12 outubro 2006

A relação entre teologia e ética

Até o fim do século XVII os teólogos da Reforma não separaram a teologia da ética, antes os tratavam em suas dogmáticas como sendo um só corpo. Todavia, alguns deles iniciaram a estudá-las como disciplinas separadas, embora os catecismos e confissões continuassem a expor doutrina e ética como sendo complementares, especialmente pelos comentários feitos ao Decálogo. Mas, sob a influência da filosofia do século XVIII a ética cristã gradualmente foi despojada de seu caráter religioso. Louis Berkhof observa que “nos escritos de autores como Scheleiermacher, Ritschl, Rothe, Herrmann e Troeltsch a moralidade ficou divorciada da religião e adquire um caráter autônomo.”[1] Todavia, alguns teólogos como Dorner, Wuttke, Luthardt retornaram a estudá-la mantendo uma relação com as suas dogmáticas, mas não obtiveram sucesso. Embora os teólogos considerassem íntima a relação da credenda e facienda (do latim: crer e fazer), e que ambas disciplinas estivessem necessariamente dependentes, consideraram desejável trata-las separadamente. Alberto Fernando Roldán esclarece que "a quase totalidade dos temas teológicos se relacionam de forma direta e indireta com a ética, principalmente as doutrinas de Deus, do ser humano, da salvação e da escatologia. Dito em outros termos, nosso modo de entender Deus como santo, nossa concepção do ser humano como portador da imagem de Deus, nosso conceito da salvação por graça e por fé, e, finalmente, o chamado ‘motivo escatológico’ constituem os pilares teológicos sobre os quais se erige nossa ética cristã."[2]

As conseqüências de se fazer uma dicotomia entre teologia e ética são inevitavelmente ruins. A verdade revelada demanda uma vida que se harmonize com toda a Escritura. Robert Banks observa que “essa lacuna entre doutrina e ética é uma das razões de termos falhado em desenvolver uma teologia satisfatória da vida cotidiana. Todas as principais doutrinas têm sua dimensão prática exatamente como todas as questões práticas têm seu aspecto doutrinal.”[3] Quando ocorre o divórcio entre a teologia e ética, a primeira sofre o perigo de tornar-se uma ciência meramente abstrata e especulativa sem resultados práticos, e a segunda transforma-se em filosofia relativista, ou subjetivismo antropocêntrico.

Embora exista uma estreita relação da dogmática com a ética, não podemos concluir que seja uma relação de dependência recíproca. Hendrikus Berkhof observa que “dogmática não é dependente dos resultados da ética do mesmo modo que é dependente dos resultados daqueles outros dois campos de estudo [estudos do Antigo e Novo Testamento, e história da igreja]. Todavia, o contrário é verdadeiro: o exame da ação da fé é dependente dos resultados da pesquisa do conteúdo da fé.”[4]

Notas:
[1] Louis Berkhof, Introducción a la Teologia Sistemática (Grand Rapids, Libros Desafio, 2002), p. 45.
[2] Alberto Fernando Roldán, Para Que Serve a Teologia? (Curitiba, Descoberta Editora Ltda., 2000), p. 76.
[3] Robert Banks, A teologia nossa de cada dia (São Paulo, Editora Vida, 2004), p. 180.
[4] Hendrikus Berkhof, Introduction to the Study of Dogmatics (Grand Rapids, Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1985), p. 50.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

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