por Stephen Nichols
Extraído DAQUI
O labor teológico de quem se preocupa em oferecer a sistematização e aplicabilidade das Escrituras para a proclamação do Reino de Deus
por Stephen Nichols
Extraído DAQUI
Um artigo do Dr. Guy M. Richard, recentemente republicado no excelente Confessional Presbyterian Journal (Vol. 4, pp. 162-170), Samuel Rutherford’s Supralapsarianism Revealed: A Key to the Lapsarian Position of the Westminster Confession of Faith, defendeu que a Confissão de Westminster é melhor lida como um documento inerentemente supralapsariano. O artigo foi valioso por uma variedade de razões, entre as quais estão, uma pesquisa perspicaz do supralapsarianismo de Rutherford (mais brando do que muitas vezes se pensa) e uma tentativa de entender a Confissão por meio de polêmicas contextualizadas de meados do século XVII, em vez de posições dogmáticas posteriores (uma abordagem frequentemente encontrada em comentários teológicos sobre a confissão). No entanto, tenho algumas perguntas sobre o ponto central do artigo — que é que a Confissão de Westminster é inerentemente supralapsariana. As perguntas-chave são:
Então, do meu ponto de vista, o
artigo deixou muitas perguntas sem resposta para desafiar a conclusão de
Warfied: “Mas o plano sábio foi adotado com relação aos pontos de diferença
entre os supralapsarianos, que eram representados por vários dos pensadores
mais competentes na Assembleia (Twisse, Rutherford), e os infralapsarianos, sendo
o partido que a maioria dos membros aderiu, para estabelecer na confissão
apenas o que era comum a ambos, deixando todo os pontos que estavam em disputa
entre eles inteiramente intocados.” Então, não é ainda mais seguro concluir que
a Confissão não é inerentemente supra ou inerentemente infra e seguir o
eminente John Murray:
“A Confissão não se compromete intencionalmente com o debate entre os supralapsarianos e os infralapsarianos, como os termos da seção e o debate na Assembleia mostram claramente. Certamente esta é a reserva adequada em um documento de credo.” (Collected Writings, vol. 4, p. 209; veja também a p. 249).
Artigo extraído DAQUI
5 coisas que não precisariam ser
afirmadas, mas declaro-as pois a inaptidão cognitiva cria espantalhos e
perpetua erros:
2. Os reformados não creem que seus
documentos confessionais sejam divinamente inspirados. Mas, a subscrição exige
honestidade e honradez dos membros e dos oficiais que os adotam. Os votos de
admissão e ordenação DEVEM ser declarados com sinceridade, senso de obediência
e sem reserva mental. É uma questão de entender, aceitar, comprometer, praticar
e propagar a doutrina com coerência e veracidade.
3. As igrejas
presbiterianas/reformadas não são governadas por bispos ou papas. O nosso
governo eclesiástico é conciliar. A autoridade do concílio é declaratória,
bíblica, confessional e legal. As decisões conciliares podem ser revisadas e
corrigidas se forem nulas de direito, negando a constituição da igreja, a
confessionalidade ou um claro ensino bíblico. Concílios podem errar, mas maior
erro comete o sujeito que não segue o processo conciliar para recorrer e propor
melhoria.
4. A autoridade de pastor não depende
do título acadêmico, fama ou no tamanho da igreja que pastoreia. A integridade
moral, fidelidade bíblica e honestidade confessional, exemplo da sua família e
bom testemunho público é o que dá peso e respeitabilidade ao ministro do
evangelho. Todos os pastores têm o mesmo poder de voto e oportunidade em concílio a partir do momento que ele "toma assento". A sua
autoridade, persuasão e influência DEVERIA repousar sobre a fundamentação
bíblica, confessional e legal e não no título de "doutor", presidente
ou seja o cargo que se ocupe.
5. Não estamos
vivendo uma crise de identidade denominacional. As igrejas
presbiterianas/reformadas têm a sua identidade doutrinária, litúrgica,
eclesiástica e ética definida por seus documentos oficiais. Se quer saber o que
significa e o que crê uma igreja presbiteriana, veja seus documentos. A crise é
ética, pois presbitérios DEVERIAM corrigir pastores, conselhos e igrejas que
desviam-se doutrinária e/ou liturgicamente, que negam a confessionalidade da
igreja e que têm problemas imorais ou ilegais. A crise não é de identidade, mas
moral.
"Será que cometi algum pecado pelo fato de viver
humildemente, para que vocês fossem exaltados, visto que lhes anunciei o
evangelho de Deus sem cobrar nada? Tirei de outras igrejas, recebendo salário,
para poder servir a vocês. E, estando entre vocês, ao passar privações, não me
fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o
que me faltava. Em tudo, me guardei e me guardarei de ser pesado a vocês. Pela
verdade de Cristo que está em mim, garanto que esta glória não me será tirada
nas regiões da Acaia." [2Co 11.7-10]
"A verdade, como vocês sabem, é que nunca usamos de linguagem de bajulação, nem de pretextos gananciosos. Deus é testemunha disso. Também jamais andamos buscando elogios das pessoas, nem de vocês, nem de outros. Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter feito exigências, preferimos ser carinhosos quando estivemos aí com vocês, assim como uma mãe que acaricia os próprios filhos." [1Ts 2.5-7]
"No entanto, vocês fizeram bem, associando-se comigo nas aflições. E como vocês, filipenses, sabem muito bem, no início da pregação do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo nessa questão de dar e receber, exceto vocês, somente. Porque até quando eu estava em Tessalônica, por mais de uma vez vocês mandaram o bastante para as minhas necessidades." [Fp 4.14-16]
"Devem ser considerados merecedores de pagamento em dobro os presbíteros que presidem bem, especialmente os que se esforçam na pregação da palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: 'Não amordace o boi quando ele pisa o trigo.' E, ainda: 'O trabalhador é digno do seu salário.'" [1Tm 5.17-18]
Concluindo:
1. Paulo recebia salário para dedicar-se tempo integral para a
pregação do evangelho.
2. Ele via o salário como um privilégio da igreja ao participar da
implantação de novas igrejas.
3. Por motivos de estratégia missionária, como em Corinto e
Tessalônica, ele absteve-se de receber salário dessas igrejas. O apóstolo não
quis ser confundido com os sofistas que exploravam seus ouvintes e incautos.
4. As igrejas de Corinto e Tessalônica não quiseram gratificar o
trabalho do apóstolo. Ele não impôs, mas deixa claro que ele tinha o direito de
recebê-lo.
5. A igreja de Filipos foi a única comunidade que participou no
sustento financeiro de Paulo na evangelização da Macedônia e Acaia.
6. Paulo instrui à Timóteo que os líderes da igreja que presidem
bem e dedicação devem receber o seu salário.
Por Harrison Perkins
Por Keith Mathison
A maioria dos cristãos já ouviu falar de coisas como o Credo
Niceno ou o Credo dos Apóstolos, mas muitos cristãos também têm uma série de
concepções erradas sobre o que são os credos. Há muitos mal-entendidos sobre a
natureza, história e propósito dos credos. Aqui estão cinco coisas que você precisa
saber sobre os credos.
por William VanDoodewaard
1. João Calvino foi expulso de sua igreja, ministério e lar. Menos
de dois anos após começar seu ministério em Genebra, João Calvino (1509–1564),
com 29 anos, viu-se expulso de sua igreja, ministério e lar, com dois dias de
aviso para deixar a cidade. Sem dúvida, quando ele e William Farel viajaram
para longe de Genebra em abril, eles se perguntaram o que aconteceria a seguir.
Os seus pensamentos estavam em uma batalha eclesiástica iminente em resposta a
essa experiência amarga. Eles estavam planejando como persuadiriam Zurique e
Berna a trabalhar para restabelecê-los em Genebra. No entanto, sem o
conhecimento de Calvino, o Senhor em sua providência frustraria suas
tentativas. Em vez disso, Ele estava organizando uma temporada de treinamento
pastoral que se mostraria fundamental para os futuros trabalhos pastorais de
Calvino.
