27 dezembro 2019

A Convocação da Assembleia de Westminster - por John Murray

Deve ser aceito, sem medo de inteligente contradição, que a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos Maior, e Menor, são as melhores formulações de credo da fé cristã que a igreja de Cristo já produziu. Isso não é negar que, em certos aspectos, alguns outros credos podem superar esses Padrões de Westminster, nem significa que esses padrões tenham atingido tal grau de perfeição que eles não possam, possivelmente, serem melhorados. Mas isso significa que eles são as mais perfeitas exibições de credo que possuímos da verdade revelada na Escritura Sagrada. Muitas pessoas estão familiarizadas com a Confissão e os Catecismos e ainda sabem muito pouco sobre a história da Assembleia que produziu esses documentos.

Um dos Parlamentos mais importantes que existiu na Inglaterra foi o chamado Parlamento Longo. Ele continuou de Novembro de 1640, até que foi dissolvido por Oliver Cromwell em Abril de 1653. Este Parlamento foi responsável pela convocação da Assembleia dos teólogos de Westminster.

Logo depois que o Parlamento Longo iniciou o seu trabalho, a Câmara dos Lordes nomeou uma comissão composta por dez bispos e vinte nobres para considerarem todas as inovações na igreja concernentes à religião. No outono e inverno de 1641, foi preparada o que é conhecido como a Grande Remonstrância da Câmara dos Comuns. Nesse documento expressou-se o desejo de que houvesse “um sínodo geral dos mais importantes, piedosos, eruditos e sensatos teólogos desta ilha, auxiliados por alguns participantes estrangeiros que professam a mesma religião conosco, a considerar todas as coisas necessárias para a paz e bom governo da Igreja”.

Em 1642, uma declaração do Parlamento da Inglaterra foi enviada à Assembleia Geral da Igreja da Escócia. Esta declaração possuía um apelo de prevenção contra a guerra civil. A resposta da Assembleia Geral da Igreja da Escócia lamentou o atraso com que a reforma da religião progrediu, e sustentou que a religião não é apenas o meio do serviço de Deus e a salvação das almas, mas também "a base e o fundamento dos reinos e dos estados". Também reiterou o apelo "de que em todos os domínios de sua Majestade poderia haver uma Confissão de Fé, um Diretório de Adoração, um Catecismo público e uma forma de Governo da Igreja".

Em 19 de abril de 1642, a Casa dos Comuns ordenou que os nomes dos teólogos que seriam consultados fossem apresentados. Em menos de uma semana, essa lista foi concluída. Ela consistia de dois teólogos de cada condado da Inglaterra, dois de cada universidade, dois das Ilhas do Canal, um de cada condado do País de Gales e quatro da cidade de Londres.

[O TEXTO CONTINUA AQUI]

25 dezembro 2019

A PCUSA, a IPB e o abandono da prática da subscrição integral

A PCUSA é um exemplo de como a apostasia ocorreu lentamente com o abandono da subscrição integral. Ela primeiro permitiu a subscrição com escrúpulos, ou seja, desde que o subscritor declarasse as suas discordâncias e exceções de crença com os Padrões de Westminster, ele poderia, se aprovado pela comissão de exame, ser ordenado. Em seguida, ela permitiu que os seus presbitérios decidissem pela subscrição integral ou ampla, conforme a conveniência, ou decisão conciliar regional. Depois, a Assembleia Geral passou a reinterpretar declarações doutrinárias dos Padrões de Westminster que conflitassem com as mudanças da denominação.[1] O próximo passo foi a anulação da obrigatoriedade da subscrição, eliminando a necessidade de penas dos tribunais conciliares, em caso de negação de doutrinas essenciais. E, por último, a PCUSA procurou redefinir-se teologicamente na Confissão de 1967, que representou uma ruptura final com os Padrões de Westminster.[2] Assim, qualquer oficial, ou concílio, poderia assumir crenças e práticas completamente discordantes, sem o risco de sofrer intervenções ou a disciplina eclesiástica.[3]

A IPB “ainda” oficialmente adota a subscrição integral como modalidade de uso de seus Padrões de Fé.[4] Infelizmente estamos seguindo os passos da nossa igreja-mãe, a PCUSA, ao negar o significado original intencionado pelos teólogos da Assembleia de Westminster. Não estamos coerentemente praticando, em nosso concílio maior, a submissão integral aos nossos Padrões de Fé. Um cenário de caos está se criando para a completa negação desta modalidade de subscrição. Cada vez mais são tomadas decisões que diluem, reinterpretam afrouxando, ou alterando o significado original dos nossos documentos doutrinários.

As decisões conciliares somente são legítimas se estiverem de acordo com a nossa confessionalidade, fora disso, é apostasia.

NOTAS:
[1] Um exemplo recente desta prática ocorreu com a reinterpretação da Pergunta 158 do Catecismo Maior de Westminster, em sua Reunião Ordinária do Supremo Concílio de 2018. O ato ocorreu, hermeneuticamente, desprezando o sentido intencional dos autores do texto original, e oferecendo um significado estranho à Pergunta 158, mediante argumentos igualitaristas, sociológicos e pragmáticos para favorecer a pregação feminina. O uso do termo office [ofício, ou ministério] no texto original indica “uma posição ou cargo na igreja, especialmente de caráter público, a que está obrigado a certas tarefas; um cargo de confiança, autoridade ou serviço na igreja.” Chad Van Dixhoorn, “Glossary”: office, in: The Minutes and Papers of the Westminster Assembly 1643 1652 - Introduction (London, Oxford University Press, 2012), vol. 1, p. 237. Veja sobre a tradução - https://www.academia.edu/35814174/Catecismo_Maior_de_Westminster_Perg._Resp._-_158
[2] R. Scott Clark observa que “com a adoção da Confissão de 1967, que suplantou qualquer autoridade remanescente que os Padrões de Westminster ainda tinham até aquele momento, todos os documentos confessionais foram reduzidos, nos segundos votos realizados na ordenação ministerial, como a mera ‘orientação’, a ‘históricas e fiéis testemunhas da palavra de Deus’.” Recovering the Reformed Confession – Our Theology, Piety, and Practice (Phillipsburg, P&R Publishing, 2008), p. 167.
[3] A irreversibilidade do seu desvio confessional continuou ao redefinir, em sua Assembleia Geral de 1972, o entendimento sobre “Lealdade Doutrinária” tornando-a ampla e relativizada. Entretanto, nessa decisão ela também redefine o significado e lugar da Escritura Sagrada como “regra de fé e prática”, nega a sua infalibilidade, oficializa a subscrição ampla, e declara que o ato de submeter-se aos Padrões de Westminster é “na situação atual, muito mais ambíguo, e se ainda pode ser útil dependerá em parte do grau de unanimidade teológica agora desejada pela igreja.” Morton H. Smith, How is the gold become dim – The decline of the Presbyterian Church, U.S., as reflected in its Assembly Actions (Greenville, Southern Presbyterian Press, 3ª edição, 1973), p. 226. Veja também Gary North, Crossed Fingers - How the Liberals Captured the Presbyterian Church (Tyler, Institute for Christian Economics, 1996). Os antigos liberais, os "reformados não-confessionais" e os evangelicais pragmáticos têm algo em comum: eles rejeitam a subscrição integral e qualquer definição doutrinária clara e estrita.
[4] SC-2014 Doc. XL: Quanto ao documento 193 - Consulta para que se envide esforços para melhor definição sobre confessionalidade em nossa Igreja. CONSIDERANDO QUE [...]. O SC/IPB 2014 RESOLVE: 1. Quanto à pergunta “Há diferença nos termos lealdade e fidelidade, como alguns argumentam?”, responder que não há diferença; 2. Quanto à pergunta “O juramento de lealdade aos Símbolos de Fé adotados pela IPB, feito pelos oficiais, se refere a cada capítulo e seção, ao sistema geral, como um todo, tal qual apresentados por eles?”, responder que a reafirmação no momento da ordenação implica na aceitação integral, em todos os seus termos, dos Símbolos de Fé, conforme CI-IPB Artigo 119, parágrafo único; 3. Quanto à pergunta “Qual é o exato significado da expressão ‘fiel exposição do sistema de doutrina’ contido no juramento prestado por todos os oficiais presbiterianos no momento de sua ordenação?”, responder que o significado da expressão “fiel exposição do sistema de doutrina”, significa uma correta interpretação das Escrituras Sagradas, Antigo e Novo Testamento, com uma apresentação sistematizada.

Escrito por Rev. Ewerton B. Tokashiki

20 dezembro 2019

O que é Theotokos?

O termo grego Theotokos se relaciona estreitamente com o tópico de Cristologia. Apesar da expressão se referir diretamente à pessoa da mãe do Redentor, na verdade indica, segundo o Credo de Calcedônia, a afirmação da união das duas naturezas e a declaração que ele é Deus-homem [theantropico]. Então, negar o termo, implica numa negação dogmática da ortodoxia cristológica. Esse foi o erro denunciado em Nestorius.

É verdade que há muita e desnecessária confusão no uso deste termo, tanto por papistas como por protestantes. Os católicos romanos tendem a erros devido à tradição da mariolatria [vide* hiperdulia], que se desenvolveram nos escritos de teólogos do período da patrística e medievais, e solidificaram-se nas decisões conciliares de Trento, Vaticano I e Vaticano II.

Os protestantes incorrem também, em geral, em erros. O equívoco destes é por não entenderem, ou não interpretarem, corretamente o contexto histórico e dogmático da controvérsia nestoriana, que culminou no Concílio de Calcedônia [451 d.C.], e talvez, também, por um errôneo sentimento anti-Maria. Entretanto, o risco aqui é alinhar-se com a heresia nestoriana, negando a tradição ortodoxa da Igreja Cristã.

Ambos os erros são perigosos e devem ser evitados. Assim, ao sermos ensináveis, espera-se que é melhor aprender com os melhores historiadores reformados na área de teologia histórica. Abaixo está o Credo de Calcedônia e, em seguida, duas boas definições sobre Theotokos. Espero que o assunto se esclareça um pouco mais, e ocorra o desafio de estudarmos melhor a teologia dos Pais da Igreja, bem como os concílios deste período e suas resoluções confessionais.

