05 abril 2007

A origem do ofício de diácono

A definição do ofício de diácono

O substantivo diácono procede da palavra grega diakonós. Esta palavra ocorre 29 vezes no Novo Testamento, podendo significar:[1]
a)servo Mt 20:26; 22:13; Mc 9:35
b)garçom Jo 2:5,9
c)ministro Rm 13:4
d)auxiliar 2 Co 6:4; Ef 6:21; Cl 1:23,25; 1 Tm 4:6
e)oficial Fp 1:1; 1 Tm 3:8,12

O lexicógrafo J.H. Thayer define esta palavra como “aquele que executa as ordens de outro como um servo, atendente, ou ministro.”[2] Noutro lugar ele nos fornece outra definição mais completa como sendo “aquele que em virtude do ofício designado pela igreja, auxilia aos pobres, recebendo e distribuindo o dinheiro, que para este fim é coletado.”[3] Todavia, esta definição segue a prática da Igreja em seus primeiros séculos. A estrutura da nossa denominação embora não negue a responsabilidade do diaconato de exercer a assistência social, não recomenda nem estimula o seu manuseio financeiro deixando este para o Conselho. A definição de Thayer demonstra alguma deficiência e limitação do ofício do diácono.

Notemos ainda que, segundo William D. Mounce o verbo grego diakonéw significa “atender, cuidar, servir Mt 8:15; Mc 1:31; Lc 4:39; [...] ministrar, ajudar, dar assistência ou suplicar pelo indispensável à vida, providenciar os meios para se viver Mt 4:11; Mt 27:55; Mc 1:13; Mc 15:41; Lc 8:3.”[4] Esta definição é preferível por mostrar-se mais satisfatória as necessidades da Igreja.

A origem dos diáconos no Novo Testamento

Encontramos a narrativa histórica da origem do diaconato em At 6:1-6. Alguns estudiosos, entretanto, negam que esta passagem se refira à origem do ofício, alegando o fato de não haver menção da palavra “diácono” no texto. Todavia, podemos crer que esta passagem seja a narrativa da instituição do diaconato levando em consideração os seguintes argumentos que Louis Berkhof apresenta:
1. O nome diakonoi que, antes do evento narrado em Atos 6, era sempre empregado no sentido geral de servo ou servidor, subseqüentemente começou a ser empregado como designativo daqueles que se dedicavam às obras de misericórdia e caridade, e, com o tempo, veio a ser usado exclusivamente neste sentido. A única razão que se pode atribuir a isto acha-se em Atos 6.
2. Os sete homens ali mencionados foram encarregados da tarefa de distribuir bem as dádivas trazidas para as agapae (festas de amor cristão), ministério que noutras partes é particularmente descrito pela palavra diakonia, At 11:29; m 12:7; 2 Co 8:4; 9:1,12-13; Ap 2:19.
3. Os requisitos para o ofício, como são mencionados em Atos 6, são muitos exigentes, e nesse aspecto, concordam com as exigências mencionadas em 1 Tm 3:8-10. (4) Muito pouco se pode dizer em favor da acariciada idéia de alguns críticos de que o diaconato só foi desenvolvido mais tarde, mais ou menos na época do aparecimento do ofício episcopal.[5]

A tradição cristã reconheceu nesta decisão apostólica a origem do diaconato:
1. Irineu de Lião (130-200 d.C.) em seu livro “Contra as Heresias” 1:26; 3:12; 4:15.
2. Cipriano (200-258 d.C.) em suas “Epístolas” 3:3.
3. Eusébio de Cesaréia (260-340 d.C.) declara em sua “História Eclesiástica” que ali “foram igualmente destacados pelos apóstolos, com oração e imposição de mãos, homens aprovados para o ofício de diáconos, para o serviço público”.[6]

Mesmo numa leitura artificial da passagem de At 6:1-6 é possível verificar um problema de omissão na “mesa das viúvas dos gentios”. Esta omissão certamente não era proposital, pois os apóstolos sendo apenas “os doze” não podiam suprir todos os novos convertidos no ministério de ensino da Palavra de Deus, e ao mesmo tempo “servindo as mesas”. Há pelo menos quatro motivos que podemos enumerar para a instituição do diaconato:
1. Para evitar a desordem nos relacionamentos da Igreja. Surgia o grave problema da murmuração.
2. Para evitar que houvesse partidos dentro da Igreja. A omissão às mesas das viúvas enfatizava as diferenças entre o grupo dos judeus helênicos e judeus palestinos.
3. Para evitar a injustiça na distribuição de alimentos e donativos aos necessitados.
4. Para que os mestres da Palavra sejam dedicados no ensino da mesma. É importante observarmos que os apóstolos não estavam rejeitando o “servir às mesas das viúvas”. John R. W. Stott faz uma importante contribuição ao entendimento deste assunto ao dizer que “não há aqui nenhuma sugestão de que os apóstolos considerassem a obra social inferior à obra pastoral, ou de que a achassem pouco digna para eles. Era apenas uma questão de chamado. Eles não poderiam ser desviados de sua tarefa prioritária”.[7]

