02 agosto 2007

A ordenação feminina e o Ecumenismo

O Conselho Mundial de Igrejas (World Concil Churches [WCC]) é a principal organização ecumênica cristã em nível internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em Genebra, Suíça, o CMI congrega mais de 340 denominações em sua membresia. Segundo as suas estimativas, estas denominações representam mais de 400 milhões de membros presentes em mais de 120 países. Esta organização tem incentivado as igrejas-membros do concílio para que ordenem mulheres nos ofícios eclesiásticos. Em seu documento intitulado de Fé e Constituição - Batismo, Eucaristia, Ministério declara que "algumas Igrejas ordenam homens e mulheres, outras não ordenam senão homens. Diferenças nessa questão criam obstáculos no que respeita ao reconhecimento mútuo dos ministérios. Mas estes obstáculos não devem ser considerados como impedimentos decisivos a outros esforços que tenham em vista o mútuo reconhecimento. A abertura recíproca comporta a possibilidade de o Espírito falar a uma Igreja através dos esclarecimentos de uma outra. As considerações ecumênicas deveriam, pois, animar e não refrear o esforço para encarar de frente este problema."[1]

A Aliança Mundial das Igrejas Reformadas foi criada em 1970 (World Alliance of Reformed Churches [WARC]) é uma comunidade de aproximadamente 75 milhões de cristãos de tradição reformada procedentes de 216 igrejas em 107 países. Este concílio tem trabalhado para que as igrejas-membros ordenem mulheres, adotando uma postura teologicamente igualitarista. Num discurso orientado pela Teologia Feminista, o seu site declara explicitamente que "a função do Departamento [de colaboração entre mulheres e homens] é ajudar as igrejas membros a escutarem de novo o testemunho bíblico sobre a comunidade (koínonia) e a colaboração, erradicar o sexismo na teologia e a práxis e promover a sensibilização em matéria de gênero, reconhecer os dons e talentos das mulheres para o ministério e as funções da direção, e trabalhar pela renovação e a transformação da igreja e da sociedade enquanto lutamos para suprimir os obstáculos que continuam dividindo as mulheres dos homens."[2]

A Igreja Presbiteriana do Brasil até 2006 participou como igreja-membro da AMIR. Entretanto, a nossa igreja rompeu laços com a AMIR por esta adotar uma hermenêutica, teologia e prática ecumênica pluralista estranha à Escritura Sagrada. A tradição reformada da AMIR esvaziou-se de sua convicção histórica reformada. A AMIR e o CMI compartilham da mesma aceitação de pluralidade teológica. Qualquer interpretação, postura, ou prática que não coadune com os cânones da pós-modernidade teológica destas confraternidades é rejeitada como intolerante e não fraterna. Todavia, não podemos em nome do amor sacrificar a verdade.

Na metade do século XX entre as igrejas históricas iniciaram a ordenar mulheres.[3] Os luteranos na Suécia iniciaram a prática em 1958, e os alemães também seguiram o exemplo. A Igreja Reformada e a Igreja da Escócia [presbiteriana] ordenaram a partir da década de 60. Recentemente aderiram à ordenação feminina os batistas e os metodistas na Grã-Bretanha e Austrália. Na década de 70 a Igreja Anglicana do Canadá e a Episcopal da América, e em 1991, nomearam uma mulher como episcopisa. Algumas igrejas pentecostais, como a Igreja do Evangelho Quadrangular, desde o início ordenavam mulheres como pastoras, todavia, a base de tal prática não era devido a uma elaboração teológico-exegética, mas por motivos pragmáticos.

No Brasil, as igrejas históricas como os anglicanos, os metodistas (IMB), os luteranos confessionais (IECLB), os presbiterianos independentes (IPIB) nas últimas três décadas passaram a praticar a ordenação de mulheres como diaconisas e mais recentemente presbíteras e pastoras. Deve-se observar que nenhuma destas denominações ordena mulheres motivadas por firme convicção bíblica, mas por fatores sociais. Não podem ser classificadas como sendo igrejas teologicamente conservadoras, pois o pluralismo teológico tornou-se o padrão, tomando o lugar da sua identidade confessional e histórica.

Mas, qual a situação da IPB? Embora exista um pequeno grupo, inclusive composto de mulheres, em nosso meio militando em favor da ordenação feminina, estamos longe de mudarmos de opinião. Apesar de sermos acusados de estarmos vivendo fora do nosso tempo pós-moderno, preferindo uma postura obscurantista, ignorando o mover na sociedade para a participatividade feminina na liderança, estamos convictos de que a Escritura Sagrada estabelece um padrão de governo eclesiástico inalterável. O nosso compromisso teológico e ministerial permanece fiel à Palavra de Deus. Não mudaremos a nossa Hermenêutica para conformar a nossa interpretação da Bíblia aos canônes feministas.

Algumas questões práticas, desde agora, devem ser refletidas, à luz das Escrituras Sagradas:
1. O dom de liderança das mulheres é prejudicado no convívio da igreja por não serem ordenadas?
2. Existe vocação pastoral para as irmãs que têm o dom pastoral?
3. As mulheres poderiam estudar em instituições teológicos? Com que finalidade?
4. Como seria o convívio das mulheres ordenadas de outras denominações que se tornarem membros da Igreja Presbiteriana do Brasil?

Como material de apoio, sugiro a leitura de algumas obras que poderão esclarecer o assunto, e oferecer subsídios para uma discussão salutar:
1. Bonnidell Clouse, ed., Mulheres no Ministério (São Editora mundo cristão).
2. John W. Robbins, ed., The Church Effeminate (The Trinity Foundation), págs. 212-233
3. Augustus Nicodemus, “Ordenação Feminina” in: Fides Reformata, vol. II, número 1, 1997., págs. 59-84.
4. Nancy Pearcey, Verdade Absoluta (CPAD), págs. 363-390.

Notas:
[1] Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas - Batismo, Eucaristia, Ministério (São Paulo, CONIC, KOINONIA, ASTE, 3ª.ed., 2001), p. 67.
[2] Extraído de http://www.warc.ch/dp/index-s.html em: 21/03/2007.
[3] Robert G. Clouse, et al., dois reinos (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), pp. 576-577.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

3 comentários:

Augustus Nicodemus Lopes disse...

Ewerton,

Muito bom apanhado histórico e boa percepção do foco do problema. É difícil ficar firmes na convicção bíblica com o mundo inteiro nos chamando de machistas e obscurantistas, mas em matéria de convicção bíblica, pode o mundo cair...

Balnires Júnior disse...

Rev. Ewerton, respondi seu questionamento em seu e-mail e li também seu artigo. Achei muito interessante as questões levantadas e estamos no tempo de discutir sobre todas elas.
Gostaria de pedir permissão para incluir o endereço do seu blog na lista dos meus blogs amigos.
Estou a disposição também paracompartilhar alguns textos, graça e paz!

Ewerton B. Tokashiki disse...

Fique à vontade de acrescentar o meu blog na sua lista.

Grato,
Pr Ewerton