Declaração de Fé Calcedônia [451 d.C.]
(...) Todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial [hommousios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos]; um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indivisíveis;[1] a distinção da naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência [hypóstasis]; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.[1]

Philip Schaff nos oferece numa nota, após fornecer o texto do Credo em grego, latim, e sua tradução para o inglês, a seguinte explicação:
O predicado θεοτόκος, a portadora de Deus, Dei genitrix (al. quæ Deum peperit, ou desde divini numinis creatrix), é diretamente contra Nestorius, originalmente não pretendia exaltar a virgem Maria, mas afirmar a verdadeira divindade de Cristo e a realidade da encarnação. Basil de Seleucia: Θεὸν σαρκωθέντα τεκοῦσα θεοτόκος ὀνομάζεται. É imediatamente após qualificado pela frase κατὰ τὴν ἀνθρωπότητα (secundum humanitatem), em distinção de κατὰ τὴν θεότητα (secundum deitatem). Essa é uma limitação muito importante e necessária para se proteger contra a mariolatria e a noção pagã, blasfema e contraditória de que o Deus eterno, que não foi criado, pode nascer no tempo. Maria era a mãe não apenas da natureza humana de Jesus de Nazaré, mas da pessoa theantrópica de Jesus Cristo; ainda não da sua eterna divindade (the λόγος ἄσαρκος), mas de sua pessoa encarnada, ou o Logos unido à humanidade (o λόγος ἔνσαρκος). Do mesmo modo, o sujeito da Paixão era a pessoa theantrópica; todavia, não de acordo com sua natureza divina, que por si só, é incapaz de sofrer, mas de acordo com sua natureza humana, que era o objeto do sofrimento. Não há dúvida, porém, que os termos não bíblicos θεοτόκος, Dei genitrix, Deipara, mater Dei, que lembram uma das mães pagãs dos deuses, promoveram grandemente a mariolatria, mas que ajudaram a derrotar Nestório no Concílio de Éfeso, 431 d.C.. É mais seguro aderir à designação do Novo Testamento de Maria como μήτηρ Ἰησοῦ, ou μήτηρ τοῦ Κυρίου (Lucas 1.43).[2]

Richard A. Muller define, como um dos melhores historiadores contemporâneos, a expressão assim
Theotokos: portadora de Deus; um título dado à virgem Maria pelos teólogos alexandrinos e capadócios dos séculos IV e V, baseado numa communicatio idiomatum in abstracto (q.v.) a comunicação dos atributos divinos à humana. A negação polêmica de Nestorius do título Theotokos acusando-a de ser uma heresia ariana e apolinariana, provocou a controvérsia que levou ao Concílio de Calcedônia (451 d.C.).[3]

A Cristandade tem a unidade na crença comum dos três primeiros Credos. Estamos unidos ao rejeitar as heresias que estes documentos combateram e, ainda, é nossa batalha pela fé na afirmação da soberania de Cristo (Jd 3-4). Não precisamos negar a doutrina calcedônica acerca de Theotokos, mas compreendê-la corretamente, sem correr o risco de errar, nem criar uma aparência do mal sujeita à acusação de heresia, ou mesmo gerar confusões naqueles que desconhecem o assunto.

NOTAS:
[1] Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), p. 101.
[2] Philip Schaff, The Creeds of Christendom (Grand Rapids, Baker Books, 2006), vol.
[3] Richard A. Muller, “Theotokos” in: Dictionary of Latin and Greek Theological Terms (Grand Rapids, Baker Books, 2007), vol. 2, nota 3, p. 64.

18 dezembro 2019

Dezoito coisas para orar por sua igreja

por Jonathan Leeman


Você lê a sua Bíblia e observa como Paulo faz orações tão ricas e saturadas pelo reino pelas igrejas?
1. Para a igreja em Tessalônica: “Por isso também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a obra da fé com poder” (2Ts 1.11; veja também 1Ts 1.9-13).
2. Para a igreja em Colossos: “Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” (Cl 1.9-10).
3. Para a igreja em Éfeso: “Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações; para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação” (Ef 1.16-17; veja também Ef 3.14-21).
4. Para a igreja em Roma (Rm 15.14-33) e à igreja em Filipos (Fp 1.9-11).

Levando a carga
Para nós, é relativamente fácil orarmos por nós mesmos, pelos nossos familiares e por nossos amigos. Mas como podemos aprender a orar com maior fervor e consistência pelas nossas igrejas locais?

Por um lado, devemos simplesmente começar orando – e incentivando os outros a fazer o mesmo.

Para ajudar, aqui estão dezoito coisas pelas quais você pode orar por sua igreja. Não há tanta riqueza nelas como nas orações de Paulo, porque eu queria mantê-las simples e adequadas ao Twitter (também por não estar muito inspirado). Ainda assim, talvez você possa imprimir este artigo e orar por dois ou três dos pontos abaixo na próxima semana – seja num momento de sossego seja na mesa de jantar com a família.

Além disso, considere copiar e colar suas orações preferidas no Twitter ou no Facebook, com o título “Ore por sua igreja: ...”. Não insira o link do artigo; você não tem espaço suficiente e o ponto da questão não é esse. O objetivo é usar sua rede social para incentivar outras pessoas a orarem por suas igrejas.

Em um dia de glória, possivelmente, veremos todo o bem realizado pelos crentes que foram mais determinados em orar por suas igrejas. Quem sabe?

Sobre o que orar
1) Que tenhamos unidade em meio à adversidade – amando aqueles com quem não temos nada em comum senão o evangelho.
2) Que se forme uma cultura de discipulado, na qual fazer discípulos é visto como uma parte comum da vida cristã.
3) Que os presbíteros fiéis usem as Escrituras para treinamento dos membros na obra do ministério.
4) Que uma fome de estudar o evangelho surja entre os membros, para que eles guiem e guardem nele uns aos outros.
5) Que relacionamentos transparentes e significativos se tornem normais e singulares.
6) A pregação da Palavra de Deus – que seja biblicamente cuidadosa e cheia do Espírito Santo.
7) Que os presbíteros permaneçam distantes da reprovação, preservados longe da tentação, complacência, ídolos e mundanismo.
8) Que as músicas da igreja ensinem os membros a confessar, lamentar e louvar biblicamente.
9) Que as orações sejam cheias pretensões bíblicas, honestidade e humildade.
10) Que os membros adultos trabalhem para discipular adolescentes, e não apenas os entretenham com as programações.
11) Que os professores de crianças cresçam em dedicação à Palavra de Deus, mesmo se ninguém os observar.
12) Que ela se torne distinta do mundo em amor e santidade, mesmo quando envolve pessoas de fora.
13) Que os membros compartilhem o evangelho essa semana – e que vejamos mais conversões.
14) Que os membros estejam preparados para a perseguição, lembrando-se de abençoar, e não amaldiçoar, seus perseguidores.
15) Que as esperanças de mudança política sejam estendidas pela esperança do céu.
16) Que o ato de dar seja fiel, além de alegre, consistente e sacrificial.
17) Que mais membros usem a sua carreira profissional pra levar o evangelho em locais onde ele nunca esteve.
18) Que os irmãos deem o seu melhor no trabalho durante essa semana.

Você pensou em algo que não foi incluso? Então, ore e compartilhe. Esta lista não é oficial, como as “dezoito coisas mais importantes a serem levadas em oração pela igreja”. Ela é simplesmente o que alguém pensou enquanto estava sentado na cadeira do escritório.

O ponto é que todos nós devemos intencionalmente orar mais por nossas igrejas e também incentivar os outros a fazer o mesmo.

Traduzido por Daniel Tanure
Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki

12 dezembro 2019

A compaixão deve ser sábia - Uma abordagem no trabalho diaconal

por John Sittema


Não são somente os diáconos que demonstram misericórdia, mas toda a igreja é chamada para esta tarefa. Levar a misericórdia é missão de toda a igreja, e de cada crente. O serviço especial que realizam os diáconos é estimular e coordenar a prática da misericórdia pelos demais membros do corpo. Todavia, às vezes este assunto da misericórdia chega a complicar-se. Os diáconos de minha igreja pedem-me conselhos para resolver problemas em seu trabalho. Estes problemas podem ser o orgulho que alguns têm, que lhes impede receber a ajuda que necessitam, ou o contrário - uma atitude de querer receber tudo sem esforço pessoal, o que contribui para a preguiça e perda da autoestima. Se acrescentar o ciúme e a avareza, pronto se poderá perceber alguns dos problemas que enfrentam os diáconos.

Este artigo tem como propósito dar alguns conselhos para ajudar aos diáconos a realizarem o seu trabalho nestes tempos em que muitos estão caindo no consumismo e no materialismo. Serão citadas muitas passagens das Escrituras, e um estudo mais detalhado de cada passagem seria necessário para uma maior compreensão do ponto. Rogo a Deus que este artigo estimule a discussão entre os diáconos, e que ajude a esclarecer assuntos chaves nos desafios que enfrentam.

A misericórdia é mais do que uma esmola

A igreja guiada por seus diáconos é chamada a praticar a compaixão, o amor e o apoio para com aqueles que levam pesadas cargas em suas vidas. Esta ajuda pode ser monetária, ou “um vaso de água” (Mc 9.41), ou uma palavra de ânimo em nome de Jesus. Nalgumas ocasiões as pessoas enfrentam um inimigo mais demolidor - a perda da esperança: “O coração alegre constitui bom remédio; mas o espírito triste, seca os ossos” (Pv 17.22). Nestes casos, serão urgentes as visitas fiéis pelos diáconos (e também pelos presbíteros e pastores!), abrindo a Palavra de Deus com eles. Por outro lado, a tarefa dos diáconos com frequência inclui dar o alerta de advertência, ou prover uma admoestação – coisa que muitos não gostam. Todavia, esta tarefa em particular provê uma faceta importante a longo prazo.

Uma boa passagem é 1Ts 5.12-15, onde Paulo disse que “admoestem os insubmissos, consoleis os desanimados ...”

A igreja não é um partido político socialista

A igreja recebe ofertas do povo de Deus, e deve usá-las com benevolência. Mas recordemos que a meta não é a “redistribuição das riquezas”. Pelo contrário, a meta é o avanço do reino de Deus, tanto no sentido amplo, como também no sentido individual (veja At 6.1-7 e 2Co 8-9. Em ambos os casos o ministério diaconal ajudou que a igreja crescesse e que o reino de Deus se estendesse).

Certamente as Escrituras fazem um chamado aos ricos que sejam generosos com os necessitados (1Tm 6.18); mas, também chamam tanto aos ricos como aos pobres para o contentamento, e que não se queixem diante sua condição (1Tm 6.7-8). Hoje em dia o descontentamento está transbordando - embora eles tenham “sustento e abrigo” muitos não estão felizes. Este é um problema espiritual com consequências sérias: “Porque os que querem enriquecer caem em tentação e ciladas, e em muitas cobiças néscias e danosas, que afundam os homens em destruição e perdição” (1Tm 6.9). Recordemos que sempre teremos os pobres entre nós - em parte para provar o coração dos ricos, e também para assegurar que todos tenhamos nossa meta em Jesus, e não nas possessões materiais. Os diáconos devem focar nos corações, não em algum sentido humano da “repartição justa” dos bens.

Mantenhamos uma abordagem bíblica do sofrimento

O sofrimento dói, mas o sofrimento não prejudica. Esta distinção é crucial. Cristo nos chama a aceitar os sofrimentos como mestre da alma. Em muitas partes do Novo Testamento há o ensino que os sofrimentos humilham aos orgulhosos (algo que todos necessitamos!), nos instrui a paciência, produzem perseverança e despertam a esperança.

Quando o crente clama ao Senhor debaixo de sofrimento, outros cristãos apressam-se para ajudar. Mas quando alguns assumem uma atitude de amargura diante do sofrimento, e exigem que os diáconos removam a dor - na realidade estão desafiando a Deus. Apegamos e confessamos ao Catecismo de Heidelberg que “as riquezas e a pobreza vêm não como pelo azar, mas por seu conselho e vontade paternal” (#27). Os diáconos devem entender que sua missão não é aliviar o sofrimento. Antes, a sua tarefa é ajudar a interpretar o sofrimento e ajudar a passa-lo (não evitar), e a crescer por haver passado. Se apontamos mal neste assunto, cortaremos os bons propósitos do Senhor.

Seria como não deixar que o nosso filho aprenda as duras lições da vergonha e do castigo quando descoberto roubando algo duma loja. Seria como o pai ou mãe que não disciplina ao seu filho somente porque chora. Passagens importantes são Hb 12.7ss; Tg 1.2-12; 1Pe 4.12-19.

