19 maio 2007

Uma introdução ao livro de Provérbios

1. Título
O título origina de uma raiz hebraica que significa “ser como”. Por isso, tem primariamente o sentido de “comparação” indicando duas situações de similar caráter.

2. Autoria
Há pelo menos sete indicações da autoria no próprio livro:
1. 1:1 – “provérbios de Salomão”.
2. 10:1 – “provérbios de Salomão” (título).
3. 22:17 – “palavras dos sábios”.
4. 24:23 – “provérbios dos sábios”.
5. 25:1 – “também estes são provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá”.
6. 30:1 – “palavras de Agur, filho de Jaque, de Massa” (título).
7. 31:1 – “palavras do rei Lemuel, de Massa, as quais lhe ensinou sua mãe”.

O livro é prefaciado com o nome de Salomão, mas há uma seção atribuída aos “sábios”, e dois capítulos são atribuídos: um a Agur e o outro a Lemuel. Há quem tente explicar o fato, dizendo que Lemuel e Agur são outros nomes de Salomão, mas isso é improvável.
A tradição judaica no Baba Bathra 15a afirma que “Ezequias e seus companheiros escreveram os Provérbios”. Provavelmente que esta declaração talmúdica refira-se a “Ezequias e seus companheiros” não como autores, mas como compiladores que ajuntaram e editaram o livro, acrescentando outros provérbios.

Podemos admitir algumas conclusões:
1. A maior parte dos provérbios são realmente de Salomão. Conforme 2 Rs 4:32 lemos que Salomão “disse três mil provérbios e foram o seus cânticos mil e cinco”.
2. Agur foi o autor do cap. 30, e nada se sabe a seu respeito.
3. O rei Lemuel foi o autor do cap. 31, e também, nada se sabe sobre a sua identidade.
4. Podemos deduzir que Salomão tenha compilado e incluído os provérbios pré-existentes aos seus, os “provérbios dos sábios”. Edward J. Young observa que “pode ser que esta referência aos sábios não seja indicação de autoria, mas mostre simplesmente que as palavras empregadas pelo escritor são as aprovadas ou seguidas pelos sábios, ou pelo menos estão de acordo com os seus ditos”.[1]
5. Ezequias e sua equipe adicionaram em seus dias (cerca 700 a.C.), outros provérbios, talvez do próprio Salomão, e de outros sábios, que igualmente foram inspirados e guiados pelo Espírito Santo.
6. Os dois últimos capítulos são unidades independentes, de autores desconhecidos. Seriam como apêndices.

3. Data
Não há motivos sólidos para abandonarmos a autoria de Salomão da primeira parte do livro. Nesse caso, a data provável seria aproximadamente 950-900 a.C., para a escrita dos capítulos 1-24, na metade final do seu reinado, e aproximadamente 725-700 a.C. para os últimos capítulos 25-31, que foram compilados por “Ezequias e seus companheiros”.

O livro apócrifo Eclesiástico 47:17, cita Pv 1:6. Este apócrifo é datado em 200 a.C.. Ao citar Provérbios isso aponta algumas evidências da data do livro:
1. Provérbios já existia tempo suficiente, antes de Eclesiástico, para que tornasse reconhecido como fonte de autoridade canônica.
2. O livro de Provérbios influenciou o estilo literário de Eclesiástico, o que indica uma imitação daquilo que se tornara “padrão” no estilo Mashal.

4. Propósito
4.1. Propósito Didático
Advertir dos grandes perigos que resultam inevitavelmente por seguir os ditames da natureza ou paixões pecaminosas (Pv 1:1-7). “O propósito do escritor aqui é traçar o contraste mais nítido entre as conseqüências de buscar e encontrar a sabedoria e as de seguir uma vida de insensatez.”[2]

4.2. Propósito teológico
Foi escrito para dar ao povo de Deus um guia prático e memorável de como aplicar o conhecimento de Deus (o temor do Senhor) à vida diária, para aqueles que já entraram num relacionamento de Aliança com Ele. Mostrando como a Aliança com Deus tem aplicação extremamente prática no seu cotidiano.

5. Estrutura do Livro
5.1. Primeiro modelo:
1. Prólogo...................................................... 1:1-7
2. Provérbios aos jovens....................... 1:8-9:18
3. Miscelânea de Provérbios................ 10-24
4. Coleção de Ezequias.......................... 25-29
5. Apêndice de Agur e Lemuel............. 30-31

5.2. Segundo Modelo:
1. Título e assunto.................................................. 1:1-7
2. Vários discursos................................................. 1:8-9:18
3. Primeira coleção de provérbios de Salomão... 10:1-22:16
4. Primeira coleção das “palavras dos sábios”.. 22:17-23:14
5. Discursos adicionais.......................................... 23:15-24:22
6. Segunda coleção das “palavras dos sábios”... 24:23-34
7. Segunda coleção de provérbios de Salomão... 25:1-29:27
8. As palavras de Agur.......................................... 30:1-33
9. As palavras de Lemuel..................................... 31:1-9
10.O elogio à esposa prudente............................ 31:10-31

6. Análise do Conteúdo
O livro de Provérbios é uma excelente antologia de declarações sábias. Estimula de forma provocante a imaginação, levando o leitor a refletir nas implicações de uma verdade simples e evidente.

R.K. Harrison observa que “os provérbios consistem geralmente de breves e incisivas declarações em que podem ser usadas com grande efeito na comunicação de verdades morais e espirituais, sobre a conduta.”[3]

Klaus Homburg comenta que “no provérbio da sabedoria são formulados expressões proverbiais segundo os critérios da analogia e do paradoxo.”[4]

7. Contribuição ao Cânon
O texto do Talmud, Shabbath 30b registra a dúvida entre os rabinos quanto à canonicidade de Provérbios. Declara o Talmud que “o livro de Provérbios, também o procuraram esconder, por haver contradições no seu contexto”. E cita como exemplo a passagem de 26:4-5 que diz “não respondas ao insensato segundo a sua estultícia (...), ao insensato responde segundo a sua estultícia...”. Mas o próprio Talmud interpreta a situação afirmando que “não há dificuldade; um refere-se a assuntos da lei e o outro a negócios seculares.”

8. Fatos Interessantes
1. Em 1 Rs 4:32, Salomão fez 3000 provérbios e 1005 cânticos. O livro de Provérbios contém apenas 915 destes 3000.[5]
2. O cap. 31 inclui um poema acróstico (a primeira palavra de cada versículo começa com uma letra do alfabeto hebraico, vide* TM).

Notas:
[1] Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 327
[2] W.S. Lasor, D.A. Lasor, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 502
[3] Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 1011
[4] Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, p. 188
[5] Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 273, nota 13

Rev. Ewerton B. Tokashiki

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostaria de saber os paralelismos do livro de Provérbios