Charles R. Erdman sugere algumas idéias sobre a necessidade do diaconato na Igreja Cristã. Vejamos que:
(1) É dever óbvio da Igreja, em toda parte, provar às necessidades dos seus membros.
(2) Essa provisão exige clarividência e cautela, para que os que mais precisam não sejam omitidos.
(3) A administração de tais socorros precisa incluir contato e simpatia pessoais. Não é coisa que se deva fazer mecanicamente, ou porque seja praxe. São socorros que devem resultar em conforto espiritual e, se possível, devem levar as pessoas a ficar em condições de poder dispensá-los mais adiante.
(4) Esse trabalho requer a designação de oficiais especializados. “O ministro” deve ser desembaraçado das particularidades que cercam o levantamento e a aplicação de dinheiro entre os membros de sua Igreja.
(5) Ao ministro se deve permitir que se empregue seu tempo no estudo, na prédica e na oração.
(6) O socorro dos pobres, ou seja a assistência social, de qualquer que seja a natureza, jamais deve tomar o lugar do esforço evangelístico.
(7) Na Igreja todos os seus oficiais são “ministros” ou “servos”, na verdadeira acepção do termo; não são dominadores. E qualquer que seja a forma do serviço, devem procurar fazer dele um meio de testemunhar de Cristo, o que aliás vem sugerido nos episódios de Estevão e Filipe, dois diáconos cujo testemunho constitui uma parte significativa da história que se segue imediatamente.[8]

Notas:
[1] F.W. Gingrich & F.W. Danker, Léxico do N.T. Grego/Português (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1993), p. 53
[2] J.H. Thayer, Thayer’s Greek-English Lexicon of the New Testament (Grand Rapids, Associeted Publishers and Authors Inc., 1889), p. 138
[3] Ibidem.
[4] William D. Mounce, The Analytical Lexicon to the Greek New Testament (Grand Rapids, Zondervam Publishing House, 1992), p. 138
[5] Louis Berkhof, Teologia Sistemática (Campinas, LPC, 1990), p. 591.
[6] Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica (Rio de Janeiro, CPAD, 1999), Livro 2. Cap. 1, p. 47
[7] John W.R. Stott, A Mensagem de Atos (São Paulo, Ed. ABU, 1994), p. 134
[8] Charles R. Erdman, Atos dos Apóstolos (São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1960), pp. 58-59

Rev Ewerton B. Tokashiki

14 comentários:

Marcelo disse...

Muito bom seu estudo. Eu já o copiei. Mas fiquei curioso quanto a palavra. Vou pesquisar no grego da LXX e no repertório do site perseus.tufts.edu para ver como a palavra "acontecia" nesses outros ambientes. Descobri, por exemplo, em Ester 1.10 a palavra "diakonois" se referindo ao verbo servir (serviam na presença do rei).

Marcelo
João Pessoa-PB

Ewerton B. Tokashiki disse...

oi Marcelo Hagah

Creio que você poderá verificar que o verbo servir em si mesmo não identifica quem serve, ou é servido, nem mesmo o modo de servir.

Pr Ewerton

tripoco disse...

perdoe me a falta e coerencia com o assunto
Eu estou no primeiro anos de letras e nao tenho hj condiçoes de fazer teologia e gostaria de saber qual o melhor metodo para aprender grego do novo testamento agradeceria se fosse por livros pois o problema se dá no fato de eu nao ter tempo habil para me locomover para algum curso desde já fico agradecido

Ewerton B. Tokashiki disse...

oi Tripoco (?)

Aprender grego não é difícil. Alguns mistificam a língua, mas a estrutura dela é muito parecida com o nosso ilustre português. Ensinei grego num Seminário Batista durante um tempo, e depois Exegese do NT. Ela é um idioma preciso na expressividade das idéias, bem mais do que o hebraico. Mas, pela sua pergunta percebo que você é um autodidata, e isto facilita as coisas. Se você deseja aprender grego, o ideal sempre é ter um professor, mas neste caso o que posso fazer é indicar algumas ferramentas para que você inicie os seus estudos nesta língua:
1. Frans Leonard Schalkwijk, Coinê: Pequena Gramática do Grego Neotestamentário (Patrocínio-MG, CEIBEL). Esta é a melhor gramática grega em português, inclusive preparada para autodidatas. Infelizmente, talvez você não a encontrará com facilidade, e terá que entrar em contato com o IBEL e solicitar uma ([34]3832 6411).
2. John H. Dobson, Aprenda o Grego do Novo Testamento (RJ, CPAD). Também é uma gramática para autodidatas, a sua ênfase não está na gramática, embora não é deixada de lado, mas na leitura instrumental do texto. É muito útil na memorização de vocabulário.
3. F.Wilbur Gingrich & F.W. Danker, Léxico do N.T. Grego/Português (SP, Ed. Vida Nova).
4. Waldir C. Luz, Novo Testamento Interlinear (SP, Ed. Cultura Cristã). Você precisará de um texto grego do NT. A vantagem deste é que ele possui uma tradução literal das palavras.
5. William D. Mounce, The Analytical Lexicon to the Greek New Testament (Zondervan Publishing House). Este é um dos melhores léxicos para análise gramatical e tradução das palavras.