Não seja partícipe do néscio em sua insensatez

A insensatez tem consequências. Escolhas néscias para gastar o dinheiro, decisões néscias na criação dos filhos, e a conduta moral néscia - todos colhem muitos problemas. As Escrituras nos dizem que não sejamos partícipes com os néscios: “Nunca respondas ao néscio de acordo com a sua tolice, para que não sejas também como ele” (Pv 25.4). Imaginemos uma situação em que os diáconos recebem uma solicitação de assistência financeira de alguém que gastou milhares e milhares de reais com seu cartão de crédito, e tem sérios problemas em pagá-lo. Se a causa de seus problemas foi um furacão, um incêndio, ou uma dívida com gastos médicos - seria uma cosa. Mas outra coisa é o gasto desenfreado de dinheiro com as últimas modas, novos eletrodomésticos, equipamento eletrônico, etc. Não seria sábio oferecer ajuda financeira neste último caso. O que se deve prover é assistência diaconal em fixar prioridades e desenvolver a disciplina de manejar as prioridades. Passagens relevantes são: 2Ts 3.10; Gl 6.7ss; e Pv 16.25, 26; 17.15,16,18, 22; 18.6-7 e 19).

Mantenha a percepção de abordagem global

A instrução de At 6.3 requer que os diáconos sejam homens “cheios do Espírito e sabedoria”. Em 1Tm 3 exige homens que tenham sua casa em ordem, porque como cuidarão da casa de Deus? Por que encontramos estes requisitos? Não necessitam coletar a oferta nos dias de culto, nem mesmo que se fixe em que a usarão. Estes requisitos não têm sentido se a única coisa que os diáconos fazem é aliviar o sofrimento através de ajudas econômicas. A resposta deve ser óbvia para todos - isto NÃO é o trabalho dos diáconos! Pelo contrário, seu chamado é ajudar as pessoas a serem bons mordomos de suas vidas e recursos, a motivá-las para a generosidade, a evitar a cobiça e descontentamento, e a utilizar todos os seus recursos com sabedoria para o avanço do reino de Deus. A compaixão deve servir estes propósitos.

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki

09 dezembro 2019

A subscrição confessional integral

A "prática da subscrição confessional" é exigida nas denominações de linhagem reformada. A Igreja Presbiteriana do Brasil em sua tradição e constituição reconhece o uso da subscrição confessional como essencial à sua identidade denominacional. Entretanto, o tema "prática da subscrição confessional" é ignorado, mau compreendido, ou simplesmente desprezado por oficiais e concílios da nossa denominação. Obviamente isso acarreta enorme prejuízo em vários aspectos.

Este breve texto não objetiva esclarecer a natureza e implicações da subscrição integral. Apresento aqui apenas o que a nossa CI-IPB declara sobre o assunto e a interpretação do SC-IPB/2014.

Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, art. 1 declara que a IPB
“é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamentos e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve”.

Ainda no art. 119, parágrafo único, diz
“poderá o presbitério dispensar o candidato do exame das matérias do curso teológico; não o dispensará nunca do relativo à experiência religiosa, opiniões teológicas e conhecimento dos Símbolos de Fé, exigindo a aceitação integral dos últimos”.

SC-2014 Doc. XL: Quanto ao documento 193 - Consulta para que se envide esforços para melhor definição sobre confessionalidade em nossa Igreja.:
Considerando: 1) Que definições apresentadas nos dicionários de língua portuguesa, apontam que as palavras lealdade e fidelidade são sinônimas, conforme abaixo: “O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa [Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 1a. ed., 2009, p. 1163; 2]: lealdade s.f. (s XIII) 1. respeito aos princípios e regras que norteiam a honra e probidade; 2. fidelidade aos compromissos assumidos; 3. caráter do que é inspirado por este respeito ou fidelidade [...]. Fidelidade s.f. (s XIII) 1. característica do que é fiel, do que demonstra zelo, respeito por alguém ou algo; lealdade (f. ao rei) (f. religiosa). 2) Que a CI/IPB e os Princípios de Liturgia não apresentam diferenciação entre tais termos; 3) Que para o cumprimento da lealdade aos Símbolos de Fé, se requer fidelidade dentro de si e, consequentemente, não é possível ser leal sem ser fiel. O SC/IPB 2014 RESOLVE: 1. Quanto à pergunta “Há diferença nos termos lealdade e fidelidade, como alguns argumentam?”, responder que não há diferença; 2. Quanto à pergunta “O juramento de lealdade aos Símbolos de Fé adotados pela IPB, feito pelos oficiais, se refere a cada capítulo e seção, ao sistema geral, como um todo, tal qual apresentados por eles?”, responder que a reafirmação no momento da ordenação implica na aceitação integral, em todos os seus termos, dos Símbolos de Fé, conforme CI-IPB Artigo 119, parágrafo único; 3. Quanto à pergunta “Qual é o exato significado da expressão ‘fiel exposição do sistema de doutrina’ contido no juramento prestado por todos os oficiais presbiterianos no momento de sua ordenação?”, responder que o significado da expressão “fiel exposição do sistema de doutrina”, significa uma correta interpretação das Escrituras Sagradas, Antigo e Novo Testamento, com uma apresentação sistematizada.

Este texto esclarece o assunto aos que alegam ignorância, bem como adverte àqueles que menosprezam a sua importância. Que o Senhor Deus nos abençoe fazendo-nos homens honrados, de uma palavra firme, coerente e fiel ao que prometemos sob juramento a Ele.

"Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno." (Mateus 5.37)

24 novembro 2019

Pastores e Presbíteros nas Confissões Reformadas

1. A Primeira Confissão Helvética (1536)
18. A eleição dos ministros
Para esta função deve-se garantir que qualquer um que não esteja especializado na lei divina e de vida irrepreensível, e por um singular estudo do nome de Cristo, seja preparado e julgado um ministro da igreja; e por aqueles a quem a administração foi confiada pelo magistrado cristão em nome da igreja. Aquele que foi seguramente escolhido por Deus, no entanto, precisa apropriadamente aprovado pelo voto da igreja e pela imposição das mãos dos presbíteros (1 Tm 3; Lc 12; At 1; Tt 1).[1]


2. Confissão Londrina de John à Lasco (1551)
Entretanto, a profissão dos ministros da palavra consiste na obrigação da realização destes deveres: [...] 3. Que eles cuidem da Igreja, ao lado de seus presbíteros, em seu crescimento e edificação, por meio da admoestação, consolo, repreensão e o uso da disciplina eclesiástica de acordo com a palavra de Deus (2 Tm 4; 1 Co 5).[2]


3. Vallérandus Poullain: Confissão da Congregação Glastonbury(1551)
[no fim da confissão tem os nomes e ofícios subscrevendo o documento]
Subscrito pelo Pastor e Presbíteros da Igreja Francesa de Frankfort.
Valérand Poullain, Pastor da Igreja.
Jean Murellio, doutor.
Jacques Crucius.
Louis Castalio [Castellio]
Também subscrito pelos ingleses, exilados pela e da glória do Evangelho, em nome de toda a Igreja.
John MacBriar, Ministro.
John Stanton.
William Hammond.
John Bendal.
William Whittingham.[3]


4. Confissão da Igreja Italiana em Genebra (1558)
[o pastor da Igreja Italiana de Genebra era Lattanzio Ragnone, que pastoreou entre 1557 e 1559].
Quando há quatro anos atrás os presbíteros da Igreja Italiana que está entre nós, percebeu (pelo cheiro) que entre alguns do rebanho haviam perversas palavras sendo ditas contra o primeiro princípio da nossa fé acerca das três pessoas em uma essência de Deus, pareceu-lhes que não havia melhor remédio do que uma fórmula confessional esboçada para divulgar tanto quanto possível o veneno que estava escondido. Temos nisto inserido aqui vertido palavra por palavra em Latim, a qual poderá ser subscrita.[4]

Aprovamos, recebemos e confirmamos todas as estas coisas, com a condição de que aquele que dizer de outra forma será considerado um perjuro e infiel.
Joh. Sylvester Telius, aprovo a confissão escrita e detesto qualquer coisa repugnante a ela.
Fr. Porcellinus, recebo e aprovo tudo o que abrange na confissão escrita.
Jon. Valentinus Gentilis, aceito como está.
Hippolytus Pelerinus Carignanus, aceito como está.
Joh. Nicolas Gallus, aceito como está.[5]


5. Confissão Francesa (1559)
Artigo XXIX – Oficiais da Igreja
Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada por aquela disciplina que o nosso Senhor Jesus estabeleceu, de modo que existiria na igreja, pastores, presbíteros e diáconos, que a pura doutrina possa ter o seu curso, e os vícios serem reformados e suprimidos, que o pobre e outras pessoas aflitas sejam socorridas em suas necessidades, e que em nome de Deus possa existir santas assembleias em que tanto grandes como pequenos sejam edificados.[6]

Artigo XXXI – Oficiais eleitos
Cremos que não é legítimo para qualquer homem que pela sua própria autoridade tome para si o governo da igreja, mas que todo aquele que for admitido, o seja por meio de legítima eleição, se é possível realiza-la, que o Senhor a permita. Temos expressamente adicionado a exceção, porque, durante algum tempo (como ela está caído em nossos dias), o estado da igreja esteve interrompido, Deus levantou algumas pessoas, duma maneira extraordinária, para reparar as ruínas da igreja decaída. Mas independente de como acontecer, cremos que esta norma sempre continuará, que todos os pastores, presbíteros e diáconos terão um testemunho de seu chamado aos seus respectivos ofícios.[7]


6. A Confissão Valdense (1560)
A política da Igreja verdadeira
Cremos a respeito da verdadeira igreja, que ela deve ser governada de acordo com a ordem e política estabelecida pelo nosso Senhor Jesus Cristo, isto é, que precisa ser por ministros, presbíteros e diáconos, de modo que a pureza da doutrina possa obter plena realização e vícios sejam rejeitados e punidos, os pobres auxiliados em suas necessidades, e as pessoas reúnam-se em congregações em nome de Deus, onde grandes e pequenos sejam edificados.[8]

A eleição de pastores
Cremos que ninguém realizará o governo da igreja pela sua própria autoridade; antes, se fará uma eleição tanto for possível conforme a permissão de Deus. Adicionamos a isto a seguinte exceção: às vezes, é necessário, particularmente em nossos tempos, que Deus levante algumas pessoas de um modo extraordinário, de modo a edificar as igrejas novamente, que foram destruídas e arruinadas. Cremos que, em geral, podemos contar sempre com esta regra: que todos os ministros, presbíteros e diáconos têm testemunho de serem chamados aos seus ofícios.[9]


7. A Confissão de Theodore Beza (1560)
27. Do ofício do pastor e mestre
O cargo e ofício daqueles, a saber dos pastores, é que sejam diligentes e ocupem-se da sua doutrina (sob a qual também temos compreendido os sacramentos) e da oração (At 6:4), sob a qual também entendemos a benção dos casamentos dos crentes de acordo com o antigo costume da igreja.[10]

32. O terceiro grau dos ofícios eclesiásticos é a jurisdição e o ofício de presbíteros
O terceiro estado do ofício eclesiástico reside na jurisdição espiritual que foi ordenada àqueles que foram particularmente chamados nos escritos dos apóstolos e antigos escritores (tanto em concílios como em decisões canônicas) presbíteros, isto é, seniores ou anciões; os quais também, às vezes, são chamados de governos por são Paulo (1 Co 12:28), e foram escolhidos não pelo clero, mas pelo todo o corpo da igreja.[11]


8. Confissão Belga (1561)
Artigo XXX
Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada conforme a ordem espiritual, que nosso Senhor nos ensinou na sua Palavra. Deve haver ministros ou pastores para pregarem a Palavra de Deus e administrarem os sacramentos; deve haver também presbíteros e diáconos para formarem, com os pastores, o conselho da igreja. Assim, eles devem manter a verdadeira religião e fazer com que a verdadeira doutrina seja propagada, que os transgressores sejam castigados e contidos, de forma espiritual, e que os pobres e os aflitos recebam ajuda e consolação, conforme necessitam.
Desta maneira, tudo procederá, na igreja, em boa ordem, quando forem eleitas pessoas fiéis, conforme a regra do apóstolo Paulo na carta a Timóteo.[12]

Artigo XXXI
Cremos que os ministros da palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para seus ofícios mediante eleição legítima pela igreja, sob invocação do nome de Deus e em boa ordem, conforme a palavra de Deus ensina. Por isso, cada membro deve cuidar para não se apoderar do ofício por meios ilícitos, mas deve esperar a hora em que é chamado por Deus, a fim de ter, assim, a certeza de que sua vocação vem do Senhor. Quanto aos ministros da Palavra, eles têm, onde quer que estejam, igual poder e autoridade, porque todos são servos de Jesus Cristo, o único Bispo universal e o único Cabeça da igreja. Além disto, a santa ordem de Deus não pode ser violada ou desprezada. Dizemos, portanto, que cada um deve ter respeito especial pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja, em razão do trabalho que realizam. Cada um deve viver em paz com eles, tanto quanto possível, sem murmuração, contenda ou discórdia.[13]


9. A Confessio Catholica Húngara (1562)
Finalmente, estabelecendo todo o ministério, a suma destas doutrinas. Este teste é conduzido publicamente na presença da igreja por pastores treinados e instruídos e outras pessoas, enquanto dois ou três presbíteros ou dois pastores próximos se reúnem. Não estamos obrigados a esta ordenação com o tribunal romano (curia), aos bispos e cardeais, ou a qualquer lugar ou pessoa; mas permitimos que ela aconteça livremente em cada igreja de Cristo.[14]


10. Confissão de Tarcal (1562) e Torda (1563)
Artigo XIV. Concernente ao ofício de pastor e doutor
Os ofícios de pastor e doutor têm em comum que eles estão engajados na proclamação da Palavra e na realização das orações, e incluímos a administração dos sacramentos, a benção matrimonial, a visitação e consolação aos doentes e todos os demais trabalhos como é costume na igreja (At 6:4; 1 Tm 4:13).[15]

Artigo XX. Concernente a espécie de ofícios na igreja que estão envolvidos no governo para o louvor e honra da Igreja
Vejamos agora a espécie de ofícios eclesiásticos que para o louvor e honra da igreja, lidam com o governo. Isto é confiado aos presbíteros (conselheiros ou anciãos, como se diz), aqueles a quem os apóstolos nomeiam nalguns lugares de “governos” e são particularmente assim chamados (1 Co 12:28; Rm 12:8); e a assembleia a quem Cristo chama de igreja (Mt 16:18), assim eles têm a honra do governo da igreja, de modo poderia suficientemente agradável para ser completamente cortado da organização da igreja em Israel. Presbíteros eram escolhidos pelo voto ou meramente pela aprovação de toda a assembleia, como é claramente percebido nos escritos de Ambrósio e Cipriano, que queixam de que alguns se aproveitam da autoridade deles.[16]

Artigo XXI. Concernente à ordem das coisas a serem realizadas no concílio ou assembleia de presbíteros
Apesar da honra do presbítero ser a mesma do pastor, como o seu ofício é um e o mesmo, mesmo assim, é necessário que todos os seus concílios sejam governados por uma certa ordem. Por esta razão, vemos que na assembleia apostólica em Jerusalém, o apóstolo Pedro foi o primeiro entre os demais (At 1:15; 2:14; 15:7).[17]


11. A Segunda Confissão Helvética (1566)
Artigo XVIII. Dos ministros da igreja, a sua instituição e ofícios
Além disso, os ministros do novo povo são designados por diversos nomes. São chamados apóstolos, Profetas, evangelistas, bispos, presbíteros, pastores e mestres (1 Co 12:28; Ef 4:11). Os apóstolos não permaneciam num lugar determinado, mas por todo o mundo iam congregando diversas igrejas. Uma vez estas estabelecidos, deixou de haver apóstolos, e, em seu lugar, apareceram pastores, cada um em sua igreja. Nos primeiros tempos eram videntes, conhecendo o futuro; mas também interpretavam as Escrituras. Tais homens são encontrados também hoje. Os escritores da história evangélica eram chamados Evangelistas; mas eram também arautos do Evangelho de Cristo; como o apóstolo São Paulo ordena a Timóteo: “Faze o trabalho de evangelista” (2 Tm 4.5). Bispos são os supervisores e vigias da Igreja, que administram o alimento e outras necessidades da vida da Igreja. Os presbíteros são os anciãos e, por assim dizer, os senadores e pais da Igreja, governando-a com sadio conselho. Os pastores não só guardam o rebanho do Senhor, como também providenciam as coisas necessárias a ele. Os mestres instruem e ensinam a verdadeira fé e piedade. Portanto, os ministros da Igreja podem, agora, serem chamados de bispos, presbíteros, pastores e mestres.[18]

Ora, o mesmo e igual poder ou função é concedido a todos os ministros na Igreja. Certamente, no princípio os bispos ou presbíteros governavam a Igreja em comum; nenhum homem se elevava acima de qualquer outro, ninguém usurpava maior poder ou autoridade sobre seus companheiros bispos. Lembrados das palavras do Senhor “aquele que dirige seja como o que serve” (Lc 22:26) conservavam-se em humildade, e pelo serviço mútuo ajudavam-se no governo e na preservação da Igreja.[19]


12. A Confissão de Antuérpia (1566)
Creio que a igreja tem um duplo governo, aquele que concerne o serviço à Deus, sendo governado por uma determinada ordem que é ordenada aos ministros, presbíteros e supervisores, diáconos, guardiões da comum ordem e disciplina; o segundo dos magistrados ordenados por Deus para a lei civil executar e administrar, a quem rendemos honra, amor e obediência em todas as coisas que não são contrárias à Deus e à salvação de nossas almas (Rm 13:1; Tt 3:1; 1 Pe 2:13; Lc 19:11; Mt 1:6ss).[20]


13. O Sínodo de Gönc (1566)
3. E, como subscrevemos nos dois sínodos a confissão da igreja de Genebra, que foi diligentemente elaborada por Theodore Beza, o ministro daquela igreja, eles deveriam ser zelosos ao comparar, ler e entender aquela confissão. Não porque ela foi escrita por Beza, mas por ela estar em concordância com a Escritura Sagrada. Também nos familiarizamos com o Catecismo de Calvino, que foi recebido pelo sínodo anterior com geral aprovação.[21]

22. Os ministros da igreja não deveriam ousar faltar às reuniões dos sínodos. Àqueles que não estiverem presentes deveria exigir que oferecessem a verdadeira razão da sua ausência aos seus presbíteros.[22]


14. Documentos do Sínodo de Debrecen (1567)
XX. Os presbíteros precisam ser líderes não somente na igreja, mas também do clero. Desejamos não somente fazer dos pastores a liderança da igreja, mas também, de acordo com a Palavra de Deus, fazer dos supervisores e presbíteros a liderança do clero e presidir na assembleia de pastores. Deixem que os pastores guiem na verdadeira e sólida doutrina, convencendo os adversários e replicando aos oponentes (1 Tm 1; Tt 1).[23]

XXVII. Que todas as pessoas se submetam e obedeçam aos seus bispos, presbíteros e prelados devotamente no Senhor; que os presbíteros, entretanto, não governem sobre a ordem eclesiástica da maneira dos soldados e tiranos, como no reino do Anticristo. Como está escrito: “nem como dominadores da herança do Senhor” (1 Pe 5:3), mas “sejam submissos para com eles que vão adiante de vocês” (Hb 13:17).[24]


15. Consensus Sandomierz (1570)
Há também bispos ou pastores que não somente governam e os sacramentos para a igreja de Deus, mas também diligentemente cuidam das necessidades de todas as suas congregações. Presbíteros ou anciãos foram escolhidos entre os irmãos, de modo que eles podem servir aos mais jovens com os seus conselhos vigiar a sua prática e comportamento.[25]


16. A Confissão de La Rochelle (1571)
Cremos, quanto à verdadeira igreja, que ela deveria ser governada de acordo com a ordem estabelecida pelo nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, sendo por pastores, supervisores, diáconos, de modo que a pureza da doutrina seja preservada, que os pecados sejam corrigidos e restringidos, que o pobre e todos os aflitos encontrem auxílio para as suas necessidades, que as assembleias sejam sustentadas em nome de Deus, e que os adultos reunidos com as crianças sejam edificados.[26]


17. Catecismo de Craig (1581)
Q. E se estivermos bem instruídos pelos nossos pastores?
R. Precisaremos continuamente desta instrução até o fim.

Q. Por que se somos suficientemente instruídos?
R. Deus estabeleceu esta ordem em sua igreja para que continuamente a nossa necessidade seja instruída.

Q. O que concluímos disso?
R. Que os ministros ou pastores são-nos necessários.[27]

[...]

Q. Quem administrará os sacramentos?
R. Somente o ministro da Palavra de Deus.[28]

[...]

Q. Por qual motivo alguns homens poderiam ser excluídos do sacramento? (Mt 18:17)
R. Pelo julgamento dos presbíteros da igreja.

Q. Por quem e quando poderiam tais pessoas serem admitidas? (1 Co 1:7).
R. Pelos presbíteros, após examinarem o seu arrependimento.

Q. O que é o ofício deste presbiterato?
R. Eles devem supervisionar os costumes dos homens e o exercício disciplinar.[29]


18. Sínodo Geral de Herborn (1586)
Primeira sessão das 6 às 10h
7. De modo que o ofício da pregação e o ofício regente, tanto quanto possível, como é exigido, sejam promovidos por meio de admoestações e consolação.[30]

Segunda sessão das 15 às 18h
1. Quanto ao artigo dos ofícios, que são tanto: (1) os ministros [pregadores]; (2) os professores (doutores); (3) os presbíteros [seniores]; (4) os diáconos.
2. Ninguém ensinará na igreja sem um legítimo chamado.
3. Ninguém ensinará em outra congregação sem a concordância do consistório local.
4. O chamado ocorre por meio da decisão da classe [presbitério] e de uma pluralidade de presbíteros, à qual o chamado pertence: (1) a eleição; (2) o exame; (3) a aprovação; (4) a confirmação do ofício ou ordenação.[31]
[...]
9. Prevalecerá igualmente na distribuição das responsabilidades entre ministros, presbíteros e membros do diaconato em concordância com recomendação da classe.[32]
[...]
16. O ofício dos anciãos ou presbíteros, além do que eles têm em comum com os ministros, consiste em observar se os ministros fazem a obra diligentemente e apresentando um bom exemplo ao rebanho.[33]
[...]
58. Os ministros da Palavra, diante da celebração da Ceia do Senhor, com os presbíteros, diáconos podem sofrer uma censura da doutrina e conduta entre eles.[34]


NOTAS:
[1] James T. Dennison, Jr., org., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English translation 1523-1552. Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2008, Vol. 1, p. 348.
[2] Vol. 1, p. 575.
[3] Vol. 1, p. 662.
[4] James T. Dennison, Jr., org., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English translation 1552-1566. Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2008, Vol. 2, p. 114.
[5] Vol. 2, 116.
[6] Vol. 2, p. 150.
[7] Vol. 2, p. 151.
[8] Vol. 2, p. 226.
[9] Vol. 2, p. 227.
[10] Vol. 2, p. 316.
[11] Vol. 2, p. 322.
[12] Vol. 2, pp. 442-443.
[13] Vol. 2, p. 443.
[14] Vol. 2, p. 609.
[15] Vol. 2, p. 731.
[16] Vol. 2, p. 737.
[17] Vol. 2, p. 737.
[18] Vol. 2, pp. 852-853.
[19] Vol. 2, p. 856.
[20] Vol. 2, p. 885.
[21] Vol. 2, p. 896. Veja a Confissão de Theodore Beza (1560).
[22] Vol. 2, p. 898.
[23] James T. Dennison Jr., org., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English translation 1567-1599. Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2008, Vol. 3, p. 112.
[24] Vol. 3, p. 114-115.
[25] Vol. 3, p. 225.
[26] Vol. 3, pp. 318-319.
[27] Vol. 3, p. 589.
[28] Vol. 3, p. 592.
[29] Vol. 3, p. 600.
[30] Vol. 3, p. 620.
[31] Vol. 3, p. 621.
[32] Vol. 3, p. 621.
[33] Vol. 3, p. 622.
[34] Vol. 3, p. 628.

