29 outubro 2018

Porque a Esquerda não consegue entender o Islamismo

por Daniel Greenfield



Conhecer a verdade sobre o islamismo destruiria a esquerda.

O maior erro intelectual da esquerda é sua convicção de que o mundo pode ser dividido em uma luta binária pelo poder, na qual ambos os lados concordam a respeito de sua natureza, mas discordam a respeito de seus resultados.

Para os esquerdistas de uma determinada geração, era um problema de classes. Marx começou o Manifesto Comunista esquematizando uma luta fundamental de classes por toda a história humana. Para os marxistas, todas as coisas do mundo poderiam ser desmembradas em uma luta de classes, com os opressores ricos de um lado e os oprimidos de outro.

Não importava que esse modelo não se encaixasse na realidade de que os líderes comunistas haviam vindo de ambientes ricos e seus oponentes provavelmente eram pobres camponeses. Para a esquerda, todas as coisas são definidas pelo modelo. A realidade é uma inconveniência que é suprimida através dos gulags* ou dos esquadrões de fuzilamento.

Atualmente, a variável é a política de identidade. Tudo deve ser interseccional. Há aqueles que ficam do lado direito da história, a favor do aborto, do casamento gay e da imigração ilegal. Todos os que não estiverem a bordo são racistas, mesmo que forem negros ou latinos; sexistas, mesmo que sejam do sexo feminino; ou homofóbicos, mesmo que sejam gays. Novamente, a realidade não interessa. A luta binária é o modelo para tudo.

A esquerda acredita que haja uma luta binária a respeito do futuro da humanidade com somente dois lados. Ela não entende como a direita de fato pensa, e ela não tem espaço para entender sistemas de crenças igualmente convincentes que funcionam fora desse modelo.

É aí que entra o islamismo. Ou não entra.

A esquerda jamais foi capaz de entender a religião. Ela não é tão secular ou ateísta quanto é consumida por um convincente sistema de crenças próprio que não deixa nenhum espaço para a convicção religiosa.

A esquerda não consegue entender nada em termos do que uma determinada coisa seja. Ela só consegue entender as coisas em termos de si mesma. A esquerda não consegue entender a religião nos termos da religião, mas somente nos termos de como a religião se encaixa na esquerda.

Incapaz de entender religião, a esquerda atribui à religião um lugar baseado em seu alinhamento na luta. Seria a religião uma força reacionária que sustenta a ordem existente ou uma força progressista que se opõe a ela? A religião está trabalhando com as classes dominantes ou com os oprimidos? A religião está ao lado da esquerda ou ao lado da direita?

O islamismo é racista, sexista, xenofóbico e homofóbico.

A Fraternidade Muçulmana, que se tornou a aliada islâmica mais próxima da esquerda, foi politicamente influenciada pela Alemanha nazista. Seus líderes ficaram indignados com o fim do feudalismo do califado e mantêm extensas redes de negócios em todo o mundo. Eles incitam revoltas contra as minorias e buscam estabelecer uma teocracia.

Se existe uma organização muçulmana que deveria ser um modelo de grupo reacionário, fascista e fundamentalista, essa organização é a Fraternidade Muçulmana. Mas, em vez disso, a esquerda vive de aconchego com esse grupo violento e odioso. Por quê?

Porque no Ocidente a Fraternidade Muçulmana está alinhada com suas causas progressistas. Portanto, ela não pode ser reacionária. Se a Fraternidade Muçulmana fosse alinhada com os conservadores, então ela seria o inimigo.

Assim, os progressistas não se importam com o que diz o Corão. Ele não significa nada para eles, assim como a Bíblia não significa nada para eles. A religião está do lado da justiça social ou não está. Como os muçulmanos são parte de sua gloriosa coalizão interseccional multiforme, então o islamismo deve ser uma religião boa.

É assim estupidamente simples. E não há quantidade de citações do Corão que fará com que isso mude.

Há nisso um forte elemento de cinismo. O inimigo do meu inimigo é meu amigo. Mas há também uma inabilidade mais profunda da esquerda em entender o islamismo e qualquer outra ideologia que esteja fora de sua visão de mundo.

A esquerda reagiu ao surgimento do ISIS com uma incoerência frenética. Os esquerdistas literalmente não conseguiam entender o que fez com que o Estado Islâmico progredisse, porque ele não se encaixava em nenhum dos modelos políticos esquerdistas. O ISIS não podia existir, entretanto, não havia como negar sua existência. E assim, os intelectuais e os políticos esquerdistas gaguejaram que os membros do ISIS eram niilistas, que não acreditavam em nada, embora ninguém se exploda por não acreditar em nada.

