Por Keith Mathison
Quando o livro de Êxodo começa, Israel está no Egito há mais
de quatrocentos anos (cf. Êx 12.40). Eles estão em cativeiro sob um faraó
opressor. Os primeiros capítulos de Êxodo descrevem o chamado de Moisés para
ser o líder do povo de Deus para tirá-los da escravidão no Egito. Ele vem
diante do faraó exigindo que Israel tenha permissão para ir e adorar o Senhor,
mas o faraó se recusa. Deus então envia uma série de pragas cada vez mais
severas sobre o Egito. A teimosia do faraó diante das nove primeiras pragas
resulta no pronunciamento de Deus de uma praga final que resultará na redenção
de Israel da escravidão. Deus avisa que Ele entrará no meio do Egito e que todo
primogênito na terra, morrerá. É no contexto do aviso desta praga final que
encontramos as instruções de Deus sobre a Páscoa em Êxodo 12.
Deus começa com uma declaração indicando que a Páscoa e o
Êxodo marcarão um novo começo para a nação de Israel. O mês de Abib (final de
março e início de abril) deve ser o primeiro mês do ano para o povo de Deus.
Isso enfatiza o fato de que o êxodo do Egito é um evento-chave, um ponto de
virada, na história redentora. Tão central é o evento que, deste ponto em
diante, Deus é frequentemente descrito em referência ao êxodo (por exemplo, Êx.
20.2; Lv 11.45; Nm 15.41; Dt 5.6; Js 24.17; Jz 6.8; 1Sm 10.18; 2Rs 17.36; Sl 81.10;
Jr 11.4; Dn 9.15; Os 11.1; Am 2.10). Ele é identificado como Aquele que redimiu
o seu povo da escravidão.
Em anos posteriores, a observância da Páscoa envolveria o
sacerdócio (Dt 16.5–7), mas na noite da Páscoa original, a responsabilidade por
esta cerimônia recai sobre o chefe de cada família. O chefe de cada família é
ordenado a pegar um cordeiro macho de um ano de idade e sem nenhuma mancha.
Este cordeiro substitutivo deve ser um símbolo de perfeição. Como tal, ele
prenuncia o verdadeiro Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, que era unicamente sem
mácula (1Pe 1.19). Ao anoitecer, o cordeiro de cada família deve ser morto.
O Senhor revela o que os israelitas fariam com os cordeiros
mortos e por que deveriam fazê-lo. Cada chefe de família deve pegar o sangue do
cordeiro e colocá-lo nas ombreiras e na verga da porta de sua casa. Deus
explica que o sangue será um sinal. Quando Ele vir o sangue na porta, Ele
passará por aquela casa, e os primogênitos nela serão poupados do juízo
vindouro que cairá sobre o Egito. Depois que os cordeiros forem mortos pelo
chefe da família, eles seriam assados e
comidos com as pessoas vestidas e preparadas para sair em um momento de aviso.
Como a Páscoa é um “sacrifício” (Êx 12.27; 34.25; Dt 16.2), comer o cordeiro é
uma refeição sacrificial como aquela associada à oferta de paz descrita em Lv 3
e 7. Em tais refeições, a carne do cordeiro sacrificado é oferecida aos crentes
para comerem após o sacrifício ser feito (Lv 7.15).
Em Êx 12.14–20, Deus revela o modo como as futuras gerações de
israelitas deveriam observar a Páscoa. O êxodo do Egito seria comemorado na
Festa dos Pães Asmos de sete dias, que iniciaria com a observância da Páscoa. O
povo sempre se lembraria de sua escravidão no Egito e do ato de redenção de
Deus ao libertá-los dessa escravidão. A Páscoa, portanto, seria observada ao
longo de suas gerações. Jesus instituiu a Ceia do Senhor nesta noite para significar
que este novo êxodo estava prestes a começar. Este ato indicou que o tempo da
redenção havia chegado.