16 novembro 2019

A História do Saltério de Genebra - Parte 3

Dr. Pierre Pidoux

Bèza contratou Gervais de la Court para copiar (caligrafia) os salmos que ele rimava e Mestre Pierre para anotar as suas músicas, para que fossem enviadas a fim de serem julgadas. Quando Beza deixou Genebra em 17 de Agosto, para se preparar e participar de um debate teológico em Poissy, levou o manuscrito. No dia 30 de Agosto, ele escreveu para Calvino de Paris que esperava obter o privilégio real em breve. Depois que os teólogos parisienses declararam em 16 de Outubro que “não haviam encontrado nada que estivesse em conflito com a nossa fé católica, mas estavam de acordo com a verdade hebraica”, o privilégio foi concedido em 19 de Outubro e confirmado em 26 de Dezembro 1561. Em detalhes, afirmam que os salmos “estão traduzidos de acordo com a verdade hebraica, em rima francesa, e são tocados com boa música, como foi observado e reconhecido pelos homens, aprendidos das Escrituras Sagradas e nas línguas mencionadas acima e também na arte da música”.

Seria estranho se as melodias não fossem julgadas por Thomas Champion, organista da família real, e ele próprio um compositor dos arranjos dos salmos que eram cantados na corte. Charles IX o chamou de “nosso querido amigo”.

O manuscrito examinado começou com o Salmo 48, onde se lê C'est en sa tressaincte cite (Está em sua mui cidade santa) e continua até a última linha do salmo 150 Chante a jamais son impire (Cante para sempre em seu reino). Somente os últimos salmos que Beza foram completados recentemente, e os únicos que seriam protegidos por privilégios contra impressões ilegais, é que foram examinados pelos teólogos. É importante notar que as melodias desses salmos também foram consideradas boas pelos especialistas em música. São ao todo 40 salmos, todos incluídos sem alterações nas edições sucessivas. São as melodias dos Salmos 48, 49, 52,54 a 61, 75,80, 81, 83-85,87-89,92-94,96, 97, 99, 102, 105, 106, 112, 116, 135, 136, 141, 145 e 146-150.

Quem é o compositor desta importante contribuição musical? O homem que continuou o trabalho de Bourgeois se tornou alvo de severas críticas de Douen, cujo julgamento influenciou fortemente muitas gerações de músicos. Eles, sem mais delongas, fizeram suas as verba magistre (palavras do mestre). Se alguém crê em Douen, as melodias de 1562 “são na maior parte indignas de um homem de bom gusto”.

O músico que se comprometeu a definir os salmos de Bèza para cantar era claramente inferior a Bourgeois em se tratando de criatividade e talento. Para os 62 salmos, ele só conseguiu encontrar 42 melodias; além disso, deve-se dizer que apenas seis delas (61, 74, 84, 88, 89 e 92) têm um valor desigual, mas indiscutível. Exceto as melodias que indicamos, as demais são médias ou inadequadas para palavras ou até triviais, sem estilo ou ritmo, e dificilmente de se entoar. Quanto ao demais somos confortados ao dizer que o nome do músico, sem gosto e de tão pouca dedicação, em parte, merece o esquecimento em que ele se encontra.

Uma coisa que Douen viu corretamente: o compositor da música dos últimos salmos deve ser procurado em Genebra e no círculo de amizades de Beza. Quando seu livro estava prestes a ser impresso, Douen recebeu a confirmação de Henri Bordier, que chamou a atenção de Douen para as contas do Hôpital (Hospital, que era uma instituição de caridade) que mencionou duas vezes “Mestre Pierre, o precentor” que foi pago “por colocar os salmos para música”.

Entre os precedentes que têm Pierre como sobrenome, Bordier pensou em Dubuisson, precentor do St. Pierre entre 1561 e 1571, enquanto Douen sugeriu Dagues, professor da Faculdade de Rive, que morreu em 1571.

Conforme o que sabemos desses dois homens é muito improvável que eles estivessem no conduzindo algo além da instrução das crianças e a liderança dos cânticos das igrejas de Genebra. Ambos viviam em circunstâncias materiais miseráveis, o que poderia indicar a baixa estima em que eram mantidos.

Além desses dois, havia Pierre Vallette, precentor em St. Pierre (1552-1553) e professor no Collège (1553-1561). Ele foi possivelmente um bom músico, a julgar pela edição de 1556 dos salmos, em que cada nota é imediatamente precedida por seu nome de solfège. Vallette recebeu um privilégio, por inventar essa métrica de notas. No mesmo livro é impressa uma "instrução para saber o valor da nota e outros assuntos necessários". Vallette pretendeu essas instruções para "todos os crentes que desejam cantar o louvor do Senhor". Trata-se de um método elementar de solfejo, escrito de maneira bonita e clara. Foi incluído em outras edições e por outras impressoras.

Seria, no entanto, incorreto falar de uma criação musical de Vallette. O que possuímos dele parece não ser senão fruto da reflexão e experiência de um educador. Visto que ele deixou Genebra em abril de 1561, é duvidoso que tenha recebido uma quantia paga a Maistre Pierre em Junho daquele ano. No entanto, “o que é verdadeiro, nem sempre precisa ser uma probabilidade ...”.

Isso leva à ninguém menos que Pierre Davantès, de codinome Antesignanus, de Rabasteins no Bigotre, que se tornou cidadão de Genebra em 6 de Março de 1559. Davantès adquiriu uma boa reputação por suas publicações gregas e latinas. Em 24 de Maio de 1560, ele recebeu o privilégio de publicar os salmos “com um novo tipo de música” ou, como o título indica, “um método novo e mais fácil de cantar cada estrofe de salmo sem precisar se referir à primeira estrofe, como estamos acostumados a fazer na igreja”.

Davantès, de acordo com Bayle, um homem do mundo, era em seu trabalho um homem mais persistente que se poderia imaginar. Com base em uma dissertação de três volumes sobre Terentius, ele propõe uma metrificação de notas em três tons nas músicas do salmo. Ele imprimiu as notas, precedidas pelos nomes das métricas, como Vallette fizera e acrescentou um terceiro acréscimo de notas de sua própria invenção: um código inteligente, baseado em números, precedido ou seguido pelos sinais usuais, que proporcionavam a oportunidade de ler a melodia em solfège, enquanto outros sinais colocados sob eles determinavam o comprimento da nota e as demais notas.

Por meio desse terceiro procedimento foi possível anotar a melodia em todas as estrofes. Essa abreviação, no entanto, além dos problemas para as impressoras, exigia a atenção constante do cantor. Essa tentativa, que não conquistou seguidores, evidencia uma mente interessada e metódica e, ao mesmo tempo, é fruto de uma longa prática musical. Davantès também imprimiu o texto da Bíblia sem rima ao lado da versão rimada. Como hebraísta, ele estava muito interessado nos sobrescritos do salmo e eles foram incluídos no seu Saltério, por exemplo, o Salmo 5 “Ao diretor de música. Para flautas”.

Seria possível que as melodias de 1562 fossem obra de Davantès? Seria então necessário que elas evidenciassem a mesma maturidade que suas obras literárias mostraram; que elas foram escritas com a mesma diligência que ele aplicou na elaboração do seu sistema de notas. Seria inconcebível que o autor atencioso, paciente e preciso se permitisse descuidar e negligenciar ao compor melodias para o uso eclesiástico. Por outro lado, um exame cuidadoso das músicas dos salmos mostra que o acabamento delas é pelo menos tão importante quanto a invenção melódica. Primeiro, devemos examinar a unidade do estilo: isso mostra uma semelhança com a técnica de composição de Bourgeois, e torna difícil determinar a extensão exata da parte um do outro, quando a cronologia não nos oferece uma indicação.

Apesar da unidade a pesquisa evidencia diferenças sutis. Para dar à melodia um movimento mais livre, Maistre Pierre, mais cedo do que Bourgeois deixa fora das entre as linhas, quando a confusão no texto o sugere (por exemplo o Salmo 57), ou poderia imitar Bourgeois como no Salmo 99 (cf. Salmo 47).

Theodore de Bèza, em sua escolha da estrutura estrófica, determinou o comprimento e o corte das melodias. O ambitus (o escopo da melodia da nota mais baixa à nota mais alta) pertence ao território do compositor. As melodias de 1562 mostram um recorte: quatro melodias não excedem um sexto (Salmos 75, 100, 116, 141) e quatro não mais que um sétimo (61, 86, 93, 146), que ocorre apenas uma vez nas melodias de Bourgeois (129). A rima feminina na sílaba silenciosa é geralmente marcada por uma descida melódica, mas Bourgeois opta pelo movimento que costuma ascender, quando a próxima linha melódica sobe (Salmos 23, 25, 28, 30, etc.). Em 1562, cada sílaba silenciosa é acompanhada por um segundo decrescente. Este segundo só ascende quando a seguinte linha começa com uma repetição da mesma nota (Salmos 54, 56, 92, 116).

Quando Bourgeois usa um retardo sincopado numa linha com um final feminino, ele aparentemente não é sensível à aspereza - a barbara dictio, que a substituição do acento causa (por exemplo, Salmos 20, 28, 30, 31, 42 etc.). As melodias de 1562 também fazem uso de síncopes, mas elas ocorrem apenas em conexão com a rima masculina (por exemplo, Salmos 60, 61, 80, 85, 90, 105).

Outra característica das melodias de 1562 é o uso frequente de repetições de tetracord, ascendente (Salmo 55) e descendente (49, 54, 56) ou em combinação (Salmos 94, 102, 150). Não menos característica é a coincidência do hexachordum naturale com o hexachordum molle, que ocorre inesperadamente no espaço de algumas notas, o que causa, como é chamado mais tarde, um movimento cromático (Salmos 48, 59, 80, 88, 112, 148 149). Por exemplo, Salmo 88

linha 3: b b flat
par - vien - ne ce dont je to pri - e
ou no Salmo 112 a linha 2/3:
b b flat et s'a don - ne Du tout

O compositor está bem à vontade na polifonia, que aparentemente está a partir de certos fragmentos melódicos, que podem ser combinados como contraponto invertível. Um exemplo típico disso é o Salmo 99, que é o contraponto do Salmo 47 de Bourgeois. Veja também o Salmo 54, a primeira e as últimas linhas que podem ser combinadas com a quarta; e o Salmo 89, linha 5, contra 4.