[Segundo a esquerda,] os terroristas muçulmanos não matam as pessoas por causa de Alá, do Corão ou do Califado. Isso não se encaixa no modelo. Eles matam porque, como todos os povos do Terceiro Mundo vitimizados pelo colonialismo, são oprimidos. Um terrorista muçulmano não mata judeus ou americanos porque o Corão ordena que os fiéis subjuguem todos os não muçulmanos. Um migrante muçulmano não ataca sexualmente mulheres alemãs porque o Corão permite que o faça.

Estas são todas reações à opressão ocidental. Os opressores muçulmanos são, na verdade, os oprimidos.

Mas o Estado Islâmico matou outros muçulmanos para estabelecer um califado governado pela lei islâmica. Os muçulmanos oprimidos estavam subitamente agindo como os perversos opressores ocidentais. E, se os muçulmanos podem ser opressores, então todo o modelo binário que a esquerda estava usando para explicar o mundo começa a desabar.

Quando a esquerda se levanta contra as inconsistências de seu modelo binário, ela não revisa o modelo. Ao contrário, tenta entender o motivo pelo qual as pessoas estão agindo tão irracionalmente que não se enquadram no modelo. Por que os brancos pobres da área rural não votam na esquerda? Deve ser porque ouviram programas de rádio conservadores e por racismo. Como pode haver minorias conservadoras? Falsa consciência. Também, pudera, Thomas Sowell e Stacey Dash não são “de fato” minorias.

O islamismo e os muçulmanos estão fundamentalmente fora do modelo da esquerda. Eles são parte de sua própria luta binária entre o islamismo e tudo o mais que existe. Eles têm seu próprio “lado certo da história”.

O islamismo e a esquerda, ambos, reivindicam ter sistemas “perfeitos” que podem criar uma utopia... depois de um monte de matanças. Eles estão alinhados um com o outro, todavia são incapazes de entender um ao outro porque suas visões de mundo não deixam espaço para nada além de seus modelos perfeitos. Os esquerdistas desprezam os fundamentalistas e os islâmicos desprezam os ateus e, mesmo assim, eles estão trabalhando juntos enquanto um ignora aquilo em que o outro crê.

A esquerda não consegue processar a ideia de que a religião transcende a política. Na melhor das hipóteses, os esquerdistas veem a religião como um subconjunto da política. E como o islamismo toma a forma de seu eixo político, ele deve ser progressista. Mas, para os muçulmanos, a política é um subconjunto da religião. A política não pode transcender a religião porque ela é uma expressão da religião.

Os esquerdistas não entendem a religião e, por isso, não conseguem entender os muçulmanos. Eles veem o islamismo como outra religião a ser trazida para dentro de sua esfera de influência para promover a justiça social aos seus seguidores. Eles não conseguem entender que os clérigos muçulmanos não se tornarão pregadores da justiça social, ou que os muçulmanos matam porque acreditam genuinamente em Alá e em um paraíso para os mártires. Essas ideias são estranhas aos esquerdistas.

A aliança entre o islamismo e a esquerda coloca juntas duas visões de mundo de mentalidade bem limitada. A esquerda não consegue reconhecer que o islamismo quer algo diferente de casamento gay, direito ao aborto, salário mínimo de 15 dólares por hora, empregos verdes, e todo o restante da infindável agenda de justiça social, pois o colocaria do mesmo lado dos republicanos e do restante da direita. E isso também não é assim, mesmo.

A esquerda não precisa desistir de suas crenças para entender o islamismo. Mas ela teria que abandonar seu pensamento binário e reconhecer que houve e há outras lutas no mundo, diferentes daquelas que os esquerdistas definem. E isto a esquerda não está disposta a fazer porque uma luta binária é o que torna sua visão de mundo tão abrangente. Se sua visão de mundo não abranger o mundo, então ela não pode exigir o poder absoluto.

A esquerda não consegue aceitar que sua grande luta é realmente um desastroso show secundário em um conflito civilizacional maior, ou que sua agenda não é universal, mas é produto de uma tendência intelectual particular que tem pouca aplicação fora de sua própria bolha. Assim, a esquerda continuará rejeitando a verdade sobre o islamismo porque aprender a verdade sobre ele não somente destruiria sua aliança com o islamismo, mas também destruiria a própria esquerda.


