01 agosto 2010

D. MARTIN LLOYD-JONES (1899-1981) - Série biografia 3

Escrito por J.I. Packer

D.M. Lloyd-Jones foi um pregador galês, popular e influente, com grandes dons intelectuais, serviu numa congregação da Igreja Presbiteriana de Gales em Aberavon, Port Talbot, de 1927 a 1938, e em seguida à congregação independente na Westminster Chapel, Londres, primeiro como auxiliar e depois como sucessor de G. Campbell Morgan (1863-1945). Jubilou-se em 1968, mas continuou dedicado a pregação itinerante até pouco antes de sua morte.

“O Doutor”, como sempre era chamado, formado e qualificado para a medicina antes de dedicar-se ao ministério, resultava tão irresistível como o seu estilo diagnóstico de expor as necessidades dos incrédulos, os cristãos e as igrejas usando uma terminologia clínica. Versado por conta própria nas tendência teológicas e acerca da vida espiritual dos puritanos, calvinistas e igrejas reformadas, foi um incansável expositor das riquezas da graça de Deus e de seu poder, segundo as Escrituras, e constante inimigo de tudo que impedisse ou solapava uma compreensão clara de tais riquezas: o liberalismo fácil e racionalista; a oca neo-ortodoxia; o estéril legalismo sacramental do sistema romano, definido em Trento; e a indiferença às pressões ecumênicas que, segundo ele, conduziam à versões descafeinadas da fé, a uma idéia inadequada do que significa ser cristão, e a uma falta de interesse pela autêntica unidade cristã. O fato de enfatizar este último ponto durante os seus último anos lhe afastou de muitas organizações evangélicas que antes consideravam-no mentor, consultor e guia, notável por seus conhecimentos e sua sabedoria.

Dentro da tendência reformada, o ministério de Lloyd-Jones distinguiu-se por: 1) o compromisso em grande escala com a pregação expositiva (por exemplo, foram 11 anos dedicados a Rm 1-14;[1] 2) a sua ênfase sobre a adequação racional da fé bíblica, e seu estilo de pregação direta, persuasiva, baseada no senso comum e “de pessoa a pessoa”, que utilizava no púlpito; 3) a sua exposição profundamente experimental do evangelho, com ênfase constante no perdão, a paz, a segurança, o gozo e a esperança em Deus; 4) a sua ênfase sobre o batismo do Espírito como um acontecimento posterior a conversão,[2] como uma garantia de segurança que deveriam buscar todos os crentes; 5) o seu interesse pelo avivamento espiritual[3], entendido em termos edwardianos (ver Jonathan Edwards), como um derramamento novo do Espírito para abençoar a Palavra exposta, entendendo-o como a única e última esperança da igreja contemporânea; e, 6) a sua ênfase sobre a própria pregação como atividade inspirada pelo Espírito e tremendamente significativa.

Todas as obras de Lloyd-Jones são sermões ou conferências transcritas.[4]

NOTAS
:
[1] Esta série de sermões expositivos encontram-se publicados pela editora PES. Nota do tradutor.
[2] A análise do entendimento de Lloyd-Jones acerca deste assunto pode ser lida em Martin lloyd-Jones, Stott e 1 Co 12:13 - O Debate sobre o Batismo com o Espírito Santo, escrito pelo Dr Augustus Nicodemus Lopes na Revista Teológica Fides Reformata. Nota do tradutor.
[3] O seu livro Avivamento encontra-se publicado pela editora PES. Nota do tradutor.
[4] Apesar de D.M. Lloyd-Jones não ser estritamente um teólogo sistemático, ele a pregou essencialmente em todos os seus sermões. Nota do tradutor.

Extraído de David J. Atkinson & David H. Field, eds., Diccionário de Ética Cristiana y Teología Pastoral (Barcelona, Publicaciones Andamio & CLIE, 2004), págs. 763-764.

Tradução livre: Rev. Ewerton B. Tokashiki

WILHELMUS À BRAKEL (1635-1711) - Série biografia 2

Escrito por Joel R. Beeke

Wilhelmus à Brakel[1] (um contemporâneo de eminentes teólogos da Segunda Reforma Holandesa, tais como Witsius, Voetius, Van Lodenstein, Koelman e Hellenbroek) nasceu em 2 de Janeiro de 1635, em Leeuwarden, nos Países Baixos. Ele foi o único filho de Dirck Gerrits van Brakel, posteriormente conhecido como Theodorus à Brakel.

Wilhelmus teve o inestimável privilégio de ser educado por dois pais mui piedosos, que foram gratos ao testemunhar que o seu filho temeu ao Senhor desde o início de seus dias. O seu pai foi um renomado ministro na província de Friesland, e um homem de extraordinária piedade. Os seus pais lutaram em oração para que o seu filho pudesse ser usado pelo Senhor como um poderoso instrumento em Seu serviço. E agradou ao Senhor responder as suas orações além da expectativa.[2]

à Brakel estudou teologia em Franeker e em Utrecht, e foi particularmente influenciado por seu mentor, Gisbertus Voetius. Com a idade de vinte e quatro anos ele foi ordenado um ministro do evangelho. Os seus sermões eram Cristocêntricos, ricos em conteúdo evangélico, experimentais e direcionados àqueles que estavam presentes.

à Brakel serviu quatro congregações em sua província nativa da Friesland: Exmorra (1662-1665), Stavoren (1665-1670), Harlingen (1670-1673) e em sua terra natal, a capital da Friesland, Leeuwarden (1673-1683). O jovem ministro começou o seu ministério em Exmorra - uma díficil congregação - com grande zelo. Um contemporâneo disse-lhe que ele deveria sepultar a si do mesmo modo como estava aquele vilarejo. O seu diligente esforço em Friesland foi ricamente abençoado pelo Senhor. O Espírito Santo evidenciou fluir a Si mesmo pela fiel pregação do evangelho do Senhor Jesus Cristo.

Todavia, o seu período em Friesland provou ser uma preparação para uma tarefa ainda maior que o Senhor tinha preparado para ele em Rotterdam - o seu final e mais longo pastorado (1683-1711). Durante este pastorado ele envolveu-se numa longa e frutífera batalha contra os Labadistas, empenhando-se por uma igreja pura aqui sobre a terra, corajosamente resistindo a tentativa do governo de intrometer-se nos negócios da igreja, e escreveu a sua magnum opus The Christians Reasonable Service - o maduro fruto de seu labor ministerial.

Após um frutífero ministério de quarenta e nove anos, agradou o Senhor receber o seu eminente teólogo - afetuosamente referido pelos piedosos como "o Pai Brakel" - tomando-o para Si em 1711, com a idade de setenta e seis anos, para receber a recompensa de um servo fiel.

Notas:
[1] Embora também seja um resumo, a biografia de à Brakel pode ser lida em Joel R. Beek & Randall J. Pederson, MEET the PURITANS (Reformation Heritage Books, 2006), págs. 745-752. Nota do tradutor.
[2] A providência de Deus o preparou para servir no ministério pastoral. Sabe-se que ele "nasceu em 2 de Janeiro de 1635, em Leeuwarden, sendo único filho de Margaretha Homma e Theodorus à Brakel, um pastor reformado de extraordinária piedade que tornou-se conhecido por seu De Trappen des Geestelycken Levens [Os Passos da Graça na Vida Espiritual]. Wilhelmus e suas cinco irmãs foram educados num lar caracterizado pelo temor de Deus. Wilhelmus foi convertido ainda garoto, provavelmente sob a pregação de seu pai e as orações e exortações de sua mãe. Ele freqüentou a Escola de Latim em Leeuwarden, e então entrou na Academia de Franeker com a idade de dezenove anos, em 1654. Ao completar os seus estudos em 1659, o presbitério de Leeuwarden o admitiu no ministério pastoral. Devido a necessidade de vagas naquele período, à Brakel continuou o seu treinamento teológico por mais alguns anos em Utrecht sob a orientação de Gisbertus Voetius e Andreas Essenius" in: J.R. Beek & R.J. Pederson, MEET the PURITANS, pág. 745. Nota do tradutor.

Extraído de Wilhelmus à Brakel, The Christian's Reasonable Service (Gran Rapids, Reformation Heritage Book, 1999), vol. 1, nota da sobrecapa.

Tradução livre: Rev. Ewerton B. Tokashiki

LOUIS BERKHOF (1873-1957) – Série biografia 1

Escrito por J.D. Bratt

Teólogo reformado que nasceu na província holandesa de Drenthe. Os pais de Louis Berkhof pertenceram ao partido separatista pietista-ortodoxo (1834) da Igreja Reformada. (A teologia de Berkhof baseia-se mais em Herman Bavinck, do que compartilha deste grupo regional e religioso). A família emigrou para os Estados Unidos da América em 1882, estabelecendo-se em Grand Rapids, Michigan, onde Louis dedicou o restou de sua vida. Em 1900, ele graduou na Escola de Teologia da Igreja Cristã Reformada, em Grand Rapids, e entre os dois pastorados nesta denominação, fez em dois anos (1902-1904) um trabalho de pós-graduação em teologia no Seminário Teológico de Princeton. Em 1906, foi indicado para o Seminário Grand Rapids (posteriormente Seminário Teológico Calvin), onde serviu o restante de sua carreira como professor de teologia bíblica (1906-1914), de Novo Testamento (1914-1926) e teologia sistemática (1926-1944). De 1931 a 1944 ele serviu como presidente daquela instituição.[1]

