colheita da oliveira decepcione, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas desapareçam do aprisco, e nos currais não haja mais gado, mesmo assim eu me alegro no Senhor, e exulto no Deus da minha salvação” (Hq 3.17-18). É a esta alegria que Paulo se refere ao declarar que esta paz “excede todo o entendimento” não está afirmando que ela é irreal, ou um “salto no escuro”, mas que não se limita a inconstância das nossas emoções, porque ela tem a sua fonte em Cristo e o seu valor é de acordo com o perfeito propósito de Deus (Rm 8.28-29).
A ansiedade descontrolada tem o poder de destruir a nossa concentração. Ela dispersa os nossos pensamentos, levando-nos à tentação de resolver todos os possíveis problemas que atormentam a nossa mente. A mente é induzida a um excessivo e nocivo ativismo. O problema é que quando somos dominados pela ansiedade temos drenado todo o nosso vigor. Por isso, somos incapazes de nos proteger das nossas disfunções emocionais e de pensamentos conflitantes. É aqui que se aplica a promessa de Deus: Ele “guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”. Não são pensamentos de autoajuda, ou uma mente positiva, um espírito otimista, ou “alto astral” [usando uma linguagem pagã] que nos garantirá a saúde mental e espiritual. Somente Cristo é capaz de nos prover suficientemente em todas as nossas necessidades, dominar nossos conflitos, acalmar nossos temores e satisfazer os nossos reais anseios. Lembre-se: o Senhor Jesus, incessantemente, reina!
“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre. Amém!” (Rm 11.36, NAA)
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