31 janeiro 2012

Por que evangelizo?

Creio que devemos pregar o evangelho a todos, e chamá-los ao genuíno arrependimento dos seus pecados, mas nunca dizer que Deus tem sinceramente a intenção de salvar a todos. É dever de todo ser humano se arrepender dos seus pecados, porque Deus é santo e perfeito, e nos criou para manifestar a Sua glória. Por isso, devo anunciar o senhorio de Cristo Jesus sobre todos, e ordená-los que se voltem para Ele, porque estão separados de Deus pelo pecado. Uma definição do que é evangelizar nesta introdução seria útil, assim creio que evangelizar é apresentar o Senhor Jesus [pessoa e obra], no poder do Espírito Santo, deixando os resultados para Deus o Pai.

Prego o evangelho por alguns motivos:

1. Por amor à glória de Deus. Anunciar a sua majestade, soberania, os seus feitos como Criador, Provedor e Redentor. O próprio B.B. Warfield comentou certa vez que "Deus não é retratado na Escritura como perdoando o pecado porque Ele realmente se importe com o pecado. Nem porque Ele seja tão exclusivo ou predominantemente o Deus de amor, como se os outros atributos diminuissem pelo desuso na presença de Sua infinita bondade. Pelo contrário, Ele é retratado como libertando o pecador de sua culpa e corrupção porque Ele se compadece das criaturas da sua mão, envoltas em pecado, com uma intensidade que nasce da veemência da sua santa ira contra o pecado e sua justa determinação de visitá-lo com uma intolerante retribuição; de modo que conduz por uma completa satisfação pela a sua infinita justiça e santidade, como pelo seu ilimitado amor por Si mesmo."[1] O evangelho não é pregado por causa da criatura caída, mas por causa da glória de Deus. O evangelho fala dos atributos de Deus, dos poderosos feitos do Senhor revelados em Cristo que reconcilia, pelo Seu gracioso perdão pecadores arrependidos e atraídos pelo Espírito Santo.

2. Porque Cristo é o mediador da nova aliança. E sob a administração do Seu senhorio, Ele exige que o Seu reino seja anunciado como inaugurado entre as nações. Ele veio para assumir o Seu reino e manifestar as riquezas da sua graça àqueles que o Pai Lhe deu. A proclamação do evangelho a todas as nações indica a abrangência do reino de Cristo que alcança os seus súditos de diferentes etnias.

3. Por crer, segundo as Escrituras, que é o meio ordinário que Deus usa para chamar eficazmente os seus eleitos aplicando a graça salvadora por obra do Espírito Santo. Deus determinou antes da fundação do mundo quem e como seriam salvos aqueles que Ele escolheu. A pregação do evangelho é indispensável no chamando universal dos eleitos de Deus.

4. Porque o Espírito Santo implanta em mim um amor de treinar pelo discipulado, e assim descobrir os eleitos, alegrando-me em sua transformação pela maravilhosa graça salvadora. O Senhor Jesus ordena que devo ser testemunha da Sua misericórdia.

Por isso em minha prática de evangelização:
1. Ordeno ao pecador, sob a autoridade do evangelho de Cristo, que ele se arrependa e despreze os seus pecados porque são infinitamente ofensivos a santidade de Deus, e a justiça divina sentencia o pecado com condenação eterna!
2. Apresento Cristo que é a única, suficiente e perfeita satisfação substitutiva que Deus proveu para Si mesmo, que ofereceu a Si mesmo como sacrifício ao Pai, e sobre Si recebeu a ira, sofrendo as agonias do inferno sobre a cruz, a nossa condenação.
3. Exorto ao ouvinte que creia, receba e submeta-se a Cristo como o seu Senhor, encontrando nEle o perdão dos seus pecados, a reconciliação com o Pai, a satisfação e o propósito de sua vida que é glorificá-Lo.

Não recorro a paradoxos lógicos nem ao que alguns chamam de antinomia para explicar o dever de pregar o evangelho a todos os homens. Aos que pensam que Deus está oferecendo o seu amor indistintamente a todos os pecadores, recomendo a leitura do esclarecedor artigo do Pb Solano Portela. Se o evangelho que prego diz que Deus ama a todos e sinceramente desejando salvar sem exceção a todos, posso concluir que:
1. Ele não seria soberano, porque muitos se perderão, e o seu propósito de salvar seria frustrado.
2. O Seu amor seria frouxo e não passaria de sentimentalismo ineficaz limitado pela dureza e rebeldia do pecador contumaz.
3. A autoridade absoluta do evangelho deveria ser questionada por ter promessas de salvação feitas e não cumpridas.
4. A relação de Deus com o pecador seria no mínima confusa, por amá-lo e odiá-lo simultaneamente.

Não faço apelos, nem apelações em meus sermões, nem na prática de evangelização pessoal. Não lhes digo, por consciência, que Deus os ama a ponto de sinceramente ter a intenção de salvá-los, mas lhes advirto com solene seriedade que a ira de Deus permanece sobre eles, enquanto não se arrependerem e não se voltarem para Cristo (Jo 3:36; Ef 2:3). Não concordo com John Murray e Ned B. Stonehouse quando declaram que "há em Deus uma benevolente amabilidade pelo arrependimento e salvação daqueles que Ele não decretou salvar. Este beneplácito, vontade, desejo é expresso no chamado universal para o arrependimento... A plena e livre oferta do evangelho é uma graça entregue sobre todos. Tal graça é necessariamente uma manifestação de amor ou amabilidade no coração de Deus, e esta amabilidade é revelada para ser cárater ou gênero que corresponde a graça entregue. A graça oferecida não é menos do que a salvação em sua riqueza e plenitude. O amor ou amabilidade que repousa desta oferta não é menos; ele é a vontade para a salvação. Em outras palavras, é Cristo em toda a glória de sua Pessoa e na perfeição de sua completa obra a quem Deus oferece no evangelho. O amor e a vontade benevolente que é a fonte daquela oferta e que fundamenta a sua veracidade e realidade é a vontade para possessão de Cristo e a alegria da salvação que reside nele.”[2] Não posso dizer para um possível réprobo que Deus tem a intenção sincera de salvá-lo! Neste caso, eu estaria dizendo toda a verdade? A minha pregação ou testemunho do evangelho deve ser feito sem criar falsa esperança em quem nunca se converterá. A promessa de perdão é aos que crerem em Cristo Jesus, e somente eles, experimentarão o amor de Deus.

NOTAS:
[1] Benjamin B. Warfield, "God" in: Works of B.B. Warfield, vol.9, pág. 112.
[2] John Murray e Ned B. Stonehouse, The Free Offer of the Gospel, p. 27.

Nenhum comentário: