27 outubro 2006

Teologia para a Igreja

Não devemos esquecer que o Seminário Teológico, mesmo enquanto instituição, é uma extensão da Igreja, e como tal, deve participar das suas lutas, dúvidas, anseios e dificuldades. O dom de mestre é dado à Igreja, e não apenas aos centros acadêmicos.

Os professores dos nossos Seminários devem ser referenciais de erudição e piedade. O orgulho é um grande mal que persegue aqueles que ensinam, como também aqueles que aprendem (1 Co 8:1-2). A instrução que os mestres cristãos devem transmitir não deve diferir em nada daquele que o Mestre ensinou e viveu. A formação teológica visa lapidar homens aprovados que manejam bem a Palavra de Deus não tendo nada do que se envergonhar (2 Tm 2:15), não contaminados pelo legalismo, nem pela hipocrisia, mas modelos de transformação. Sendo eles mesmos servos que expõem as doutrinas da graça por experiência, ardor e convicção pessoal.

É lamentável que muitos ainda pensem que o treinamento teológico é algo destinado de modo restrito apenas a um grupo seleto. As nossas escolas dominicais poderiam ser transformadas em centros de treinamento teológico. Os nossos presbíteros poderiam receber um curso teológico para melhor supervisionar a saúde doutrinária e espiritual da Igreja. Gordon J. Spykman declara que “uma dogmática saudável está firmemente arraigada na vida religiosa da fé da comunidade cristã”.[1]

O treinamento teológico também visa à formação de cristãos que servirão com melhor capacitação nas igrejas. A Igreja de Cristo é um corpo composto de membros dotados com habilidades espirituais especiais. Se cada membro desenvolver o seu dom espiritual equipando-se com o mais qualificado conhecimento técnico, é muito provável que servirão melhor. Gordon J. Spykman observa que "a dogmática tem que manter abertas as linhas de comunicação com a igreja institucional na variedade de seus ministérios. A missão da igreja é equipar aos crentes com formas práticas para viverem juntos no mundo de Deus (Ef 4:11-16)."[2]

Toda doutrina que refletida e ensinada aos estudantes de teologia também deve ser ensinada à igreja local. É possível que a metodologia de ensino não será a mesma, nem a linguagem técnica teológica, mas, o conteúdo pode ser transmitido com as suas devidas proporções verificando o auditório a ser alcançado. Iain Murray vai um pouco mais longe ao defender que "toda doutrina que pode ser ensinada aos teólogos também pode ser ensinada às crianças. Ensinamos uma criança que Deus é um Espírito, presente em todo lugar e que conhece todas as coisas; e ela consegue entender isto. Falamos lhe que Cristo é Deus e homem em duas distintas naturezas e uma pessoa para sempre. Isto para uma criança é leite, mas em si contêm alimento para os anjos. A verdade expressa nestas proposições podem ser expandidas ilimitadamente, e fornecer alimento para o mais alto intelecto por toda eternidade. A diferença entre o leite e o alimento reforçado, de acordo com esta concepção, é simples, é a distinção entre o maior e o menor desenvolvimento do conteúdo ensinado."[3]

Se ignorarmos a preocupação em termos uma grade de matérias que forme pastores que sairão capacitados para nutrir a Igreja nas suas necessidades, estaremos de fato, alimentando uma desnecessária antipatia. Teremos pastores [talvez] com muito conhecimento, mas que não saberão usa-lo. Pastores frustrados, e igrejas insatisfeitas. Fertilizará apenas a desconfiança entre igrejas e centros teológicos.


A Igreja precisa da Teologia para entender quem ela é. A teologia é indispensável para uma auto-avaliação de sua qualidade de vida. Como saber se o sal não está insípido? Como saberemos que a Igreja está validando a sua existência?

O Cristianismo não é somente uma religião, é uma cosmovisão. Charles Colson afirmar que "o Cristianismo genuíno é mais do que relacionamento com Jesus, tanto quanto se expressa em piedade pessoal, freqüência à igreja, estudo da Bíblia e obras de caridade. É mais do que discipulado, mais do que acreditar em um sistema de doutrinas sobre Deus. O Cristianismo genuíno é uma maneira de ver e compreender toda a realidade. É uma cosmovisão, uma visão de mundo."[4]

Tendo isto em mente, os estudiosos de teologia precisam oferecer respostas e propostas cristãs para todas as áreas da sociedade. Gordon J. Spykman sugere que o esforço teológico "deveria ser moldado por uma estratégia do reino de Deus de tal maneira que possa penetrar o mercado das idéias e a arena das práticas diárias e produzir o impacto reformador do evangelho. A competência de outros eruditos capacita aos dogmáticos a ajudar ao povo de Deus a atuar mais biblicamente em assuntos políticos, econômicos, sociais e educativos."[5]

A Teologia, enquanto uma sistematização fiel da Palavra de Deus, objetiva fortalecer a sua fé. O estudo sistemático das Escrituras deve confirmar o que temos aprendido, restaurar o que temos perdido, reformar o que se tem corrompido, rejeitar o que não foi recebido, e despertar a devoção pela sã doutrina. Os cristãos são chamados por Deus para salvar não apenas a alma das pessoas, mas também as suas mentes. Para isso, os servos do Senhor nunca poderão se esquecer que crer é também pensar!


A proclamação da fé Cristã é extraída do bojo teológico que a Igreja carrega consigo. Ela deve pregar e fazer novos discípulos. Mas anunciar o quê? O seu sistema litúrgico? A sua existência histórica? A sua influência social? Não! Ela não é testemunha de si mesma. Ela fala em nome de Cristo, e tendo o Senhor como o centro de sua mensagem. Sempre preparada para dar razão da fé (1 Pe 3:15) que fora entregue de uma vez aos santos (Jd vs.3).

Notas:
[1] Gordon J. Spykman, Teologia Reformacional (Jenison, TELL, 1994), p. 118
[2] Gordon J. Spykman, op.cit., 118
[3] Iain Murray, Preface in: Collected Writings of John Murray (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1989), vol. 1, p. xii
[4] Charles Colson & Nancy Pearcey, E Agora Como Viveremos? (Rio de Janeiro, CPAD, 2000), p. 33
[5] Gordon J. Spykman, Teologia Reformacional, p. 121


Rev. Ewerton B. Tokashiki

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom