28 dezembro 2007

resenha: Karl Barth’s Theological Method

Uma breve resenha
A minha resenha não tem a pretensão de ser acadêmica, mas suficientemente precisa para atrair a atenção dos leitores hábeis em inglês para que considerem a possibilidade de planejarem a aquisição e estudo do livro Karl Barth’s Theological Method de Gordon H. Clark. O perfil teológico do autor é inequivocamente como sendo a de um reformado conservador.[1] Ele adota a estrita teologia da reforma. A abordagem que Clark realiza não somente da metodologia, mas das premissas e das conclusões de Karl Barth expressam a sua postura de clara discordância com a neo-ortodoxia.

Creio que alguns motivos tornam necessária a leitura desta obra. Considerando que:
1. O próprio Barth é renomado teólogo e tem alguns dos seus livros publicados em português, bem como vem sendo lido pelos estudantes brasileiros de teologia e curiosos desavisados carecendo assim, de um roteiro confiável para que se entenda quem realmente é este teólogo suíço;
2. Karl Barth é lido e divulgado por professores em muitas instituições teológicas brasileiras, inclusive presbiterianas, sem que se ofereça um livro-texto de crítica duma perspectiva reformada conservadora ao seu pensamento;
3. O Dr Clark supre a necessidade de uma obra que desmistifique a figura que fazem de Karl Barth como teólogo e de sua prolixa produção literária;
4. Tanto nos EUA como no Brasil tem ocorrido uma predileção pelos estudos barthianos. No prefácio[2] o Dr. John W. Robbins observa que “por várias décadas em meados deste século, Barth tornou-se um centro de atração na feira das vaidades teológicas e, embora a sua influência tenha diminuído, ela ainda não desapareceu. De fato, a Karl Barth Society of North America foi fundada, em 1974, e está florescendo, conforme vários relatos de muitos neo-evangélicos, alguns de que estando na (neo) Evangelical Theological Society estão tentando reviver o defunto e corpus Barthiano”. O que Robbins disse em 1997 do cenário teológico americano, parece ocorrer no brasileiro, de fato, citar Karl Barth enriquece a “feira das vaidades teológicas”.
5. Tanto a Princeton University como outros centros acadêmicos teológicos nos EUA e na Europa têm dedicado bibliotecas direcionadas apenas aos estudos barthianos evidenciando o contínuo interesse de reforçar esta área de pesquisa;[3]
6. O livro Karl Barth’s Theological Method poderia servir de leitura complementar do curso de teologia, ou ainda, seria um útil e esclarecedor texto para a disciplina de Teologia Contemporânea lecionada em nossos seminários teológicos.

Para avaliar algumas fraquezas da obra do Dr. Clark indico a leitura da resenha do teólogo barthiano Dr. John C. McDowell.[4] Em sua apresentação como docente da School of Divinity da The Univeristy of Edinburgh ele deixa explicitamente transparecer o seu compromisso com a teologia de Karl Barth, em declarações como “inspirado como tenho sido pelo encontro com os escritos do teólogo suíço Karl Barth”, e ainda “a rica teologia da Karl Barth”, ou quando diz do seu “interesse de ter um compromisso frutífero com a teologia de Karl Barth”. Possuindo um tão claro vínculo com a neo-ortodoxia barthiana dificilmente o Dr. McDowell poderia ser imparcial em criticar Karl Barth’s Theological Method de Gordon H. Clark.[5] Entretanto, é útil a leitura da sua resenha para uma comparação de perspectivas.


Sobre o autor
O Dr. Gordon Haddon Clark filósofo e teólogo presbiteriano dos EUA, foi filho e neto de pastores presbiterianos. A sua graduação foi em B.A. em língua francesa, em 1924, e o seu Ph.D. especialidade em filosofia, em 1929, ambos na Pennsylvania University, e também fez outros estudos em Sorbonne, Paris. Ele lecionou na Pennsylvania University entre 1924 a 1936, e também no Reformed Episcopal Seminary, entre 1932 a 1936. Ele se transferiu para Wheaton College, em 1936, e a partir de 1945 ele trabalhou como professor de filosofia e presidente na Butler University e nela permaneceu até 1973.

Durante a transição entre a sua saída do Wheaton College e ida para a Butler University ele procurou ser ordenado ministro da Orthodox Presbyterian Church, denominação que ele auxiliou organizar com J. Gresham Machen, em 1936. O seu exame para ordenação foi realizado pelo tradicional Philadelphia Presbyterian, em 1944. Após a sua ordenação, além de pastorear ele também ensinou filosofia, entre os anos de 1974 a 1984, no Covenant College, e também no Sangre de Cristo Seminary. O Dr. Clark faleceu em 1985.

Ele escreveu mais de quarenta livros e aproximadamente duzentos artigos em revistas acadêmicas. Os seus escritos cobrem especialmente as áreas de filosofia, teologia e comentários populares do Novo Testamento. O Dr. John W. Robbins tem reeditado e publicado as obras do Dr. Clark pela The Trinity Foundation [ http://www.trinityfoundation.org/ ].

Mais informações sobre Gordon H. Clark podem ser verificadas em:
1. John W. Robbins, ed., Gordon H. Clark – Personal Recollections (The Trinity Foundation, 1989).
2. W. Gary Crampton, The Scripturalism of Gordon H. Clark (The Trinity Foundation, 1999).
3. Herman Hoeksema, The Clark-Van Til Controversy (The Trinity Foundation, 2005).
4. http://www.gordon-clark.blogspot.com/


Excursus
O Dr John W. Robbins declara que "em vinte e cinco anos publicando as obras do Dr. Gordon H. Clark encontrei poucas pessoas - e conversei com muitas outras - que antipatizam intensamente Gordon Clark -, sem nunca terem lido qualquer um dos seus livros. Em muitos casos estas pessoas foram inoculadas contra o Dr. Clark pelo Dr. Van Til, ou algum de seus estudantes. É lamentável que esta animosidade continue 60 anos após ter iniciado a controvérsia Clark-Van Til; é trágico que os professos discípulos do Dr. Van Til continuem difamando e distorcendo o Dr. Clark e obscurecendo as suas importantes contribuições tanto na filosofia como na teologia cristã. O Dr. Hoeksema percebeu com clareza qual das partes advogava a posição bíblica nestes quatro ensaios sobre a controvérsia, que exige extraordinário entendimento - ou lealdade pessoal limitando a idolatria - para outros que não podem perceber tão claramente após meio século. Esperamos que este pequeno livro auxilie o seu entendimento, e que se reúna conosco para promovermos uma consistente fé cristã. É a nossa esperança que os discípulos do Dr. Van Til finalmente reconheçam os seus erros, e findem com a sua oposição contra a filosofia cristã do Dr. Clark."

P.S.* Extraído de John W. Robbins, postscript in: Herman Hoeksema, The Clark-Van Til Controversy, pág. 103.


O conteúdo do livro
Prefácio
1. Introdução
Quatro pontos de vista
Uma dificuldade dos críticos
A Palavra de Deus

2. Modernismo
O Modernismo exalta o homem
Barth exalta a Deus
O conceito de Deus
Doutrinas derivadas
Barth e Hitler
3. O Método da Dogmática
A Igreja e o Mundo
A Norma da Lógica
Normas duas a cinco
Pressuposição
Ciência, Teologia e Igreja

4. Prolegomena e Apologética
Existe uma possível Apologética?
Base comum
A imagem de Deus no homem
5. Linguagem e conhecimento
O raciocínio de Barth
Hesitação
Um argumento acerca do Dogma
Proposições e palavras
Ceticismo
6. A Palavra de Deus em sua tríplice forma
A Palavra de Deus como pregação
A escrita Palavra de Deus
A revelada Palavra de Deus
A unidade das três formas
Deus falou?
Contemporaneidade

7. Revelação verbal
A afirmação de Barth e a negação da autoridade bíblica
A visão de Barth sobre inspiração
História da doutrina
Um Cristianismo funcional
Index


Notas:
[1] A declaração das convicções do Dr. Clark pode ser observada mais explicitamente em seu comentário da Confissão de Fé de Westminster chamado What Do Presbyterian Believe?
[2] John W. Robbins, Prefácio in: Gordon H. Clark, Karl Barth’s Theological Method, pág. vii.
[3] http://libweb.ptsem.edu/collections/barth/Default.aspx?menu=296&subText=468 acessado em 28/12/2007.
[4] http://www.geocities.com/johnnymcdowell/Review_Clark.htm acessado em 28/12/2007.
[5] http://www.div.ed.ac.uk/jcmcdowell acessado em 28/12/2007.


Bibliografia
CLARK, Gordon H., Karl Barth’s Theological Method (The Trinity Foundation, 1997), 277 págs.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

22 dezembro 2007

O significado do batismo cristão

1. Através da morte do Senhor
O significado do sacramento do batismo é declarado claramente em Rm 6:1-5. O batismo cristão representa a morte de Cristo. É por meio de sua morte que temos a purificação dos nossos pecados e a nova vida que a regeneração nos proporciona.

Paulo disse "que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos, ainda no pecado, nós os que para ele morremos? Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo: para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente os seremos também na semelhança da sua ressurreição" (Rm 6:1-5).

O batismo cristão representa a morte de Cristo na cruz. Tal como no Antigo Testamento a aspersão de sangue nos diferentes "batismos" simbolizava a identificação do adorador com a vítima oferecida em sacríficio como o seu representante, assim agora o uso da água no batismo simboliza o corpo de Cristo manchado com sangue enquanto estava pendurado na cruz. Quando um adulto, que não foi criado "na disciplina e admoestação do Senhor" aceita a Cristo e é batizado, diz publicamente: "aceito a morte de Cristo na cruz como purificação do meu pecado." Quando levamos os nossos filhos diante da igreja e os batizamos no batismo cristão dizemos ao mundo: "aceitamos para nós e nossos filhos a expiação de Cristo, e prometemos criá-los de tal maneira que sejam induzidos e persuadidos a aceitar a Cristo como o seu Salvador pessoal."

2. Não representa a sepultura do Senhor
Em parte alguma das Escrituras se diz que o batismo cristão represente a sepultura do Senhor. A expiação foi consumada na cruz. Quando ele morreu naquele lugar em nosso favor, as suas palavras "está consumado" certamente ensinam que nada poderia ser acrescentado a sua obra expiatória. Ele foi sepultado literalmente, simplesmente por que estava literalmente morto na cruz. A sua sepultura torna a sua morte vívida e real em termos de experiência humana; mas, a sua sepultura não acrescentou nada a expiação. Não somos batizados pela sua sepultura; cerimonialmente somos sepultados ou marcados como pessoas mortas por causa de sua morte na cruz. O nosso batismo representa a nossa sepultura, não a de Cristo.

3. Não representa a ressurreição de Cristo
Em parte alguma das Escrituras se diz que o batismo cristão represente a ressurreição do Senhor. O argumento em Rm 6 é que no batismo temos simbolizado a nossa aceitação da morte de Cristo na cruz, na verdade tivemos uma sepultura simbólica de nós mesmos para significar a sua morte expiatória e, isto ocorreu no começo da nossa vida cristã. Se isto de fato for a verdade, segue-se logicamente que a partir disto viveremos uma nova vida ressuscitada pelo poder de sua ressurreição (Fp 3:10).

