06 janeiro 2012

A Teologia da História na perspectiva de Wolfhart Pannenberg

O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA TEOLOGIA DE PANNENBERG

Wolfhart Pannenberg (1928 - )[1] professor de teologia sistemática na Universidade de Munich, representa uma ruptura com o passado e uma nova ênfase na teologia alemã. Em seu intento de separar-se da ênfase existencial de Rudolf Bultmann, situou a sua teologia na história, particularmente na ressurreição de Jesus Cristo, que ele considera fundamental no Cristianismo. Por isso, a teologia de Pannenberg pode-se chamar de “teologia da história” ou “teologia da ressurreição”.

AFIRMAÇÕES DOUTRINÁRIAS NA TEOLOGIA DE PANNENBERG

Enfatiza a necessidade da historicidade dos eventos bíblicos para ter uma fé válida. Rejeita nisto a dicotomia de Karl Barth entre historie e geschichte. É impossível proclamar o evangelho sem pontuá-lo na história. Para Pannenberg toda a história é revelação. A revelação ocorre por meio dos eventos históricos num nível horizontal, e não na vertical proveniente de Deus. Assim, Pannenberg investiga a vida de Cristo a partir de uma perspectiva histórica, e não em termos da revelação direta de Deus.[2] A revelação através da história deriva dos eventos históricos, não somente das Escrituras ou de Deus. Não há distinção entre a revelação natural e a especial. A revelação por meio da história pode-se chegar a entender pela fé. A cegueira espiritual está fora da discussão; portanto, Pannenberg ignora a questão do pecado original.[3] O ponto culminante da revelação será no passado: a ressurreição de Cristo. A diferença de Bultmann, para Pannenberg é que a ressurreição não é um mito, mas sim um evento histórico.[4]

AVALIAÇÃO DA TEOLOGIA DE PANNENBERG

Ainda que Wolfhart tenha enfatizado a necessidade da historicidade da ressurreição de Cristo, há defeitos notórios em sua teologia.[5] Não identifica o homem em seu estado decaído e com necessidade da graça divina; e ainda, para ele, o homem natural tem a capacidade de entender a revelação na história. Com isto, rejeita a afirmação barthiana segundo a qual “a verdade do Cristianismo entra no coração dos cristãos somente pelo milagre da graça”.[6] Para Pannenberg a Bíblia não é a revelação. Continua a tese da crítica histórica, pois sugere que o nascimento virginal é um mito. Disse que a Bíblia contém erros, pois pois sugere imprecisões nos relatos da ressurreição. Segundo ele, Jesus estava equivocado com a sua rerrurreição, pois pensava que “coincidiria com o fim do mundo e a ressurreição geral de todos os crentes.”[7] Faz com que a história seja a autoridade, no lugar das Escrituras; e o indivíduo deve submeter-se ao intérprete da história, não as Escrituras.

Apesar da ênfase na história, Pannenberg não segue a ortodoxia histórica, porque rejeita a Bíblia enquanto a revelação de Deus para a humanidade. De fato, ele coloca a história como autoridade e não a Bíblia.

NOTAS:
[1] Estudou na Universidade de Berlim e doutorou-se em Teologia na Universidade de Heidelberg (1954), onde lecionou até 1958. Em seguida, ensinou em Wuppertal (1958-61), Mainz (1961-68) e Munique (1968-1993) – Nota do tradutor.
[2] David Scaer, “Theology of Hope” in Stanley N. Gundry e Alan F. Johnson, eds., Tensions in Contemporary Theology (Chicago, Moody, 1976), p. 219.
[3] Ibidem.
[4] Wolfhart Pannenberg, Faith and Reality (Philadelphia, Westminster, 1997), pp. 68-77.
[5] Harvie M. Conn, Contemporary World Theology (Nutley, Presbyterian & Reformed, 1974), pp. 70-72.
[6] Carl F.H. Henry, Frontiers in Modern Theology (Chicago, Moody, 1965), p. 74.
[7] Harvie M. Conn, Contemporary World Theology, p. 71.

Tradução Rev Ewerton B. Tokashiki
Extraído de Paul Enns, Compendio Portavoz de Teologia (Grand Rapids, Editorial PortaVoz, 2010), pp. 614-616.

2 comentários:

Rev.Mauro Silva disse...

Uma ótima tradução da biografia e obra(s) do Prof. Pannenberg, a qual apresenta a história como revelação centrada na ressurreição de Cristo. Parabéns Rev. Ewerton!

Mauro

Anônimo disse...

Este artigo é um importante alerta de que apenas afirmar a historicidade da ressurreição, ou de qualquer outro evento, não é suficiente para manter uma boa ortodoxia. Os perigos estão lá, nas entrelinhas.
Hoje, em nosso meio, existem muitos teólogos-filosóficos que buscam no cristianismo um meio de interação.
Boa iniciativa.
Lucio Mauro