13 fevereiro 2025

Por que Jesus instituiu a Ceia do Senhor na Páscoa?

 

Por Keith Mathison

 

Quando o livro de Êxodo começa, Israel está no Egito há mais de quatrocentos anos (cf. Êx 12.40). Eles estão em cativeiro sob um faraó opressor. Os primeiros capítulos de Êxodo descrevem o chamado de Moisés para ser o líder do povo de Deus para tirá-los da escravidão no Egito. Ele vem diante do faraó exigindo que Israel tenha permissão para ir e adorar o Senhor, mas o faraó se recusa. Deus então envia uma série de pragas cada vez mais severas sobre o Egito. A teimosia do faraó diante das nove primeiras pragas resulta no pronunciamento de Deus de uma praga final que resultará na redenção de Israel da escravidão. Deus avisa que Ele entrará no meio do Egito e que todo primogênito na terra, morrerá. É no contexto do aviso desta praga final que encontramos as instruções de Deus sobre a Páscoa em Êxodo 12.

 Deus começa com uma declaração indicando que a Páscoa e o Êxodo marcarão um novo começo para a nação de Israel. O mês de Abib (final de março e início de abril) deve ser o primeiro mês do ano para o povo de Deus. Isso enfatiza o fato de que o êxodo do Egito é um evento-chave, um ponto de virada, na história redentora. Tão central é o evento que, deste ponto em diante, Deus é frequentemente descrito em referência ao êxodo (por exemplo, Êx. 20.2; Lv 11.45; Nm 15.41; Dt 5.6; Js 24.17; Jz 6.8; 1Sm 10.18; 2Rs 17.36; Sl 81.10; Jr 11.4; Dn 9.15; Os 11.1; Am 2.10). Ele é identificado como Aquele que redimiu o seu povo da escravidão.

 Em anos posteriores, a observância da Páscoa envolveria o sacerdócio (Dt 16.5–7), mas na noite da Páscoa original, a responsabilidade por esta cerimônia recai sobre o chefe de cada família. O chefe de cada família é ordenado a pegar um cordeiro macho de um ano de idade e sem nenhuma mancha. Este cordeiro substitutivo deve ser um símbolo de perfeição. Como tal, ele prenuncia o verdadeiro Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, que era unicamente sem mácula (1Pe 1.19). Ao anoitecer, o cordeiro de cada família deve ser morto.

 O Senhor revela o que os israelitas fariam com os cordeiros mortos e por que deveriam fazê-lo. Cada chefe de família deve pegar o sangue do cordeiro e colocá-lo nas ombreiras e na verga da porta de sua casa. Deus explica que o sangue será um sinal. Quando Ele vir o sangue na porta, Ele passará por aquela casa, e os primogênitos nela serão poupados do juízo vindouro que cairá sobre o Egito. Depois que os cordeiros forem mortos pelo chefe da família, eles seriam assados ​​e comidos com as pessoas vestidas e preparadas para sair em um momento de aviso. Como a Páscoa é um “sacrifício” (Êx 12.27; 34.25; Dt 16.2), comer o cordeiro é uma refeição sacrificial como aquela associada à oferta de paz descrita em Lv 3 e 7. Em tais refeições, a carne do cordeiro sacrificado é oferecida aos crentes para comerem após o sacrifício ser feito (Lv 7.15).

 Em Êx 12.14–20, Deus revela o modo como as futuras gerações de israelitas deveriam observar a Páscoa. O êxodo do Egito seria comemorado na Festa dos Pães Asmos de sete dias, que iniciaria com a observância da Páscoa. O povo sempre se lembraria de sua escravidão no Egito e do ato de redenção de Deus ao libertá-los dessa escravidão. A Páscoa, portanto, seria observada ao longo de suas gerações. Jesus instituiu a Ceia do Senhor nesta noite para significar que este novo êxodo estava prestes a começar. Este ato indicou que o tempo da redenção havia chegado.

O texto de Êx 12.21–28 contém as instruções de Moisés ao povo sobre a Páscoa e a resposta do povo. Moisés instrui o povo a marcar as portas usando hissopo, uma planta que mais tarde será usada em conexão com vários rituais de purificação (Lv 14.49–52; Nm 19.18–19). Embora alguns estudiosos tenham negado que a Páscoa seja um sacrifício, Moisés refere-se especificamente a ela como tal em Êx 12.27. Embora nenhum pecado específico seja mencionado, o sangue do cordeiro afasta a ira de Deus. Aqui novamente a Páscoa prenuncia a obra redentora de Cristo (1Co 5.7). A décima e última praga veio sobre o Egito assim como Deus advertiu por meio de Moisés e Arão, e os primogênitos em toda a terra foram mortos. Somente aqueles cobertos pelo sangue do cordeiro foram poupados. Como resultado dessa praga final, o Faraó finalmente cedeu e ordenou que Moisés e os israelitas saíssem. O início do êxodo em si é descrito em Êx 12.33–42. A razão para as instruções de Deus ao povo para estar preparado e sair às pressas, agora, se torna clara. Os egípcios querem que os israelitas saiam imediatamente e os incitam a partir. Os israelitas recebem dos egípcios a prata e ouro deles e, após 430 anos, eles começam a jornada para fora do Egito em direção à terra prometida.

 A nossa breve pesquisa de Êx 12 revela vários fatos importantes sobre a Páscoa. O sangue do cordeiro da Páscoa distinguia o povo de Deus dos egípcios descrentes, e a observância da Páscoa era um sinal de fé em Deus. A Páscoa também marcava a redenção de Israel da escravidão no Egito. Comemorava seu nascimento como nação. Ao longo de todas as gerações de Israel, a Páscoa seria um memorial do grande ato redentor de Deus. Também seria uma oportunidade de ensino para os pais israelitas, que deveriam explicar seu significado aos seus filhos.

 Nos livros proféticos posteriores do Antigo Testamento, o êxodo seria visto como o ato paradigmático de redenção. Quando os profetas olhavam para a futura obra de redenção de Deus, eles a comparavam ao êxodo original e falavam dela em termos de um êxodo novo e maior. Vemos tal linguagem, por exemplo, em Is 52.11–12, onde Deus ordenou que Israel partisse da Babilônia usando uma linguagem que lembrava aquela usada em conexão com o êxodo original do Egito. No final do Antigo Testamento, os israelitas estavam ansiosos por um novo e maior êxodo.

 Quando os Evangelhos abrem, não é coincidência que vários paralelos sejam vistos entre Jesus e Moisés e entre Jesus e Israel. Jesus foi até levado para o Egito apenas para retornar após a morte de Herodes. Diz-se que isso ocorreu “para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: ‘Do Egito chamei meu filho’” (Mt 2.15). O decreto de Herodes de matar todas as crianças do sexo masculino em Belém é um eco horrível do decreto do Faraó de matar todas as crianças do sexo masculino dos israelitas (Mt 2.16 e Êx 1.15–22). Os comentaristas discutem ainda mais paralelos, mas o objetivo dos paralelos é comunicar ao leitor que o tão esperado tempo de redenção estava próximo. O novo êxodo profetizado estava próximo.

 Por que, então, Jesus instituiu a Ceia do Senhor na Páscoa, na noite anterior à sua crucificação? Em primeiro lugar, é porque Ele é o cumprimento de tudo o que foi prenunciado pelo cordeiro da Páscoa. O seu sangue, o sangue da nova aliança, evita a ira de Deus para aqueles que depositam sua fé Nele. Em segundo lugar, é porque a última Ceia foi à véspera do profetizado ato maior de redenção da nova aliança — o ato prometido de redenção que os profetas descreveram em termos de um novo êxodo — e, assim, como o primeiro êxodo foi precedido pela instituição da Páscoa, o novo êxodo maior foi precedido pela instituição da Ceia do Senhor. Jesus instituiu a Ceia do Senhor nesta noite para significar que este novo êxodo estava prestes a começar. Este ato indicou que o tempo da redenção havia chegado.

 

Extraído de Keith Mathison DAQUI

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