06 janeiro 2012

A História da Salvação na perspectiva de Oscar Cullmann

DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA TEOLOGIA DE CULLMANN

Oscar Cullmann (1902-1999) se identifica com o termo alemão Heilsgeschichte, cujo significado é “história da salvação”, ou literalmente “história santa”. J.C.K. Von Hofmann iniciou a usar o termo e Culmann apenas o desenvolveu.[1] A Heilsgeschichte contempla os eventos históricos dos atos salvíficos divinos em lugar de centrar-se na filosofia da religião. Todavia, a teologia da história da salvação reconhece o enfoque crítico sobre as Escrituras, como o advogam os antigos teólogos liberais ou, recentemente os escritores neo-ortodoxos. Os proponentes da teologia da história da salvação vêem a Bíblia como um registro dos atos de salvação de Deus na história, mas não reconhecem a sua infalibilidade nem desenvolvem uma teologia sistematizada a partir da Bíblia. A importância das Escrituras situa-se em seu registro da atuação de Deus na história. Os proponentes da teologia da história da salvação enfatizam que os benefícios dos atos divinos se apropriam pessoalmente pela fé em Cristo, como asseguravam os demais neo-ortodoxos.

Oscar Cullmann estudou na Universidade de Strasburg onde posteriormente ensinou grego e história da Igreja Antiga.[2] Convidado pela Universidade de Basiléia trabalhou como professor de História da Igreja e de Novo Testamento, onde alcançou o reconhecimento acadêmico e a reputação de uma faculdade prestigiosa. Ali também recebeu a influência de Karl Barth, em seu enfoque Cristológico do Novo Testamento. A postura mais conservadora de Cullmann é evidenciada em sua opinião a algumas características radicais da desmistificação e crítica das formas proposta por Rudolf Bultmann. Além disso, Cullmann dependeu menos do existencialismo e enfatizou mais a exegese.[3]

AFIRMAÇÕES DOUTRINÁRIAS NA TEOLOGIA DE CULLMANN

Os principais aspectos da teologia da história da salvação podem ser resumidos como segue.[4] É enfatizada a revelação de Deus nos eventos históricos. Cullmann rejeitou a ideia de mitos engrandecidos pela igreja, como dizia Bultmann. Todavia, as Escrituras não são infalíveis; são apenas o veículo para explicar os eventos divinos da história santa. O elemento importante é a “história santa” e não as palavras da Escritura. O ápice da história da salvação é a vinda de Jesus como Messias. A era escatológica começou com a encarnação de Cristo, mas a culminação é futura.[5] Cullmann redefine a escatologia. Todos os eventos do Novo Testamento e da história da igreja são escatológicos.[6] Os que aderem à teologia da história da salvação, junto com os neo-ortodoxos, insistem na necessidade de um encontro subjetivo para conhecer o significado da revelação.[7]

AVALIAÇÃO RESUMIDA DA TEOLOGIA DE CULLMANN

Há várias coisas elogiáveis no enfoque de Oscar Cullmann. A sua ênfase na historicidade dos eventos bíblicos é crucial para a mensagem cristã. Cullmann afirma que “com certeza somente se pode ter fé autêntica se cremos no fato histórico de que Jesus se considerava o Messias”[8] uma verdade central do Cristianismo. Cullmann também enfatiza a centralidade e historicidade de Jesus Cristo.[9] No entanto, somente aceita a historicidade dos eventos verificáveis. Chama de mitos a outros relatos como ao de Adão e os eventos escatológicos.[10] Nisto Cullmann adota o método de Bultmann na crítica das formas, dividindo as Escrituras segundo o seu próprio critério. A teologia da história da salvação também acompanha a opinião de Barth, pois identifica a revelação como uma experiência subjetiva. Na teologia da história da salvação o encontro espiritual é o ponto central da revelação.[11]

NOTAS:

[1] Veja Bernard Ramm, A Handbook of Contemporary Theology (Grand Rapids, Eerdmans, 1966), pp. 55-56 para uma explicação concisa do termo. Outra fonte é Van A. Harvey, A Handbook of Theological Terms (New York, Macmillan, 1964), pp. 113-114.
[2] Nasceu no ano de 1902 em Strasburg que fica no leste da França na fronteira com a Alemanha. Estudou teologia e filosofia clássica em sua cidade natal e posteriormente em Paris e, em 1924 colou o grau de bacharel em teologia e tornou-se instrutor de grego e latim na École Batignolles neste mesmo ano. No ano de 1930 de volta a Strasburg, foi nomeado professor catedrático para o Novo Testamento e história da Igreja Antiga (1930-1938). Em 1938 por causa da sua fama como erudito do Novo Testamento e história da Igreja Primitiva, foi convidado para lecionar em Basiléia na Suíça. Nesse período até 1972 desenvolveu muitos estudos e também fundou em Basle um centro de teologia ecumênica, onde promoveu encontros com teólogos católicos romanos e ortodoxos. Essa tendência ecumênica o fez um observador oficial do Concílio Vaticano II (1962-1965). A sua morte se deu em 1998, aos 98 anos na cidade de Chamonix na França – nota do tradutor.
[3] Harvie M. Conn, Contemporary World Theology (Nutley, Presbyterian & Reformed, 1974), p. 40.
[4] Ibidem, pp. 41-42.
[5] David H. Wallace, “Oscar Cullmann” in Philip Edgcumbe Hughes, Ed., Creative Minds in Contemporary Theology (Grand Rapids, Eerdmans, 1969), p. 169.
[6] Ibidem.
[7] Carl F.H. Henry, Frontiers in Modern Theology (Chicago, Moody, 1965), p. 46.
[8] Ibidem, p. 51.
[9] Oscar Cullmann, Cristologia do Novo Testamento (São Paulo, Editora Custom, 2004).
[10] Carl F.H. Henry, Frontiers in Modern Theology, p. 51-52.
[11] Ibidem, p. 46.

Traduzido por Rev Ewerton B. Tokashiki
Extraído de Paul Enns, Compendio Portavoz de Teologia (Grand Rapids, Editorial PortaVoz, 2010), pp. 611-614.

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