Daniel Greenfield, jornalista do David Horowitz Freedom Center, é um escritor de Nova Iorque que enfoca o islamismo radical.
No blog - http://sultanknish.blogspot.com

06 outubro 2018

Remédios preciosos contra as artimanhas do Diabo - Capítulo 10

Existe outro método do diabo para impedir o serviço dos crentes, consiste em leva-los a pensar que há um pequeno número de pessoas que servem a Cristo e que essas pessoas são os menos importantes, os de menos influência e os mais pobres de todos. Satanás lhes dirá: “Garanto que não querem desperdiçar a sua vida no meio de um povo como este, sem poder, sem influência, ignorantes e pobres. Não vale a pena obedecer a Deus se seu povo é assim”. Como os crentes devem reagir quando o diabo lhes fala desta maneira?

Primeiro, devem recordar que ainda que Satanás chame aos seguidores de Cristo de pobres, e ainda que sejam pobres quanto aos bens do mundo, na realidade são os mais ricos. Não são ricos quanto ao dinheiro, ou quanto aos bens, mas ricos nas bençãos de Deus. Tiago falando deste assunto escreveu: “Meus amados irmãos ouçam: Não escolheu Deus aos pobres deste mundo, para que sejam ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que lhe amam?” (Tg 2.5). Estes poucos, pobres e insignificantes cristãos como Satanás lhes chamaria, na verdade são os mais ricos e poderosos do mundo. Ainda que tenham pouco em suas mãos, possuem muito em suas esperanças. Ainda que quase não tenham nada no tempo presente, são os herdeiros do glorioso reino de Deus.

Os crentes também devem recordar que ao longo da história humana, alguns dos crentes são ricos e famosos. Por exemplo Abraão e Jó são dois casos de crentes que eram ricos em bens materiais. Então, Satanás não tem razão em dizer que todos os crentes sempre foram pobres. Alguns crentes são ricos em bens deste mundo e todos são ricos em bençãos espirituais.

As bênçãos espirituais são maiores que todas as riquezas terrenas de todos os inconversos no mundo. O crente mais pobre com bênçãos espirituais, possui mais do que a pessoa mais rica da terra sem elas. As bençãos espirituais satisfazem quando as bênçãos materiais não podem fazê-lo. Jesus falou das bênçãos espirituais como água viva: “O que beber da água que eu lhe darei, jamais terá sede; mas a água que eu lhe darei será uma fonte de água viva para a vida eterna” (Jo 4.14). Os crentes têm bênçãos perduráveis que nunca poderão ser tiradas deles. As bênçãos dos crentes lhes acompanham em todo o tempo: na prisão, no tempo da enfermidade, na hora da morte e na eternidade. Nenhuma das riquezas terrenas podem fazer isto. Quem é realmente pobre? O que crente é chamado de “pobre”, ou o inconverso mais rico da terra?

Satanás está ocultando parte da verdade quando diz que somente há crentes pobres no mundo. Ainda que pareça que seja assim, a realidade é outra. O número total de crentes no mundo é enorme. E o número de crentes que existe no decorrer da história também é expressivo. Apocalipse 7.9 diz que o apóstolo João viu “uma grande multidão a qual ninguém poderia contar, de todas as nações, tribos e povos e línguas, que estavam diante do trono e da presença do Cordeiro”. Ainda que seja possível que muitos crentes vivam em lugares onde existam poucos cristãos e muitos deles sejam pobres e humildes, nem sempre é assim. Em breve virá o dia em que estes crentes pobres e humildes brilharão como o sol. Paulo escreveu acerca de como Deus levantou aos crentes e os fez assentar nos lugares celestiais (Ef 2.6). Haverá um dia em que Deus mostrará ao mundo o quão bendito é o seu povo. Então os ricos da terra invejarão aos crentes, que antes julgaram como pobres.

03 outubro 2018

A igreja em tempo de eleição política

Por Kevin DeYoung


Eu sempre me interessei por política. Estudei religião e ciência política na faculdade. E continuo a ler consistentemente em economia, sociologia, política e eventos atuais. Como pastor, espero que os membros da minha igreja estejam bem informados e engajados no processo político. Como cristãos, devemos levar a sério nossa responsabilidade de ser sal e luz num mundo que é frequentemente podre e escuro.

No entanto, acredito que os pastores devem ter muito cuidado com a forma como lideram suas igrejas em nossa cultura politicamente polarizada. Sei que existem bons irmãos e irmãs que podem discordar desses princípios e suas implicações práticas. Mas, no mínimo, os pastores devem discipular seus líderes e suas congregações ao pensar sobre esses assuntos com sabedoria e teologicamente.

Deixe-me mencionar duas coisas que faço e três coisas que não faço como pastor.