Também alguns dos Salmos de 1562 são inspirados no antigo repertório: o Salmo 55 está intimamente relacionado ao hino “Lauda Sion Salvatorem”, o Salmo 58 é uma reminiscência do Credo III. O Salmo 141 é uma transcrição notável do hino “Conditor alme siderurn”, e a melodia da sequência 3 “Victimae paschali laudes” forma a base do Salmo 80. Por meio de notas - como a Biblia pauperum fez por meio de figuras - A Páscoa cristã está ligada à Páscoa judaica, uma inspiração que só pode vir a um autor que igualmente se sente à vontade na composição musical, como nas convoluções da exegese bíblica.

O que resta é uma discussão sobre as contas do Hôpital. Dos arquivos do Estado em Genèva, Arch. Hosp Hj2 o seguinte:

Fol. 58. Despesas extras referentes ao mês de junho de 1561 ao Sr. De La Court pela cópia dos Salmos do Sr. De Bèza para enviá-los aos tribunais: 12 fl. 6 st.; para si pela cópia do privilégio dos referidos Salmos: 8 st.

Fol. 58. de volta. A Maistre Pierre por colocar música nos Salmos: 10 fl.

Fol. 59 frente. Despesas extras com os pobres no mês de Julho de 1561. Pagamento ao Sr. De Bèza pelo que deu ao precentor Maistre Pierre por colocar música nos Salmos, além dos ganhos acima mencionados 20 fl., 5 st.

Parece que a conclusão do Saltério era de interesse tanto para a igreja quanto para a cidade, por que o pagamento aos cooperadores de Bèza provinha de receita pública geral? O aumento do valor pago a Maistre Pierre não está relacionado ao seu salário regular, muito menos aos subsídios incidentais em dinheiro ou em trigo, que o Conselho concedeu aos seus precursores. Poderia aqui dizer respeito a Pierre Dagues, cujo ensino e falta de zelo eram repetidos assuntos de advertência, e até mesmo de demissão. E Bèza seria o único a descobrir talentos em Dagues que permaneceram ocultos aos seus contemporâneos? Ele pagaria a ele uma quantia maior do que recebia por meio ano de trabalho a serviços prestados à cidade?

Por que essas decisões são tratadas diretamente por Bèza e pelo tesoureiro do Hôpital, sem deixar vestígios na deliberação do Conselho ou no registro do ministério dos pastores? É como se Bèza tivesse apenas obrigações pessoais e cuidasse dos assuntos por sua própria iniciativa. Ele, de fato, age por iniciativa própria, pois Bèza havia cedido os direitos autorais dos seus Salmos à diaconia, que administrava o Hôpital.

Antes de Bèza deixar Genebra rumo à Paris e Poissy, ele é reembolsado pelo que pagou a Maistre Pierre. Ele parte em 16 de Agosto. No dia 31 de Agosto, sabe-se que "Maistre Pierre Davantès, morador de Genebra, professor ..., morre de febre contínua aos 36 anos". Bèza recebeu a notícia numa carta de Calvino em 3 de Setembro.

Enquanto não encontrarmos provas irrefutáveis, a questão do sobrenome de Maistre Pierre permanecerá em aberto, embora uma série de pistas aponte para Davantès.



EDITORIAL NOTES

1. Tetrachords são as duas metades dos modos que são exatamente semelhantes na ordem dos tons e semitons. Por exemplo, os dois tetrachords no modo dórico são: D-E-F-G e A-B-C-D.

2. Um hexachord é um grupo de seis notas consecutivas que são consideradas como uma unidade. Os hexachords foram usados entre os séculos 11 ao 17 para fins de observação - não muito diferente do sistema móvel dó atualmente. Havia três hexachords: hexachordum naturale, começando em C, o hexachordum none, começando em F, e o hexachordum durum, começando em G. Seria observado que os três hexachords se sobrepuseram no intervalo, e um cantor teria que passar de um hexachord para outro. Essa mudança entre hexachords foi chamada de mutação.

3. Uma sequência é um tipo de hino que teve origem na interpolação em alguns dos elementos musicais da liturgia medieval. A sequência (de sequi = seguir) costumava seguir Gradual e Alleluia, e tipicamente era melismática: ou seja, muitas notas foram definidas para apenas uma sílaba. A melodia resultante foi subsequentemente definida para diferentes palavras de maneira silábica: uma nota por sílaba. Assim, a sequência evoluiu como um hino independente, que se tornou especialmente popular nos séculos 11 e 12.


Pierre Pidoux, “History of the Genevan Psalter – Part 2” in: Reformed Music Journal Volume 1, No. 1 January, 1989. Acessado em https://spindleworks.com/library/Pidoux/History_Genevan_Psalter.html em 12/10/2019.

28 outubro 2019

1Pe 3.19 ensina que Jesus pregou no inferno?

Por Guy Waters


Certa vez Pedro escreveu a respeito das cartas de Paulo: “como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender [...]” (2Pe 3.16). Podemos dizer o mesmo das cartas de Pedro! Aqui há uma afirmação que há muito tempo deixa os leitores confusos.
Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão;
Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água. (1Pe 3.18-20).

No verso 18, Pedro está falando da morte e ressurreição de Cristo. Jesus foi morto “na carne” – isto é, ele morreu como um ser humano. E ele foi ressuscitado, “vivificado pelo Espírito”. Mas o que é “Espírito” aqui? Alguns intérpretes entendem que isso significa a alma humana de Jesus. Outros dizem que é o local onde o Jesus ressurreto vive agora. Mas a relação entre a ressurreição de Jesus com o “Espírito” indica que Pedro está se referindo ao Espírito Santo (ver Rm 8.4-11). Jesus, diz Pedro, foi ressuscitado pelo poder do Espírito.

Pregando aos espíritos em prisão
Se, no verso 18, Pedro está dizendo que Jesus ressuscitou dentre os mortos pelo poder do Espírito Santo, então ele está dizendo no início do verso 19 que “no [Espírito], [Jesus] foi, e pregou aos espíritos em prisão”. Muitos intérpretes assumiram Pedro dizer que, entre a morte e a ressurreição de Jesus (ou depois dela), Jesus empreendeu uma campanha de pregação.

Quem se diz ser o objeto da pregação de Jesus? Os “espíritos em prisão” que “noutro tempo foram rebeldes”. Mas quem são esses “espíritos”? De acordo com alguns, são as almas dos crentes do Antigo Testamento, os quais Jesus libertou do cativeiro e trouxe com ele para o céu. A mensagem pregada por Jesus, sua morte e ressurreição, é, portanto, uma boa nova para eles.

Outros assumiram que esses “espíritos” são almas condenadas que rejeitaram a pregação de Noé milênios antes. Para esses, Jesus está confirmando a condenação pela proclamação de sua vitória sobre eles e sobre todos os seus inimigos em sua morte e ressurreição. (Alguns intérpretes ainda têm visto Jesus oferecendo uma oportunidade por fé e arrependimento após a morte a esses “espíritos em prisão”).

O que fez Jesus?
Essas interpretações têm pelo menos uma coisa em comum. Elas veem Jesus fazendo algo – localmente, se não físico – depois de sua morte e sepultamento, mas antes de sua ascensão e assento no céu. Um problema com essas interpretações, porém, é elas afirmarem uma ação de Jesus que não se encontra em nenhum outro lugar nas Escrituras. Devemos ser cautelosos em avançar com tal alegação sem um testemunho bíblico mais claro.

Outro problema com essas interpretações deriva da descrição de Pedro a respeito desses “espíritos”, como aqueles que “noutro tempo foram rebeldes”... “nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (verso 20). Por que Jesus libertaria apenas alguns santos do Antigo Testamento do cativeiro? (E por que Pedro descreveria os santos do Antigo Testamento dessa forma?) Ou, por que Jesus proclamaria condenação a somente uma única geração de almas no inferno, e não a outras? Cada uma dessas interpretações também traz suas próprias dificuldades. Não há um testemunho claro nas Escrituras de que os crentes do Antigo Testamento, quando morriam, ficavam confinados no limbus patrum (“o limbo dos pais”) até o momento em que Cristo os libertaria em sua ressurreição.

Os ensinamentos de Jesus na parábola do rico e Lázaro apontam para uma direção contrária. Quando morriam, as almas dos crentes do Antigo Testamento entravam diretamente na presença de Deus (Lucas 16.22). Não há nenhum motivo claro do porque Jesus passaria pelo inferno para proclamar sua vitória a qualquer alma humana condenada. E certamente não há mandado bíblico para uma oferta de salvação para aqueles que já morreram. O juízo final, afinal de contas, levará em conta apenas o que foi feito nesta vida, e não o que foi feito no além (1Pe 1.17; 2Co 5.10; Hb 9.27).

Outros ainda consideram esses “espíritos” como anjos maus, sobre os quais Cristo triunfou em sua ressurreição. Dizem que Jesus anuncia sua conquista da ressurreição sobre os poderes e autoridades espirituais, que estão presos em cativeiro infernal. Essa visão pode envolver uma proclamação de vitória no inferno, mas não necessariamente. Embora seja verdade que a ressurreição de Jesus declarou vitória sobre seus inimigos espirituais e demoníacos (verso 22), é discutível dizer que Pedro tinha essa vitória em mente no verso 19. Pedro parece entender os espíritos do verso 19 como seres humanos quando ele diz que foram rebeldes “nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (verso 20).

Melhor interpretação
Existe outra maneira de interpretar as palavras de Pedro, evitando essas dificuldades e considerando o contexto desses versos no argumento de Pedro. A pregação do verso 19 não é feita pelo Jesus ressurreto. É Jesus quem prega, claro, mas ele prega no Espírito Santo. O momento desta proclamação não é a janela entre a morte e a ascensão de Jesus. É durante a vida de Noé.

Então, o que Pedro está querendo dizer? Ele está dizendo que Noé, no andamento da construção da arca, prestou testemunho do julgamento vindouro de Deus. Ele era o “pregoeiro da justiça”, como o próprio Pedro diz em sua segunda carta (2Pe 2.5). Noé pregou no poder do Espírito Santo, o Espírito que Pedro chamou anteriormente de “o Espírito de Cristo” (1Pe 1.10). Mas os homens e mulheres da geração de Noé, não obstante a “longanimidade de Deus” em adiar o julgamento, desprezaram a proclamação. Por causa de sua rebeldia anterior, estão agora “em prisão”. Ou seja, suas almas, após a morte, foram justamente condenadas ao inferno para serem castigadas pelos seus pecados.

Esteja pronto para prestar contas
Essas palavras produziriam um tremendo encorajamento aos primeiros leitores de Pedro. Muitos deles eram gentios, que foram redimidos de uma vida indigna e perversa (1Pe 1.18; compare 4.3-4; cf. Ef 2.12). Esses crentes estavam sendo perseguidos por sua fé, uma realidade explicitamente abordada em 1Pe 3.8-17. Não obstante essa perseguição, eles sempre deveriam estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15-16).

Como os crentes podem fazer esse duro trabalho? Em 1Pe 3.18-20, Pedro novamente nos aponta a morte e a ressurreição de Cristo pelos pecadores. Os crentes de hoje, assim como Noé em seu tempo, são chamados a testemunhar a esperança do evangelho diante de um mundo que, na incredulidade, nos ridiculariza e nos despreza. Nós fazemos isso pelo poder do Espírito Santo – o Espírito de Cristo em ação no ministério de proclamação de Noé, e o Espírito pelo qual Cristo ressuscitou dentre os mortos. Nossa tarefa não é fácil. O Cristo ressurreto conquistou a vitória (1Pe 3.21-22). Não devemos temer nem desanimar (1Pe 3.14). Em vez disso, devemos “santificar ao Senhor Deus em nossos corações”, falando aos outros sobre ele (1Pe 3.15).