Tenho chamado a atenção para o fato de que a ressurreição de Cristo não acrescenta nada à expiação. A expiação foi consumada quando Cristo morreu na cruz. A ressurreição vindica as suas pretensões e garante que a sua morte foi uma vitória. A sua ressurreição não é o meio de nossa justificação (veja Rm 4:25), mas que efetuada a nossa justificação, foi por isso levantado dentre os mortos.

Há uma passagem da Escritura traduzida em nossa versão King James[1] de tal modo que indica que o batismo signifique a ressurreição de Cristo. Em Cl 2:12 após a referência de Paulo ao batismo, diz "...no qual fostes também ressuscitados com ele...". Isto é enganoso. A palavra traduzida "no qual" é construida como um pronome relativo neutro, se referindo ao batismo, mas o pronome relativo masculino é idêntico em forma, e, em minha opinião "em quem"[2] é o significado que deve ser entendido, ou seja, que concorda com a palavra "nele" que começa no versículo 11, e a palavra "com ele" no versículo 12: "sepultados com ele no batismo, em quem fostes também ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o levantou dentre os mortos." O nosso batismo significa a morte de Cristo, e é em Cristo, não no batismo, é que temos a vida ressuscitada.

Até onde concerne as regras literais da gramática tenho que admitir que o pronome relativo em Cl 2:12 pode ser construído como neutro, mas insistiria em que ao construí-lo como masculino, com referência a Cristo, concorda muito melhor com o contexto e com tudo o mais que se declara na Escritura quanto ao batismo cristão. A doutrina de que o batismo representa a ressurreição de Cristo descansa completamente sobre uma interpretação duvidosa de um pronome relativo. Não há nenhuma palavra no Novo Testamento para sustentar esta inverossímel interpretação.

4. O batismo cristão não é o batismo de João Batista
Ainda que o tipo particular de batismo praticado por João Batista não seja ordenado especificamente nos ritos levíticos deve-se, todavia, entendê-lo apropriadamente como uma parte do sistema de culto instituído pelo Senhor para ser guardado antes da vinda de Cristo, e antes do cumprimento de sua obra redentora na cruz. O batismo de João esperava Cristo. Deste modo, é declarado explicitamente que o batismo cristão significa a aceitação da morte de Cristo, como aquela que foi efetuada pelo seu povo, o batismo de João não poderia ter significação em si mesmo.

Assim foi como Paulo o explicou ao pequeno grupo em Éfeso que se refere em At 19:1-6: "João batizou com batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cressem naquele que viria depois dele, isto é, em Jesus o Cristo."

Estes indivíduos foram homens de fé que criam em tudo o haviam ouvido acerca do Cristo que haveria de vir. Quando ouviram que ele já tinha vindo, foram batizados da maneira como Jesus havia ordenado.

5. O batismo cristão purificação do pecado
Que o batismo significa a purificação do pecado não é um segundo propósito nem um segundo significado. O batismo significa diretamente a nossa aceitação da expiação de Cristo efetivada na cruz. Mas, posto que por meio da expiação que o pecado é perdoado e apagado, é inteiramente apropriado referir-se ao batismo como uma limpeza, ou lavamento. Quando Pedro disse no dia de Pentecostes: "arrependei-vos, e sedes batizados, cada um de vós no nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo" (At 2:38), não deu uma interpretação diferente do que Paulo declara explicitamente em Rm 6. O batismo significa a remissão de pecados pela expiação que Cristo efetuou, ao ser-nos aplicada essa expiação pelo Espírito Santo.

A palavra de Ananias a Paulo no momento do seu batismo, como Paulo o narra num testemunho mais tarde, envolve a comparação do batismo como o ato de lavar. Ananias disse: "agora, pois, por que te deténs? Levanta-te e seja batizado, e lave os teus pecados, invocando o seu nome" (At 22:16). A referência de lavar os pecados não implica num significado diferente do que temos em Rm 6. É pela expiação de Cristo que os pecados são apagados, e a metáfora de lavar é inteiramente apropriada. É o sangue de Cristo "que nos purifica" de todo pecado (1 Jo 1:7).

Notas:
[1] Esta é a versão usada pelo autor. Entretanto, a versão Revista e Atualizada da SBB adota a mesma linha de tradução.
[2] A NVI sugere a seguinte tradução de Cl 2:12: "isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos."

Extraído de J. Oliver Buswell Jr., A Systematic Theology of the Christian Religion, págs. 250-253
Traduzido por:
Rev. Ewerton B. Tokashiki

19 dezembro 2007

Cristianismo como filosofia

Ao dizer que “o Cristianismo é como uma filosofia”, quero dizer que o Cristianismo oferece uma perspectiva compreensiva sobre o mundo (uma cosmovisão). Ele nos oferece um relato, não somente de Deus, mas também do mundo que Deus criou, a relação que mantém o mundo com Deus, e o lugar do ser humano dentro desse mundo, ou seja, a sua relação com a natureza e a sua relação com Deus. O Cristianismo trata a metafísica (a teoria da natureza fundamental do universo), a epistemologia (a teoria do conhecimento) e, os valores (a ética, a estética, a economia, etc.). Deste modo, ele oferece uma perspectiva completa sobre tudo. Creio que há um ponto de vista particular que o Cristianismo oferece sobre a história, a sociologia, a educação, as artes, os problemas filosóficos, etc. E, como vimos anteriormente, a autoridade de nosso Senhor é compreensiva; tudo o que fazemos está relacionado com Cristo (1 Co 10:31, etc.).

Assim, o Cristianismo entra em competição com o platonismo, o aristotelianismo, o empiricismo, o racionalismo, o ceticismo, o materialismo, o monismo, o pluralismo, o humanismo secular, o marxismo, o pensamento da teologia do processo, o pensamento da Nova Era, e com qualquer outra filosofia existente e que ainda há de surgir; compete também com outras religiões, como o Judaísmo, o Islamismo, o Hinduísmo e o Budismo. Uma das repercussões mais desafortunadas da idéia distorcida de que há sobre “a separação entre a Igreja e o Estado”, é que escola pública infantil é capaz de ouvir os proponentes de qualquer sistema de pensamento, exceto aqueles que são arbitrariamente qualificados como de uma “religião”. Pois, quem é capaz de dizer que não se pode encontrar alguma verdade em algumas destas posturas religiosas, ou uma verdade exclusiva dessa postura? E, falando em termos da liberdade de pensar e de crer, é justo limitar a educação pública aos pontos de vista chamados “seculares”? Não é isto também uma grande lavagem cerebral?

Além do mais, os separacionistas extremos [1] com freqüência se opõe em particular as expressões que ocorrem em público procedentes do Cristianismo, não sendo assim com as demais religiões. Com farta freqüência admitem sem objeção alguma, apresentações nas escolas que favorecem o misticismo oriental ou inclusive a bruxaria moderna; o que objetam é quando se trata do Cristianismo. Por inconseqüente que pareça, este procedimento especificamente anticristão realmente faz sentido. Pois como veremos mais a frente, é o Cristianismo, e não o misticismo oriental ou a bruxaria, e os ritos dos nativos americanos, o que se planta firmemente contra as tendências da mente humana não regenerada. O Cristianismo é excluído das escolas apesar de (ou talvez precisamente por que) oferece a única alternativa válida para a “sabedoria convencional” do aparato político e da sociedade moderna.

Todavia, essa “sabedoria convencional” nos legou um vasto aumento nos índices de divórcio, de aborto, de famílias com pais e mães solteiras, meninos de rua, dependentes de remédios, de quadrilhas, de crimes, a AIDS (e outros problemas de saúde, por exemplo, o ressurgimento da tuberculose), a falta de moradia, a falta de alimentos, o déficit governamental, os altos impostos, a corrupção política, a degeneração na arte, a mediocridade na educação, a falta de competitividade na indústria, grupos de interesses particulares exigindo toda espécie de “direitos” (direitos que não tem os suas responsabilidades correspondentes, e que vem a custa dos demais), a contaminação do meio ambiente, etc. Herdamos um governo “messiânico”, que reclama para si uma autoridade plena, e oferece solucionar todos os nossos problemas (“salvação” secular), mas que geralmente termina deixando as coisas pior. Nas instituições de ensino superior, anteriormente bastões da liberdade intelectual, agora propagam-se idéias do “politicamente correto”. A cultura em geral agora permite o uso de um vocabulário anteriormente considerado vulgar, ofensivo e blasfemo. Criou-se um ambiente em que a música popular (do estilo “rap”) incentiva as pessoas matar os guardiões da ordem.

Sendo assim, as circunstâncias em que vivemos nos leva a questionar se não deveríamos estar pensando em outras alternativas para esta suposta “sabedoria convencional”? Ou, será que só existe uma alternativa? Deste modo, - e a tese que aqui sustento de que existe - então devemos levar tal alternativa muitíssimo a sério.

Com a finalidade de apresentar o Cristianismo como sendo a única alternativa, ou, em outras palavras, como sendo a única opção viável, permitam-me expor o conteúdo do Cristianismo como filosofia: isto é, como metafísica, como epistemologia e como sistema de valores (com ênfase particular na ética). Com relação a isto, também creio na importância de dizer que o Cristianismo é evangelho (ou seja, boas novas), e talvez, este seja o mais importante aspecto dos anteriores. Mas, isto diremos no devido momento. Reconhecemos que em nossos tempos modernos, por assim dizer, em comparação com a sociedade de 600 anos atrás, as pessoas de hoje ignoram a perspectiva cristã sobre o mundo. Por isso, devem entender a perspectiva cristã sobre o mundo (a filosofia cristã), de modo que possa fazer sentido para eles o aspecto chamado evangelho, as boas novas.

Notas:
[1] Aqui John M. Frame reflete neste texto o cenário do sistema político e educacional dos EUA. Embora no sistema educacional brasileiro a disciplina "religião" esteja presente no ensino público, não sendo obrigatório, assuntos como teoria da evolução é tratada como "ciência" e qualquer discordância quanto à filosofia naturalista que sustenta esta teoria é rotulada como "obscurantismo religioso" (NT).

Extraído de John M. Frame, Apologetics to the Glory of God, págs. 31-34.
Tradução livre:
Rev. Ewerton B. Tokashiki

07 dezembro 2007

Estou postando!

Ad lectorum

Caros visitantes deste blog, peço desculpas por não postar nenhum artigo por este período. Mas, como pastor o meu final de ano é recheado de tarefas e compromissos próprios deste mês, que diga-se de passagem é fechamento do ano.

Penso que semana que vem devo retornar às postagens. Todavia, se alguém quiser ler alguns pequenos textos acerca de "por que somos presbiterianos?" acesse o blog Família da Aliança e acompanhe os artigos semanais desta série.

Um abraço e até semana que vem!