Notas:
1. Publicado como Martin Bucer, Teologia pastoral: Sobre o verdadeiro cuidado das almas (Thomas Nelson Brasil, 2020). Há uma tradução em inglês: Martin Bucer, Concerning the True Care of Souls (Banner of Truth, 2009).
2. João Calvino, As Institutas da Religião Cristã (Editora
Fiel, 2018). Esta é a edição publicada em 1536 na cidade de Basileia.
3. Veja, A. Crottet, Correspondance française de Calvin avec
Louis du Tillet, chanoine d’Angoulême et curé de Claix sur les questions de ‘Église
et du ministère évangélique (Genène, Cherbuliez Libraire, 1850).
4. Veja, Ewerton B. Tokashiki, Pastoreando o rebanho de Deus:
Os documentos de ordem da Igreja de Genebra (Editora Credo Reformado, 2022).
Tradução e notas por Ewerton B. Tokashiki
por Keith Mathison
1. A doutrina da Trindade é uma das doutrinas mais fundamentais do cristianismo. A doutrina cristã de Deus é a doutrina da Trindade, e a doutrina cristã de Deus é fundamental para todas as outras doutrinas cristãs. Não há doutrina das Escrituras (bibliologia) separada da doutrina de Deus porque as Escrituras são a Palavra de Deus. Os seres humanos são criados à imagem de Deus. O pecado é a rebelião contra a lei de Deus. A soteriologia é a doutrina que tem a ver com a obra redentora de Deus. A igreja é o povo de Deus. A escatologia tem a ver com os objetivos e planos finais de Deus.
79. O que Jo 15.26 nos ensina sobre a existência pessoal do Espírito Santo?
Que Ele “procede do Pai”. A grande questão é como essa procedência
deve ser entendida. Deve ser entendida como uma descrição de inspiração eterna
ou de envio temporal? No primeiro entendimento, o Espírito Santo recebe a sua
existência pessoal de toda a eternidade; no último, a Terceira Pessoa da
Trindade é enviada à igreja após a obra consumada da redenção.
a) Nos versículos imediatamente anteriores, onde o envio
temporal do Espírito Santo é mencionado, a Escritura usa outra palavra, não “a
quem farei proceder do Pai”, mas “a quem enviarei do Pai”.
b) Não é declarado “que procederá do Pai”, mas “que procede do
Pai”, no tempo presente. Assim, um ato eterno e sempre presente é o que se quer
dizer.
c) Se a procissão temporal fosse pretendida, o Senhor diria:
“Eu enviarei o Espírito, a quem o Pai (de outra forma ou normalmente) envia.”
d) A preposição usada aqui é a mesma que é usada em outros
lugares em relação ao Filho.
Extraído de Geerhardus Vos, Reformed Dogmatics: Theology Proper, vol. 1.
Por Keith Mathison
Quando o livro de Êxodo começa, Israel está no Egito há mais
de quatrocentos anos (cf. Êx 12.40). Eles estão em cativeiro sob um faraó
opressor. Os primeiros capítulos de Êxodo descrevem o chamado de Moisés para
ser o líder do povo de Deus para tirá-los da escravidão no Egito. Ele vem
diante do faraó exigindo que Israel tenha permissão para ir e adorar o Senhor,
mas o faraó se recusa. Deus então envia uma série de pragas cada vez mais
severas sobre o Egito. A teimosia do faraó diante das nove primeiras pragas
resulta no pronunciamento de Deus de uma praga final que resultará na redenção
de Israel da escravidão. Deus avisa que Ele entrará no meio do Egito e que todo
primogênito na terra, morrerá. É no contexto do aviso desta praga final que
encontramos as instruções de Deus sobre a Páscoa em Êxodo 12.
