24 novembro 2019

Pastores e Presbíteros nas Confissões Reformadas

1. A Primeira Confissão Helvética (1536)
18. A eleição dos ministros
Para esta função deve-se garantir que qualquer um que não esteja especializado na lei divina e de vida irrepreensível, e por um singular estudo do nome de Cristo, seja preparado e julgado um ministro da igreja; e por aqueles a quem a administração foi confiada pelo magistrado cristão em nome da igreja. Aquele que foi seguramente escolhido por Deus, no entanto, precisa apropriadamente aprovado pelo voto da igreja e pela imposição das mãos dos presbíteros (1 Tm 3; Lc 12; At 1; Tt 1).[1]


2. Confissão Londrina de John à Lasco (1551)
Entretanto, a profissão dos ministros da palavra consiste na obrigação da realização destes deveres: [...] 3. Que eles cuidem da Igreja, ao lado de seus presbíteros, em seu crescimento e edificação, por meio da admoestação, consolo, repreensão e o uso da disciplina eclesiástica de acordo com a palavra de Deus (2 Tm 4; 1 Co 5).[2]


3. Vallérandus Poullain: Confissão da Congregação Glastonbury(1551)
[no fim da confissão tem os nomes e ofícios subscrevendo o documento]
Subscrito pelo Pastor e Presbíteros da Igreja Francesa de Frankfort.
Valérand Poullain, Pastor da Igreja.
Jean Murellio, doutor.
Jacques Crucius.
Louis Castalio [Castellio]
Também subscrito pelos ingleses, exilados pela e da glória do Evangelho, em nome de toda a Igreja.
John MacBriar, Ministro.
John Stanton.
William Hammond.
John Bendal.
William Whittingham.[3]


4. Confissão da Igreja Italiana em Genebra (1558)
[o pastor da Igreja Italiana de Genebra era Lattanzio Ragnone, que pastoreou entre 1557 e 1559].
Quando há quatro anos atrás os presbíteros da Igreja Italiana que está entre nós, percebeu (pelo cheiro) que entre alguns do rebanho haviam perversas palavras sendo ditas contra o primeiro princípio da nossa fé acerca das três pessoas em uma essência de Deus, pareceu-lhes que não havia melhor remédio do que uma fórmula confessional esboçada para divulgar tanto quanto possível o veneno que estava escondido. Temos nisto inserido aqui vertido palavra por palavra em Latim, a qual poderá ser subscrita.[4]

Aprovamos, recebemos e confirmamos todas as estas coisas, com a condição de que aquele que dizer de outra forma será considerado um perjuro e infiel.
Joh. Sylvester Telius, aprovo a confissão escrita e detesto qualquer coisa repugnante a ela.
Fr. Porcellinus, recebo e aprovo tudo o que abrange na confissão escrita.
Jon. Valentinus Gentilis, aceito como está.
Hippolytus Pelerinus Carignanus, aceito como está.
Joh. Nicolas Gallus, aceito como está.[5]


5. Confissão Francesa (1559)
Artigo XXIX – Oficiais da Igreja
Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada por aquela disciplina que o nosso Senhor Jesus estabeleceu, de modo que existiria na igreja, pastores, presbíteros e diáconos, que a pura doutrina possa ter o seu curso, e os vícios serem reformados e suprimidos, que o pobre e outras pessoas aflitas sejam socorridas em suas necessidades, e que em nome de Deus possa existir santas assembleias em que tanto grandes como pequenos sejam edificados.[6]

Artigo XXXI – Oficiais eleitos
Cremos que não é legítimo para qualquer homem que pela sua própria autoridade tome para si o governo da igreja, mas que todo aquele que for admitido, o seja por meio de legítima eleição, se é possível realiza-la, que o Senhor a permita. Temos expressamente adicionado a exceção, porque, durante algum tempo (como ela está caído em nossos dias), o estado da igreja esteve interrompido, Deus levantou algumas pessoas, duma maneira extraordinária, para reparar as ruínas da igreja decaída. Mas independente de como acontecer, cremos que esta norma sempre continuará, que todos os pastores, presbíteros e diáconos terão um testemunho de seu chamado aos seus respectivos ofícios.[7]


6. A Confissão Valdense (1560)
A política da Igreja verdadeira
Cremos a respeito da verdadeira igreja, que ela deve ser governada de acordo com a ordem e política estabelecida pelo nosso Senhor Jesus Cristo, isto é, que precisa ser por ministros, presbíteros e diáconos, de modo que a pureza da doutrina possa obter plena realização e vícios sejam rejeitados e punidos, os pobres auxiliados em suas necessidades, e as pessoas reúnam-se em congregações em nome de Deus, onde grandes e pequenos sejam edificados.[8]

A eleição de pastores
Cremos que ninguém realizará o governo da igreja pela sua própria autoridade; antes, se fará uma eleição tanto for possível conforme a permissão de Deus. Adicionamos a isto a seguinte exceção: às vezes, é necessário, particularmente em nossos tempos, que Deus levante algumas pessoas de um modo extraordinário, de modo a edificar as igrejas novamente, que foram destruídas e arruinadas. Cremos que, em geral, podemos contar sempre com esta regra: que todos os ministros, presbíteros e diáconos têm testemunho de serem chamados aos seus ofícios.[9]


7. A Confissão de Theodore Beza (1560)
27. Do ofício do pastor e mestre
O cargo e ofício daqueles, a saber dos pastores, é que sejam diligentes e ocupem-se da sua doutrina (sob a qual também temos compreendido os sacramentos) e da oração (At 6:4), sob a qual também entendemos a benção dos casamentos dos crentes de acordo com o antigo costume da igreja.[10]

32. O terceiro grau dos ofícios eclesiásticos é a jurisdição e o ofício de presbíteros
O terceiro estado do ofício eclesiástico reside na jurisdição espiritual que foi ordenada àqueles que foram particularmente chamados nos escritos dos apóstolos e antigos escritores (tanto em concílios como em decisões canônicas) presbíteros, isto é, seniores ou anciões; os quais também, às vezes, são chamados de governos por são Paulo (1 Co 12:28), e foram escolhidos não pelo clero, mas pelo todo o corpo da igreja.[11]


8. Confissão Belga (1561)
Artigo XXX
Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada conforme a ordem espiritual, que nosso Senhor nos ensinou na sua Palavra. Deve haver ministros ou pastores para pregarem a Palavra de Deus e administrarem os sacramentos; deve haver também presbíteros e diáconos para formarem, com os pastores, o conselho da igreja. Assim, eles devem manter a verdadeira religião e fazer com que a verdadeira doutrina seja propagada, que os transgressores sejam castigados e contidos, de forma espiritual, e que os pobres e os aflitos recebam ajuda e consolação, conforme necessitam.
Desta maneira, tudo procederá, na igreja, em boa ordem, quando forem eleitas pessoas fiéis, conforme a regra do apóstolo Paulo na carta a Timóteo.[12]

Artigo XXXI
Cremos que os ministros da palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para seus ofícios mediante eleição legítima pela igreja, sob invocação do nome de Deus e em boa ordem, conforme a palavra de Deus ensina. Por isso, cada membro deve cuidar para não se apoderar do ofício por meios ilícitos, mas deve esperar a hora em que é chamado por Deus, a fim de ter, assim, a certeza de que sua vocação vem do Senhor. Quanto aos ministros da Palavra, eles têm, onde quer que estejam, igual poder e autoridade, porque todos são servos de Jesus Cristo, o único Bispo universal e o único Cabeça da igreja. Além disto, a santa ordem de Deus não pode ser violada ou desprezada. Dizemos, portanto, que cada um deve ter respeito especial pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja, em razão do trabalho que realizam. Cada um deve viver em paz com eles, tanto quanto possível, sem murmuração, contenda ou discórdia.[13]


9. A Confessio Catholica Húngara (1562)
Finalmente, estabelecendo todo o ministério, a suma destas doutrinas. Este teste é conduzido publicamente na presença da igreja por pastores treinados e instruídos e outras pessoas, enquanto dois ou três presbíteros ou dois pastores próximos se reúnem. Não estamos obrigados a esta ordenação com o tribunal romano (curia), aos bispos e cardeais, ou a qualquer lugar ou pessoa; mas permitimos que ela aconteça livremente em cada igreja de Cristo.[14]


10. Confissão de Tarcal (1562) e Torda (1563)
Artigo XIV. Concernente ao ofício de pastor e doutor
Os ofícios de pastor e doutor têm em comum que eles estão engajados na proclamação da Palavra e na realização das orações, e incluímos a administração dos sacramentos, a benção matrimonial, a visitação e consolação aos doentes e todos os demais trabalhos como é costume na igreja (At 6:4; 1 Tm 4:13).[15]

Artigo XX. Concernente a espécie de ofícios na igreja que estão envolvidos no governo para o louvor e honra da Igreja
Vejamos agora a espécie de ofícios eclesiásticos que para o louvor e honra da igreja, lidam com o governo. Isto é confiado aos presbíteros (conselheiros ou anciãos, como se diz), aqueles a quem os apóstolos nomeiam nalguns lugares de “governos” e são particularmente assim chamados (1 Co 12:28; Rm 12:8); e a assembleia a quem Cristo chama de igreja (Mt 16:18), assim eles têm a honra do governo da igreja, de modo poderia suficientemente agradável para ser completamente cortado da organização da igreja em Israel. Presbíteros eram escolhidos pelo voto ou meramente pela aprovação de toda a assembleia, como é claramente percebido nos escritos de Ambrósio e Cipriano, que queixam de que alguns se aproveitam da autoridade deles.[16]

Artigo XXI. Concernente à ordem das coisas a serem realizadas no concílio ou assembleia de presbíteros
Apesar da honra do presbítero ser a mesma do pastor, como o seu ofício é um e o mesmo, mesmo assim, é necessário que todos os seus concílios sejam governados por uma certa ordem. Por esta razão, vemos que na assembleia apostólica em Jerusalém, o apóstolo Pedro foi o primeiro entre os demais (At 1:15; 2:14; 15:7).[17]


11. A Segunda Confissão Helvética (1566)
Artigo XVIII. Dos ministros da igreja, a sua instituição e ofícios
Além disso, os ministros do novo povo são designados por diversos nomes. São chamados apóstolos, Profetas, evangelistas, bispos, presbíteros, pastores e mestres (1 Co 12:28; Ef 4:11). Os apóstolos não permaneciam num lugar determinado, mas por todo o mundo iam congregando diversas igrejas. Uma vez estas estabelecidos, deixou de haver apóstolos, e, em seu lugar, apareceram pastores, cada um em sua igreja. Nos primeiros tempos eram videntes, conhecendo o futuro; mas também interpretavam as Escrituras. Tais homens são encontrados também hoje. Os escritores da história evangélica eram chamados Evangelistas; mas eram também arautos do Evangelho de Cristo; como o apóstolo São Paulo ordena a Timóteo: “Faze o trabalho de evangelista” (2 Tm 4.5). Bispos são os supervisores e vigias da Igreja, que administram o alimento e outras necessidades da vida da Igreja. Os presbíteros são os anciãos e, por assim dizer, os senadores e pais da Igreja, governando-a com sadio conselho. Os pastores não só guardam o rebanho do Senhor, como também providenciam as coisas necessárias a ele. Os mestres instruem e ensinam a verdadeira fé e piedade. Portanto, os ministros da Igreja podem, agora, serem chamados de bispos, presbíteros, pastores e mestres.[18]

Ora, o mesmo e igual poder ou função é concedido a todos os ministros na Igreja. Certamente, no princípio os bispos ou presbíteros governavam a Igreja em comum; nenhum homem se elevava acima de qualquer outro, ninguém usurpava maior poder ou autoridade sobre seus companheiros bispos. Lembrados das palavras do Senhor “aquele que dirige seja como o que serve” (Lc 22:26) conservavam-se em humildade, e pelo serviço mútuo ajudavam-se no governo e na preservação da Igreja.[19]


12. A Confissão de Antuérpia (1566)
Creio que a igreja tem um duplo governo, aquele que concerne o serviço à Deus, sendo governado por uma determinada ordem que é ordenada aos ministros, presbíteros e supervisores, diáconos, guardiões da comum ordem e disciplina; o segundo dos magistrados ordenados por Deus para a lei civil executar e administrar, a quem rendemos honra, amor e obediência em todas as coisas que não são contrárias à Deus e à salvação de nossas almas (Rm 13:1; Tt 3:1; 1 Pe 2:13; Lc 19:11; Mt 1:6ss).[20]


13. O Sínodo de Gönc (1566)
3. E, como subscrevemos nos dois sínodos a confissão da igreja de Genebra, que foi diligentemente elaborada por Theodore Beza, o ministro daquela igreja, eles deveriam ser zelosos ao comparar, ler e entender aquela confissão. Não porque ela foi escrita por Beza, mas por ela estar em concordância com a Escritura Sagrada. Também nos familiarizamos com o Catecismo de Calvino, que foi recebido pelo sínodo anterior com geral aprovação.[21]

22. Os ministros da igreja não deveriam ousar faltar às reuniões dos sínodos. Àqueles que não estiverem presentes deveria exigir que oferecessem a verdadeira razão da sua ausência aos seus presbíteros.[22]


14. Documentos do Sínodo de Debrecen (1567)
XX. Os presbíteros precisam ser líderes não somente na igreja, mas também do clero. Desejamos não somente fazer dos pastores a liderança da igreja, mas também, de acordo com a Palavra de Deus, fazer dos supervisores e presbíteros a liderança do clero e presidir na assembleia de pastores. Deixem que os pastores guiem na verdadeira e sólida doutrina, convencendo os adversários e replicando aos oponentes (1 Tm 1; Tt 1).[23]

XXVII. Que todas as pessoas se submetam e obedeçam aos seus bispos, presbíteros e prelados devotamente no Senhor; que os presbíteros, entretanto, não governem sobre a ordem eclesiástica da maneira dos soldados e tiranos, como no reino do Anticristo. Como está escrito: “nem como dominadores da herança do Senhor” (1 Pe 5:3), mas “sejam submissos para com eles que vão adiante de vocês” (Hb 13:17).[24]


15. Consensus Sandomierz (1570)
Há também bispos ou pastores que não somente governam e os sacramentos para a igreja de Deus, mas também diligentemente cuidam das necessidades de todas as suas congregações. Presbíteros ou anciãos foram escolhidos entre os irmãos, de modo que eles podem servir aos mais jovens com os seus conselhos vigiar a sua prática e comportamento.[25]


16. A Confissão de La Rochelle (1571)
Cremos, quanto à verdadeira igreja, que ela deveria ser governada de acordo com a ordem estabelecida pelo nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, sendo por pastores, supervisores, diáconos, de modo que a pureza da doutrina seja preservada, que os pecados sejam corrigidos e restringidos, que o pobre e todos os aflitos encontrem auxílio para as suas necessidades, que as assembleias sejam sustentadas em nome de Deus, e que os adultos reunidos com as crianças sejam edificados.[26]


17. Catecismo de Craig (1581)
Q. E se estivermos bem instruídos pelos nossos pastores?
R. Precisaremos continuamente desta instrução até o fim.

Q. Por que se somos suficientemente instruídos?
R. Deus estabeleceu esta ordem em sua igreja para que continuamente a nossa necessidade seja instruída.

Q. O que concluímos disso?
R. Que os ministros ou pastores são-nos necessários.[27]

[...]

Q. Quem administrará os sacramentos?
R. Somente o ministro da Palavra de Deus.[28]

[...]

Q. Por qual motivo alguns homens poderiam ser excluídos do sacramento? (Mt 18:17)
R. Pelo julgamento dos presbíteros da igreja.

Q. Por quem e quando poderiam tais pessoas serem admitidas? (1 Co 1:7).
R. Pelos presbíteros, após examinarem o seu arrependimento.

Q. O que é o ofício deste presbiterato?
R. Eles devem supervisionar os costumes dos homens e o exercício disciplinar.[29]


18. Sínodo Geral de Herborn (1586)
Primeira sessão das 6 às 10h
7. De modo que o ofício da pregação e o ofício regente, tanto quanto possível, como é exigido, sejam promovidos por meio de admoestações e consolação.[30]

Segunda sessão das 15 às 18h
1. Quanto ao artigo dos ofícios, que são tanto: (1) os ministros [pregadores]; (2) os professores (doutores); (3) os presbíteros [seniores]; (4) os diáconos.
2. Ninguém ensinará na igreja sem um legítimo chamado.
3. Ninguém ensinará em outra congregação sem a concordância do consistório local.
4. O chamado ocorre por meio da decisão da classe [presbitério] e de uma pluralidade de presbíteros, à qual o chamado pertence: (1) a eleição; (2) o exame; (3) a aprovação; (4) a confirmação do ofício ou ordenação.[31]
[...]
9. Prevalecerá igualmente na distribuição das responsabilidades entre ministros, presbíteros e membros do diaconato em concordância com recomendação da classe.[32]
[...]
16. O ofício dos anciãos ou presbíteros, além do que eles têm em comum com os ministros, consiste em observar se os ministros fazem a obra diligentemente e apresentando um bom exemplo ao rebanho.[33]
[...]
58. Os ministros da Palavra, diante da celebração da Ceia do Senhor, com os presbíteros, diáconos podem sofrer uma censura da doutrina e conduta entre eles.[34]


NOTAS:
[1] James T. Dennison, Jr., org., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English translation 1523-1552. Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2008, Vol. 1, p. 348.
[2] Vol. 1, p. 575.
[3] Vol. 1, p. 662.
[4] James T. Dennison, Jr., org., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English translation 1552-1566. Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2008, Vol. 2, p. 114.
[5] Vol. 2, 116.
[6] Vol. 2, p. 150.
[7] Vol. 2, p. 151.
[8] Vol. 2, p. 226.
[9] Vol. 2, p. 227.
[10] Vol. 2, p. 316.
[11] Vol. 2, p. 322.
[12] Vol. 2, pp. 442-443.
[13] Vol. 2, p. 443.
[14] Vol. 2, p. 609.
[15] Vol. 2, p. 731.
[16] Vol. 2, p. 737.
[17] Vol. 2, p. 737.
[18] Vol. 2, pp. 852-853.
[19] Vol. 2, p. 856.
[20] Vol. 2, p. 885.
[21] Vol. 2, p. 896. Veja a Confissão de Theodore Beza (1560).
[22] Vol. 2, p. 898.
[23] James T. Dennison Jr., org., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English translation 1567-1599. Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2008, Vol. 3, p. 112.
[24] Vol. 3, p. 114-115.
[25] Vol. 3, p. 225.
[26] Vol. 3, pp. 318-319.
[27] Vol. 3, p. 589.
[28] Vol. 3, p. 592.
[29] Vol. 3, p. 600.
[30] Vol. 3, p. 620.
[31] Vol. 3, p. 621.
[32] Vol. 3, p. 621.
[33] Vol. 3, p. 622.
[34] Vol. 3, p. 628.

16 novembro 2019

A História do Saltério de Genebra - Parte 3

Dr. Pierre Pidoux

Bèza contratou Gervais de la Court para copiar (caligrafia) os salmos que ele rimava e Mestre Pierre para anotar as suas músicas, para que fossem enviadas a fim de serem julgadas. Quando Beza deixou Genebra em 17 de Agosto, para se preparar e participar de um debate teológico em Poissy, levou o manuscrito. No dia 30 de Agosto, ele escreveu para Calvino de Paris que esperava obter o privilégio real em breve. Depois que os teólogos parisienses declararam em 16 de Outubro que “não haviam encontrado nada que estivesse em conflito com a nossa fé católica, mas estavam de acordo com a verdade hebraica”, o privilégio foi concedido em 19 de Outubro e confirmado em 26 de Dezembro 1561. Em detalhes, afirmam que os salmos “estão traduzidos de acordo com a verdade hebraica, em rima francesa, e são tocados com boa música, como foi observado e reconhecido pelos homens, aprendidos das Escrituras Sagradas e nas línguas mencionadas acima e também na arte da música”.

Seria estranho se as melodias não fossem julgadas por Thomas Champion, organista da família real, e ele próprio um compositor dos arranjos dos salmos que eram cantados na corte. Charles IX o chamou de “nosso querido amigo”.

O manuscrito examinado começou com o Salmo 48, onde se lê C'est en sa tressaincte cite (Está em sua mui cidade santa) e continua até a última linha do salmo 150 Chante a jamais son impire (Cante para sempre em seu reino). Somente os últimos salmos que Beza foram completados recentemente, e os únicos que seriam protegidos por privilégios contra impressões ilegais, é que foram examinados pelos teólogos. É importante notar que as melodias desses salmos também foram consideradas boas pelos especialistas em música. São ao todo 40 salmos, todos incluídos sem alterações nas edições sucessivas. São as melodias dos Salmos 48, 49, 52,54 a 61, 75,80, 81, 83-85,87-89,92-94,96, 97, 99, 102, 105, 106, 112, 116, 135, 136, 141, 145 e 146-150.

Quem é o compositor desta importante contribuição musical? O homem que continuou o trabalho de Bourgeois se tornou alvo de severas críticas de Douen, cujo julgamento influenciou fortemente muitas gerações de músicos. Eles, sem mais delongas, fizeram suas as verba magistre (palavras do mestre). Se alguém crê em Douen, as melodias de 1562 “são na maior parte indignas de um homem de bom gusto”.

O músico que se comprometeu a definir os salmos de Bèza para cantar era claramente inferior a Bourgeois em se tratando de criatividade e talento. Para os 62 salmos, ele só conseguiu encontrar 42 melodias; além disso, deve-se dizer que apenas seis delas (61, 74, 84, 88, 89 e 92) têm um valor desigual, mas indiscutível. Exceto as melodias que indicamos, as demais são médias ou inadequadas para palavras ou até triviais, sem estilo ou ritmo, e dificilmente de se entoar. Quanto ao demais somos confortados ao dizer que o nome do músico, sem gosto e de tão pouca dedicação, em parte, merece o esquecimento em que ele se encontra.

Uma coisa que Douen viu corretamente: o compositor da música dos últimos salmos deve ser procurado em Genebra e no círculo de amizades de Beza. Quando seu livro estava prestes a ser impresso, Douen recebeu a confirmação de Henri Bordier, que chamou a atenção de Douen para as contas do Hôpital (Hospital, que era uma instituição de caridade) que mencionou duas vezes “Mestre Pierre, o precentor” que foi pago “por colocar os salmos para música”.

Entre os precedentes que têm Pierre como sobrenome, Bordier pensou em Dubuisson, precentor do St. Pierre entre 1561 e 1571, enquanto Douen sugeriu Dagues, professor da Faculdade de Rive, que morreu em 1571.

Conforme o que sabemos desses dois homens é muito improvável que eles estivessem no conduzindo algo além da instrução das crianças e a liderança dos cânticos das igrejas de Genebra. Ambos viviam em circunstâncias materiais miseráveis, o que poderia indicar a baixa estima em que eram mantidos.

Além desses dois, havia Pierre Vallette, precentor em St. Pierre (1552-1553) e professor no Collège (1553-1561). Ele foi possivelmente um bom músico, a julgar pela edição de 1556 dos salmos, em que cada nota é imediatamente precedida por seu nome de solfège. Vallette recebeu um privilégio, por inventar essa métrica de notas. No mesmo livro é impressa uma "instrução para saber o valor da nota e outros assuntos necessários". Vallette pretendeu essas instruções para "todos os crentes que desejam cantar o louvor do Senhor". Trata-se de um método elementar de solfejo, escrito de maneira bonita e clara. Foi incluído em outras edições e por outras impressoras.

Seria, no entanto, incorreto falar de uma criação musical de Vallette. O que possuímos dele parece não ser senão fruto da reflexão e experiência de um educador. Visto que ele deixou Genebra em abril de 1561, é duvidoso que tenha recebido uma quantia paga a Maistre Pierre em Junho daquele ano. No entanto, “o que é verdadeiro, nem sempre precisa ser uma probabilidade ...”.

Isso leva à ninguém menos que Pierre Davantès, de codinome Antesignanus, de Rabasteins no Bigotre, que se tornou cidadão de Genebra em 6 de Março de 1559. Davantès adquiriu uma boa reputação por suas publicações gregas e latinas. Em 24 de Maio de 1560, ele recebeu o privilégio de publicar os salmos “com um novo tipo de música” ou, como o título indica, “um método novo e mais fácil de cantar cada estrofe de salmo sem precisar se referir à primeira estrofe, como estamos acostumados a fazer na igreja”.

Davantès, de acordo com Bayle, um homem do mundo, era em seu trabalho um homem mais persistente que se poderia imaginar. Com base em uma dissertação de três volumes sobre Terentius, ele propõe uma metrificação de notas em três tons nas músicas do salmo. Ele imprimiu as notas, precedidas pelos nomes das métricas, como Vallette fizera e acrescentou um terceiro acréscimo de notas de sua própria invenção: um código inteligente, baseado em números, precedido ou seguido pelos sinais usuais, que proporcionavam a oportunidade de ler a melodia em solfège, enquanto outros sinais colocados sob eles determinavam o comprimento da nota e as demais notas.