Rev. Ewerton B. Tokashiki

20 novembro 2007

A natureza incomum do milagre

Nem pode a real e própria idéia do que é milagre ser encontrada no fato daquilo que não podemos compreender e explicar como sendo milagre, pois na realidade, não conseguimos nem mesmo compreender os eventos por mais comuns que eles sejam. É verdade que não somos capazes de entender como o Senhor pode multiplicar uns poucos pães em suas mãos divinas, de modo a dar de comer com elas uma considerável multidão (Jo 6:1-14). No entanto, não está dentro dos limites do meu entendimento como uma semente pode cair na terra e morrer para dar fruto cem vezes mais. Certamente é verdade que a minha mente se assombra quando o Salvador chama Lázaro para que saia do sepulcro, estando ali há quatro dias dormindo no pó (Jo 11:1-46); mas, o nascimento de um bebê não transcende menos a minha mais ousada compreensão. Como o Senhor foi capaz de transformar água em vinho, nas bodas de Caná, certamente é mistério para o nosso entendimento (Jo 2:1-11), mas não é menos incompreensível como a videira pode produzir uvas e, dessa maneira transformar diferentes elementos em vinho.

Em outras palavras, para o meu entendimento não há diferença no que Deus por sua onipotência opera na forma comum e conhecida sobre a videira, de modo que produza uvas, ou se pela mesma potência realiza sobre a água para mudá-la em vinho. Se o sol e a lua se detém ante a palavra de Josué, confessamos não sermos capazes de compreender este fenômeno; mas, quando o Senhor a cada manhã constantemente faz com que o sol se levante sobre o horizonte oriental, essa obra de Deus igualmente transcende a minha compreensão.

Milagres nos causam admiração e captam a nossa atenção especial. Mas a causa disto não deve ser achada na compreensão dos eventos e atos comuns da providência de Deus e a incompreensão por serem milagres. Mas, devem ser encontrados no fato de que chegamos a estar tão acostumados com as obras diárias do onipresente poder de Deus que normalmente não lhes prestamos a devida atenção. No milagre, certamente, Deus realiza algo especial que precisamente por seu próprio caráter especial chama a atenção. Todavia, nem no assim chamado caráter sobrenatural, nem no imediato, nem no caráter incompreensível de um milagre pode-se achar a idéia própria do que é um milagre.

Extraído de Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, vol. 1, págs. 344-345


Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki

13 novembro 2007

Ordenação feminina: uma análise introdutória

A questão
Porque não ordenamos mulheres para o exercício dos ofícios de liderança? Esta é uma questão que precisa ser respondida. A nossa posição deve ser livre das acusações de machismo, obscurantismo e de que somos alienados às mudanças sociais da pós-modernidade.

Pelo menos três argumentos gerais são usados pelos que advogam a ordenação feminina:
1. Por serem maioria nas igrejas, por que as mulheres devem ser lideradas por uma liderança minoritária de homens?
2. É notório que as mulheres cada vez mais participam em funções de liderança na sociedade, por que não nas igrejas?
3. As denominações protestantes históricas estão ordenando mulheres. Sabemos que denominações como a Igreja Metodista do Brasil, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, e ultimamente a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil têm ordenado mulheres em cargos de liderança. O que falta para que a Igreja Presbiteriana do Brasil tome esta decisão?

Diante desta pressão, primeiramente precisamos nos perguntar qual deve ser o critério para decidirmos, ou não, ordenar as nossas irmãs. Deve ser a pressão social, onde a opinião pública encontra-se seduzida pelo movimento feminista, em moldes de igualdade, senão superioridade aos homens? Seria o critério do pragmatismo, reconhecendo que muitas mulheres têm assumido a responsabilidade de liderar, mesmo sem ordenação, enquanto os homens são omissos em seus deveres na família, na igreja e na sociedade? Ou, ainda deveríamos considerar as estatísticas que apresentam mudanças quanto ao número de denominações que têm ordenado mulheres, sem perceber que estes grupos tem mudado não somente práticas históricas, mas doutrinas e talvez ainda, o próprio conceito de verdade?

Uma tríplice resposta
Para responder estas fatídicas perguntas é necessário extrairmos a nossa conclusão a partir de três fontes:

1. O testemunho da história da Igreja cristã. Os cristãos em períodos consecutivos ou esporádicos ordenaram mulheres? Perguntas como, quando, por que e quem certamente esclarecerá a ocorrência da prática e possibilitará uma avaliação da prática da ordenação feminina no desenvolver dos séculos. Quando a tradição preserva a verdade e a sua prática, ela deve ser honrada (1 Co 11:2-3).[1] Logo, a ausente tradição de se ordenar mulheres tem que ter uma explicação, além da acusação simplista das feministas de que a Igreja sempre foi androcêntrica! Deixe-se estabelecido que a história é testemunha e não regra de fé para decidirmos uma prática. Analisando os eventos históricos poderemos entender o desenvolvimento doutrinário e assim concluir se houve de fato progresso ou corrupção doutrinário.

2. A interpretação exegética de textos bíblicos que oferecem alguma possibilidade para a ordenação de mulheres na liderança como um princípio regulador. Há evidências a partir do texto bíblico que a comunidade cristã do primeiro século possuía uma liderança feminina, ou que isto era prescrito como normativo, ou devemos considerar como um assunto aberto? Pressupondo que a Escritura Sagrada é a Palavra de Deus e que o sentido do texto é determinado pelo autor inspirado inerrantemente pelo Espírito Santo, então aceitamos o Escritura como autoridade final, interpretando-a a partir do método gramático-histórico.

3. A formulação teológica sistematizada a partir do ensino geral das Escrituras acerca do princípio de autoridade, e da relação do homem e da mulher, e suas implicações. A atual inclusão feminina na liderança e nos ofícios deve ser interpretada como um desdobramento e progressão da eclesiologia reformada, ou como uma corrupção doutrinária? Existe uma ordem divina estabelecida para a relação homem/mulher? A submissão é um mandato pós-queda, ou uma função de identidade original à mulher num período anterior à histórica Queda no jardim do Éden?

Este não é um assunto fácil de ser discutido por vários fatores. Primeiro, por causa da tensão que existe entre aqueles que são a favor ou, contra. Segundo, a complexidade do assunto. Terceiro, as implicações práticas são intensas e as mudanças também. Por isso, este assunto deve ser estudado com um fiel temor à autoridade das Escrituras Sagradas, um senso crítico na abordagem dos argumentos que sejam a favor ou, contra a ordenação feminina, tendo como alvo final a verdade bíblica, e evitando partidarismo defendido, mas visando o bem comum da Igreja de Cristo.

Para que não ocorra confusão, nem mesmo questionamentos quanto às minhas convicções pessoais, posiciono-me contra a prática da ordenação feminina. Tenho estudado o assunto, entretanto, cada vez mais estou convencido de que ela não é bíblica. Creio que as mulheres têm dons e ministérios no Corpo de Cristo que devem ser exercidos com temor, mas isto não as autoriza receberem a ordenação do oficialato.

Nota:
[1] Gordon J. Spykman declara que “a tradição é o sangue da teologia. Separada da tradição a teologia é como uma flor cortada que sem suas raízes e sem o solo, que murchará na mão. Uma teologia sã nunca nasce do novo. Ao honrar a sã tradição assegura-se a continuidade teológica com o passado. Ao mesmo tempo que a tradição cria a possibilidade de abrir novas portas para o futuro” in: Teologia Refomacional (Jenison, TELL, 1994), pág. 5.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

31 outubro 2007

Impressões sobre a personalidade humana

Muitas teorias foram formuladas com o intuito de “dissecar” o homem. Uma visão antropológica secular e, em vários casos, também evangélica, mantém uma idéia de um ser humano fragmentado. De fato, tal idéia é de tal modo ventilada e tida como verdade absoluta, que a sociedade já vê o ser humano nessa perspectiva. E isso, é claro, influi grandemente na maneira que o ser humano lida consigo mesmo, com o seu ambiente e com sua fé.

A mais popular visão que temos do homem é a “tripartida”. Como dissemos acima, tanto o meio secular como o evangélico, concebe o homem em termos fragmentados. Como exemplo, temos a tricotomia no meio evangélico e, no secular temos o seu representante maior, Freud, que divide o homem em Id, Ego e Superego, sendo esse um conceito regeliano de tese, antítese e síntese. Essa fragmentação tem implicações desastrosas no processo de entendimento do indivíduo de que ele é “imago dei”. O que se entende popularmente por “personalidade” é um emaranhado de características e caráter individuais que são geralmente frutos da educação recebida, percepção da realidade vivida e outros fatores internos e externos.

É claro que a Bíblia não trabalha nesses termos. Ela não divide o indivisível. Ela não fragmenta. Ela apresenta o homem na totalidade do seu ser. O homem é todo alma, todo corpo, todo espírito. Indivisível por natureza. Uma visão realmente cristã do homem pressupõe, como dissemos, que ele foi criado a imagem de Deus. Ao se falar em personalidade, podemos dizer que o homem é fluido não estático. Em outras palavras, o homem está em constante mudança como pessoa. Portanto definir personalidade como aspectos do caráter, seria no mínimo inconseqüente, pela própria inconstância do ser humano. Nesse sentido, somente Deus tem uma real personalidade. Somente ele é imutável em seu ser (Porque eu, o SENHOR, não mudo. Malaquias 3 : 6). Nós temos personalidade que deriva do Único que realmente tem personalidade. Fora dele não temos, não somos e nada podemos. Vivemos no mundo de Deus. Ele não é só o doador da vida, mas ele é a própria vida. Se ele por um milésimo de segundo não fosse, deixaríamos de existir. Dessa forma, estamos no ambiente de Deus. Dele deriva todas as coisas, inclusive a nossa diversidade comum (humanidade) e nossa singularidade pessoal (individualidade).

Ao construirmos uma real visão do que se seja a personalidade nos termos escriturísticos, podemos nos voltar às suas implicações para o aconselhamento bíblico. O homem foi criado por Deus analogal, relacional, inteiro e indivisível. Sofreu a queda, decaindo do seu estado original, afetando seu físico, tornando-se moralmente rebelde, sofrendo os efeitos noéticos do pecado, entregue ao auto-engano, tornando em si mesmo a imagem de Deus desfocada e incoerente, mas ainda permanente. A redenção de Deus se manifesta em termos de graça comum, dando ao homem certos aspectos de criatividade e receptividade da imago dei, mas insuficiente para a salvação. É a graça salvadora, que está contida em Cristo, que restaura verdadeira e efetivamente o homem pecador à imagem de Cristo, fazendo-o crescer para a santificação e vida eterna.
Ao concluirmos que os atos e fenômenos mentais não são irremediavelmente determinantes naquilo que somos e na maneira de agirmos, como quer Freud[1] e Skinner[2], mas que Deus admite mudanças e cria as condições para isso, que a Bíblia trabalha com o “despir-se” e o “revestir-se” (Efésios 4.17ss) do novo homem criado em Cristo, sendo a vontade de Deus que o homem desfrute de uma vida plena, onde seus medos, desilusões, traumas e pecados possam ser trabalhados com categorias bíblicas redentivas.
Assim, podemos olhar para os problemas do homem como afetando todo o seu ser e não apenas parte dele, da mesma forma as soluções propostas pela Escritura, envolvendo a sua totalidade: corpo/alma, numa relação estreita e indivisível. Ao pensar com essas categorias bíblicas, criamos uma visão do homem onde qualquer que seja a natureza do problema que o afete, este tem que ser tratado como envolvendo todo o seu ser. Não podemos classificar como: “este é um problema da alma”, ou, “este é um problema do corpo” e, ainda, “este é um problema da mente”. Mas um problema que envolve todo o homem, mesmo que seja manifesto de várias formas.
Fazendo assim, criaremos um raciocínio Teo-referente. Começamos a pensar com os pensamentos de Deus. Abandonamos aspectos humanistas e filosóficos para estruturar nosso pensamento a respeito do homem, e começamos a construir um pensamento antropológico a partir da teologia bíblica e sistemática, dos mandamentos e promessas contidos nas Escrituras. As teorias psicológicas devem ser submetidas à Bíblia, que serão os óculos para examinar suas proposições, submetendo-as ao critério escriturístico. Fazendo assim, estaremos mais capacitados para ajudar biblicamente o homem que Deus criou.

