22 março 2014

OS SISTEMAS ECONÔMICOS À LUZ DA ÉTICA CRISTÃ

Escrito por Francisco Lacueva

Antes de analisar os principais sistemas econômicos é bom adiantar as três fontes que intervém na produção da riqueza, que são: o trabalho, a técnica e o capital. Não cabe dúvida de que a fonte primordial é o trabalho, entendendo-o não somente como produção, mas também como ocupação de algo que não tem dono (“res nullius” na terminologia do Direito Romano). Os limites entre as fazendas privadas são consideradas sagradas no Antigo Testamento (Dt 27:17; Os 5:10). À luz destas considerações podemos examinar com melhor conhecimento de causa os principais sistemas econômicos:

1. O Capitalismo
Como produto do liberalismo econômico, o capitalismo propugna a liberdade completa (a qualificação ética subjetiva varia segundo a consciência dos indivíduos e as leis dos Estados) na aquisição da riqueza e o emprego do capital segundo as leis da oferta e procura. Pode-se produzir altos níveis de vida para o serviço do conforto e do luxo de muitas pessoas, mas também favorece a desigualdade social, o materialismo e a avareza. As suas contribuições estão manchadas de paternalismo. O seu argumento é que a desigualdade básica dos homens quanto a sua capacidade e esforço pelo trabalho não pode menos que produzir desigualdade econômica, pois vemos que, de dois irmãos que herdam a mesma fortuna, um pode fazer-se milionário com o seu talento e esforço, enquanto que o outro, pode se afundar na miséria por sua incapacidade, prodigalidade e ociosidade. Isto é somente uma verdade parcial, posto que a necessidade de viver uma vida digna vai além da desigualdade de capacidade; e, por outra parte, muitos indivíduos que têm capacidade e anseio por trabalhar não podem entrar tão facilmente na carreira competitiva que impõe o sistema capitalista.

2. O Socialismo
É o sistema que propõe a propriedade pública dos meios de produção, câmbio e distribuição, dando às forças produtivas, ou “proletariado” o controle das condições de existência e do poder político da nação. Ele teve origem em Karl Marx, e sua filosofia, no plano puramente econômico, e se baseia em dois princípios: 1) o mais-valia do trabalho sobre o salário: o trabalhador produz algo que vale mais do que o salário que cobra, posto que uma boa parte de seu produto passa a aumentar o volume do capital de quem o emprega como trabalhador; 2) a introdução pelo capitalismo de um meio de aquisição alheio de intermediários, os quais elevam o custo dos produtos sem por de sua parte outra coisa que os distribuidores aos consumidores, enriquecendo-se, assim, a custa destes, sem contribuir em nada para a produção ou para a produção, ou para o melhoramento dos bens de uso ou consumo. Este sistema se divide em dois subsistemas que são:

2.1. O socialismo reformista, chamado simplesmente socialismo (e também social democracia), que defende a coletivização dos meios de produção, mas admite a propriedade privada dos bens de consumo; mesmo porque, não insiste demasiadamente nos aspectos ateus e dialéticos do marxismo, e estima que a tomada do poder será feito de acordo com o jogo democrático dos partidos, ou seja, pela evolução social, mais do que pela revolução sangrenta. Assim é, pelo menos, como o Socialismo aparece em nossos dias, liberando-se na mesma medida em que o Capitalismo de alguns países vai se sociabilizando.

2.2. O comunismo, sendo estatal e libertário, que defende a coletivização não somente dos meios de produção, mas também dos bens de consumo. Insiste nos aspectos ateus e dialéticos do marxismo, aspirando chegar pela via revolucionária até a ditadura do proletariado.

Desconsiderando dos aspectos políticos e econômicos destes sistemas e limitando-nos ao aspecto ético, temos que dizer que qualquer sistema que favoreça a exploração do homem pelo homem, ou pelo Estado, ou negue os valores espirituais, ou favoreça a desigualdade econômica das classes sociais, é contrário à dignidade da pessoa humana e ao espírito do Evangelho. Em vez disso, todo sistema em que o homem possa exercer desimpedido a sua capacidade criativa e ajudar as suas necessidades e às de sua família mediante um trabalho remunerado, e em que se coloquem por obra das exigências da justiça social, é compatível com o espírito do Evangelho.


Extraído de Francisco Lacueva, Ética Cristiana – Curso de Formación Teológica Evangélica (Barcelona, Editorial CLIE, 1993), pp. 204-206.

Traduzido em 15 de Março de 2014.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO.

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