24 novembro 2017

Remédios preciosos contra as artimanhas do Diabo - Capítulo 2

Por Thomas Brooks
Originalmente publicado em 1652 na Inglaterra

Neste capítulo trataremos de duas formas como Satanás procura desviar o crente para o pecado. Uma maneira é tornando-o muito atraente e outra é persuadindo aos crentes de que os seus pecados são pequenos e sem importância.

Primeiro, o diabo engana aos crentes fazendo do pecado algo atrativo, natural e de aparência normal e aceitável. O pecado quase sempre se disfarça com esta aparência. Talvez muitos crentes se apeguem demasiadamente em sua própria aparência, suas roupas, seus pertences, em sua reputação. O diabo lhes diz que isto não é orgulho, que é algo normal, que todos fazem isto. Talvez alguns crentes são cobiçosos e Satanás lhes sussurrará que isto é justo, que é normal, que consigam e atesourem tudo o que puderem, afinal, todo mundo o faz. Talvez uma pessoa tenha a tentação de beber. Então o diabo lhe dirá que não é pecado embriagar-se. Simplesmente lhes dirá que é uma diversão saudável, uma forma de convivência e de ser amistoso com os demais. Depois lhes dirá que merecem e fará com que o vício lhe pareça muito atrativo, acrescentando-lhes uma posição social, um prestígio, lindas mulheres, prosperidade, simpatia, etc.

Quando Satanás se dedica a seduzir-nos desta forma, então temos que recordar de quatro fatos importantes:

Primeiro, o pecado não é menos vil e abominável quando é apresentado numa forma mais atraente. O diabo gosta de esconder a verdade acerca do pecado. O Novo Testamento diz que o diabo pode transfigurar-se num anjo de luz (2 Co 11.14) que o lobo pode se disfarçar com pele de ovelha. Mas Satanás e o pecado continuarão sendo “Satanás e o pecado”; não importa como se disfarcem.

Segundo, quanto mais atrativo se apresenta o pecado, resulta em maior perigo. O veneno mais perigoso se encontra, frequentemente, nas flores mais bonitas. A roupa mais cara, em geral, é usada para cobrir os corpos mais indignos e o corpo mais perfeito cobre a alma mais vil. Do mesmo modo, os nomes mais sofisticados e os títulos mais elevados são usados para falar dos vícios mais horríveis e dos pecados mais abomináveis.

Terceiro, é necessário que vejamos o pecado tal como o veremos no dia do juízo. Nesse dia todos verão a verdadeira face do pecado. Quando todos os povos estiverem reunidos diante do Grande Juiz do universo, então apreciarão a pecaminosidade do pecado. Nesse momento o pecado será desmascarado e será despojado de sua atrativa vestimenta; aparecerá mais sujo e mais desprezível que o próprio inferno. O que antes parecia formoso e atraente, se manifestará feio e repugnante. A Bíblia descreve o pecado comparando-o com várias coisas: o vômito de um cão, uma ferida apodrecida, a lepra, o esterco, a espuma do mar, etc. Também compara os pecadores com os porcos que se revolvem no lodo, bestas embrutecidas, animais irracionais (cabras, cães, bois), agitadas ondas do mar, estrelas errantes, árvores desarraigadas, etc. É necessário ver o pecado tal como o veremos no dia da morte. A consciência pode estar adormecida por um longo tempo, mas no dia da morte e do juízo se despertará e nos mostrará o dano e amargura do pecado. Então devemos aprender a ver o pecado não como é apresentado pelo diabo, senão como o veremos na eternidade.

Quarto, os pecados que parecem mais atrativos provocaram a morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Somente podemos avaliar o pecado à luz da crucificação de Cristo. Devemos ver a Cristo em sua paixão e sofrimento pelo pecado: afligido, chicoteado, ferido, humilhado, angustiado, suando grandes gotas de sangue, seu corpo desfigurado, seu sangue derramado, o Juiz do universo condenado, o Senhor de vida morto, sua cabeça que levava a coroa de glória, coroada de espinhos. Seus ouvidos que recebiam o louvor celestial, agora recebem o desprezo e as blasfêmias da multidão. O rosto mais formoso dos filhos dos homens é cuspido e desfigurado. As mãos que sustentavam o cetro agora são cravadas numa cruz. Tudo isso foi originado pelos pecados que o diabo procura apresentar de modo tão atrativo. Quando os crentes veem a Cristo sofrendo e morrendo pelo pecado, percebem o quão mau ele é, e eles lhe viram as costas e lutam contra ele. Outra maneira como Satanás seduz os crentes ao pecado é dizer-lhes que os seus pecados são “pecadinhos”, ou seja, que seus pecados são pequenos e sem importância. Quando Satanás age assim, quer que os crentes passem desapercebidos de certos pecados e que se acostumem com eles. Ele intenciona que classifiquem os seus próprios pecados como ínfimos em comparação com os pecados dos demais. Deseja que os crentes pensem do pecado como se houvessem apenas pecados grandes e escandalosos, para que evitem apenas estes últimos.

O primeiro remédio contra essa tática é percebermos que os pecados que parecem pequenos atraem a ira de Deus. Mesmo o menor pecado é uma transgressão contra a santa lei de Deus. Os pecados que parecem “pequenos” são ofensas contra a glória e a bondade de Deus. Um único pecado arruinou toda a raça humana. Por pecados que aos homens parecem pequenos, Deus derramou o inferno sobre Sodoma e Gomorra.

Segundo, os pecados pequenos inevitavelmente conduzem a pecados maiores. O pecado se contamina a vida pouco a pouco. Os que continuam vivendo em pecados pequenos, terminarão vivendo completamente em pecado. Quando cometemos um único pecado, nunca saberemos até que ponto nos levará. O rei David começou desejando a Bate-Seba e terminou adulterando e assassinando a Urias, o heteu, seu marido. Os que começam com pequenos pecados não podem deter-se, e normalmente terminam em grandes pecados.

Terceiro, é algo triste afastar-se de Deus devido a um pecado pequeno. Podemos dizer que por menor força seja a tentação, maior é o pecado; os pecados menores deveriam ser os mais fáceis de se evitar. Quando alguém é tentado numa coisa pequena e cede, demonstra o quão mau é. Indica que prefere gozar um poco do pecado, do que se satisfazer em Deus. Quando nos desgostamos com um amigo acerca de uma coisa pequena, isto demonstra nossa necessidade e nossa falta de humildade. Do mesmo modo é tolice e perversidade pecar contra Deus e afastar-nos dele por causa de um pecado pequeno.

Quarto, frequentemente há um perigo enorme no pecado menor. Os pecados pequenos podem influenciar-nos por longos períodos de tempo até que nos causem muitos danos. Um pequeno furo num barco permite a passagem da água até que finalmente o afunde. Assim, um pequeno pecado pode afetar-nos paulatinamente até arruinar a nossa vida.

Quinto, ao longo da história sabemos que os crentes escolheram sofrer os piores tormentos do que participar dos pecados pequenos. Daniel e seus amigos puderam pecar facilmente, mas estavam dispostos a sofrer. De igual forma muitos crentes sofrem por se negarem a participar da idolatria, do mundanismo, dos erros doutrinários, etc.

Finalmente, quando Deus mostra aos homens quão poderoso é o pequeno pecado, não poderão manter-se de pé diante da culpa do menor deles. Os egípcios consideravam a praga das moscas como o “dedo de Deus”. E mesmo sendo criaturas pequenas se tornaram poderosas quando foram usadas por Deus para juízo. Então, quando Deus mostra aos crentes o mal e o grande poder dos pecados pequenos, não poderão pensar superficialmente neles.

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