19 dezembro 2007

Cristianismo como filosofia

Ao dizer que “o Cristianismo é como uma filosofia”, quero dizer que o Cristianismo oferece uma perspectiva compreensiva sobre o mundo (uma cosmovisão). Ele nos oferece um relato, não somente de Deus, mas também do mundo que Deus criou, a relação que mantém o mundo com Deus, e o lugar do ser humano dentro desse mundo, ou seja, a sua relação com a natureza e a sua relação com Deus. O Cristianismo trata a metafísica (a teoria da natureza fundamental do universo), a epistemologia (a teoria do conhecimento) e, os valores (a ética, a estética, a economia, etc.). Deste modo, ele oferece uma perspectiva completa sobre tudo. Creio que há um ponto de vista particular que o Cristianismo oferece sobre a história, a sociologia, a educação, as artes, os problemas filosóficos, etc. E, como vimos anteriormente, a autoridade de nosso Senhor é compreensiva; tudo o que fazemos está relacionado com Cristo (1 Co 10:31, etc.).

Assim, o Cristianismo entra em competição com o platonismo, o aristotelianismo, o empiricismo, o racionalismo, o ceticismo, o materialismo, o monismo, o pluralismo, o humanismo secular, o marxismo, o pensamento da teologia do processo, o pensamento da Nova Era, e com qualquer outra filosofia existente e que ainda há de surgir; compete também com outras religiões, como o Judaísmo, o Islamismo, o Hinduísmo e o Budismo. Uma das repercussões mais desafortunadas da idéia distorcida de que há sobre “a separação entre a Igreja e o Estado”, é que escola pública infantil é capaz de ouvir os proponentes de qualquer sistema de pensamento, exceto aqueles que são arbitrariamente qualificados como de uma “religião”. Pois, quem é capaz de dizer que não se pode encontrar alguma verdade em algumas destas posturas religiosas, ou uma verdade exclusiva dessa postura? E, falando em termos da liberdade de pensar e de crer, é justo limitar a educação pública aos pontos de vista chamados “seculares”? Não é isto também uma grande lavagem cerebral?

Além do mais, os separacionistas extremos [1] com freqüência se opõe em particular as expressões que ocorrem em público procedentes do Cristianismo, não sendo assim com as demais religiões. Com farta freqüência admitem sem objeção alguma, apresentações nas escolas que favorecem o misticismo oriental ou inclusive a bruxaria moderna; o que objetam é quando se trata do Cristianismo. Por inconseqüente que pareça, este procedimento especificamente anticristão realmente faz sentido. Pois como veremos mais a frente, é o Cristianismo, e não o misticismo oriental ou a bruxaria, e os ritos dos nativos americanos, o que se planta firmemente contra as tendências da mente humana não regenerada. O Cristianismo é excluído das escolas apesar de (ou talvez precisamente por que) oferece a única alternativa válida para a “sabedoria convencional” do aparato político e da sociedade moderna.

Todavia, essa “sabedoria convencional” nos legou um vasto aumento nos índices de divórcio, de aborto, de famílias com pais e mães solteiras, meninos de rua, dependentes de remédios, de quadrilhas, de crimes, a AIDS (e outros problemas de saúde, por exemplo, o ressurgimento da tuberculose), a falta de moradia, a falta de alimentos, o déficit governamental, os altos impostos, a corrupção política, a degeneração na arte, a mediocridade na educação, a falta de competitividade na indústria, grupos de interesses particulares exigindo toda espécie de “direitos” (direitos que não tem os suas responsabilidades correspondentes, e que vem a custa dos demais), a contaminação do meio ambiente, etc. Herdamos um governo “messiânico”, que reclama para si uma autoridade plena, e oferece solucionar todos os nossos problemas (“salvação” secular), mas que geralmente termina deixando as coisas pior. Nas instituições de ensino superior, anteriormente bastões da liberdade intelectual, agora propagam-se idéias do “politicamente correto”. A cultura em geral agora permite o uso de um vocabulário anteriormente considerado vulgar, ofensivo e blasfemo. Criou-se um ambiente em que a música popular (do estilo “rap”) incentiva as pessoas matar os guardiões da ordem.

Sendo assim, as circunstâncias em que vivemos nos leva a questionar se não deveríamos estar pensando em outras alternativas para esta suposta “sabedoria convencional”? Ou, será que só existe uma alternativa? Deste modo, - e a tese que aqui sustento de que existe - então devemos levar tal alternativa muitíssimo a sério.

Com a finalidade de apresentar o Cristianismo como sendo a única alternativa, ou, em outras palavras, como sendo a única opção viável, permitam-me expor o conteúdo do Cristianismo como filosofia: isto é, como metafísica, como epistemologia e como sistema de valores (com ênfase particular na ética). Com relação a isto, também creio na importância de dizer que o Cristianismo é evangelho (ou seja, boas novas), e talvez, este seja o mais importante aspecto dos anteriores. Mas, isto diremos no devido momento. Reconhecemos que em nossos tempos modernos, por assim dizer, em comparação com a sociedade de 600 anos atrás, as pessoas de hoje ignoram a perspectiva cristã sobre o mundo. Por isso, devem entender a perspectiva cristã sobre o mundo (a filosofia cristã), de modo que possa fazer sentido para eles o aspecto chamado evangelho, as boas novas.

Notas:
[1] Aqui John M. Frame reflete neste texto o cenário do sistema político e educacional dos EUA. Embora no sistema educacional brasileiro a disciplina "religião" esteja presente no ensino público, não sendo obrigatório, assuntos como teoria da evolução é tratada como "ciência" e qualquer discordância quanto à filosofia naturalista que sustenta esta teoria é rotulada como "obscurantismo religioso" (NT).

Extraído de John M. Frame, Apologetics to the Glory of God, págs. 31-34.
Tradução livre:
Rev. Ewerton B. Tokashiki

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