Notas:
[1] Freud argumenta que somos dominados pelo desejo (Id), controlados pelos pais, escola, igreja, sociedade, etc (Superego) e mediado por uma síntese de ambos (Ego).
[2] Skinner alega que não existe mente. O que temos é uma série de impulso e resposta.
Rev Baltazar Lopes Fernades

26 outubro 2007

Um evangelho pós-moderno para o mercado global

O mundo tem se tornado num mercado globalizado e o evangelicalismo tentando se pós-modernizar rebaixa-se a um produto que atenda ao gosto dum maior número de consumidores. Hoje ser “protestante” é para muitos um rótulo indesejável, historicamente descontextualizado e politicamente irrelevante, é preferível ser chamado apenas de evangélico, porque não expressa nenhuma idéia negativa de ser contra alguma coisa. John MacArthur Jr. observa que “aparentemente o maior medo que o movimento evangélico tem hoje em dia é de ser visto como posicionado em desarmonia com o mundo”.[1] A dinâmica do dia é fazer o evangelho aceitável para poder vende-lo.

Nesta negociata qualquer coisa pode ser vendida, por que tudo é transformado em mercadoria: idéias, emoções, poder, influência, relacionamentos e até as bênçãos divinas são oferecidas por líderes religiosos que pensam monopolizar o Espírito Santo. Surge uma nova espécie de simonia: a venda de sentimentos travestidos de religiosidade e aceitação divina.

Tamanho é o esforço de acomodar o evangelho pós-moderno numa embalagem que o apresente como um produto atrativo, ele vira uma mercadoria onde o seu sucesso de venda dependerá de quem melhor manipula os holofotes da publicidade. O profano tem um colorido sedutor em que tudo é aceito por causa do dinheiro, assim, o mercado não nutre preconceitos, visando somente o lucro. O supérfluo é cambiado em necessário aguçando o consumo. Agitando o orgulho e despertada a cobiça, o consumidor é induzido à carência não do que realmente precisa, mas do que o paradigma consumista lhe impõe como sendo absolutamente necessário!

Em ritmo de concorrência o evangelho pós-moderno assume a disputa da livre-oferta. Nesta ideologia não existe a intenção de elevar os valores das pessoas a outro nível de consciência para que vivenciem a comunhão com Deus e a mutualidade. Este evangelho interesseiro tenta se adequar ao mercado, mas com isto perde o seu sabor e brilho (Mt 5:13-16), e, progressivamente esvazia-se de sua dimensão profética, de denúncia e anúncio! Despe-se de seu caráter ético, de crítica, de uma proposta integral transformadora pelo poder de Deus, manifestando o Seu Reino, em Cristo Jesus.

Nota:
[1] John MacArthur Jr., Princípios para uma cosmovisão bíblica (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), pág. 8

Rev. Ewerton B. Tokashiki

15 outubro 2007

A recompensa do jejum

Há algum tempo atrás escrevi um artigo oferecendo uma orientação prática acerca do jejum cristão e fui surpreendido pela ignorância do assunto ao ser refutado por um leitor. Ele se apresentava como pastor e embora não teve coragem, por que não sei, não declarou com clareza se era ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil?! Como sou ordenado por esta denominação, fiz meus votos de ordenação convicto do meu compromisso doutrinário, de governo e disciplinar com esta igreja, e tanto em seus documentos doutrinários como nos Princípcios de Liturgia há a orientação de se praticar o jejum. Entretanto, há muitos cristãos de muitas denominações equivocados quanto ao jejuar, e por causa do seu confuso entendimento do que a Escritura Sagrada instrui acerca deste assunto findam por desprezar tão importante exercício de santidade.

Indico a leitura do artigo do Pr John Piper no site monergismo sobre o ensino e prática bíblica do jejum. Que Deus abençoe a sua vida e lhe fortaleça em seu crescimento.

Em Cristo,
Pr Ewerton B. Tokashiki

08 outubro 2007

Definições de Teologia Sistemática

Segue abaixo algumas definições da disciplina de Teologia Sistemática para comparação:

TEÓLOGOS PRESBITERIANOS/REFORMADOS

A.A. Hodge (1860)[1]
“é a determinação, interpretação e defesa científica dessas Escrituras, junto com a história da maneira pela qual as verdades nelas reveladas têm sido entendidas, e os deveres nelas impostos têm sido cumpridos, por todos os cristãos, em todos os séculos”.[2]

Charles Hodge (1872-1873)
“a ciência dos fatos da revelação divina até onde esses fatos dizem respeito à natureza de Deus e à nossa relação com ele, como suas criaturas, como pecadores e como sujeitos da redenção.”[3]

Robert L. Dabney (1878)
“a ciência do ser e da natureza de Deus, e suas relações com a criatura.”[4]

William G.T. Shedd (1888)
“é a ciência que está preocupada tanto com o Infinito com o Finito, tanto com Deus como com o Universo. O material, portanto, que ela inclui é mais amplo do que o de qualquer outra ciência.”[5]

B.B. Warfield (1896)
“é a ciência que discorre acerca de Deus e do seu relacionamento com o homem e o mundo.”[6]

Herman Bavink (1909)
“é a ciência que extrai o conhecimento de Deus de Sua revelação, que estuda e pensa sobre ela sob a orientação do Espírito Santo, e então tenta descreve-la de forma a honrar a Deus.”[7]

David S. Clark (1921)
“é a ciência que trata de nosso conhecimento de Deus e de sua relação para com os homens.”[8]

Louis Berkhof (1932)
“a dogmática é o sistema científico do conhecimento de Deus”.[9]

G. H. Kersten (1947)
“dogmática é a descrição sistemática dos conteúdos e correlação mútua das verdades (dogmata) reveladas na Palavra de Deus.”[10]

Júlio A. Ferreira (1963)
“é uma apresentação das realidades espirituais apresentadas na Bíblia de modo a nos dar uma visão de seu conjunto e de suas relações.”[11]

Herman Hoeksema (1966)
“é aquela disciplina teológica em que o dogmático, numa relação orgânica com a igreja do passado, bem como do presente, propõe esclarecer das Escrituras o verdadeiro conhecimento de Deus, ao confirmar em alguma forma sistemática, e depois comparar os dogmas existentes com a Escritura, conduzindo o conhecimento de Deus ao mais alto estado de desenvolvimento.”[12]

J.Oliver Buswell Jr. (1962)
“o estudo de Deus em sua relação com o mundo e o homem é suscetível de ser organizado como um todo sistemático. A palavra ‘sistemático’ sugere assim um grau relativamente elevado de integração, coerência e correspondência entre as afirmações e os fatos.”[13]

Robert L. Reymond (1998)
“estudo metodológico da Bíblia que analisa a Escritura Sagrada como uma completa revelação, em distinção das disciplinas de Teologia do Antigo Testamento, Teologia do Novo Testamento e Teologia Bíblica, as quais se aproximam das Escrituras como uma revelação progressiva. Deste modo, o teólogo sistemático analisa as Escrituras como uma revelação completa, buscando entender holisticamente o plano, propósito e a intenção didática da mente divina revelada na Sagrada Escritura, e organizar este plano, propósito e intenção didática de modo ordenado e apresentação coerente como artigos da fé cristã”.[14]


TEÓLOGOS LUTERANOS

John T. Mueller (1934)
“a capacidade espiritual para ensinar e defender a Palavra de Deus, em suma, para exercer as funções do ministério cristão nos moldes escriturísticos (II Co 3:5-6), quer de modo objetivo, ou abstrato, para designação da doutrina cristã, seja em seu todo, seja em parte, apresentada tanto oralmente como por escrito, II Tm 1:13.”[15]

Gustaf Aulén (1961)
“a teologia sistemática é, portanto, a disciplina teológica que tem por objetivo o estudo e a pesquisa da fé cristã.”[16]

Carl E. Braaten (1984)
“o conhecimento de Deus e das coisas divinas, obtido em particular, de modo natural, pelo uso da razão, e em parte de modo sobrenatural, através de uma revelação especial.”[17]

Arnaldo Schüler (2002)
“parte da teologia que apresenta a verdade religiosa de forma ordenada e crítica. Compreende a dogmática, a teologia fundamental e a ética.”[18]


TEÓLOGOS BATISTAS

James P. Boyce (1887)
“ciência que trata de Deus”.[19]

Augustus H. Strong (1906)
“é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo.”[20]

Lewis Sperry Chafer (1948)
“a Teologia Sistemática pode ser definida como a coleta, cientificamente organizada, comparada e defendida, de todos os fatos e toda e qualquer fonte a respeito de Deus e de suas obras.”[21]

Bruce Milne (1982)
“pensamentos e palavras derivados de um conhecimento de Deus”.[22]

A.B. Langston (19 )
“um estudo acerca de Deus, baseado na experiência do homem com Deus e na revelação divina.”[23]

B.A. Demarest (1984)
“tentativa de reduzir a verdade religiosa a um sistema organizado”.[24] Mais detalhadamente, Demarest sugere ela seja “a disciplina que (1) apresenta uma formulação unificada da verdade a respeito de Deus e Seu relacionamento com a humanidade e o universo conforme a revelação divina os expõe, e que (2) aplica tais verdades a todo aspecto da vida e do pensamento humano.”[25]

Charles C. Ryrie (1986)
“significa a interpretação racional da fé cristã.”[26]

Millard J. Erickson (1992)
“aquela disciplina que se esforça em dar uma coerente declaração das doutrinas da fé cristã, baseada primariamente nas Escrituras, colocando no contexto da cultura em geral, trabalhada num idioma contemporâneo e relacionada para promover a vida.”[27]

Wayne Grudem (1994)
“é qualquer estudo que responda à pergunta ‘O que a Bíblia como um todo nos ensina hoje? Acerca de qualquer tópico’ e acrescenta que ela “envolve compilar e entender todas as passagens relevantes da Bíblia sobre vários tópicos e então, sintetizar claramente o seu ensino de tal modo que saibamos em que crer acerca de cada tema.”[28]

Stanley J. Grenz e Roger E. Olson (1996)
“é a reflexão e a organização das crenças referentes a Deus e ao mundo que os cristãos têm em comum como seguidores de Jesus Cristo”.[29]