Por meio desse terceiro procedimento foi possível anotar a melodia em todas as estrofes. Essa abreviação, no entanto, além dos problemas para as impressoras, exigia a atenção constante do cantor. Essa tentativa, que não conquistou seguidores, evidencia uma mente interessada e metódica e, ao mesmo tempo, é fruto de uma longa prática musical. Davantès também imprimiu o texto da Bíblia sem rima ao lado da versão rimada. Como hebraísta, ele estava muito interessado nos sobrescritos do salmo e eles foram incluídos no seu Saltério, por exemplo, o Salmo 5 “Ao diretor de música. Para flautas”.

Seria possível que as melodias de 1562 fossem obra de Davantès? Seria então necessário que elas evidenciassem a mesma maturidade que suas obras literárias mostraram; que elas foram escritas com a mesma diligência que ele aplicou na elaboração do seu sistema de notas. Seria inconcebível que o autor atencioso, paciente e preciso se permitisse descuidar e negligenciar ao compor melodias para o uso eclesiástico. Por outro lado, um exame cuidadoso das músicas dos salmos mostra que o acabamento delas é pelo menos tão importante quanto a invenção melódica. Primeiro, devemos examinar a unidade do estilo: isso mostra uma semelhança com a técnica de composição de Bourgeois, e torna difícil determinar a extensão exata da parte um do outro, quando a cronologia não nos oferece uma indicação.

Apesar da unidade a pesquisa evidencia diferenças sutis. Para dar à melodia um movimento mais livre, Maistre Pierre, mais cedo do que Bourgeois deixa fora das entre as linhas, quando a confusão no texto o sugere (por exemplo o Salmo 57), ou poderia imitar Bourgeois como no Salmo 99 (cf. Salmo 47).

Theodore de Bèza, em sua escolha da estrutura estrófica, determinou o comprimento e o corte das melodias. O ambitus (o escopo da melodia da nota mais baixa à nota mais alta) pertence ao território do compositor. As melodias de 1562 mostram um recorte: quatro melodias não excedem um sexto (Salmos 75, 100, 116, 141) e quatro não mais que um sétimo (61, 86, 93, 146), que ocorre apenas uma vez nas melodias de Bourgeois (129). A rima feminina na sílaba silenciosa é geralmente marcada por uma descida melódica, mas Bourgeois opta pelo movimento que costuma ascender, quando a próxima linha melódica sobe (Salmos 23, 25, 28, 30, etc.). Em 1562, cada sílaba silenciosa é acompanhada por um segundo decrescente. Este segundo só ascende quando a seguinte linha começa com uma repetição da mesma nota (Salmos 54, 56, 92, 116).

Quando Bourgeois usa um retardo sincopado numa linha com um final feminino, ele aparentemente não é sensível à aspereza - a barbara dictio, que a substituição do acento causa (por exemplo, Salmos 20, 28, 30, 31, 42 etc.). As melodias de 1562 também fazem uso de síncopes, mas elas ocorrem apenas em conexão com a rima masculina (por exemplo, Salmos 60, 61, 80, 85, 90, 105).

Outra característica das melodias de 1562 é o uso frequente de repetições de tetracord, ascendente (Salmo 55) e descendente (49, 54, 56) ou em combinação (Salmos 94, 102, 150). Não menos característica é a coincidência do hexachordum naturale com o hexachordum molle, que ocorre inesperadamente no espaço de algumas notas, o que causa, como é chamado mais tarde, um movimento cromático (Salmos 48, 59, 80, 88, 112, 148 149). Por exemplo, Salmo 88

linha 3: b b flat
par - vien - ne ce dont je to pri - e
ou no Salmo 112 a linha 2/3:
b b flat et s'a don - ne Du tout

O compositor está bem à vontade na polifonia, que aparentemente está a partir de certos fragmentos melódicos, que podem ser combinados como contraponto invertível. Um exemplo típico disso é o Salmo 99, que é o contraponto do Salmo 47 de Bourgeois. Veja também o Salmo 54, a primeira e as últimas linhas que podem ser combinadas com a quarta; e o Salmo 89, linha 5, contra 4.

Também alguns dos Salmos de 1562 são inspirados no antigo repertório: o Salmo 55 está intimamente relacionado ao hino “Lauda Sion Salvatorem”, o Salmo 58 é uma reminiscência do Credo III. O Salmo 141 é uma transcrição notável do hino “Conditor alme siderurn”, e a melodia da sequência 3 “Victimae paschali laudes” forma a base do Salmo 80. Por meio de notas - como a Biblia pauperum fez por meio de figuras - A Páscoa cristã está ligada à Páscoa judaica, uma inspiração que só pode vir a um autor que igualmente se sente à vontade na composição musical, como nas convoluções da exegese bíblica.