O texto de Êx 12.21–28 contém as instruções de Moisés ao povo
sobre a Páscoa e a resposta do povo. Moisés instrui o povo a marcar as portas
usando hissopo, uma planta que mais tarde será usada em conexão com vários
rituais de purificação (Lv 14.49–52; Nm 19.18–19). Embora alguns estudiosos
tenham negado que a Páscoa seja um sacrifício, Moisés refere-se especificamente
a ela como tal em Êx 12.27. Embora nenhum pecado específico seja mencionado, o
sangue do cordeiro afasta a ira de Deus. Aqui novamente a Páscoa prenuncia a
obra redentora de Cristo (1Co 5.7). A décima e última praga veio sobre o Egito
assim como Deus advertiu por meio de Moisés e Arão, e os primogênitos em toda a
terra foram mortos. Somente aqueles cobertos pelo sangue do cordeiro foram
poupados. Como resultado dessa praga final, o Faraó finalmente cedeu e ordenou
que Moisés e os israelitas saíssem. O início do êxodo em si é descrito em Êx 12.33–42.
A razão para as instruções de Deus ao povo para estar preparado e sair às
pressas, agora, se torna clara. Os egípcios querem que os israelitas saiam
imediatamente e os incitam a partir. Os israelitas recebem dos egípcios a prata
e ouro deles e, após 430 anos, eles começam a jornada para fora do Egito em
direção à terra prometida.
Extraído de Keith Mathison DAQUI
“A oração é a medida espiritual de um homem, de um modo que
nada mais é”, disse J.I. Packer. As nossas orações revelam o que nossos
corações querem. Elas revelam as nossas convicções acerca de Deus e do seu
poder. Elas revelam a qualidade e a medida da nossa fé. Oramos com frequência e
cuidado, ou não oramos muito? Para as igrejas, as orações também são
reveladoras. Elas revelam o que uma igreja valoriza e onde ela coloca sua
esperança.
Acessado de AQUI
Por Louis Berkhof
Com referência ao Espírito Santo, os seguintes pontos exigem
consideração especial:
a) A pessoalidade do Espírito Santo. Não é tanto a divindade,
mas a pessoalidade do Espírito Santo que é questionada por muitos. É negada por
diversos sectaristas da igreja primitiva, pelos socinianos do tempo da Reforma,
pelos unitaristas e pelos modernistas, e todas as espécies de sabelianos do
presente. Eles preferem considerar o Espírito Santo meramente como um poder ou
influência de Deus. Todavia, ele é claramente designado como pessoa (Jo
14.16,17-26; 15.26; 16.7-15; Rm 8.26). Características pessoais lhe são
atribuídas, tais como inteligência (Jo 14.26; 15.26; Rm 8.16), afeição (Is
63.10; Ef 4.30), e vontade (At 16.7; 1Co 12.11). Além disso, ele executa atos
próprios de uma pessoa, como falar, sondar, testificar, mandar, revelar, agir
no homem, interceder (Gn 1.2; 6.3; Lc 12.12; Jo 14.26; 15.26; 16.8; At 8.29;
13.2; Rm 8.11; 1Co 2.10-11). Finalmente, há passagens em que o Espírito Santo é
distinto de seu próprio poder (Lc 1.35; 4.14; At 10.38; Rm 15.13; 1Co 2.4).
b) A relação do Espírito Santo com as outras Pessoas da
Trindade. Embora fosse afirmado anteriormente, com base em João 15.26, que o
Espírito Santo procede do Pai, foi só no ano de 589 d.C. que a igreja ocidental
adotou oficialmente a posição de que ele procede também do Filho. Essa doutrina
baseia-se no fato de que o Espírito é também chamado o Espírito de Cristo e do
Filho (Rm 8.9; Gl 4.6), e dele é dito ter sido enviado por Cristo (Jo 15.26;
16.7). Pelo fato de proceder do Pai e do Filho, o Espírito Santo permanece na
relação mais íntima possível com as outras Pessoas. Ele perscruta as coisas
profundas de Deus 1Co 2.10-11), e até certo ponto se identifica com Cristo (2Co
3.17). No Espírito, o próprio Cristo volta para os discípulos (Jo 14.16-18).
Além disso, nas epístolas de Paulo algumas vezes é Cristo, algumas vezes o
Espírito de Deus de quem é dito habitar nos crentes (Rm 8.9-10; Gl 2.20; 1Co
3.16).
Extraído de Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã (Editora Cultura
Cristã), pp. 64-65.