TEÓLOGOS ANGLICANOS

Edward E. Litton (1960)
“é o inevitável processo em que se tenta sistematizar e arranjar os materiais fornecidos parcialmente pela Escritura e parcialmente pela fé implícita da Igreja; e esta necessidade em linguagem atualizada e sob a influência da filosofia da época.”[30]

John Macquerrie (1977)
“a teologia pode ser definida como o estudo que, por meio da participação e da reflexão a respeito de uma crença religiosa, busca expressar o conteúdo dessa fé por meio da linguagem mais clara e mais coerente possível.”[31]

Alister McGrath (2001)
“o estudo sistemático das idéias fundamentais da fé cristã”.[32]

Robert Banks (1993)
“todo esforço da parte dos cristãos quanto a pensar até o fim e organizar suas crenças, com a intenção de se aproximar de Deus e espelhar mais de seu carácter em suas vidas.”[33]


TEÓLOGOS METODISTAS

Walter Klaiber e Manfred Marquardt (1993)
“reflexão metódica e sistemática, bem como exposição da fé em Deus, baseada em Jesus.”[34]


TEÓLOGOS PENTECOSTAIS

Myer Pearlman
“a ciência que trata do nosso conhecimento de Deus e das suas relações para com o homem”, ou ainda “consiste em fatos relacionado com Deus e com as coisas de ordem divina, apresentadas de uma maneira lógica e ordenada.”[35]

James H. Railey, Jr e Benny C. Aker (1994)
“o estudo de Deus e do seu relacionamento com tudo quanto Ele criou.”[36]


TEÓLOGOS NEO-ORTODOXOS PROTESTANTES

Karl Barth (1962)
“parece indicar que em seu âmbito, por ser ciência específica (e muito específica), se trate de perceber, de compreender e de interpretar a ‘Deus’”.[37]

Hendrikus Berkhof (1982)
“é um pensamento refletido e sistematizado acerca do conteúdo do relacionamento que Deus estabeleceu conosco em Cristo”.[38]


TEÓLOGOS CATÓLICOS

Tomás de Aquino
“Theologia a Deo docetur, Deum docet, et ad Deum ducit” [Deus ensina teologia, a teologia nos ensina acerca de Deus, e nos conduz a Deus].[39]

J. Feiner e M. Lohrer (1965)
“é a reflexão metódica e crítica de tudo o que se propõe no querigma da igreja e se aceita pela fé, pela qual o homem se submete à palavra de Deus”.[40]

Karl Rahner (1966)
“é conforme a sua essência, a escuta expressamente esforçada do homem crente à revelação verdadeira de Deus, historicamente acontecida.”[41]

Thomas P. Rausch (1993)
“se empenha em compreender as doutrinas básicas da fé e em mostrar como elas se relacionam entre si. (...) As doutrinas dizem respeito a afirmações claras de realidades religiosas. A teologia sistemática procura compreender as realidades religiosas proclamadas pelas doutrinas.”[42]

John O’Donnell (1993)
“é a tentativa de traduzir o único e irrepetível evento de Cristo em cada um dos períodos subseqüentes.”[43]

J.B. Libanio & Afonso Murad (1996)
“a teologia define-se como reflexão crítica, sistemática sobre a intelecção da fé. E a fé termina em Deus e não nos enunciados a respeito de Deus, como muito bem explicita Santo Tomás.”[44]

Frei Honório Rito (1998)
“ela nunca deixa de ser um discurso e uma linguagem sobre Deus, que, para nós cristãos, não é qualquer ser divino abstrato mas o Deus concreto da Revelação bíblico-cristã. Esse discurso e essa linguagem evoluem em seu conteúdo de significação mas não deixam de ser uma forma de expressar nossa compreensão da fé.”[45]

Notas:
[1] As datas identificam o ano de publicação original do livro dos autores citados.
[2] A.A. Hodge, Esboços de Teologia, pág. 11.
[3] Charles Hodge, Teologia Sistemática, pág. 16.
[4] Robert L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, pág. 5.
[5] William G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 1, pág. 16.
[6] B.B. Warfield, Studies in Theology in: The Works of B.B. Warfield, vol. 9, pág. 56.
[7] Herman Bavink, Teologia Sistemática, pág. 32.
[8] David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, pág. 18.
[9] Louis Berkhof, Introducción a la Teolígia Sistemática, pág. 37.
[10] G.H. Kersten, Reformed Dogmatics (Grand Rapids, Wm. B. Eerdmans Publishing CO., 2000), vol. 1, pág. xiii.
[11] Júlio A. Ferreira, Antologia Teológica, pág. 27.
[12] Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, vol. 1, pág. 6.
[13] J. Oliver Buswell Jr., A Systematic Theology of the Christian Religion, vol. 1, pág. 14.
[14] Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith, pág. xxv-xxvi.
[15] John T. Mueller, Dogmática Cristã, vol. 1, pág. 33.
[16] Gustaf Aulén, A Fé Cristã, pág. 21.
[17] Carl E. Braaten & Robert W. Jenson, Dogmática Cristã, vol. 1, pág. 31.
[18] Arnaldo Schüler, Dicionário Enciclopédico de Teologia, pág. 449.
[19] James P. Boyce, Abstract of Systematic Theology, pág. 1.
[20] Augustus H. Strong, Teologia Sistemática, vol. 1, pág. 21.
[21] Lewis S. Chafer, Teologia Sistemática, vols. 1, pág. 50.
[22] Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, pág. 10.
[23] A.B. Langston, Esboço de Teologia Sistemática, pág. 15.
[24] B.A. Demarest, “Teologia Sistemática” in: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol. 3, pág. 514.
[25] B.A. Demarest, op.cit., pág. 515.
[26] Charles C. Ryrie, Teologia Básica, pág. 13.
[27] Millard J. Erickson, Christian Theology, pág. 21. Outra definição de Teologia Sistemática do mesmo autor é “o estudo da doutrina é conhecido como teologia. Literalmente, teologia é o estudo de Deus. É o estudo, a análise e a declaração cuidadosa e sistemática da doutrina cristã in: Introdução à Teologia Sistemática, p. 16.
[28] Wayne Grudem, Teologia Sistemática, pág. 1.
[29] Stanley J. Grenz e Roger E. Olson, Quem Precisa de Teologia?, pág. 43.
[30] Edward A. Litton, Introduction to Dogmatic Theology, pág. 1.
[31] Citado em Alister McGrath, Teologia sistemática, histórica e filosófica, pág. 176.
[32] Alister McGrath, Teologia sistemática, histórica e filosófica, pág. 177.
[33] Robert Banks, A teologia nossa de cada dia, pág. 54.
[34] Walter Klaiber & Manfred Marquardt, Viver a Graça de Deus – Um Compêndio de Teologia Metodista, pág. 2.
[35] Myer Pearlman, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, pág. 13.
[36] Stanley M. Horton, ed., Teologia Sistemática – Uma Perspectiva Pentecostal, pág. 50.
[37] Karl Barth, Introdução à Teologia Evangélica, pág. 5.
[38] Hendrikus Berkhof, Introduction to the Study of Dogmatics, pág. 9. O autor mantém essencialmente a mesma definição em seu manual de teologia chamado Christian Faith, pág. 33.
[39] Louis Berkhof, Introducción a la Teologia Sistemática, pág. 30.
[40] J. Feiner & M. Lohrer, Mysterium Salutis (Madri, Ediciones Cristianidad, 1965), vol. 1, pág. 29.
[41] Karl Rahner & H. Vorgrimler, ed., Diccionario Teológico (Barcelona, Editorial Herder, 1966), pág. 720.
[42] Thomas P. Rausch, Introdução à Teologia, pág. 19.
[43] John O’Donnell, Introdução à Teologia Dogmática, pág. 10.
[44] J.B. Libanio & Afonso Murad, Introdução à Teologia, pág. 67.
[45] Frei Honório Rito, Introdução à Teologia, pág. 35.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

27 setembro 2007

Auxiliadoras idôneas

A revelação bíblica é progressiva. A nossa compreensão dela também. Com o passar dos séculos, a igreja avança na sua compreensão da Palavra de Deus. A hermenêutica tem feito considerável progresso, tanto no campo da lingüística, como do conhecimento do contexto histórico-religioso das épocas. Isto, sem dúvida, nos obriga constantemente a rever algumas interpretações. Por outro lado, é inegável, também, que as filosofias e costumes contemporâneos exercem forte influência sobre a nossa interpretação bíblica. Não se pode imaginar, por exemplo, que a igreja esteja imune à influência do movimento feminista moderno. Nem é de estranhar que numa época em que as mulheres reivindicam e assumem cada vez mais papéis e posições que antes lhes eram negados, as igrejas sejam levadas a rever a sua interpretação sobre a questão da ordenação feminina ao ministério sagrado.

É indiscutível que o Novo Testamento reconhece e eleva a dignidade das mulheres a um patamar bem superior ao anteriormente concebido. No que diz respeito à dignidade, na igreja "não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3:28). Também não se pode negar que as mulheres, tais como Lídia, Priscila e muitas outras, tiveram participação ativa e importante na igreja primitiva.
Não obstante, parece inegável, também, que o Novo Testamento reconhece e mantém uma distinção funcional entre os gêneros, tanto no âmbito do casamento (Ef 5:22-24), como da igreja. Esta distinção, na qual o homem é o cabeça e a mulher uma auxiliadora, não pode de modo algum ser explicada em termos de contexto histórico (ou preconceito) antigo. A explicação bíblica para esta distinção é encontrada na própria criação, quando Deus criou a mulher como "uma auxiliadora idônea" (Gn 2:18) — idônea, sim, à sua altura, digna; mas auxiliadora, alguém que ajuda, assiste.

É verdade que, por causa da queda, esta distinção funcional original adquiriu outra conotação. A submissão da mulher tornou-se um castigo: "o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará" (Gn 3:16). A liderança do homem também: "em fadiga obterás o sustento durante os dias da tua vida... no suor do teu rosto comerás o teu pão" (Gn 3:17,19). É verdade, também, que o preconceito e abusos da tradição judaica, e mesmo gentílica, contra a mulher agravaram ainda mais a situação.

Entretanto, parece evidente que a tese da ordenação feminina ao ministério se deve não a uma reinterpretação necessária do ensino bíblico, motivada por novas descobertas lingüísticas ou históricas, mas à influência inquestionável do moderno movimento feminista ocidental. O ministério do governo eclesiástico, conferido a pastores, presbíteros, ou bispos — os termos são sinônimos no NT (ver At 20:17,28, Tt 1:5-7 e 1 Pd 5:1-4) — e da pregação e ensino, conferido aos ministros da Palavra (ver 1 Tm 5:17), uma especialização do ofício do governo, é responsabilidade de homens no NT. Não apenas em nenhuma passagem do NT estes ofícios são conferidos a mulheres, como também os critérios indicados para a escolha desses oficiais determinam que sejam "esposos de uma só mulher... e que governem bem a sua própria casa" (1 Tm 3:2,4; cf. Tt 1:6).