Como pastor, eu oro publicamente por líderes e por questões controversas. Somos ordenados a orar pelas autoridades governamentais, quer concordemos com elas, gostemos delas ou confiamos nelas, ou não (1Tm 2.1-2). Da mesma forma, acho apropriado incluir alguns eventos atuais na oração pastoral semanal. Ao longo dos últimos anos, incluí itens relacionados a Ferguson, Charlottesville, tiroteios policiais em Dallas, a eleição presidencial, casamento gay, Roe v. Wade, o aniversário do assassinato de MLK, e dezenas de eventos que poderiam ser interpretados como “políticos”. No entanto, confio que as orações não eram políticas no pior sentido da palavra. Eu me esforço para ter certeza de que tudo pelo que eu oro tenha amparo bíblico. Durante uma temporada eleitoral, os pastores devem orar para que Deus opere no processo político para nos dar líderes piedosos que são marcados pela habilidade, prudência, honestidade, coragem, humildade e compaixão.

Como pastor, falo de questões controversas, conforme elas surgem do texto das Escrituras. Ao pregar em Êxodo 21, falei sobre a história da escravidão e os males dela em nosso país. Mais adiante, no capítulo, falei sobre o mal do aborto. No capítulo 22, falei sobre a definição bíblica de justiça. Eu também falei sobre o entendimento bíblico do viajante e como cristãos devem amar o estrangeiro e o imigrante (e como isso não se traduz automaticamente em uma determinada política de imigração). Todos estes sermões tocaram em tópicos políticos. Eu não mencionei um candidato, um partido político ou defendo qualquer política ou legislação específica. Eu simplesmente falei sobre questões que estavam manifestamente no texto. Não podemos ensinar todo o conselho de Deus sem nos aventurarmos, de vez em quando, entrar em território difícil, que pode ser impopular em nosso contexto cultural.

Como pastor, não forneço guias eleitorais para a congregação. Eu sei que existem outros pastores que defendem a prática, mas na minha experiência, mesmo os guias eleitorais não-partidários nunca são completamente apartidários. Em 2016, vi um guia de eleitor não-apartidário do Conselho de Pesquisa da Família e outro da Sojourners. Ambos os guias foram projetados para informar os cristãos sobre as questões importantes que enfrentamos na eleição e como pensar sobre essas questões do ponto de vista cristão. Não surpreendentemente, os dois guias falaram sobre questões muito diferentes e apresentaram a visão cristã de maneiras muito diferentes. Apenas um republicano obstinado poderia pensar que o guia do FRC não era partidário. Apenas um democrata rígido podia pensar que o guia dos Sojourners era apartidário.

Admitido isso, reconhecemos que existem outros guias que são menos didáticos e mais informativos. Muitos guias não-partidários fazem uma série de perguntas aos candidatos e registram onde estão as questões-chave. Mas mesmo aqui, os guias que vi ao longo dos anos têm um ângulo definido. Se você tem apenas doze perguntas para fazer aos candidatos, o que você pergunta diz muito sobre as questões que você considera importantes, e a redação de cada pergunta, geralmente, reflete certas prioridades. Em suma, não acredito que os guias eleitorais não-partidários sejam realmente apartidários.

Há também a questão prática de como visitantes e "estrangeiros" tendem a ver esses guias. Para jovens maduros e minorias, a “importância” das guias eleitorais, geralmente, sinalizam “esta é uma igreja para os republicanos.” Podemos dizer que não é a intenção, e acredito que a maioria dos cristãos apaixonados por essas guias são motivados por um desejo sincero de informar as pessoas sobre as questões, mas o fato é que a maioria das igrejas evangélicas brancas já é esmagadoramente republicana. Não vamos dar aos visitantes mais motivos para pensar que essa é uma igreja, principalmente para os conservadores do Partido Republicano (ou vice-versa, se você é conhecido como uma igreja progressista).

Isso significa que alguns candidatos e algumas posições não são melhores que os outros? Claro que não. Eleições é algo realmente importante. Isso tudo significa que eu não me importo com aborto, casamento ou liberdade religiosa (ou reforma da imigração ou reforma da justiça criminal)? Não, eu escrevi sobre todas essas coisas. Eu oro sobre esses assuntos a partir do púlpito, quando apropriado, e eu falo sobre eles no púlpito quando eles aparecem na Bíblia. Eu quero que meu povo seja informado sobre política, assim como espero que eles estejam informados sobre muitas outras coisas. Mas eu não acredito que seja o chamado da igreja, como igreja, fornecer perfis de candidatos, especialmente quando os canais normais para fornecer essas informações nunca são inteiramente objetivos.