Por Jim Cassidy
I. Introdução
“Qual é a
relação entre batismo e salvação no pensamento de João Calvino?" Esta é
uma pergunta oportuna, dado que tem havido muita discussão sobre este assunto
ultimamente. Por um lado, há aqueles que afirmam que Calvino ensinou “regeneração
batismal” - pelo menos uma forma dela. Por outro lado, há aqueles que insistem
que ele ensinou “regeneração presuntiva”.[1]
No entanto, deve-se ter em mente que nenhum desses alegantes está escrevendo de
uma forma “livre de agenda”. Parece que, em geral, eles estão reagindo contra
uma tendência percebida - tanto no protestantismo americano em geral quanto no
presbiterianismo americano em particular - de transformar o sacramento do
batismo em um “sinal desnudo”. Alega-se que o batismo está sendo degenerado em
um mero símbolo. Consequentemente, a tendência é tornar o batismo quase
opcional na vida e no ministério da igreja.
Quanto a nós, somos simpáticos a tais preocupações. Uma marginalização dos sacramentos pode ser percebida no que poderíamos chamar de “amplo evangelicalismo”, e, talvez, até mesmo em alguns grupos da igreja reformada. Qual, entretanto, é a resposta adequada a uma “baixa concepção” do batismo? Uma “alta concepção” pareceria a resposta - mas quão alto podemos ir antes de incorrer na regeneração batismal? Ter uma “alta concepção” deste sacramento necessariamente implica algo próximo a uma abordagem ex opere operato para a eficácia sacramental? Certamente, se Calvino ensinou a regeneração batismal, isso nos levaria na direção de responder a essas perguntas afirmativamente. Calvino, é claro, não era infalível. Mas ele é nosso mestre como cristãos reformados. E se desejamos manter a distinção de sermos reformados, devemos dar a Calvino - entre todas as pessoas - uma audiência séria.
No espírito de uma audiência tão séria, a posição deste ensaio é que Calvino não ensinou o que comumente chamamos de “regeneração batismal”. Assim, aderir a uma visão baixa de “sinal desnudo” do batismo não é o único meio de violar a fé com a tradição reformada; no entanto, ir para o extremo oposto e manter qualquer coisa semelhante à “regeneração batismal” é igualmente uma posição infiel. Em contraste com ambos os polos, a visão de Calvino pode ser resumida pelo termo “eficácia batismal”. Em outras palavras: para Calvino, o batismo é um meio de graça. De acordo com os reformadores, havia três meios de graça na igreja: Palavra, sacramento e oração. Esses três meios tornam-se eficazes em um sentido qualificado. E esse sentido qualificado é este: eles são eficazes apenas nas vidas dos eleitos quando são recebidos pela fé e no poder do Espírito Santo.
Em outras palavras, para
Calvino não há conexão ex opere operato automática entre os meios de
graça e a pessoa que os recebe. A graça não é comunicada automaticamente, de
forma mecânica, à pessoa que recebe seus meios. Não é isso que significa dizer
que os sacramentos são “eficazes”. Em vez disso, o termo “meios de graça”
denota a maneira terrena e humana pela qual o Espírito Santo normalmente
comunica a graça ao crente.
O ensino de Calvino sobre como a Palavra pregada é um meio de graça é paralelo a como os sacramentos em geral - particularmente o batismo - são eficazes. Como a Palavra pregada, o batismo também é um meio de graça. E como tal, ele comunica graça. Ele confere aquilo que ele assina e sela: adoção, regeneração e a lavagem dos pecados.[2] É claro, que isso não é de forma automática ou ex opere operato; mas com - e somente com - as qualificações mencionadas abaixo.