Qual a explicação bíblica para a limitação do ofício de governo eclesiástico e da Palavra aos homens? Tradição? Costumes judaicos? Não! Poucos versos antes destas instruções a Timóteo, Paulo proíbe à mulher de falar publicamente e de exercer autoridade eclesiástica: "A mulher aprenda em silêncio com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o marido: esteja, porém, em silêncio" na igreja (1 Tm 2:11; cf. 1 Co 14:34-35). Por quê? Qual a explicação de Paulo para tal proibição? A resposta está nos versos seguintes: "Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão" (v. 12-13). A explicação de Paulo para a distinção funcional entre o homem e a mulher na igreja está no Éden; na queda e, especialmente, na criação: primeiro foi criado Adão, e depois Eva, como auxiliadora idônea — idônea, sim; mas auxiliadora.
Se quisermos nos conformar com este século, ordenemos mulheres ao ministério. Se desejarmos permanecer fiéis à vontade de Deus revelada nas Escrituras, que as honremos como dignas cooperadoras.

Rev. Paulo R. B. Anglada
Pastor da Igreja Presbiteriana Central do Pará – Belém

Extraído de http://www.thirdmill.org/files/portuguese/20016~9_18_01_3-35-21_PM~AUXILIADORAS_ID%C3%94NEAS.html 20/09/2007

21 setembro 2007

O surgimento de diaconisas no século IV

O historiador batista A.H. Newman, que é favorável à ordenação feminina, observa sem fundamentada evidência que “aparentemente reconhecidas no Novo Testamento, [as diaconisas] reaparecem nas igrejas neste período [século IV]. As suas funções eram orar, e ministrar aos religiosos e necessidades circunstanciais das mulheres. Elas eram rigorosamente excluídas do serviço ‘do altar’”.[1] É necessário fazer algumas observações nesta declaração de Newman. O fato das viúvas serem “rigorosamente excluídas do serviço ‘do altar’”, indica que elas eram assistentes nas necessidades da igreja, e não líderes. O historiador interpreta que as diaconisas “reaparecem nas igrejas neste período”. Todavia, não há evidência histórica que explique esta lacuna de ausência na ordenação de diaconisas entre o primeiro e o início do quarto século.

Quando observamos o surgimento das diaconisas do século IV podemos concluir que a sua origem vem da ordem das viúvas que Paulo menciona em 1 Tm 5:9-12. Como muitas práticas se corromperam e cristalizaram com o decorrer dos séculos, é possível que o mesmo tenha ocorrido com as “verdadeiras viúvas”. A liderança assumiu uma hierarquia no governo da Igreja e nas funções litúrgicas. O surgimento de bispos, subdiáconos, acólitos, e diaconisas evidenciam a criação de ofícios e funções estranhos à liderança existente no Novo Testamento. É mais provável que o ofício de diaconisas nunca existiu entre a liderança da Igreja primitiva vindo a estabelecer-se apenas no início do quarto século.

Nota:
[1] A.H. Newman, A Manual of Church History (Philadelphia, The American Baptist Publication Society, 1933), vol. 1, pp. 293-294.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

19 setembro 2007

Um esboço de Cristologia

A Pessoa de Cristo
1. A Preexistência de Cristo
1.1. A Concepção Messiânica no AT
1.2. A Profecia Messiânica no AT
1.3. A Tipologia Messiânica no AT
1.4. A Cristofania no AT
2. Títulos de Cristo
2.1. Títulos que indicam a sua Divindade
2.2. Títulos que indicam a sua Humanidade
3. As Naturezas de Cristo
3.1. A Natureza Divina
3.2. A Natureza Humana
3.3. A Necessidade das Duas Naturezas
3.4. A Unipersonalidade de Cristo
4. A Comunicação de Atributos
5. As Tentações de Cristo
6. A Impecabilidade de Cristo
7. O Caráter de Cristo
8. O Batismo de Cristo
9. A Família de Cristo

O Estado de Humilhação
1. A Natureza do Estado de Humilhação
2. A Plenitude dos Tempos
3. A Encarnação de Cristo
3.1. A Natureza da Encarnação
3.2. A Necessidade da Encarnação
3.3. O Propósito da Encarnação
4. A Concepção Virginal
5. O Auto-despojo de Cristo
6. A Obediência de Cristo
7. A Transfiguração de Cristo
8. Os Sofrimentos de Cristo
9. A Morte de Cristo
10. O Sepultamento de Cristo
11. “Descida ao Hades”

O Estado de Exaltação
1. Natureza do Estado de Exaltação
2. A Ressurreição de Cristo
3. Evidências em favor da Ressurreição de Cristo
4. A Humanidade Exaltada
5. A Ascensão Física aos Céus
6. A Intercessão de Cristo
7. O Retorno Físico de Cristo
8. A Glória de Cristo

A Obra Redentora de Cristo
1. O Princípio da Representatividade
2. O Mediador da Aliança
3. A Singularidade do Mediador (porquê só Jesus)
4. O Tríplice Ofício Medianeiro de Cristo
5. O Ofício Profético
6. O Ofício Real
7. O Reinado de Cristo
7.1. A Natureza do Reino de Cristo
7.2. A Extensão do Reino de Cristo
7.3. A Duração do Reino de Cristo
7.4. A Restituição do Reino ao Pai
8. O Ofício Sacerdotal de Cristo
9. A Expiação de Cristo
9.1. A Natureza da Expiação
. Predeterminada
. Objetiva
. Judicial
. Punitiva
. Vicária
9.2. A Causa da Expiação
9.3. A Necessidade da Expiação
9.4. A Perfeição da Expiação
9.5. O Propósito da Expiação
9.6. A Suficiência da Expiação
9.7. A Gratuidade da Expiação
9.8. A Voluntariedade da Expiação
9.9. Termos Relacionados com a Expiação
. Sacrifício
. Propiciação
. Reconciliação
. Redenção
. Imputação
. Substituição
. Justificação objetiva
. Penalidade
9.10. A Extensão da Expiação
. Textos Bíblicos que parecem favorecer a Expiação Universal
. Textos Bíblicos que afirmam a Expiação Limitada
9.11. Benefícios Assegurados pela Expiação de Cristo

14 setembro 2007

Nota de falecimento

Hoje pela manhã o Senhor tomou para Si o seu servo Rev. Caio Fábio de Araújo. Ele faleceu após uma delicada cirurgia. Sempre firme e preparado. Um homem que manifestou o caráter de Cristo em sua vida simples. Deixou uma vida próspera na carreira de advocacia preferindo obedecer o seu chamado pastoral. Submeteu-se à direção do Espírito do Santo. Mudou-se para Manaus. Com a sua chegada o presbiterianismo amazonense nunca mais foi o mesmo!

Estivemos na cidade de Manaus entre os dias 15 à 17 de Novembro participando do Congresso Fé Reformada. Nesta feita, antes de virmos embora pudemos visitar o abençoado casal. A nossa amada irmã Meire, esposa do Rev. José Nery, nos levou até à casa do Rev. Caio Fábio [o pai] e sua esposa, a dona Laci, e ali tivemos uma proveitosa conversa de aproximadamente 40 minutos. Confesso que foi surpreendente ouvir este servo de Deus, homem experiente de 79 anos, provado pelo fogo, e de ministério aprovado diante do Senhor. Atentamente ouvimos e nos nutrimos. Desde a minha adolescência ouço falar deste homem de Deus, então, pude conhecê-lo pessoalmente.

Louvo à Deus, por servos que Ele levanta para que vivam e preguem a Sua maravilhosa graça.

Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito (Tt 2:7-8, ARA).

04 setembro 2007

O meio ambiente um ambiente pecaminoso

Deus criou todas as coisas para desfrutarmos com alegria. Em tudo percebemos as digitais do Criador, pois, toda a criação possui um propósito inteligente, de tal modo que, cada ser vivo desde o mais simples até o mais complexo, está envolvido numa cadeia biológica de dependência e propósito. Olhar a criação deveria produzir em nós a sensação de reverência, não pela criatura, mas pelo Deus criador. Mas, porque não podemos adorar a criação se ela é tão bela? A resposta é simples: “pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque tendo conhecido a Deus, não glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se.” (Rm 1:20-21, NVI). Não devemos venerar, cultuar ou oferecer qualquer forma de adoração para a criatura, somente ao Criador.

O Senhor Deus que trouxe à existência do nada tudo o que há revela na Bíblia que o desequilíbrio ambiental tem a sua causa no pecado. Por causa do ser humano toda a criação foi afetada por este mal. A Escritura Sagrada declara que “maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida” (Gn 3:17b, NVI). A destruição da natureza é um testemunho irrefutável da presença do pecado. A Palavra de Deus, a nossa consciência e a natureza testificam que o nosso meio ambiente é um ambiente pecaminoso.

Estamos matando o meio ambiente com o nosso comportamento pecaminoso. Se não bastasse toda a criação sendo afetada pela maldição e pela presença corrosiva do pecado, a humanidade tem de forma desordenada destruído o meio ambiente. A luta e morte por terras, o desmatamento desenfreado, a contaminação do solo e dos lençóis de água, a poluição do ar com gases venenosos, e tudo por causa da ganância e do orgulho. Nós e os nossos filhos temos colhido desde agora a terrível conseqüência do nosso pecado contra o Criador. Não estamos cuidando da terra conforme o mandato original (Gn 2:15), pelo contrário, temos frontalmente desobedecido ao Senhor.

Se arrependermos dos nossos pecados e crermos em Cristo como o nosso único e suficiente Salvador seremos perdoados. A salvação não se limita apenas a esta vida, mas aponta para um futuro onde tudo será restaurado. A Palavra de Deus declara que toda “a natureza criada aguarda, com grande expectativa que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8:19-21, NVI). Somos espiritualmente filhos de Deus, mas o nosso corpo ainda necessidade ser transformado (Rm 8:12-17; Rm 8:23; 1 Co 15:35-58).

Mas, quando formos transformados fisicamente, na vinda de Cristo, então, habitaremos num mundo também transformado. Na Bíblia lemos que “visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos em fogo, e os elementos se derreterão pelo calor. Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2 Pe 3:11-13, NVI). Após o juízo, quando Satanás e seus anjos, e todos os que não se arrependeram e rejeitaram a salvação em Cristo, forem lançados no lago de fogo (Ap 20:7-15), então, com o apóstolo João, poderemos dizer que “vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado...” (Ap 21:1, NVI). Se quisermos participar desta promessa futura precisamos ser livres da condenação do pecado que nos mata e que prejudica o meio ambiente.

23 agosto 2007

Discipulado

O que é discipulado? Há com certeza uma diversidade de opiniões quanto ao propósito e modo de realizá-lo. Qual o tempo apropriado para realização de um Curso de Discipulado e qual o número de lições é ideal? Ou ainda, quais as discussões se darão geralmente em torno do conteúdo das lições e métodos de aplicação. Todavia, A preocupação principal que devemos ter quanto ao discipulado, se é que estamos sendo bíblicos ou não na nossa concepção.