Em seus anos iniciais no Seminário Calvin, Berkhof seguiu a linha do primeiro ministro holandês e teólogo reformado Abraham Kuyper, em sua veemente crítica do “individualismo revolucionário” e na afirmação da necessidade de se cumprir o mandato cultural. Berkhof publicou vários livros aplicando princípios calvinistas às questões sociais como o industrialismo e o impacto da redenção na sociedade e na cultura, ele também argumentou que isso precisava ser feito em separado, nas organizações distintamente cristãs.

Por volta de 1920, Berkhof ajudou a purificar a Igreja Cristã Reformada [CRC – Christian Reformed Church] da influência recebida do Dispensacionalismo fundamentalista e da alta crítica modernista. Este último combateu-o como sendo um erro mais grave. Conseqüentemente a segunda metade de sua carreira, ele devotou para articular um consenso na teologia reformada, e foi marcado por uma consistente agenda anti-modernista. Berkhof produziu a sua monumental obra no início dos anos 1930: Reformed Dogmatics[2] (1932; e posteriores edições com o nome de Systematic Theology[3]), e a sua versão popular simplificada com o nome de Manual of Reformed Doctrine[4] (1933). Estas obras refletem a influência do seu mentor de Princeton, Gerhardus Vos, e de Bavink e de sua Gereformeerde Dogmatiek[5] (1906-1911), Berkhof seguiu-a em formato, substância e muitos outros detalhes. Em todas as suas obras apresenta a sua extensa tradição teocêntrica. Toda a iniciativa, virtude e certeza residem em Deus; tudo o que é oposto, procede da humanidade. De acordo com isto, a tarefa da vida é obedecer à autoridade divina, que é apresentada ao ser humano, de modo apropriado na Escritura. Para a teologia, em particular, Berkhof insistiu que a Escritura é a única fonte e norma. A razão humana, a experiência ou a tradição da igreja não poderiam suplementá-la, nem afetar a sua leitura. Berkhof erigiu sobre este baluarte a sua teologia sistemática, inclinando-se para uma linha moderada sobre temas da controvérsia calvinista e, reprovando as propostas modernistas.

Berkhof rejeitou um rigoroso racionalismo sobre a Bíblia e a ortodoxia, mas apresentou uma estrutura racionalista da própria mente. Somente a fé poderia apropriar-se da verdade salvadora da revelação, mas a razão tem o trabalho de arranjar estas verdades numa unidade sistemática que é vital. Idéias ditam ação, e a verdadeira experiência cristã segue formulações doutrinárias. Assim, após 1920, Berkhof em grande parte desistiu de seu talento anterior de comentários sócio-culturais e, concentrou-se de vez na criação de uma fortaleza teológica voltada para o grupo que enfrentou em tempos conturbados. O alcance e rigor de sua obra, bem como o seu apelo vão além de sua audiência original (particularmente entre os evangélicos de uma persuasão geralmente reformada), apresenta a força de sua tradição e o talento com o qual ele a defendeu.

NOTAS:
[1] Isto significa que Louis Berkhof faleceu aos 83 anos. Pastoreou 2 igrejas locais, e posteriormente exerceu a docência durante 38 anos, chegando a escrever 22 livros. Nota do tradutor.
[2] Publicada originalmente em 2 volumes: o primeiro tomo era um manual de história da doutrina, e o segundo um manual de doutrina, que, posteriormente foi ampliado e publicado como volume autônomo com o nome de Teologia Sistemática. O volume de história da doutrina foi publicado, em 1992, pela Editora PES com o nome de A História das Doutrinas Cristãs, seguindo o modelo de edições inglesas anteriores. Nota do tradutor.
[3] Publicada inicialmente pela LPC em 1990, e atualmente pela Editora Cultura Cristã com o título de Teologia Sistemática.
[4] O CEIBEL publicou este livro com o nome de Manual de Doutrina Cristã, apelidado de “Berkhofinho”.
[5] Dogmática Reformada. Nota do tradutor.

Extraído de D.G. Hart & Mark A. Noll, eds., Dictionary of the Presbyterian & Reformed – Tradition in America (Phillipsburg, P&R Publishing, 2005), págs. 32-33

Tradução livre: Rev. Ewerton B. Tokashiki