Como pastor, eu não encorajo as campanhas de registro de eleitores no saguão da igreja. [2] Eu acredito que votar é uma coisa boa. Quando me mudei de Michigan para Iowa para a minha primeira igreja, fiz questão de votar no primeiro turno de Agosto, no início da manhã, antes de dirigir 12 horas para minha nova casa. Eu acredito que os cristãos fariam bem em se informar e votar. E, no entanto, estou muito pressionado para encontrar autorização escriturística para pensar que os cristãos devem votar como uma questão de obediência a Cristo. Ao conduzir o registro de eleitores na igreja, estamos nos comunicando: “Isto é o que os cristãos devem fazer”. Votar geralmente é uma coisa boa, mas eu não tenho autoridade bíblica para dizer que um cristão deve votar (exercitaríamos a disciplina da igreja em alguém que não o fizesse?), nem penso que votar é uma expressão tão necessária do fruto do Espírito que é responsabilidade da igreja fazer com que as pessoas sejam registradas.

Os puritanos foram sábios em estabelecer o Princípio Regulador para o culto. A igreja não tem autoridade para ligar a consciência ou emitir ordens exceto por explícita garantia bíblica, ou quando deduzida por boa e necessária consequência. Grande parte da polarização política na igreja poderia ser muito ajudada se o Princípio Regulador fosse aplicado a questões culturais, bem como ao culto. O objetivo do Princípio Regulador não é fazer com que todos sejam tendenciosos teologicamente (embora isso também possa ser bom). O objetivo é proteger a liberdade cristã e preservar a unidade dos cristãos, os quais são, em última instância, a manutenção de um testemunho fiel do evangelho em nosso mundo.
Um último pensamento sobre o assunto. Tanto quanto eu espero que os cristãos de mentalidade bíblica votem, devemos ter cuidado para não equacionarmos “sal e luz” com vitórias políticas. O engajamento político é apenas uma maneira de amar o próximo e tentar ser uma presença fiel na cultura. Da mesma forma, não devemos supor que todas as boas causas devem entrar no orçamento da igreja, no boletim da igreja ou no lobby da igreja. Há milhares de maneiras pelas quais os cristãos individuais viverão suas vocações, usarão seus dons e exercerão suas paixões - e a grande maioria dessas maneiras não envolverá anúncios do púlpito ou de atividades patrocinadas pela igreja.

Como pastor, eu não dou projeção pública aos candidatos em nossa igreja (ou à candidatos que visitam nossa igreja), especialmente, durante uma temporada eleitoral. Mesmo com a melhor das intenções, a apresentação de um candidato injeta uma nota de política no culto. É claro que damos boas-vindas a todos os candidatos políticos que venham adorar conosco ou simplesmente para conhecer a nossa igreja, mas pedir (ou convidar) uma apresentação ou reconhecimento durante o culto de adoração, apropria-se indevidamente do propósito da reunião do Dia do Senhor. Eu não quero que haja alguma confusão sobre se a igreja está endossando um candidato, ao observar a sua presença conosco. Também não quero dar ao candidato a oportunidade de ser visto e reconhecido no culto público. Ele (ou ela) deve estar no culto para adorar, não para ser visto como alguém que adora. E se o objetivo é simplesmente atender aos constituintes, esse propósito pode ser melhor realizado em outro local, em outro momento.

Eu entendo que esses três “não” são práticas comuns em igrejas de muitas tradições diferentes. Igrejas republicanas, que apoiam ao Trump, fazem essas coisas. Igrejas democratas, que opõem-se ao Trump, fazem essas coisas. Mas por mais comuns que sejam essas coisas, não acredito que sejam sábias. Eles presumem para a igreja uma autoridade que ela não possui, e eles apresentam um obstáculo à comunhão que não precisa estar presente.

A realidade é que essas práticas são comuns em muitas igrejas, porque muitas delas são politicamente uniformes. Os guias de eleitores ocorrem porque quase todos já concordam com eles. O candidato é reconhecido porque quase todos já votam nesse partido. A inscrição no eleitor acontece porque supomos que as pessoas em nossa igreja vão votar nas pessoas que votamos. Meu receio é que, juntas, essas medidas sejam mais eficazes para limitar o número de pessoas que se sentem à vontade em nossa igreja do que para aumentar o número de pessoas que votam “do modo certo”.

Para ter certeza, os cristãos podem se esforçar em educar e mobilizar seus compatriotas cidadãos americanos, mas a única finalidade, propósito e garantia da igreja é educar e mobilizar nossos concidadãos do céu. Não devemos confundir uma missão com a outra.


NOTAS:
[1] Acessado em https://www.thegospelcoalition.org/blogs/kevin-deyoung/church-election-time/
[2] Nos EUA o voto é voluntário. N. do tradutor.