Precisamos partir do modelo apresentado por Jesus (embora não seja o primeiro modelo apresentado na Bíblia) que é o mestre dos mestres. Jesus teve um ministério onde ensinou multidões, mas concentrou a sua mensagem nos seus discípulos, formando a base para a continuidade do seu ministério a partir do discipulado. Sendo esta a principal ordem dada aos seus discípulos antes da sua ascensão (Mateus 28.18-20; Mc 3.14).

A Igreja necessita resgatar o discipulado. Tanto um conceito, como uma prática correta de discipulado evidenciará a saúde espiritual da igreja. O pastor luterano Dietrich Bonhoeffer notou tristemente que "em tudo que segue, queremos falar em nome de todos aqueles que estão perturbados e para os quais a palavra da graça se tornou assustadoramente vazia. Por amor a verdade, essa palavra tem que ser pronunciada em nome daqueles de entre nós que reconhecem que, devido à graça barata, perderam o discipulado de Cristo, e, com o discipulado de Cristo, a compreensão da graça preciosa. Simplesmente por não querermos negar que já não estamos no verdadeiro discipulado de Cristo, que somos, é certo, membros de uma igreja ortodoxamente crente na doutrina da graça pura, mas não membros de uma graça do discipulado, há que se fazer a tentativa de compreender de novo a graça e o discipulado em sua verdadeira relação mútua. Já não ousamos mais fugir ao problema. Cada vez se torna mais evidente que o problema da Igreja se cifra nisso: como viver hoje uma vida cristã."[1]

Este é o modelo Bíblico onde é possível desenvolver o caráter de Cristo na vida dos envolvidos. Conhecer a Deus por meio de Jesus, e glorifica-lo num relacionamento construtivo como Igreja. Nesse relacionamento construtivo o alvo é preparar discípulos para um envolvimento nos ministérios e departamentos da igreja, proporcionando um fortalecimento qualitativo, que resultará naturalmente na multiplicação de outros discípulos.

Ser discípulo é muito mais do que ser um mero aprendiz temporário. M. Bernouilli observa que “o discípulo tem em comum com o aluno o fato de receber um ensino, mas o primeiro compromete-se com a doutrina do mestre.”[2] Mas ser discípulo não se resume ao exercício intelectual “é importante reconhecer que a chamada para ser discípulo sempre inclui a chamada para o serviço.”[3]

A definição que adotamos nesse trabalho é a mesma usada por David Kornfield: o discipulado não é um programa; não é uma série de módulos; não é um livro de iniciação doutrinária; não é apenas um encontro semanal; não é um novo sistema de culto nos lares. Kornfield observa que "discipulado é uma relação comprometida e pessoal, onde um discípulo mais maduro ajuda outros discípulos de Jesus Cristo a aproximarem-se mais dEle e assim reproduzirem."[4]

O discipulador não é simplesmente um professor. Ele é alguém que além de informar também coopera na formação espiritual do seu aprendiz, tornando-se referência para o discípulo. Mas, devemos sempre lembrar que nenhum discipulador é modelo de perfeição, mas sim, um modelo de transformação, mostrando que assim como o discípulo, ele também está num processo, que a cada dia subirá um degrau na absorção do caráter de Cristo. Com este sincero objetivo ele poderá identificar-se com o discípulo. Seguindo o exemplo de Paulo: “...não que o tenha já recebido, ou tenha obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp 3.12, ARA).

John Sittema nos lembra que discipular é “reproduzir a si mesmo e sua fé na vida de outros.”[5] Evidentemente não podemos confundir, porque o Senhor Jesus exige que façamos discípulos dele e não nossos. Novamente podemos citar Sittema observando que “esse processo requer o desenvolvimento de um relacionamento de confiança, de exemplo, de revelação do nosso coração e da nossa fé ao discípulo que, por sua vez deve imitar o padrão de fé do seu mestre.”[6]

É importante lembrar que o alvo não é apenas a multiplicação de novos membros, mas, que principalmente da maturidade e crescimento dos cristãos convertidos, e outros novos convertidos virão como conseqüência dessa maturidade (Tt 2:11-15). É tempo de repensarmos a forma da igreja, onde até então, o trabalho eclesiástico se atém a um pequeno grupo de líderes, que provavelmente não foram discipulados. Indispensavelmente a liderança da igreja local deve estar preparada para equipar os santos (Ef 4.11-13). O pastor coordenando os grupos de formação de líderes estará mais livre para pastorear o rebanho, podendo em reuniões periódicas com os discipuladores, ser informado a respeito das ovelhas que carecem de um cuidado mais específico.

Uma igreja sadia vive uma estrutura de discipulado em que os membros vivem e compartilham a obediência da recíprocidade cristã (uns aos outros). A Escritura nos declara que somos membros uns dos outros (Rm 12:5), logo, esta convivência mútua deve reger a qualidade de todos os nossos relacionamentos:
1. Amando cordialmente uns aos outros (Rm 12:10).
2. Honrando uns aos outros (Rm 12:10).
3. Tendo o mesmo sentir uns para com os outros (Rm 12:16; 15:5).
4. Amando uns aos outros (Rm 13:8).
5. Edificando uns aos outros (Rm 14:19).
6. Acolhendo uns aos outros (Rm 15:7).
7. Admoestando uns aos outros (Rm 15:14).
8. Saudando uns aos outros (Rm 16:16).
9. Esperando uns pelos outros (1 Co 11:33).
10. Importando uns com os outros (1 Co 12:25).
11. Servindo uns aos outros (Gl 5:13).
12. Levando a carga uns dos outros (Gl 6:2).
13. Suportando uns aos outros (Ef 4:2; Cl 3:13).
14. Sendo benignos uns para com os outros (Ef 4:32).
15. Sujeitando-se uns aos outros (Ef 5:32).
16. Consolando uns aos outros (1 Ts 4:18; 5:11,14).
17. Confessando pecados uns aos outros (Tg 5:16).
18. Orando uns pelos outros (Tg 5:16)
19. Sendo hospitaleiros uns com os outros (1 Pe 4:9)
20. Tendo comunhão uns com os outros (1 Jo 1:7).

O nosso alvo como servos de Cristo é desfrutar uma vida qualitativamente padronizada pelo nosso Mestre, em que alcançados pela graça de Deus, tocamos a vida de outras pessoas. O amor que enviou o Filho, nos une, e que nos transforma, também deve ser comunicado integralmente nos nossos relacionamentos.

Notas:
[1] Dietrich Bonhoeffer, Discipulado (São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1995), p. 18. Bonhoeffer (1906-1945) foi um jovem pastor luterano que durante a 2a Guerra Mundial protestou contra o regime Nazista. Foi preso e morto aos 39 anos, num campo de concentração alemão. Durante sua prisão escreveu várias cartas e livros na área de Teologia Pastoral, que foram preservados e alguns se encontram traduzidos para o português.
[2] J.J. Von Allmen, ed., Vocabulário Bíblico (São Paulo, ASTE, 1972), pp. 108-109.
[3] Colin Brown, ed., Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1981), vol. 1, p. 666.
[4] David Kornfield, Série Grupos de Discipulado (São Paulo, Editora SEPAL, 1994), vol. 1, p. 6.
[5] John Sittema, Coração de Pastor (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2004), p. 173.
[6] John Sittema, Coração de Pastor, p. 173.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

14 agosto 2007

Breve avaliação da Teologia Relacional

Os teólogos adeptos do Open Theism, ou Teologia Relacional, têm usado como munição argumentos que questionam a chamada “concepção clássica de Deus”. Como este movimento de “reformar nosso entendimento de quem Deus é” ainda está desenvolvendo os seus tentáculos, não podemos generalizar todos os seus intérpretes, e esperar que todos tenham o mesmo raciocínio e conclusões, nem os teólogos americanos ou brasileiros, mesmo porque cada um tem as suas particularidades pessoais. Todavia, todos têm elementos em comum: se o próprio Deus não se conhece totalmente, logo, tudo o que se disser acerca dEle é questionável[1] Entretanto, parece-nos que o único atributo de que podemos ter alguma certeza é o amor. Assim, este "deus relacional" ama humanamente, e considera espúrio toda a presença do mal, mesmo não podendo ser soberano sobre ele. Tudo o que envolve sofrimento é indesejável e não pode proceder deste "deus relacional".

Mas, o que diremos do inferno? Um "deus relacional" condenaria pobres humanos que viveram na ignorância do Evangelho, e por causa de sua cultura pagã tiveram uma vida miserável, e ainda por fim seriam condenados a sofrer a punição divina por toda eternidade, não tendo em vida, nem após a morte, um instante de alívio de seu sofrimento existencial? Não é de se estranhar que o próprio Clark H. Pinnock tenha abandonado a crença de uma punição final eterna.[2] Ora, somente é possível concluir que o deus que não tem supremacia para decidir sobre os vivos, não pode condená-los após a sua morte!

Se o principal atributo de Deus é amor, e não podemos aceitar absolutos, então não deveria Ele também amar os demônios? Se os demônios são suas criaturas, como os seres humanos, por que razão Ele os despreza tanto? Deus na eternidade não sabia da conspiração de Satanás, ou não pôde evitá-la? Mas, mesmo depois de caídos e contaminados pelo mal, Deus não poderia, por amor, dar uma segunda chance? Afinal, qualquer um poderia se encontrar na mesma condição se estivesse absolutamente sem a influência da graça de Deus! Deus não se importa com o sofrimento dos demônios? Por que deste prefencialismo pelo ser humano? Estas são questões que sinceramente desejaria que um adepto da Teologia Relacional respondesse coerentemente.

Podemos imaginar adeptos da Teologia Relacional parafraseando Gn 1:26: façamos Deus a nossa imagem e semelhança. Esta tem sido a tarefa destes teólogos. Reconstruir uma teologia de Deus que limita a si mesmo, tornando-se mais frágil e um pouco mais humano. A sua transcendência deixa de ser uma de suas perfeições que O revela como sendo totalmente outro.[3] Entretanto, devemos ouvir o que o profeta Isaías registra declarando “com quem vocês vão me comparar? Quem se assemelha a mim? Pergunta o Santo” (Is 40:25).

Redefinir a nossa concepção de Deus não enxugará de ninguém as suas lágrimas. A Teologia Relacional não é capaz de consolar ninguém. Que consolo pode ter alguém ao ouvir: Deus quis, mas não pôde fazer nada! Ou, Deus não previu este acidente. Ouvir que Deus está chorando comigo, porque não pôde fazer nada, não conforta, apenas aumenta a incredulidade e o desespero. Quem afinal governa o mundo? Seria a pergunta mais responsável a se fazer.

Deus não fica impassível diante do sofrimento. Na boca do profeta Ezequiel Ele diz: “teria eu algum prazer na morte do ímpio? Palavra do Soberano, o SENHOR. Ao contrário, acaso não me agrada vê-lo desviar-se dos seus caminhos e viver?” (Ez 18:23, NVI). O Senhor consola os abatidos. É Ele quem ordena “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra” (Sl 46:10, ARA). Ele em sua Providência sustenta toda a criação “porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mt 5:45, NVI). Sendo que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes” (Tg 1:17, NVI). No fim, quando Ele retirar a maldição e restaurar toda a criação (Rm 8:18-25), então “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21:4, NVI).