O que resta é uma discussão sobre as contas do Hôpital. Dos arquivos do Estado em Genèva, Arch. Hosp Hj2 o seguinte:

Fol. 58. Despesas extras referentes ao mês de junho de 1561 ao Sr. De La Court pela cópia dos Salmos do Sr. De Bèza para enviá-los aos tribunais: 12 fl. 6 st.; para si pela cópia do privilégio dos referidos Salmos: 8 st.

Fol. 58. de volta. A Maistre Pierre por colocar música nos Salmos: 10 fl.

Fol. 59 frente. Despesas extras com os pobres no mês de Julho de 1561. Pagamento ao Sr. De Bèza pelo que deu ao precentor Maistre Pierre por colocar música nos Salmos, além dos ganhos acima mencionados 20 fl., 5 st.

Parece que a conclusão do Saltério era de interesse tanto para a igreja quanto para a cidade, por que o pagamento aos cooperadores de Bèza provinha de receita pública geral? O aumento do valor pago a Maistre Pierre não está relacionado ao seu salário regular, muito menos aos subsídios incidentais em dinheiro ou em trigo, que o Conselho concedeu aos seus precursores. Poderia aqui dizer respeito a Pierre Dagues, cujo ensino e falta de zelo eram repetidos assuntos de advertência, e até mesmo de demissão. E Bèza seria o único a descobrir talentos em Dagues que permaneceram ocultos aos seus contemporâneos? Ele pagaria a ele uma quantia maior do que recebia por meio ano de trabalho a serviços prestados à cidade?

Por que essas decisões são tratadas diretamente por Bèza e pelo tesoureiro do Hôpital, sem deixar vestígios na deliberação do Conselho ou no registro do ministério dos pastores? É como se Bèza tivesse apenas obrigações pessoais e cuidasse dos assuntos por sua própria iniciativa. Ele, de fato, age por iniciativa própria, pois Bèza havia cedido os direitos autorais dos seus Salmos à diaconia, que administrava o Hôpital.

Antes de Bèza deixar Genebra rumo à Paris e Poissy, ele é reembolsado pelo que pagou a Maistre Pierre. Ele parte em 16 de Agosto. No dia 31 de Agosto, sabe-se que "Maistre Pierre Davantès, morador de Genebra, professor ..., morre de febre contínua aos 36 anos". Bèza recebeu a notícia numa carta de Calvino em 3 de Setembro.

Enquanto não encontrarmos provas irrefutáveis, a questão do sobrenome de Maistre Pierre permanecerá em aberto, embora uma série de pistas aponte para Davantès.



EDITORIAL NOTES

1. Tetrachords são as duas metades dos modos que são exatamente semelhantes na ordem dos tons e semitons. Por exemplo, os dois tetrachords no modo dórico são: D-E-F-G e A-B-C-D.

2. Um hexachord é um grupo de seis notas consecutivas que são consideradas como uma unidade. Os hexachords foram usados entre os séculos 11 ao 17 para fins de observação - não muito diferente do sistema móvel dó atualmente. Havia três hexachords: hexachordum naturale, começando em C, o hexachordum none, começando em F, e o hexachordum durum, começando em G. Seria observado que os três hexachords se sobrepuseram no intervalo, e um cantor teria que passar de um hexachord para outro. Essa mudança entre hexachords foi chamada de mutação.

3. Uma sequência é um tipo de hino que teve origem na interpolação em alguns dos elementos musicais da liturgia medieval. A sequência (de sequi = seguir) costumava seguir Gradual e Alleluia, e tipicamente era melismática: ou seja, muitas notas foram definidas para apenas uma sílaba. A melodia resultante foi subsequentemente definida para diferentes palavras de maneira silábica: uma nota por sílaba. Assim, a sequência evoluiu como um hino independente, que se tornou especialmente popular nos séculos 11 e 12.


Pierre Pidoux, “History of the Genevan Psalter – Part 2” in: Reformed Music Journal Volume 1, No. 1 January, 1989. Acessado em https://spindleworks.com/library/Pidoux/History_Genevan_Psalter.html em 12/10/2019.