04 janeiro 2020

O que fazer na visitação pastoral?

por Pr Ewerton B. Tokashiki


A visitação pastoral é uma prática que recebe pouca atenção na teologia pastoral. É algo tão comum e esperado que, às vezes, se pressupõe que todos sabem como fazê-lo. Imagina-se que é só ir à casa dos membros ou interessados, fazer-se agradável na conversação, com o objetivo de manter a proximidade na relação pastoral com aqueles que congregam na igreja que pastoreia. Apesar da preocupação da boa relação pastor e membro fazer parte da visitação pastoral, resumi-la a essa ideia é empobrecer tão importante atividade espiritual no cuidado do rebanho.

Sabe-se que há, por vezes, alguns membros que reclamam de pastores e presbíteros que não se dedicam à visitação. Essa falha aumenta a sua gravidade quando a presença da liderança no lar destas famílias é uma real necessidade. Se há problemas, então, há urgência de abordagem, acompanhamento e orientação visando soluciona-los.

A visitação pode ter diferentes propósitos. Há visitas que são de caráter preventivas e outras são remediativas. As visitas preventivas envolvem desde a manutenção do bom convívio pastoral, verificação do conhecimento bíblico e confessional, supervisão da saúde espiritual das famílias, e integração dos novos convertidos e interessados no evangelho. A visita remediativa implica na resolução de todos os conflitos, desvios, e qualquer crise doutrinária, relacionamentos, ou partidarismos no meio da igreja.

Quais são os motivos da visitação pastoral?

1. A visita ocorre a pedido da família? Há famílias que apreciam a presença regular do seu pastor em suas casas. Elas são agradáveis e muito fraternas em sua recepção. Geralmente, por causa da confiança e companheirismo em relação à liderança, essas são visitas que visam conversar sobre melhorias na estrutura e eventos da igreja local. Entretanto, há casos em que um membro da família, buscando socorro pastoral para alguma situação de crise, solicita a visita para aconselhamento. É possível que notifique com antecedência, mas há pessoas que preferem esclarecer o motivo do pedido de visita quando se está em sua casa. Assim, se possível, pergunte o motivo da visita, mas se a pessoa não quiser revela-lo, vá em oração, e esteja disposto a cuidar com o necessário sigilo dessa família.

2. É uma visita de manutenção? É importante que o pastor tenha um programa ou roteiro de visitação de todas as famílias da igreja local. A comunidade local é formada de famílias, e elas precisam de contato pastoral. O melhor lugar para conhecer as suas ovelhas é nos lares dos membros. Nesse caso a visita não precisa ter um motivo de urgência, ou de gravidade, mas visa o contato com as famílias no decorrer do ano. Talvez, não seja possível ir à casa de todas as famílias durante um ano, pois isso exige a possibilidade dentro da agenda do pastor e das ovelhas, e ainda, das programações da igreja. Mas, não se deve desistir da intenção de fazer-se próximo de suas ovelhas, em especial, pela visitação nos lares.

3. Está ocorrendo alguma crise familiar? Não é problema ter problemas, mas é uma situação complicada, não querer trata-los. Quando um membro de uma família recorre ao seu pastor solicitando a visita, por motivo de crise conjugal, ou de desentendimento entre pais e filhos, então a prioridade, entre as muitas atividades pastorais, é a visitação deste lar. Mesmo que a família não informe, ou não queira que a liderança saiba de seus problemas, todavia, se esses problemas chegam ao conhecimento do pastor, é seu dever, por vocação e dons recebidos por Deus, que ele procure as ovelhas que o Cristo lhe confiou cuidar. Quando se tarda em confrontar, e solucionar crises, elas tendem a piorar e, talvez, até destruir.

4. Há algum problema de relacionamento entre membros da igreja? No convívio de pessoas pode ocorrer atritos, conversas difamatórias, desentendimentos diversos, ou diferentes pecados que ferem a prática da comunhão entre os irmãos. Quanto a prática de Mt 18 falha por parte dos membros que entraram em contenda, o pastor deverá facilitar a obediência e conciliação entre eles.

5. Existem dúvidas ou discordância doutrinária a serem resolvidas? É possível que membros não entendam corretamente algum tema bíblico, ou nalgum momento sejam contaminados por algum erro doutrinário, ou seduzido por alguma ideologia anticristã. A conversação numa visita poderá examinar, ou descobrir inseguranças, ou desvios teológicos, e então, corrigi-los.

6. Há pecados públicos a serem tratados? Se há rumores, ou, de fato, o conhecimento de pecados públicos que necessitarão de condução disciplinar, a visita pastoral é um excelente remédio no processo de restauração do membro. A visitação propicia a possibilidade da confrontação na expectativa de que o irmão se torne em réu confesso, e se submeta voluntariamente à disciplina bíblica.

Proponho aos pastores, presbíteros e diáconos algumas sugestões práticas para uma efetiva visitação:
1. Converse
2. Leia as Escrituras
3. Aconselhe
4. Ore

O que conversar numa comum visita pastoral? Não se pode desperdiçar esse contato da liderança com os membros da igreja. O momento de conversa não pode ser preenchido com trivialidades, assuntos supérfluos, ou irrelevantes para a verificação da saúde espiritual e bom desenvolvimento da família na fé cristã. Afinal, o pastor é chamado para auxiliar as suas ovelhas na instrução do evangelho e santificação do rebanho. Assim, como supervisor espiritual daqueles que lhe foram confiados, ele deverá examinar se as famílias estão comprometidas no exercício espiritual como membros da igreja. Segue abaixo algumas questões sugestivas:
1. Há a realização regular do culto doméstico?
2. Há leitura continuada de toda a Bíblia?
3. Há instrução dos filhos com o Breve Catecismo de Westminster [outro documento confessional]?
4. Há participação assídua dos cultos e reuniões da igreja?
5. Os membros da família estão comprometidos com a prática do discipulado de interessados no evangelho, ou novos convertidos?

Há pastores que descuidam da prática da visitação. É um prejuízo incalculável negligenciar o contato pessoal das ovelhas, porque é impossível conhecer pessoas sem se aproximar delas, ou sem se relacionar estreitamente com elas. O pastor precisa ter o cheiro das suas ovelhas, e para isso, ele carece conviver com elas. As ovelhas confiam em seu pastor quando elas sabem da sua fidelidade bíblica e sua preocupação cuidadora com suas famílias.

“Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” (Hb 13.17)

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