Notas:
[1] Clark H. Pinnock, Deus Limita Seu Conhecimento in: Predestinação e Livre-Arbítrio (São Paulo, Ed. Mundo Cristão, 1996), pp. 173-197.
[2] Clark H. Pinnock, The Destruction of the Finally Impenitent in: Criswell Theological Review, Spring 1990, vol. 4, número 2, pp. 243-259.
[3] Cuidadosamente uso o termo totalis aliter de Karl Barth.

12 agosto 2007

Pioneiro presbiteriano no Brasil

Cronologia Biográfica
- Rev. Ashbel Green Simonton -
(1833-1867)

West Hanover, Pensilvânia
20/01/1833
- nascimento Ashbel G. Simonton
- pai: William Simonton, presbítero, médico e político
- mãe: Martha Snodgrass Simonton
- foi caçula dentre 11 filhos: 7 homens e 4 mulheres
- descendentes de irlandeses presbiterianos

14/06/1833
- batizado com 5 meses “filho da Aliança”

17/05/1846
- morte do pai

? /04/1847
- mudança para Harrisburg

Harrisburg, Pensilvânia
1850 – graduação na High School

Princeton, New Jersey
1852 – graduação no College of New Jersey

Starkville, Mississipi
? /12/1852
- aos 19 anos exerce o magistério ensinando: latim, francês, alemão e italiano

29/06/1854
- volta para Harrisburg

Harrisburg, Pensilvânia
? /07/1854
– início do estudo de Direito

05/05/1855
- profissão de Fé na Igreja Presbiteriana Market Square

Princeton, New Jersey
? /08/1855
- estudante no Seminário Teológico Presbiteriano de Princeton

14/10/1855
- chamado para missões[1] através de um sermão do Dr. Charles Hodge

10/10/1857
- conversa com o secretário de Missões da Igreja Presbiteriana do Norte

14/04/1858
- Licenciado para pregar pelo Presbitério de Carlyle

21/11/1858
- opção pelo Brasil (quase enviado para a Bolívia)

? /12/1858
- resposta positiva da Junta de Missões (Board of New York)

14/04/1859
- ordenação ao ministério na Igreja Reformada Alemã de Harrisburg

18/06/1859
- embarque para o Brasil, no navio “Banshee”

Rio de Janeiro, Brasil
12/08/1859
- desembarque no Rio de Janeiro, quase 2 meses de viagem
- chega ao Brasil com 27 anos de idade

31/08/1859
- celebração do 1º culto no Brasil

27/12/1859
- celebração da 1ª Santa Ceia

12/01/1862
- primeiros batismos e organização da 1ª Igreja Presbiteriana do RJ

Harrisburg, Pensilvânia
16/03/1862
- “Furlough” (férias para arrecadação de fundos) após 3 anos no Brasil

10/04/1862
- morte da mãe – Martha Snodgrass Simonton

19/03/1863
- casamento com Helen Murdoch

Rio de Janeiro, Brasil
16/07/1863
- retorno ao Brasil com 4 meses de casado

06/09/1863
- início da Escola Bíblica Dominical

19/06/1864
- nascimento da filha

28/06/1864
- morte da esposa: 9 dias após o parto

05/07/1864
- batismo da “pequena” Helen[2]

05/11/1864
- primeiro número da “Imprensa Evangélica”

05/03/1865
- organização da Igreja Presbiteriana de São Paulo

13/11/1865
- organização da Igreja Presbiteriana de Brotas

16/12/1865
- organização do Presbitério do RJ, ligado ao Sínodo de Baltimore
- pastores: Rev. A.G. Simonton
Rev. A.B. Blackford
Rev. F.J.C. Schneider
Rev. J.M. da Conceição (ordenado nesse dia)

14/05/1867
- início do Seminário “Primitivo” do RJ[3]
4 professores:
Rev. A.G. Simonton
Rev. A.B. Blackford
Rev. F.J.C. Schneider[4]
Rev. Charles Wagner (pastor luterano)
4 alunos:
Antônio B. Trajano
Miguel G. Torres
Modesto P.B. Carvalhosa
Antônio P. Cerqueira Leite

09/12/1867
- Rev. Simonton morre em São Paulo, de febre amarela (?), aos 34 anos.
- enterrado no “Cemitério dos Protestantes” no bairro da Consolação, São Paulo.

Notas:
[1] Ashbel G. Simonton, Diário (São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1982), pág. 106
[2] A criança recebeu o nome da mãe, Diário, pág. 192
[3] Funcionou durante 3 anos.
[4] Nascido na Alemanha, mas naturalizado nos EUA, convertido em sua juventude, tornou-se pastor presbiteriano, veio para o Brasil, a fim de trabalhar entre imigrantes de língua alemã. Foi o tradutor de A.A. Hodge, Esboços de Teologia (Lisboa, 1895), e reimpresso pela PES, em 2001, com o português revisado e notas do Rev. Odair Olivetti.
Rev. Ewerton B. Tokashiki

02 agosto 2007

A ordenação feminina e o Ecumenismo

O Conselho Mundial de Igrejas (World Concil Churches [WCC]) é a principal organização ecumênica cristã em nível internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em Genebra, Suíça, o CMI congrega mais de 340 denominações em sua membresia. Segundo as suas estimativas, estas denominações representam mais de 400 milhões de membros presentes em mais de 120 países. Esta organização tem incentivado as igrejas-membros do concílio para que ordenem mulheres nos ofícios eclesiásticos. Em seu documento intitulado de Fé e Constituição - Batismo, Eucaristia, Ministério declara que "algumas Igrejas ordenam homens e mulheres, outras não ordenam senão homens. Diferenças nessa questão criam obstáculos no que respeita ao reconhecimento mútuo dos ministérios. Mas estes obstáculos não devem ser considerados como impedimentos decisivos a outros esforços que tenham em vista o mútuo reconhecimento. A abertura recíproca comporta a possibilidade de o Espírito falar a uma Igreja através dos esclarecimentos de uma outra. As considerações ecumênicas deveriam, pois, animar e não refrear o esforço para encarar de frente este problema."[1]

A Aliança Mundial das Igrejas Reformadas foi criada em 1970 (World Alliance of Reformed Churches [WARC]) é uma comunidade de aproximadamente 75 milhões de cristãos de tradição reformada procedentes de 216 igrejas em 107 países. Este concílio tem trabalhado para que as igrejas-membros ordenem mulheres, adotando uma postura teologicamente igualitarista. Num discurso orientado pela Teologia Feminista, o seu site declara explicitamente que "a função do Departamento [de colaboração entre mulheres e homens] é ajudar as igrejas membros a escutarem de novo o testemunho bíblico sobre a comunidade (koínonia) e a colaboração, erradicar o sexismo na teologia e a práxis e promover a sensibilização em matéria de gênero, reconhecer os dons e talentos das mulheres para o ministério e as funções da direção, e trabalhar pela renovação e a transformação da igreja e da sociedade enquanto lutamos para suprimir os obstáculos que continuam dividindo as mulheres dos homens."[2]

A Igreja Presbiteriana do Brasil até 2006 participou como igreja-membro da AMIR. Entretanto, a nossa igreja rompeu laços com a AMIR por esta adotar uma hermenêutica, teologia e prática ecumênica pluralista estranha à Escritura Sagrada. A tradição reformada da AMIR esvaziou-se de sua convicção histórica reformada. A AMIR e o CMI compartilham da mesma aceitação de pluralidade teológica. Qualquer interpretação, postura, ou prática que não coadune com os cânones da pós-modernidade teológica destas confraternidades é rejeitada como intolerante e não fraterna. Todavia, não podemos em nome do amor sacrificar a verdade.

Na metade do século XX entre as igrejas históricas iniciaram a ordenar mulheres.[3] Os luteranos na Suécia iniciaram a prática em 1958, e os alemães também seguiram o exemplo. A Igreja Reformada e a Igreja da Escócia [presbiteriana] ordenaram a partir da década de 60. Recentemente aderiram à ordenação feminina os batistas e os metodistas na Grã-Bretanha e Austrália. Na década de 70 a Igreja Anglicana do Canadá e a Episcopal da América, e em 1991, nomearam uma mulher como episcopisa. Algumas igrejas pentecostais, como a Igreja do Evangelho Quadrangular, desde o início ordenavam mulheres como pastoras, todavia, a base de tal prática não era devido a uma elaboração teológico-exegética, mas por motivos pragmáticos.

No Brasil, as igrejas históricas como os anglicanos, os metodistas (IMB), os luteranos confessionais (IECLB), os presbiterianos independentes (IPIB) nas últimas três décadas passaram a praticar a ordenação de mulheres como diaconisas e mais recentemente presbíteras e pastoras. Deve-se observar que nenhuma destas denominações ordena mulheres motivadas por firme convicção bíblica, mas por fatores sociais. Não podem ser classificadas como sendo igrejas teologicamente conservadoras, pois o pluralismo teológico tornou-se o padrão, tomando o lugar da sua identidade confessional e histórica.

Mas, qual a situação da IPB? Embora exista um pequeno grupo, inclusive composto de mulheres, em nosso meio militando em favor da ordenação feminina, estamos longe de mudarmos de opinião. Apesar de sermos acusados de estarmos vivendo fora do nosso tempo pós-moderno, preferindo uma postura obscurantista, ignorando o mover na sociedade para a participatividade feminina na liderança, estamos convictos de que a Escritura Sagrada estabelece um padrão de governo eclesiástico inalterável. O nosso compromisso teológico e ministerial permanece fiel à Palavra de Deus. Não mudaremos a nossa Hermenêutica para conformar a nossa interpretação da Bíblia aos canônes feministas.

Algumas questões práticas, desde agora, devem ser refletidas, à luz das Escrituras Sagradas:
1. O dom de liderança das mulheres é prejudicado no convívio da igreja por não serem ordenadas?
2. Existe vocação pastoral para as irmãs que têm o dom pastoral?
3. As mulheres poderiam estudar em instituições teológicos? Com que finalidade?
4. Como seria o convívio das mulheres ordenadas de outras denominações que se tornarem membros da Igreja Presbiteriana do Brasil?

Como material de apoio, sugiro a leitura de algumas obras que poderão esclarecer o assunto, e oferecer subsídios para uma discussão salutar:
1. Bonnidell Clouse, ed., Mulheres no Ministério (São Editora mundo cristão).
2. John W. Robbins, ed., The Church Effeminate (The Trinity Foundation), págs. 212-233
3. Augustus Nicodemus, “Ordenação Feminina” in: Fides Reformata, vol. II, número 1, 1997., págs. 59-84.
4. Nancy Pearcey, Verdade Absoluta (CPAD), págs. 363-390.

Notas:
[1] Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas - Batismo, Eucaristia, Ministério (São Paulo, CONIC, KOINONIA, ASTE, 3ª.ed., 2001), p. 67.
[2] Extraído de http://www.warc.ch/dp/index-s.html em: 21/03/2007.
[3] Robert G. Clouse, et al., dois reinos (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), pp. 576-577.

Rev. Ewerton B. Tokashiki