Como é bom saber que nosso Senhor conquistou a vitória! Que bom saber que nosso Salvador conquistou a vitória! Pedro nos lembra que não devemos viver tendo em vista o que nossos sentidos nos dizem, mas pelo que sabemos ser verdade pela fé. Jesus está no seu trono e age entre nós pelo seu Espírito. Sejamos fiéis e o sirvamos em nossa geração.

Tradução de Daniel Tanure
Revisado por Ewerton B. Tokashiki

19 outubro 2019

A História do Saltério de Genebra - Parte 2

Dr. Pierre Pidoux


Guillaume Franc é o único precentor de Genebra mencionado como ensinando as crianças “a cantar os salmos de Davi na igreja” naquela época. Como compositor de muitas melodias para a Coleção de Lausanne de 1565, parece provável que deveríamos atribuir a ele as novas melodias de La Forme des Prières. O fato de terem sido mantidas tantas melodias do repertório de 1543 atesta os talentos de seu compositor. No final do outono de 1542, Clement Marot, que foi perseguido na França, fugiu para Genebra, onde ficou por um ano. A prova de que Marot, Franc e Calvino se conheceram e cooperaram no projeto de um Saltério pode ser concluída pelos seguintes fatos:

Fizeram-se melhorias no texto dos primeiros trinta salmos, algumas revisões importantes foram feitas nas melodias recém-publicadas, Guillaume Franc recebeu um contrato oficial com um aumento considerável nos salários e, finalmente, a publicação de um novo Saltério em 1543, contendo CINQUANTE PSAUMES (Cinquenta Salmos), em que 20 deles eram novos. Todos os 50 até então eram de Marot e cada um tinha a sua própria melodia.

A carta de Calvino anexa, escrita em 1542, era duas vezes maior do que o Saltério. Ele expõe extensivamente acerca do valor e da função dos cânticos no culto. Outra carta datada em 10 de Junho de 1543, em Genebra, por algum tempo foi publicada nas reedições do Saltério de Genebra.

Desta coleção somente a edição do texto foi preservada. Ela foi impressa em Genebra por Jean Gerard. A edição musical [ainda] não foi encontrada. O conteúdo, no entanto, é conhecido pelas reimpressões dos irmãos Beringen em Lyon, em 1548 e 1549. Desde 1543, o canto pelos fiéis reunidos (e não somente pelas crianças) era a regra. Num programa de canto todos os 50 Salmos foram divididos em dezessete semanas.

Durante os cultos de Domingo e os cultos de oração na quarta-feira, todos os Salmos em sua totalidade eram cantados por vez, cada salmo em sua própria melodia. O ministro teria que manter esse cronograma. Esse foi um motivo a mais para que as editoras reproduzissem os livros de salmos a fim de prontamente vendê-los.

Das novas melodias de 1543 que provavelmente foram compostas por Guillaume Franc, encontramos dezesseis salmos na edição de 1562, na sua forma original ou ligeiramente melhorados. Dentre eles estavam os salmos 18, 23, 32, 33, 37, 43, 50, 72, 79, 86, 91, 107, 118, 128, 138, a melodia dos Dez Mandamentos e o Cântico de Simeão. A probabilidade ainda não é provada; portanto, devemos deixar em aberto o problema de atribuição dessas melodias a Franc.

O que aconteceu com os salmos de Calvino quando eles apareceram em La Forme des Prières? Todos foram substituídos por versos escritos por Marot. Isso só poderia ser feito por incentivo de Calvino e, certamente, com a permissão do reformador. Certas semelhanças na versificação só podem ser coincidentes.

Para provar que Marot tinha em mente a metrificação de Calvino, a primeira linha do Salmo 91, cuja forma é a mesma nos dois rimados, é frequentemente apresentada. Desde a publicação do monumental livro Clement Marot et le Psautier Huguenot (Paris, 1878-1879) por Orentin Douen, tornou-se habitual retratar Marot como o “homem gracioso do mundo” como vítima de Calvino, o “recluso sombrio”. Nada disso aparece nos documentos contemporâneos. O fato de Calvino permanecer entre Marot e o Conselho, do qual ele pediu “que lhe produzisse algo de bom”, em troca de que Marot “se esforçasse com todo a sua competência para completar os salmos de Davi”, mostra implicitamente os elogios aos talentos de Marot e o seu consentimento. O Conselho respondeu: “que ele tivesse paciência”. Isso mostra apenas que a cidade estava em apuros financeiros, e não que houvesse alguma animosidade em relação ao poeta. É significativo que Calvino tenha decidido confiar todos os 150 salmos a Marot.

Marot deixa Genebra no final de 1545. E também Guillaume Franc em seguida, porque ele não poderia viver com seu escasso salário. Nesse momento, encontramos pela primeira vez o nome LOYS BOURGEOY, DE PARIS, CHANTRES (Louis Bourgeois, de Paris, precentor). O cargo ocupado anteriormente por Franc é assumido pelos recém-chegados Guillaume Fabri e Loys Bourgeois para que “ensinem as crianças como cantar os salmos na igreja”. Vendo que o trabalho de Fabri não era satisfatório, Bourgeois “que era mais adequado que ele” tornou-se responsável por esta tarefa a partir de 3 de Agosto.

Ele cumpriu o seu dever com habilidade e regularidade a partir dessa data, o que pode ser concluído a partir da ausência de queixas nos registros do Conselho. Durante seus anos em Genebra, Bourgeois compôs estruturas dos salmos para amadores. Eles foram publicados em Lyon pelos irmãos Beringen (1547) que estavam equipados para fazer essa impressão, e não como se argumentou, para escapar do anátema de Calvino! Bourgeois projetou para os seus alunos uma cartilha musical intitulada Le droict chemin de musique (O caminho certo para a música, de 1550).

Com a chegada de Theodore de Beza, em outubro de 1548, inicia uma nova fase na conclusão do Saltério. Embora não saibamos a data exata, a oração fúnebre de Caspar Laurent deixa claro que a data acima está correta. Por acaso, diz-se, Calvino descobriu uma rima do Salmo 16 na mesa de Beza - o primeiro salmo que Marot que ainda não tinha terminado o arranjo. O próprio Beza confirma a tarefa que Calvino o designou: “Por insistência do grande Mestre João Calvino, concluí a rima do salmo em versos franceses iniciada por Clement Marot, príncipe indiscutível dos poetas franceses de sua época”. As primeiras informações sobre datas que podemos encontrar no prefácio de Abraham Sacrifiant (O sacrifício de Abraão), fixado em 1 de Outubro de 1550, em que Beza anuncia que após seu drama “espera continuar com a rima dos salmos que no momento estou trabalhando”.

Desconhecemos o quão rápido ou lento Beza trabalhou. O que sabemos é que Calvino ficou impaciente e insistiu que os salmos lhe fossem enviados, de modo que pudessem ser tocados. No que diz respeito a Bourgeois, ele pediu ao Conselho “um pouco de trigo para melhorar o canto do salmo”. Podemos ler entre as linhas da vaga reação do secretário do concílio que o pedido dizia respeito à criação de novas melodias para cada salmo. Pois havia 34 salmos, com um número igual de novos padrões que Beza acrescenta aos 49 de Marot. A nova coleção é publicada por Jean Crispin no Outono de 1551, com o título PSEAUMES OCTANTE TROIS (Oitenta e Três Salmos).

A expansão do repertório dividida em 25 semanas (em vez de 17) torna inúteis as coleções anteriores. Com o (silencioso) acordo do Conselho e a bênção dos ministros (?), Bourgeois aproveita a oportunidade para corrigir erros de impressão e alterar certas frases melódicas para facilitar o canto e impedir que a congregação os entoasse erroneamente. Ele traz mais unidade às notas musicais mantendo apenas dois valores de notas com seus respectivos descansos e ainda fez pequenas melhorias no layout. Por fim, ele não conseguiu resistir à tentação de substituir algumas das melodias nas quais os salmos de Marot eram definidas por novas de seu próprio projeto. Assim que os 83 saíram da editora comunicou as alterações ao Conselho.

Isso ficou mais fácil pois Bougeois faz um relato detalhado das mudanças da melodia em seu “Aviso” (Advertência), que assinou e adicionou ao final do Saltério sem consultar as autoridades civis. Isso explica a sentença de 24 horas de prisão que lhe foi dada pelo Conselho e a proposta de Calvino de uma mera repreensão pelo Conselho, quando Calvino intercedeu à favor de Bourgeois. Que o trabalho de Bourgeois - tanto as revisões, melhorias e as novas composições - foi realizado com a permissão de Calvino e seus colegas, pode ser concluído pela ausência de advertências no registro da igreja, mas principalmente pela inclusão das mudanças de Bourgeois nas edições seguintes. Nós os encontramos novamente inalterados no Saltério de 1562.

O Conselho ficou irritado com as mudanças feitas nas melodias que acompanhavam os salmos de Marot. No entanto, não criticaram as novas melodias que ele escreveu para os salmos de Beza. Não foi surpreendente, nem ofensivo ao Conselho, que seu precentor em sua composição se inspirasse por “alguns hinos que anteriormente usamos mal, isso não deve perturbá-los, pois o som dos sinos e outras coisas que antes eram usadas incorretamente, mas que foram corrigidas”. De fato, as melodias do repertório romano podem ser encontradas nos salmos 17, 20, 31, 39, 121, 124 e 129. Um maior conhecimento do canto gregoriano, talvez, nos daria a oportunidade de aumentar esse número.

Dez anos se passariam entre os 83 salmos e a conclusão do Saltério. Antes que qualquer pensamento seja dado à conclusão dos demais 67 salmos, os 83 deveriam se tornar familiares da igreja. A rima dos salmos prosseguiria num ritmo mais lento. Nas reedições (em especial a de 1554) a editora acrescentou "seis salmos recentemente traduzidos" e um sétimo foi adicionado em 1557. Esses textos impressos após os 83 salmos não tinham melodia própria, nem música com notas.

Beza recorre, pela primeira vez, a uma forma estrófica usada anteriormente e remete o leitor à melodia correspondente. Consequentemente, dois salmos, às vezes mais, eram cantados com a mesma melodia. Um exame da coleção de 1562 mostra que toda uma série de salmos semelhantes eram executados da mesma maneira, e assim, eram cantados por uma melodia de outro salmo: por exemplo, os salmos 62 a 71, 76-78, 82, 95, 98, 100 108, 109, 111, 117, 139, 140, 142 e 144; contando ao todo uns 25 salmos.

Beza não fantasiava construir novas formas de estrofes, nem temia sobrecarregar a escola e os fiéis com muitas melodias novas? A explicação dessa mudança fundamental poderia ser o resultado da partida dos Bourgeois. Em 21 de Março de 1551, o salário de Bourgeois, juntamente com o da maioria das autoridades cívicas, foi reduzido pela metade devido as condições financeiras de Genebra. Ao contrário do que foi escrito, esta medida, que afetou o precentor, não teve nenhuma conexão com o “Anúncio” de 15 de Dezembro daquele ano.

Bourgeois deixou Genebra em 1552, por falta de dinheiro, para nunca mais voltar. Beza teria que continuar sem a cooperação de um compositor que tivesse o entendimento real para fornecer a cada salmo uma melodia adequada. Embora o trabalho de rimas tivesse estagnado, o mesmo não pode ser dito das impressoras de Genebra. As editoras competiam habilmente por clientes e licenças. Em 1539, o Conselho concedeu ao precentor Pierre Callette uma licença por três anos para imprimir música da maneira que ele havia inventado. Esta foi a licença que Callette entregou no dia seguinte a Jean Bonnefoy, Michel Blanchier e Etienne Coret e todos os impressores de Genebra.

