19 março 2014

Anarquia - como teoria política

Escrito por A.F. Holmes

A Anarquia (lit. “sem governo”) denota certa gama de circunstâncias que vão desde a inexistência de leis e o caos social até um sistema cooperativo de associações voluntárias como estrutura social preferida. O conceito comum a todos estes usos é a rejeição de um governo autoritário a favor de uma organização voluntária, para garantir a máxima liberdade individual compatível com a existência da sociedade. Contempla com suspeita as estruturas legais, incluindo as instituições democráticas e os partidos políticos.

As tendências anarquistas são um fenômeno histórico recorrente. Alguns exemplos incluíram a Zenon (aproximadamente 263 a.C.), o estoico grego que rejeitou as ataduras da cultura; os antigos essênios; alguns anabatistas primitivos; os Doukhabors, uma seita russa do século XVIII; os Levelles na guerra civil inglesa; e outros grupos que defendiam que Cristo nos libertou de todos os males deste mundo e das ataduras da lei. Baseando-se num fundamento religioso parecido com este, Leon Tolstóy denunciou ao estado e seu domínio das leis, renunciando inclusive as suas propriedades e a sua posição social. O escritor norte-americano Henry Thoreau (1817-1862) adotou um paradigma baseado num fundamento romântico e alguns revolucionários soviéticos rejeitaram a “ditadura do proletariado” de Marx a favor de um sindicato de grupos trabalhistas voluntários. Mais recentemente os estudantes ativistas dos anos 60, em diversos países, se rebelaram contra o status quo social e político. Na obra Anarchy, State and Utopia de Robert Nozick (1938- ) encontramos uma expressão mais de direitas deste tipo de ideias anarquistas; nela o autor insiste em que os indivíduos tem a liberdade de conseguir todo o que se proponham, sempre que o lhes tirem ilegalmente de outros. Este direito que tem o indivíduo de conseguir o seu objetivo, constituí assim, o fundamento central da sociedade.

A preferência anarquista pelas estruturas voluntárias antes que legais assume que os seres humanos são bons por natureza, que a coação é desnecessária, e que a autoridade governamental tende a fazer mais mal do que bem. A Bíblia, como contraste, fala da autoridade civil como algo ordenado por Deus para limitação da maldade e do fomento da bondade (Rm 13:1-7; 1 Pe 2:13-17).

A.F. Holmes, B.A., M.A., Ph.D., professor de Filosofia no Wheaton College.


Extraído de A.F. Holmes, “Anarquia,” in: David J. Atkinson, ed., Diccionario de Ética Cristiana y Teología Pastoral (Barcelona, Editorial CLIE & Publicaciones Andamio, 2004), pp. 226-227.

Traduzido em 17 de Março de 2014.
Rev Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO.

Um comentário:

Aprendiz disse...

Ewerton

Sobre a anarquia, cheguei ao seguinte pensamento: Todo sistema político tem (freqüentemente contra a vontade de seus idealizadores) um componente anárquico.

Veja o sistema democrático liberal, por exemplo: A maior parte das coisas que você faz, durante o dia, não faz porque alguma autoridade governamental esteja o obrigando a isto. Faz por decisão própria. Não foi decidido no voto, nem por algum burocrata, se você pode ir hoje ao supermercado, que produtos, marcas e quantidades você deve comprar, se você deve casar, e com quem, quais devem ser seus amigos, onde você deve morar, em que você deve trabalhar, o que deve ler, o que deve assistir, o que deve estudar, etc. Você decide coisas assim arbitrariamente. Um sistema que fosse democrático em tudo, seria uma tirania, retiraria toda a liberdade das pessoas.

O sistema criado pelos constituintes americanos é o que hoje chamamos de miniarquia. As pessoas com pensamento miniarquista, não apenas reconhecem que o escopo de atuação do governo é limitado, mas consideram isto bom. O governo é coerção, o contrario da liberdade. O cidadão comum deve precisar ter o mínimo de relação possível com o governo. Já o cidadão violento ou fraudulento, este deve sofrer pesada coerção por parte do governo. Os governantes do antigo Israel eram chamados de Juizes e eram também chefes militares. Suas principais funções, portanto, diziam principalmente respeito a pessoas agressivas e mal intencionadas, tanto no interior quanto no exterior.

Uma vida na sua maior parte anarquista (no sentido de estar bastante livre da coerção de algum governo) é boa e produtiva. É claro, que existindo governo, alguma coerção existe, mas o foco deveria ser a liberdade, não a coerção.

Infelizmente, desde o final do século XIX ou começo do século XX, a maior parte dos intelectuais americanos rejeitaram gradualmente esse princípio fundamental da constituição americana. Os atuais governantes americanos são fortemente maxiarquistas, querem aumentar mais e mais o escopo de atuação do governo.