O texto de Êx 12.21–28 contém as instruções de Moisés ao povo
sobre a Páscoa e a resposta do povo. Moisés instrui o povo a marcar as portas
usando hissopo, uma planta que mais tarde será usada em conexão com vários
rituais de purificação (Lv 14.49–52; Nm 19.18–19). Embora alguns estudiosos
tenham negado que a Páscoa seja um sacrifício, Moisés refere-se especificamente
a ela como tal em Êx 12.27. Embora nenhum pecado específico seja mencionado, o
sangue do cordeiro afasta a ira de Deus. Aqui novamente a Páscoa prenuncia a
obra redentora de Cristo (1Co 5.7). A décima e última praga veio sobre o Egito
assim como Deus advertiu por meio de Moisés e Arão, e os primogênitos em toda a
terra foram mortos. Somente aqueles cobertos pelo sangue do cordeiro foram
poupados. Como resultado dessa praga final, o Faraó finalmente cedeu e ordenou
que Moisés e os israelitas saíssem. O início do êxodo em si é descrito em Êx 12.33–42.
A razão para as instruções de Deus ao povo para estar preparado e sair às
pressas, agora, se torna clara. Os egípcios querem que os israelitas saiam
imediatamente e os incitam a partir. Os israelitas recebem dos egípcios a prata
e ouro deles e, após 430 anos, eles começam a jornada para fora do Egito em
direção à terra prometida.
A nossa breve pesquisa de Êx 12 revela vários fatos
importantes sobre a Páscoa. O sangue do cordeiro da Páscoa distinguia o povo de
Deus dos egípcios descrentes, e a observância da Páscoa era um sinal de fé em
Deus. A Páscoa também marcava a redenção de Israel da escravidão no Egito.
Comemorava seu nascimento como nação. Ao longo de todas as gerações de Israel,
a Páscoa seria um memorial do grande ato redentor de Deus. Também seria uma
oportunidade de ensino para os pais israelitas, que deveriam explicar seu
significado aos seus filhos.
Nos livros proféticos posteriores do Antigo Testamento, o
êxodo seria visto como o ato paradigmático de redenção. Quando os profetas
olhavam para a futura obra de redenção de Deus, eles a comparavam ao êxodo
original e falavam dela em termos de um êxodo novo e maior. Vemos tal
linguagem, por exemplo, em Is 52.11–12, onde Deus ordenou que Israel partisse
da Babilônia usando uma linguagem que lembrava aquela usada em conexão com o
êxodo original do Egito. No final do Antigo Testamento, os israelitas estavam
ansiosos por um novo e maior êxodo.
Quando os Evangelhos abrem, não é coincidência que vários
paralelos sejam vistos entre Jesus e Moisés e entre Jesus e Israel. Jesus foi
até levado para o Egito apenas para retornar após a morte de Herodes. Diz-se
que isso ocorreu “para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: ‘Do
Egito chamei meu filho’” (Mt 2.15). O decreto de Herodes de matar todas as
crianças do sexo masculino em Belém é um eco horrível do decreto do Faraó de
matar todas as crianças do sexo masculino dos israelitas (Mt 2.16 e Êx 1.15–22).
Os comentaristas discutem ainda mais paralelos, mas o objetivo dos paralelos é
comunicar ao leitor que o tão esperado tempo de redenção estava próximo. O novo
êxodo profetizado estava próximo.
Por que, então, Jesus instituiu a Ceia do Senhor na Páscoa, na
noite anterior à sua crucificação? Em primeiro lugar, é porque Ele é o
cumprimento de tudo o que foi prenunciado pelo cordeiro da Páscoa. O seu
sangue, o sangue da nova aliança, evita a ira de Deus para aqueles que
depositam sua fé Nele. Em segundo lugar, é porque a última Ceia foi à véspera
do profetizado ato maior de redenção da nova aliança — o ato prometido de
redenção que os profetas descreveram em termos de um novo êxodo — e, assim,
como o primeiro êxodo foi precedido pela instituição da Páscoa, o novo êxodo
maior foi precedido pela instituição da Ceia do Senhor. Jesus instituiu a Ceia
do Senhor nesta noite para significar que este novo êxodo estava prestes a
começar. Este ato indicou que o tempo da redenção havia chegado.
Extraído de Keith Mathison DAQUI
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