Primeiramente, o batismo é um meio de graça, conferindo o que ele sela e significa, somente aos eleitos. O que Calvino diz sobre os sacramentos em geral, também, é verdade sobre o batismo em particular:
“O Espírito Santo, a quem os sacramentos não trazem promiscuamente a todos, mas a quem o Senhor confere especialmente ao seu povo, traz os dons de Deus junto com ele, abre caminho para os sacramentos e os faz dar frutos.”[3]
Muitos réprobos recebem o sacramento do batismo. Mas em tais casos está longe de ser um meio de graça. Na verdade, é um meio de juízo. No entanto, isso não quer dizer que não forneça algum benefício externo e exterior aos réprobos. De certa forma, fornece. Ele as inicia na vida da igreja. E lá elas recebem muitos benefícios devido às “operações comuns do Espírito Santo”.[4] A elas são dados os oráculos e ordenanças de Deus, pois mesmo os réprobos são “aqueles que uma vez foram iluminados, que provaram o dom celestial e participaram do Espírito Santo, e provaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era vindoura” (Hb 6.4-5). Mas, apesar disso ser muito importante, essas não são operações eternas e internas do Espírito Santo que acompanham a salvação. Em vez disso, são as obras comuns do Espírito dadas a todos aqueles no campo, seja joio ou trigo.
Em segundo lugar, o batismo confere o que ele assina e significa pela fé. Calvino argumenta:
“Portanto, que seja considerado um princípio estabelecido que os sacramentos têm o mesmo ofício que a Palavra de Deus: oferecer e expor Cristo a nós, e nele os tesouros da graça celestial. Mas, eles não valem e não alcançam nada a menos que sejam recebidos com fé”.[5]
“Tomemos como prova disso, Cornélio, o centurião, que, tendo já recebido o perdão dos pecados e as graças visíveis do Espírito Santo, no entanto, foi batizado. Ele não buscou um perdão mais amplo dos pecados por meio do batismo, mas um exercício mais seguro de fé — na verdade, aumento da certeza de uma promessa. Talvez alguém se oponha: por que, então, Ananias disse a Paulo para lavar seus pecados por meio do batismo se os pecados não são lavados pelo poder do próprio batismo? Eu respondo: somos instruídos para receber, obter e adquirir o que, de acordo com nossa fé está ciente, é mostrado a nós pelo Senhor, seja quando ele primeiro testifica sobre isso, ou quando ele confirma mais completa e seguramente o que foi atestado, Ananias quis dizer apenas isso: ‘Para ter certeza, Paulo, de que seus pecados estão perdoados, seja batizado. Pois o Senhor promete o perdão dos pecados no batismo; receba-o e esteja seguro’. ... Mas deste sacramento, como de todos os outros, obtemos apenas o que recebemos com fé.”[6]
Para Calvino, então, o batismo é um sinal que normalmente segue a fé. Claro, em uma criança eleita o caso é diferente: a fé segue o batismo. Para uma criança eleita que não tem fé no momento do batismo (embora Calvino fale sobre uma criança tendo uma fé latente como a de Jeremias, Davi ou João Batista),[7] o batismo torna-se um meio de graça mais tarde na vida quando eles chegam à fé. A graça que é significada em seu batismo é então conferida a eles. Mas - isso é crucial para entender Calvino neste ponto - o batismo como um meio de graça não termina aí. Para os eleitos que estão na fé, o batismo continua a ser um meio de graça enquanto eles continuam a olhar para trás em seu batismo e se esforçam para melhorá-lo.[8] Pela fé, olhamos para trás em nosso batismo e somos encorajados. Como Calvino diz: “A grande verdade, por exemplo, de nossa regeneração espiritual, embora apenas uma vez representada para nós no batismo, permanece fixa em nossas mentes por toda a nossa vida ...”.[9] Declarando de forma semelhante, o batismo é um meio contínuo de graça para os eleitos. Cada vez que um verdadeiro crente relembra seu batismo pela fé em Cristo, o Espírito Santo comunica a graça significada pelo sacramento.
Em terceiro lugar, ele confere o que sinaliza e significa somente pelo poder do Espírito Santo.[10] Calvino escreve:
“Não devemos supor que haja alguma virtude latente inerente aos sacramentos pelos quais eles, em si mesmos, conferem os dons do Espírito Santo sobre nós da mesma forma que o vinho é bebido de um cálice, uma vez que o único ofício divinamente atribuído a eles é atestar e ratificar a benevolência do Senhor para conosco; e, eles não valem mais do que acompanhados pelo Espírito Santo para abrir nossas mentes e corações, e tornar-nos capazes de receber este testemunho, no qual várias graças distintas são claramente manifestas.”[11]
Assim como foi mencionado acima com referência à Palavra de Deus pregada, da mesma forma com o batismo: um meio de graça pode ser eficaz em momentos diferentes de quando é recebido. O Espírito Santo é soberano, e assim ele pode ou não conferir a graça sinalizada e selada no batismo no momento de sua administração:
“Tudo o que Deus oferece nos sacramentos depende da operação secreta do Espírito Santo... Tão longe, então, está Deus de renunciar à graça de seu Espírito para os sacramentos, que toda a sua eficácia e utilidade estão alojadas somente no Espírito ... Assim, os sacramentos são eficazes somente ‘onde e quando Deus assim o desejar.’”[12]
“Como a voz exterior do homem não pode de modo algum penetrar no coração, está na livre e soberana determinação de Deus dar o uso proveitoso dos sinais a quem lhe agrada... A administração externa do batismo não produz nada, exceto onde Deus queira”.[13]
Em quarto lugar, em conexão com o que foi dito, a graça que é significada no batismo não está necessariamente ligada ao sinal. Deus é soberano e opera com ou sem o sinal, embora ele normalmente opere por meios. Calvino coloca desta forma:
“A graça de Deus não está confinada ao sinal: de modo que Deus não pode, se Ele quiser, concedê-la sem a ajuda do sinal. Além disso, muitos recebem o sinal que não são participantes da graça; pois o sinal é igualmente comum a todos, aos bons e aos maus; mas, o Espírito não é concedido a ninguém, exceto aos eleitos, e o sinal, como dissemos, não tem eficácia sem o Espírito.”[15]
Deus certamente pode conferir a graça sinalizada e selada pelo batismo à parte ou ao lado da administração real do sacramento. Embora normalmente não seja assim que Deus opera, a doutrina de sua soberania exige que ele não seja atrelado ou restrito ao uso comum dos meios de graça.
Tendo abordado as qualificações que Calvino faz sobre a eficácia da Palavra e do sacramento, passamos a desenvolver a relação entre o sinal (signa) e a coisa significada (res) com referência ao batismo em seu pensamento. Para Calvino, a relação entre eles é tão próxima que, sem confundi-los, a linguagem do res pode ser usada para a signa. Dessa forma, a Cristologia reformada e Calcedônia foi útil como uma analogia. Assim como Cristo é completamente Deus e completamente homem - em união hipostática sem separação ou confusão – assim, também, é a relação entre o sinal e a coisa significada.
Em outras palavras, há uma “união sacramental” no batismo. O que isso significa é que, entre o sinal e a coisa significada, os nomes e efeitos de um são atribuíveis ao outro. Dessa forma, a Bíblia pode falar sobre o batismo como a lavagem da regeneração (Tt 3.5) e como aquilo que salva (1Pe 3.21). Não porque o sinal seja a coisa em si, mas por causa da união sacramental. Assim também, é o caso com Cristo. Em razão da unidade de sua pessoa, o que é próprio de uma das naturezas de Cristo é, às vezes, atribuído nas Escrituras à pessoa denominada pela outra natureza. E, assim, como com as duas naturezas de Cristo, assim também com a relação entre batismo e regeneração: não há conversão, confusão ou mistura.