Caso se interesse, pode ir em qualquer livraria evangélica que possivelmente encontrará outras gramáticas e dicionários da língua grega que poderão ser úteis. Mas, sugiro que dê preferência para estes.

Qualquer dúvida estamos por aí
Abraços
Pr Ewerton

tripoco disse...

muito obrigado pela dica voçê sabe hebraico também ?

Ewerton B. Tokashiki disse...

Caro Tripoco

Espero que a minha sugestão para o estudo de grego lhe seja útil.

Quanto a sua 2a.pergunta a minha resposta é que estudei hebraico no Seminário Presbiteriano JMC [www.seminariojmc.br/home.asp ]. Estudei 4 semestres de hebraico e 4 semestres de Exegese do AT (uso instrumental do hebraico). Mas, confesso que depois que terminei o meu curso, não continuei dedicando no estudo desta língua. Não deixei de fazer exegese quando prego em algum texto do AT, mas não estou tão atualizado.

Mas, caso te interesse estudar hebraico sugiro a seguinte gramática [ http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=&ProdTypeId=1&CatId=11887&PrevCatId=11885&ProdId=194545&ST=BL11887&OperId=0&CellType=2 ] e o Benjamin Davidson, The Analytical Hebrew and Chaldee Lexicon (Hendriksen Publishers). Mas, se você futuramente puder comprar John Joseph Owens, Analytical Key to the Old Testament, 4 volumes
(Baker House)
[ www.christianbook.com/Christian/Books/product?item_no=6713&netp_id=368625&event=ESRCN&item_code=WW ] esta obra é maravilhosa!

Qualquer dúvida pode entrar em contato
Em Cristo
Pr Ewerton

Anônimo disse...

QUE A PAZ SEJA CONTIGO,AMÉM,VENHO POR MEIO DESTE SOLICITAR SE POSSÉVEL QUE ME ENVIE SIGNIFICADOS E TRADUÇOES DE PALAVRAS BÍLBICAS,DESDE JÁ AGRADEÇO E SEM MAIS, SOBRESCREVO-ME;COM CARINHO MISSIONÁRIO JEAN NASCIMENTO

Anônimo disse...

brigado reveredo. um estudo como este éra bom que todos "os diaconos "lessem, só assim aprederiam verdadeiramente a sua função na igreja.

luciana disse...

paz sou diaconisa e gosto muito de ler mas o meu tempo é muito curto gostaria que mim endicase um bom livro sobre o diaconato

Igreja Presbiteriana de Belo Jardim disse...

Meu irmão Muito bom o seu Blog. O estudo sobre os diáconos me ajudou bastante, pois estarei palestrando sobre o tema e peço sua autorização para usá-lo junto com outros materiais na minha palestra.
Sou Pastor Agnaldo da IPB em Belo Jardim - PE.
Fica na paz!

Ewerton B. Tokashiki disse...

Rev Agnaldo

Fique a vontade de usar os textos que precisar.

Deus o abençoe no ensino e treinamento destes preciosos irmãos.

Aline Firme disse...

Oi Pastor, a paz do Senhor. Estou para ser consagrada a diaconisa, e o meu pastor me pediu um estudo sobre o ofício do diácono. Como estou na Itália e as publicações cristãs são raras, gostaria de saber se o senhor me indica alguma literatura sobre o assunto, porém que esteja disponível em e-book para que eu possa ter acesso.
Tentei baixar o livro do Magno Paganelli, porém não está disponível. Se o senhor puder enviar as referências bibliográficas para o meu e-mail, ficarei grata.(aline.firme10@hotmail.com).
Abraços e paz, Aline Firme

marco antonio d l disse...

Graça e Paz! Amém?!

Caro Rev Ewerton B. Tokashiki

Como deve o crente no Senhor Jesus fazer quanto a se decidir entre ser diacono e ou Presbitero ? Penso que são funções diferentes ? Como saberei se estou querendo estar na função certa? Como devo orar e entender para obter a certeza?.

Em Cristo

Marco Antonio

Ewerton B. Tokashiki disse...

Caro Marco Antonio

A sua pergunta é de suma importância. Creio que discernimento pessoal é indispensável neste momento, porque você precisa examinar-se em dois pontos: que dons você tem e em quais destes 2 ofícios você está qualificado por Deus para exercer a sua liderança? O segundo ponto é: a igreja da qual você é membro ela reconhece em você quais dons, ou seja, em quais dos 2 ofícios você seria mais útil, produtivo e realizará melhor? Então, tanto o autoexame, como o reconhecimento por parte da igreja local são decisivos neste assunto.

Deus o abençoe com discernimento.