O livre arbítrio é a capacidade de escolher contrário à sua natureza. Johann Heinrich Heidegger explica que
a companheira da justiça do primeiro homem é a liberdade ou livre-arbítrio, sendo a primeira uma faculdade da alma, pela qual ele livremente, voluntariamente e sem qualquer força externa, escolheu aquilo que percebeu, deliberou e decidiu o que escolheu. Isso não era indiferença em fazer o bem ou o mal, porque lhe era natural fazer o bem, enquanto fazer o mal era contrário à sua natureza. E a liberdade não era imutável. Pois, dessa forma, não haveria lugar para a tentação. Pois a imutabilidade da vontade não pertence à natureza, mas à graça e à glória. A liberdade também não era independente, porque em Deus Adão foi movido (At 17.28). Ele carecia da graça não para curar a corrupção, mas para preservar a integridade, a fim de vencer as tentações do diabo. Em vez disso, a liberdade, juntamente com a deliberação de fazer o bem, era mutável.[1]
Os reformados concordam com a interpretação de Agostinho sobre os quatro estados da liberdade. Sabemos que
Agostinho ensinava os quatro estágios da libertas naturae [liberdade da natureza], conforme Muller explica que ele é ‘a liberdade que é própria de um ser dada a sua natureza particular’. Os quatro estados da libertas naturae são: 1) libertas Adami [liberdade de Adão]: ‘antes da queda - isto é a capacidade ou poder para não pecar’. 2) libertas peccatorum [liberdade de pecadores]: ‘uma liberdade que é própria e restrita aos limites da natureza caída e é, portanto, uma incapacidade absoluta de fazer o bem, ou para agir para o bem, sendo o pecador incapaz de não pecar’. 3) libertas fidelium [liberdade dos fiéis]: ‘a liberdade daqueles que são regenerados pelo Espírito Santo, que é próprio da natureza regenerada e, é caracterizada pela capacidade para o pecado e para fazer o bem’. 4) libertas gloriae [liberdade de glória]: ‘uma liberdade adequada à natureza redimida integralmente, que, como residentes do reino do céu estão agora caracterizados pela incapacidade para o pecado’. Em outras palavras, os quatro estados do homem em relação ao pecado enumerados por Agostinho de Hipona são: 1) no estado antes da queda, o homem era capaz de não pecar (posse non peccare); 2) após a queda, ele é incapaz de não pecar (non posse non peccare); 3) sendo regenerado ele se torna capaz de não pecar (non posse peccare); e, 4) no estado de glorificação ele será incapaz de pecar (peccare non posse).[2]
Em suma, a tradição agostiniana/calvinista interpreta a doutrina do livre arbítrio dividindo em quatro modos, por causa dos quatro estados do homem. No primeiro estado a vontade do homem era livre para escolher entre o bem e o mal. No estado caído o homem é livre somente para o mal. O homem nascido de novo, ou o homem em estado de graça, é livre do mal e para o bem, pela graça de Deus somente, mas imperfeitamente. No estado de glória ele será perfeitamente livre do mal para o bem. As confissões reformadas consentem quanto a este assunto.[3]
NOTAS:
[1] Johann Heinrich Heidegger, The Concise Marrow of Theology (Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2019), p. 46.
[2] Veja o verbete “libero arbitrium” in: Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms: Drawn Principally From Protestant Scholastic Theology (Grand Rapids, Baker Academic, 1996).
[3] Veja, Joel R. Beeke & Sinclair B. Ferguson, Harmonia das Confissões Reformadas (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2006), pp. 56-57 e, também, Veja, Johannes Wollebius, Compêndio de Teologia Cristã (Eusébio, Editora Peregrino, 2020), p. 79.
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