Calvino
argumenta que o erro da doutrina da regeneração batismal da Igreja Romana foi a
confusão do sinal e da coisa significada. Como veremos mais tarde, é por isso
que Calvino escreve com uma linguagem que nos levaria a pensar que ele está
defendendo a regeneração batismal - enquanto ao mesmo tempo rejeita
veementemente a doutrina romana. Ao fazê-lo, ele toma emprestado da Escritura
um duplex loquendi modus: uma “dupla maneira de falar” sobre os
sacramentos.[16]
Isso é parte integrante da hermenêutica de Calvino com referência a certas
passagens. A exegese depende de quem é o público ao qual a Escritura está se
dirigindo. Se o texto está se dirigindo a crentes, frequentemente a coisa
significada será predicada do sinal. No entanto, se o público for descrente, o
texto pode falar dos sinais como “figuras vazias e frígidas”[17]
Calvino articula o duplex loquendi modus, desta forma:
Eu respondo, é costume de Paulo tratar dos sacramentos em dois pontos de vista. Quando ele está lidando com os hipócritas, em quem o mero símbolo desperta orgulho, então, ele proclama em voz alta a vacuidade e a inutilidade do símbolo exterior, e denuncia, em termos fortes, sua confiança tola. Em tais casos, ele não contempla a ordenança de Deus, mas a corrupção dos homens perversos. Quando, por outro lado, ele se dirige aos crentes, que fazem um uso adequado dos símbolos, ele então os vê em conexão com a verdade — que eles representam.[18]
Em suma,
a Escritura — dependendo de quem está sendo abordado no contexto imediato —
pode falar do sacramento de duas maneiras. Ou pode falar em linguagem que
predica o res para a signa se a audiência for composta de crentes
(como em Tt 3.5 e 1Pe 3.21), ou pode falar de uma maneira que enfatiza a
distinção entre res e signa quando o estado espiritual da
audiência é de descrença ou questionável. Portanto, uma vez que a Escritura
fala de duas maneiras sobre os sacramentos (duplex loquendi modus), o
mesmo acontece com Calvino. Essa compreensão do duplex loquendi modus da
Escritura percorrerá um longo caminho para entender as citações difíceis de
Calvino frequentemente mencionadas; particularmente por aqueles que desejam
mover sua posição na direção de algo semelhante à regeneração batismal.
Por fim, embora admitamos que Calvino tenha usado uma linguagem referente aos sacramentos que fez parecer que ele defendia algo como a regeneração batismal, sustentamos veementemente que ele realmente rejeitou tal pensamento. Em vez disso, o que ele faz - por causa do modus duplex loquendi das Escrituras - é empregar uma linguagem que é própria do res ao falar da signa. Mas mesmo em tais casos, ele deixa claro que o sinal não é - de fato - a coisa significada. Essa doutrina - forjada no fogo do debate contra Roma, os ubiquitaristas luteranos e os anabatistas - produziu uma sacramentologia que evitou tanto a regeneração batismal quanto o antissacramentalismo do “sinal desnudo”. Faríamos bem em seguir, hoje, o grande reformador em sua teologia sacramental.
*Este artigo é uma adaptação do ensaio original “Calvin and Baptism: Baptismal Regeneration or Duplex Modus Loquendi?” in: Lane G. Tipton and Jeffrey C. Waddington, eds., Resurrection and Redemption: Theology in Service of the Church, Essays in Honor of Richard B, Gaffin, Jr. (Philipsburg, NJ: P&R, 2008).
[1] Schenck, The Presbyterian
Doctrine, pp. 11-13, 16.
[2] Institutas
4.16.2.
[3] Institutas
4.14.17.
[4] Esta
é uma linguagem extraída da Confissão de Fé de Westminster 10:4 e do Catecismo
Maior, pergunta 68.
[5] Institutas
IV.14.17, minha ênfase.
[6] Institutas
4.15.15, minha ênfase.
[7] Veja
os seus argumentos nas Institutas IV.16.18-20.
[8] Um
ponto que é declarado de forma similar no Catecismo Maior de Westminster
pergunta 167.
[9] John Calvin, Commentary on
the Book of Psalms (Grand Rapids: Baker, 2003), vol. 3, 435. Veja, também, as
Institutas IV.15.3.
[10] Veja Wallace, Calvin's
Doctrine of the Word and Sacrament, pp. 169-171.
[11] Institutas
4.14.17.
[12] Wallace, Calvin's Doctrine
of the Word and Sacrament, p. 169.
[13] Ibid., p. 170.
[14] John Calvin, Selected
Works of John Calvin (Grand Rapids: Baker, 1983) vol. 2, p. 342.
[15] Calvin, Calvin's
Commentaries on the Epistles of Paul to the Galatians and Ephesians, p. 320.
[16] Veja Wallace, Calvin's
Doctrine of the Word and Sacrament, p. 173.
[17] Institutas IV.14.17; citado em Wallace, Calvin's Doctrine of the Word and
Sacrament, p. 172.
[18] Calvin, Calvin's
Commentaries on the Epistles of Paul to the Galatians and Ephesians, p.
111.