Pierre Davantes conhecido pelo apelido de Antesignamus, em 1560, obteve uma licença de três anos para um “novo tipo de impressão musical”. Em 19 de Junho, Antoine Reboul e Emery Bernhardt tiveram a autorização para imprimir os salmos “com um novo tipo de impressão musical”. No dia 24 de junho “Jean Rivery solicitou permissão para imprimir os salmos com os nomes das notas e escalas no início”.

Em 24 de março do mesmo ano foi negado um pedido de Jean Rivery com data de 12 de Novembro, no qual ele solicitou imprimir os salmos “com anotações no texto não rimado e com uma oração no final de cada salmo”. O motive foi apenas porque “o sr. Beza terá o Saltério Francês completo impresso”.

A partir desse momento os eventos ocorrem em rápida sucessão. Em 30 de junho de 1561, os diáconos que eram “encarregados do cuidado dos estrangeiros necessitados, solicitam ao conselho que lhes deem a licença para imprimir os salmos pelos quais Beza lhes concedeu os direitos autorais. Por recomendação de Calvino, eles recebem a licença em 8 de Julho, por um período de dez anos, e assim, Calvino completou o Saltério dois anos antes de sua morte. O empreendimento que ele havia iniciado demorou 22 anos para ser concluído.


Pierre Pidoux, “History of the Genevan Psalter – Part 2” in: Reformed Music Journal Volume 1, No. 1 January, 1989. Acessado em https://spindleworks.com/library/Pidoux/History_Genevan_Psalter.html em 12/10/2019.

12 outubro 2019

A História do Saltério de Genebra - Parte 1

Dr. Pierre Pidoux


Ao entrar numa catedral um turista é frequentemente afetado pela harmonia inerente de toda a estrutura. Uma harmonia que resulta de um design bem definido e proporções bem-sucedidas. A princípio, ele não teria consciência de que o edifício era obra de várias gerações de arquitetos e pedreiros. A sua atenção aos detalhes, é evidência de um desenvolvimento do gosto ou técnicas de gerações sucessivas, que só viriam mais tarde.
É o mesmo caso do Saltério Francês que em sua forma completa foi publicado em 1562. À primeira vista parece que possui uma construção uniforme, um salmo parece é semelhante ao outro. Pode-se pensar facilmente que as palavras e a música foram reunidas ao mesmo tempo. A unidade é tão forte que se as iniciais do autor não fossem dadas, seria impossível dizer quem era o responsável por cada versificação. O mesmo pode ser dito das melodias: todas parecem iguais, mas sua origem é velada no anonimato.

É de fato uma unidade: o Saltério de Genebra contém apenas versificações que permanecem fiéis ao texto da prosa bíblica. Não encontramos nele comentários, paráfrases nem meditações inspiradas em qualquer estrofe. Também não encontramos tentativas de atualizá-lo, como pode ser encontrado nos hinos alemães do mesmo período. No Saltério que buscava a maior fidelidade possível à “verdade hebraica”, esses elementos criariam a impressão de adições puramente humanas, que abririam a porta para invenções perigosas.

A fidelidade ao texto da Bíblia é, no entanto, uma fidelidade de segundo grau. Nem Marot, ou Beza, rimaram os Salmos do texto hebraico. Ambos usaram uma tradução francesa, que, embora não seja diretamente traduzida do idioma hebraico, refere-se à verdade expressa no texto hebraico. De fato, quando Marot rimou o primeiro salmo, ele indicou qual era uma de suas fontes, talvez fosse a fonte mais importante para uma série de suas rimas. Seguindo a tradução bíblica do Olivitan de 1535, ele usou o termo “o Eterno” para o santo tetragrama (as quatro consoantes JHWH com as quais o nome de Deus ocorre em hebraico). Beza seguiu passo a passo a tradução genebrina revisada por Loys Bude.

Para cantar os Salmos era necessário dividir o material em estrofes recorrentes regularmente, compostas de linhas curtas com seu esquema de rimas tirânicas. Apesar desse formato, o substrato bíblico, no entanto, é diretamente discernível. Acontece mesmo que os textos em prosa são citados literalmente nas versificações. Unidade não é o mesmo que uniformidade.

A variedade de termos, nos quais o texto bíblico foi formado, é surpreendentemente grande. Os 150 salmos foram fixados em 124 melodias, que diferem bastante uma para outra. Isso ocorre porque as múltiplas formas de estrofe e as várias estruturas de versos exigem suas próprias melodias. O número e o comprimento das linhas do verso variam, assim como as palavras da rima e as fórmulas rítmicas.

Se apenas um desses dados fosse diferente, seria impossível usar a mesma melodia. Parece que se buscou essa variedade de formas propositalmente. Não é algo que se pode atribuir ao acaso. Tudo aponta para o fato de que um esforço consciente foi feito para facilitar o aprendizado rigoroso do texto conectado e a melodia pelos fiéis.

Calvino é acusado de promover uma profunda raiz de inimizade em relação a todas as criações artísticas, mas é preciso reconhecer que ele teve uma influência decisiva na realização do Saltério de Genebra. Desde a pequena coleção publicada em Estrasburgo, em 1539, passando por todas as fases de Genebra 1542, 1543, 1551, até sua conclusão (em 1562), Calvino esteve pessoalmente ocupado com ela, como iniciador e defensor dos interesses dos poetas e músicos.

O texto mais antigo sobre o canto dos salmos "com o sermão" data de 1537. Os ministros pediram ao Conselho permissão para esta novidade. O texto e o estilo só podem ser escritos por Calvino. Ele disse que os salmos “podem nos despertar para elevar nossos corações a Deus e nos levar a um ardor tanto para invocar quanto para exaltar louvando a glória de Seu nome ... O caminho a seguir para isso nos pareceu bom: pois, se algumas crianças, a quem ensinamos uma música simples da igreja, cantam em voz alta e distinta, de modo que as pessoas ouçam atentamente, seguindo com o coração o que é cantado pela boca, até que pouco a pouco elas se acostumem a cantar em uníssono uma música. Mas para evitar toda confusão, seria necessário que você não permita que alguém por sua insolência mantenha a santa congregação em escárnio, prestes a perturbar a ordem que será estabelecida por isso”.

Visto que os ministros pediram ao Conselho de Genebra que mantivesse a ordem, o estágio de planejamento aparentemente havia passado e uma rápida compreensão do canto foi antecipada. As circunstâncias políticas e as divergências sobre a administração da disciplina eclesiástica causaram, no entanto, tumulto na cidade, resultando na expulsão de Farel e Calvino.

Em 8 de setembro de 1538, Calvino prega seu primeiro sermão aos refugiados franceses em Estrasburgo. Alguns meses depois, ele publica para eles: AULCUN PSEALMES ET CANTIQUES MYS EN CHANT (Alguns salmos e hinos rimados a serem cantados).

A questão de como Calvino entrou em contato com as treze versões rimadas dos salmos de Clement Marot permanece sem resposta. É certo que essa foi a primeira vez que as metrificações de Marot foram publicadas com notada melodia. De onde vieram essas melodias? Dois deles, o salmo 51 e 114, mostram semelhanças com as melodias dos salmos alemães de Estrasburgo. Para os outros onze, no entanto, até onde sabemos, não existem fontes anteriores. Foram possivelmente compostas, em especial, para o texto, de acordo com as peculiaridades dos rimas de Marot. Essas melodias originais, ligeiramente revisadas, estão incluídas no Saltério de 1562. São as melodias dos salmos 1, 2, 15, 103, 114, 130, 137 e 143, voltarei a eles mais tarde.

Para expandir um repertório de músicas de qualidade, Calvino começou a rimar o próprio Salmos. O Aulcuns Pseaulmes contém os Salmos 25, 36, 46, 91, 113, 138 além do Cântico de Simeão, os Dez Mandamentos e o Credo. Embora fosse necessário compor melodias para os já existentes Salmos de Marot, o inverso foi o caso de Calvino. O seu ponto de partida foram as músicas do Salmo de Estrasburgo, que ele escolheu “porque o agradavam mais”. Ele formou seus textos de acordo com o corte musical dessas melodias. A rima masculina amontoada que ele usa foi severamente criticada e considerada por muitos como sendo insignificante. No entanto, é convenientemente esquecido que os salmos alemães continham muitas linhas iâmbicas de sílabas, com ênfase na última.

Os salmos de Calvino continuaram a ser usados em Estrasburgo até meados do século XVI. Eles foram apenas parte das melodias do Saltério de Genebra por um curto período de tempo, com exceção da melodia do Salmo 36, que Calvino tinha particular apreço. Na melodia de Greiter para o Salmo 119, Calvino rimava com o Salmo 36:

En moi le secret pensement
Du maling parle clairement
C'est qu' a Dieu it ne pense:
Car it se corn plaist en ses faictz
Tant que haine sur ses mes faictz
Et jugement avance etc.

O mesmo salmo é retomado por Marot, que seguiu um similar modelo literário e usa a mesma melodia:

Du maling les faits vicieux
Me disent que devant ses yeux
N'a point de Dieu la crainte:
Car tant se plaist en son erreur
Que L'avoir en haine en horreur
C'est bien force et constrainte etc.

Esta melodia encontramos no Saltério de 1562. Beza leva nele a melodia para sua versificação do salmo 68. Nessa forma, o salmo é considerado um dos salmos mais populares e característicos de todo o Saltério. O Que Dieu se montre seulement é o mais típico do estilo musical de Estrasburgo. Com suas 92 notas, é a melodia mais longa do Saltério de Genebra.

Em setembro de 1541, Calvino foi chamado de volta a Genebra, e no ano seguinte foi publicada outra coleção de salmos intitulada: LA FORME DES PRIERES ET CHANTZ ECCLESIASTIQUES (A Forma de Orações e Canções Eclesiásticas). O livro abre com uma carta não assinada aos leitores. Certamente que Calvino é o seu autor. Sete oitavos falam sobre a ordem do culto e a administração dos sacramentos. Os últimos parágrafos tratam do dos cânticos. Além dos 13 Salmos de Marot, 5 de Calvino, mais o Cântico de Simeão e os Dez Mandamentos retirados de “Aulcuns Pseaulms”, os "Cânticos eclesiásticos" continham 17 novos textos de Marot com música. Dessas melodias, as dos Salmos 4, 5, 6, 7, 8, 13, 14, 19, 22, 24, 38, 104 e 115 foram mantidas em edições sucessivas.

Quem foi o compositor dessas músicas? Pouco antes do retorno de Calvino a Genebra, um músico parisiense de nome Guillaurne Franc, chegou à cidade. Ele recebeu permissão para abrir uma “escola de música”. A intenção de Franc era ensinar as músicas do salmo às crianças. As Ordonnance Ecclesiatiques [Ordenanças Eclesiásticas] de Novembro de 1541, que acabavam de ser formuladas, continham um artigo muito semelhante à decisão de 1537. Ela declarava que: “É desejável introduzir cânticos eclesiásticos, a fim de melhor incitar o povo à oração e ao louvor a Deus. Para começar as crianças devem ser ensinadas e, no decorrer do tempo, toda a igreja será capaz de seguir”.


Pierre Pidoux, “History of the Genevan Psalter – Part 1” in: Reformed Music Journal Volume 1, No. 1 January, 1989. Acessado em https://spindleworks.com/library/Pidoux/History_Genevan_Psalter.html em 12/10/2019.